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Hoje parece haver muito medo do silêncio.
Terão as pessoas medo de si mesmas?
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(francês) Acho que actualmente há muita
gente com medo do silêncio,
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ou que não gosta do silêncio.
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Ligam a TV ou ouvem música durante o dia.
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Será que isso significa que as pessoas
têm medo de estar consigo próprias?
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(inglês) Tenho a impressão de que hoje
há muitas pessoas
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com medo do silêncio.
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Preferem ouvir música ou ligar a TV
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ou ocupar o espaço com outra coisa.
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Ela quer saber:
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Será que é porque têm medo
de estar consigo mesmas?
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Pode haver uma sensação de vazio,
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de isolamento, de mágoa,
de inquietação em nós.
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E quando se faz silêncio, estas coisas...
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surgem muito claramente:
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o vazio, a preocupação,
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a inquietação, a falta de amor.
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Sentimo-nos vazios.
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Não há felicidade.
Não há sensação de preenchimento.
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E muitas pessoas no mundo
têm esta sensação:
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sentem-se vazias por dentro,
não há amor, não há felicidade.
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Sentimos que nos falta alguma coisa.
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E há mágoa, há medo, há raiva em nós.
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E quando se faz silêncio, todas estas
coisas surgem muito claramente.
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Elas estão sempre lá!
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É por isso que muitos de nós...
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tentam usar o consumismo para esquecer.
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Suponhamos que têm uma preocupação,
uma inquietação dentro de vocês.
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E...
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não conseguem lidar...
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com essa sensação de solidão
e inquietação.
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Vão ao frigorífico e tiram
alguma coisa para comer.
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No entanto, sabem que não têm fome,
que não precisam de comer.
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Comem porque querem encobrir
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a sensação de solidão,
de inquietação em vocês.
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E ficam gordos por comerem demais.
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(risos)
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Ou ouvem música, ligam a televisão,
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pegam num jornal.
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E é isso que as pessoas fazem
quando se sentem vazias por dentro.
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Esta é a doença colectiva dos
seres humanos na nossa civilização.
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O mercado põe à nossa disposição
todo o tipo de meios
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para experimentarmos e para
esquecermos o sofrimento interior,
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a solidão interior.
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E entre estes artigos que nos vendem
para encobrirmos o sofrimento,
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há muitas coisas que têm
toxinas e venenos.
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E se as consumirmos,
obtemos mais solidão,
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mais raiva...
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e desespero.
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Porque muitas das coisas que lemos
nos livros e revistas
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muitas das coisas que vemos na televisão
ou na Internet,
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trazem-nos mais desespero, mais raiva.
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E a situação torna-se cada vez
mais séria a cada dia
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por causa do nosso consumo
sem atenção plena.
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Por isso, temos de praticar
o quinto treino da atenção plena,
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acerca do consumo correcto.
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Temos de aprender a gerar
alegria e felicidade
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com a prática da atenção plena,
respirar e caminhar com atenção plena.
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Temos de aprender a gerar paz
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para termos algo bom dentro de nós,
que nos acompanhe.
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E, nesses momentos, o silêncio
só nos ajuda
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a saborear e a desfrutar mais
da sensação de alegria e felicidade
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que geramos através da nossa prática.
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Suponhamos que me sento aqui
e presto atenção ao pôr-do-sol lá fora.
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às belíssimas árvores lá fora,
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à relva e às florinhas
que despontam por todo o lado.
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Está um dia lindo lá fora!
É Verão!
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E o nosso planeta é tão bonito.
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E muitos de nós não têm a capacidade
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de estar em contacto com estas maravilhas
da vida em nós e à nossa volta,
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porque não conhecemos
a prática da atenção plena
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que traz a nossa mente até casa
até ao aqui e agora
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que nos põe em contacto com estes
elementos que nos curam e alimentam
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que podem trazer-nos alegria e felicidade.
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Não temos estas belíssimas coisas em nós.
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Temos apenas coisas negativas
como a raiva, a solidão, etc.
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É possível sentarmo-nos na relva,
respirar e sermos felizes.
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E conseguimos ouvir o canto dos pássaros,
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e a música do vento
dançando nas árvores.
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E estas coisas alimentam-nos e curam-nos.
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E poucas pessoas sabem como fazer isto.
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A prática da atenção plena ajuda-nos,
alimentando-nos e curando-nos.
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Depois...
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Quando surge em nós um sentimento doloroso
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e conhecemos a prática da atenção plena
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não temos de sair e comprar alguma coisa
e consumi-la para esquecer.
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Na verdade, sabemos reconhecer
o sentimento doloroso, a emoção dolorosa.
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Sabemos como o embalar com ternura,
como o entender.
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E podemos começar a transformá-lo
em algo mais positivo.
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Podemos transformar o lixo numa flor.
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E é por isso que temos de praticar.
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Para lidar com o sofrimento colectivo
da nossa sociedade
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temos de aprender
a prática da atenção plena.
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Queremos cuidar do nosso corpo,
dos nossos sentimentos e emoções.
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E a prática da atenção plena
ajuda-nos a fazer isso.
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A prática da atenção plena pode ajudar
a conseguir uma sensação de alegria
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uma sensação de felicidade.
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A prática pode ajudar-nos a lidar
com um sentimento ou emoção dolorosa.
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E podemos gerar amor
e compreensão em nós.
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E obtemos uma sensação de realização.
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E tornamo-nos em fonte de alegria
e felicidade para os outros,
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para os nossos entes queridos,
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porque temos tantas coisas a oferecer.
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E, sentados junto a nós,
vão sentir-se em paz e felizes,
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porque temos
a sensação de realização,
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de compaixão e felicidade em nós.
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E...
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durante a prática, precisamos de silêncio,
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porque esse silêncio nos ajuda
a regressar ao nosso interior
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e a pormo-nos em contacto com
a nossa respiração. com o nosso corpo,
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com a nossa felicidade,
com o nosso sofrimento,
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para podermos cuidar de nós,
do nosso corpo e mente.
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E quando conseguirmos produzir
a sensação de felicidade e paz,
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podemos ajudar os outros a fazer o mesmo.
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Podemos oferecer a energia de alegria,
atenção plena, compaixão
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e ajudar os outros a sofrerem menos,
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e ajudá-los a...
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gerar a sensação de alegria
e felicidade dentro deles.
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Esse tipo de silêncio
é muito frutífero, é muito...
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é muito activo,
é muito eloquente.
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Não é o tipo de silêncio que nos reprime.
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É uma espécie de silêncio nobre.
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No budismo chamamos a este silêncio
"O Silêncio Trovejante".
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É muito eloquente,
é repleto de energia.
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Como na sala de meditação,
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se...
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se 900 pessoas souberem como praticar
a respiração com atenção plena
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e como gerar a energia
da atenção plena e da paz,
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esse silêncio é muito poderoso,
muito curativo, muito rico.
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Não nos oprime.
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Chamamos-lhe "O Silêncio Trovejante".
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E com esse silêncio, as crianças
ficam felizes, os adultos ficam felizes.
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Se todos estiverem zangados ou ansiosos
e se sentarem conjuntamente,
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criam uma ansiedade colectiva,
uma raiva colectiva.
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Esse silêncio é muito negativo.
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Não suportamos esse tipo de silêncio.
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Mata-nos.
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Mas quando sabemos como
sentar-nos em grupo e respirar juntos
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e gerar a energia da paz,
do relaxamento e da alegria,
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essa energia colectiva do silêncio
é muito terapêutica e rica.
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Por isso, temos de aprender
a gerar esse tipo de silêncio
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na nossa família, na sala de aula,
no Parlamento, na Câmara Municipal.
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Se for um professor, deve saber como
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gerar este tipo de silêncio
na sala de aula.
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Se tiver um lar, deve saber como trazer
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este tipo de silêncio
para o seio da sua família
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para que o alimente a si
e aos seus filhos e a outros.
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Se for presidente
da Assembleia da República
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pode propor este tipo de prática
para gerar este tipo de silêncio.
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Quando estive na Índia, visitei
o presidente da Assembleia Nacional.
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Propus-lhe
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a prática de escutar o sino,
respirar e sorrir no Congresso.
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Começa-se uma sessão respirando
com atenção plena e escutando o sino.
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E sempre que a discussão ficar mais acesa
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e as pessoas já não conseguirem
escutar-se umas às outras,
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convida-se o sino.
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E toda a assembleia parará de falar
parará de escutar
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e praticará a respiração com atenção plena
para se acalmar.
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O Sr. Narayanan,
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que era o presidente
da Assembleia Nacional da Índia
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ficou muito interessado nisto.
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E tentou levar a prática para o Congresso.
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Então, dez dias depois, enquanto
orientava um retiro em Chennai
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alguém me trouxe um jornal.
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Havia um artigo no qual se dizia que o Sr.
Narayanan tinha constituído uma comissão,
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para se encarregar dessa prática
no Congresso.
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E pedira ao antigo Primeiro Ministro
para presidir a essa comissão,
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designada como "Comissão para a Ética
na Assembleia Nacional".
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Não sabemos até onde
levaram a prática.
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Mas pouco depois, ele tornou-se
presidente da Índia.
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Por isso, não continuou
com a assembleia e com a prática.
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Se algum de vocês for membro
da Assembleia Nacional,
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pode tentar (risos)
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convencer o porta-voz da Assembleia,
do Senado a fazer o mesmo.
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Esta é a prática.
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E se forem professores, se forem...
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directores de uma empresa,
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se forem patrões de uma empresa,
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se forem chefes de família,
se forem...
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se forem presidentes da Câmara,
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podem muito bem criar este tipo de
silêncio no vosso local de trabalho.
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E isso vai cuidar de vocês
e dos vossos colegas.
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Tudo depende do tipo de silêncio
que criamos.
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ligue-se, inspire-se, nutra-se
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