Aprender a morrer: Hugo Dopaso em TEDxBuenosAires
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0:12 - 0:18Olá, tudo bom?
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0:18 - 0:23Meu nome é Hugo Dopaso e eu trabalho com o problema
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0:23 - 0:29do final da vida, efetivamente, como médico e psicoterapeuta.
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0:29 - 0:36Esse é o lugar, esse é o papel, que eu tive de assumir, e o fiz, desde já.
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0:36 - 0:41E do qual eu me sinto muito honrado.
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0:41 - 0:47Numa conversa com as pessoas do TED que me convidaram
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0:47 - 0:53— convite do qual eu me sinto muito honrado — eu perguntei:
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0:53 - 0:58Qual seria a melhor maneira de apresentar meu tema?
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0:58 - 1:01O tema da morte, o processo para morrer.
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1:01 - 1:10Então esta pessoa me olhou e me disse: "é muito simples, seja você mesmo".
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1:10 - 1:18Seja você mesmo. E, realmente, é o que eu quero fazer
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1:18 - 1:25e o que quero tentar: ser eu mesmo.
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1:25 - 1:29Falar a vocês a partir de dentro de mim, do meu coração, das minhas vivências.
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1:29 - 1:37Sinceramente acho que é o que principalmente
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1:37 - 1:41tenho vontade e necessidade de compartilhar com vocês.
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1:41 - 1:48A história do meu trabalho com os pacientes terminais,
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1:48 - 1:53que obviamente não é uma coisa que alguém "escolhe" assim sem mais, né?
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1:53 - 1:55Não é que alguém um dia pense:
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1:55 - 1:58seria legal trabalhar com essa questão.
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1:58 - 2:00De repente a vida nos põe aí.
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2:00 - 2:10Tudo começou quando, em um momento da vida, esses momentos normais
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2:10 - 2:14na vida de qualquer pessoa, você vai amadurecendo, crescendo
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2:14 - 2:18você vê que os filhos vão crescendo também.
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2:18 - 2:25Então você olha para os seus pais e eles estão envelhecendo.
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2:25 - 2:33Foi assim que em um determinado momento, a minha mãe ficou doente e morreu.
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2:33 - 2:43Algum tempo depois, sua irmã — uma tia amada — ficou doente e morreu.
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2:44 - 2:48Aí aconteceu uma coisa relacionada com a morte
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2:48 - 2:56bastante especial também: quando estávamos velando a tia Beatriz,
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2:56 - 2:59então um sobrinho-neto que a amava
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2:59 - 3:03— ele estava de férias no Mar del Plata e quis vir por um tempo
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3:03 - 3:08para velá-la, para estar um tempo com ela no velório —
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3:08 - 3:10morre em um acidente na estrada,
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3:10 - 3:14no trajeto de Mar del Plata a Buenos Aires.
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3:14 - 3:19Isso já estava ficando demais, né?
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3:19 - 3:21Nós estamos de certo modo condicionados
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3:22 - 3:25a se despedir das pessoas idosas, né?
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3:25 - 3:28Mas esse menino tinha 18 anos.
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3:28 - 3:32De tal forma que, bem, terminou o velório da minha tia
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3:32 - 3:37e continuamos com o velório de Gabriel.
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3:37 - 3:40As coisas passam, o tempo passou.
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3:40 - 3:51Algum tempo depois, meu pai sentiu que já era suficiente pra ele.
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3:51 - 3:55Que ele já havia feito — assim dizia ele, assim o expressava do seu jeito,
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3:55 - 3:58era um homem do campo — que a sua tarefa tinha sido cumprida
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3:58 - 4:05e que, na realidade, queria partir.
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4:05 - 4:10Ele dizia isso com tranquilidade, com calma.
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4:10 - 4:14Evidentemente ele parecia estar preparado para enfrentar essa experiência.
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4:14 - 4:19E assim foi. Ele encontrou, por assim dizer, o jeito de apertar o "switch".
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4:19 - 4:28Uma doença que não foi fácil de diagnosticar e, no final, morreu.
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4:28 - 4:31Sobramos eu e o meu irmão.
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4:31 - 4:35Eu tinha um irmão dois anos mais velho.
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4:35 - 4:41Nessa época tínhamos 48 e 50 anos, aproximadamente.
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4:41 - 4:45Essa situação, essa circunstância, fez
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4:45 - 4:48com que nos sentíssemos mais perto do que nunca.
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4:48 - 4:53Eu queria acompanhá-lo pela situação penosa
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4:53 - 4:56pela qual ele havia passado, a morte de seu filho.
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4:56 - 5:00Nós nos encontrávamos uma vez por semana pra sair pra jantar.
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5:00 - 5:04Ele vinha me buscar e nós íamos comer em algum lugar. Conversávamos.
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5:04 - 5:10Um dia que ele veio me buscar antes de sair, me disse:
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5:10 - 5:12— "O que você acha que é isso aqui que eu tenho?"
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5:12 - 5:16— "Não sei, deixa eu ver". — " Eu estou com um carocinho", me disse.
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5:16 - 5:22Eu o apalpei e disse: "Olha, irmão, isso é um gânglio.
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5:22 - 5:27Um gânglio inflama quando existe alguma infecção.
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5:27 - 5:32Ou quando existe algum outro problema que tem que controlar.
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5:32 - 5:37Faz parte do mecanismo de defesa do corpo, do organismo.
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5:37 - 5:43Mas eu vou tentar averiguar o que está acontecendo, do que se trata isto.
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5:43 - 5:53Na semana seguinte, eu consegui a pessoa apropriada, um médico, biópsia, diagnóstico.
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5:53 - 5:56Um linfoma de Hodgkin.
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5:56 - 6:01Nessa época, uns bons anos atrás, realmente
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6:01 - 6:09não havia uma terapia adequada pra tratar essa doença.
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6:09 - 6:18Então, eu fiquei seis meses com o meu irmão o acompanhando
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6:18 - 6:21em todos os momentos, porque eu sentia que deveria fazê-lo, era o que queria fazer,
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6:21 - 6:23era o que sentia que tinha de fazer.
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6:23 - 6:27Estar com ele, e o acompanhei até a sua morte.
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6:27 - 6:30Eu o acompanhei a deixar este mundo.
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6:30 - 6:35De forma que ele pôde morrer, ele pôde partir, dizendo-me:
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6:35 - 6:40"Irmãozinho, eu não vou embora, eu estou sendo expulso daqui.
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6:40 - 6:46Estou sendo desalojado, não sei por quê".
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6:46 - 6:51E, realmente, essa era a sua vivência.
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6:51 - 6:56Ele era jovem. Tinha coisas pra fazer, sonhos pra realizar. E partiu.
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6:56 - 7:06Bem, esta situação foi bastante difícil.
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7:06 - 7:12Eu tentei continuar com os meus afazeres,
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7:12 - 7:16com as minhas atividades, minhas responsabilidades.
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7:16 - 7:24E como pude, tentei continuar trabalhando, fui fazendo as minhas coisas.
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7:24 - 7:30E na verdade eu não consegui. A qualquer hora,
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7:30 - 7:34na hora menos esperada, eu tinha uma crise de choro.
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7:34 - 7:36Eu começava a chorar desconsoladamente
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7:36 - 7:39em qualquer situação, em qualquer lugar.
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7:39 - 7:45Mas eu não só sentia uma tristeza enorme, eu tinha medo.
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7:45 - 7:49Eu realmente estava muito assustado. Tinha medo.
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7:49 - 7:52A morte havia levado um atrás do outro
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7:52 - 7:53todos os membros da minha família.
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7:53 - 7:57E eu era o único que restava.
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7:57 - 8:01A qualquer momento ela ia vir pra me buscar, por que não?
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8:01 - 8:04Essa era a situação na qual eu me encontrava.
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8:04 - 8:08E eu não encontrava respostas, não encontrava explicações.
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8:08 - 8:11Em certos momentos, sentia medo, pânico.
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8:11 - 8:14Em certos momentos, sentia uma tristeza tão profunda
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8:14 - 8:19como nunca havia conhecido, como não havia sentido jamais.
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8:19 - 8:23Isso estava interferindo nas minhas atividades e nas minha coisas.
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8:23 - 8:26Eu trabalhava como psicoterapeuta.
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8:26 - 8:28Quando parecia que eu estava me sentindo mais ou menos bem
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8:28 - 8:30e podia atender um paciente, eu marcava com o paciente.
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8:30 - 8:33Em 10 minutos, o paciente estava falando sobre qualquer coisa
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8:33 - 8:36e eu não conseguia me conectar com ele e tinha que pedir,
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8:36 - 8:42"por favor, temos que parar por aqui", e começava a chorar.
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8:42 - 8:44Eu precisava de ajuda. Evidentemente, eu precisava de ajuda.
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8:44 - 8:47Eu percebi que sozinho, não ia conseguir seguir adiante.
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8:48 - 8:50Claro que recorri aos meus colegas amigos,
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8:50 - 8:57aos psicoterapeutas, psicólogos.
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8:57 - 9:01Eles não tinham resposta pra minha situação.
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9:01 - 9:05Eu queria entender o que era tudo isto que estava acontecendo, que eu sentia,
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9:05 - 9:10de que maneira eu estava respondendo a essa situação.
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9:10 - 9:15Mas a temática da morte é um tema
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9:15 - 9:18que os psicólogos e os terapeutas também não conseguem manejar.
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9:18 - 9:21Foi assim que eu fiquei sabendo disso, nesse momento em que precisava de ajuda.
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9:21 - 9:25Certamente as coisas mudaram na atualidade.
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9:25 - 9:28Inclusive me disseram: "Bem, isso é uma depressão,
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9:28 - 9:32você tem que tomar um antidepressivo".
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9:32 - 9:36Pra mim estava claro que não era uma questão de depressão.
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9:36 - 9:37Era outra coisa que estava acontecendo comigo.
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9:37 - 9:39Era uma verdadeira crise existencial.
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9:39 - 9:43Não era somente o medo da morte, o medo de morrer,
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9:43 - 9:46de deixar este mundo com a pena que me dava.
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9:46 - 9:49Meus filhos pequenos, minha família, meus sonhos, minha vontade de fazer coisas.
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9:49 - 9:53Eu queria entender, queria compreender, que alguém
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9:53 - 10:00me explicasse em que consistia isso que é a morte.
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10:00 - 10:03Um amigo de um amigo tinha um sacerdote.
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10:04 - 10:05Ele me disse, "por que você não vai falar com ele?
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10:05 - 10:12É um sacerdote, religioso, ele pode te dizer alguma coisa".
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10:12 - 10:16Claro, eu fui vê-lo. Conversei algumas vezes com ele.
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10:16 - 10:21Muito gentil, muito generoso, de coração muito aberto.
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10:21 - 10:25Mas, na realidade, no fundo, a única coisa
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10:25 - 10:27que ele tinha pra me oferecer era consolo.
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10:27 - 10:31Mas o consolo não era o que eu precisava.
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10:31 - 10:35O consolo eu recebia, de amigos, de famliares, que estavam ao meu redor.
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10:35 - 10:38Não era consolo o que eu precisava.
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10:38 - 10:45Eu precisava saber, precisava compreender.
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10:45 - 10:50Eu até tentei uma incursão pela filosofia,
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10:51 - 10:55sem ter preparação nem muita vocação.
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10:55 - 10:58Mas eu falei, bem, a filosofia pode ser.
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10:58 - 11:03Pareceu-me que a filosofia só serve
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11:03 - 11:06pra fazer perguntas, e perguntas, e perguntas.
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11:06 - 11:10A filosofia faz perguntas mas nunca responde.
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11:10 - 11:12Essa não é a função da filosofia,
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11:12 - 11:15ao que parece, responder perguntas.
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11:15 - 11:21E minha cabeça já estava quase explodindo de tantas perguntas.
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11:21 - 11:29De tal forma que, nessas condições, vendo-me assustado
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11:29 - 11:33de tempos em tempos, facilmente uma vez por dia no começo.
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11:33 - 11:40Com essa crise de medo, de tristeza.
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11:40 - 11:44Muito prejudicado nas minhas possibilidades de trabalhar,
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11:44 - 11:46de fazer a minha vida e as minhas coisas.
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11:46 - 11:49E portanto de abrir caminho
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11:49 - 11:52pra ver se eu podia deixar pra trás toda essa situação.
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11:53 - 11:56Eu não consegui deixá-la pra trás. Era o que eu queria, o que necessitava
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11:56 - 12:02pra poder continuar o caminho da minha vida.
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12:02 - 12:07Um dia, um desses muitos dias,
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12:07 - 12:13eu senti que começava a ficar triste.
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12:13 - 12:16Eu pensei, bem, é só mais um momento.
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12:16 - 12:18Então eu já me dispunha e me preparava,
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12:18 - 12:21procurava um lugar, no meu consultório.
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12:21 - 12:25Deitava no chão, nas almofadas,
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12:25 - 12:29trabalhava na terapia gestáltica, trabalhávamos assim...
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12:29 - 12:38e eu ficava ali... e a tristeza vinha e estava e se instalava.
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12:38 - 12:45E ficava um tempo, às vezes um tempo grande, comigo.
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12:45 - 12:50Às vezes esse tempo parecia muito grande.
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12:50 - 12:53Mas assim como vinha, ia embora também.
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12:53 - 12:55Uma vez, duas vezes, três vezes.
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12:55 - 12:58Um dia, dois dias, uma semana, um mês.
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12:58 - 13:05E um dia eu percebi que quando eu saía desse estado,
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13:05 - 13:10quando eu saía desse momento, quando a tristeza ia embora,
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13:10 - 13:14e eu começava a me recuperar,
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13:14 - 13:17eu ficava melhor, mais tranquilo.
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13:18 - 13:25Quase mais leve, mais lúcido. Estava em paz.
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13:25 - 13:27Podia ver a vida de outra forma.
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13:27 - 13:30Podia voltar a me entusiasmar com o trabalho, com a vida, com as coisas.
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13:30 - 13:32Eu realmente me sentia melhor.
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13:32 - 13:35Uma vez, duas vezes, três vezes.
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13:35 - 13:42E, bem, afinal, a tristeza não me faz mal.
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13:42 - 13:45A tristeza não me causa nenhum dano.
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13:46 - 13:49Talvez ela faça o oposto.
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13:49 - 13:52A tristeza me faz bem porque depois
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13:52 - 13:55que ela passa, eu me sinto como nunca, renovado.
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13:55 - 14:07E um dia eu pensava "que faz a tristeza,
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14:07 - 14:09o que é que a tristeza faz pra que eu
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14:09 - 14:12me sinta bem, me sinta melhor?"
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14:12 - 14:16Eu queria saber, queria aprender com a vida,
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14:16 - 14:18com a morte, com a tristeza, com tudo.
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14:18 - 14:20Queria saber, precisava saber.
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14:20 - 14:28E eu percebi que o que a tristeza faz é levar-nos pra dentro de nós mesmos.
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14:28 - 14:34Dentro, dentro. A tristeza nos leva pra dentro de nós.
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14:34 - 14:38A função da tristeza em todas as pessoas é essa:
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14:38 - 14:42levar-nos pra dentro de nós, pro nosso mundo interior.
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14:42 - 14:45Que era justamente onde eu precisava estar.
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14:45 - 14:49Era aonde eu precisava ir. Ao meu mundo interno.
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14:49 - 14:52Refugiar-me no meu mundo interno.
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14:52 - 14:55Sair do mundo, correr do mundo.
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14:55 - 15:00E entrar no mais profundo do coração.
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15:00 - 15:04Lugar e espaço que eu não conhecia, não havia frequentado,
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15:05 - 15:08assim, com essa intensidade, desse modo.
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15:08 - 15:14Enão comecei a entender que a função da tristeza era essa.
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15:14 - 15:19Em algum momento eu disse, bem,
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15:19 - 15:22não só esperava o momento
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15:22 - 15:25— porque eu não podia criá-lo por minha própria vontade —
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15:25 - 15:27foi outra coisa que eu aprendi.
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15:27 - 15:32Ela vir ou não vir, não era uma coisa que eu pudesse controlar.
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15:32 - 15:35Mas eu me dispunha, quando sentia os sinais.
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15:35 - 15:38Então um dia, pensei: vou acompanhar a tristeza.
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15:38 - 15:43E então comecei a criar condições, e quando a tristeza vinha
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15:43 - 15:48e se instalava e começava sua tarefa de me levar
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15:48 - 15:52ao meu mundo interior, então eu diminuía um pouco
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15:52 - 15:54as luzes, as atenuava.
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15:54 - 16:01Atenuar as luzes, me fazia bem. E eu pus música.
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16:01 - 16:06Eu deixava que me acompanhasse em minha viagem
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16:06 - 16:09ao meu mundo interior um pouco de música.
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16:09 - 16:13E mais ou menos eu comecei a gostar da coisa e disse,
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16:13 - 16:18bem, vou acabar virando um especialista em tristeza.
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16:18 - 16:23Eu até já sabia qual era a música mais apropriada pra mim.
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16:23 - 16:26O adagio da quarta sinfonia de Mahler, por exemplo.
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16:26 - 16:33Era uma benção. Não era um simples veículo que me acompanhava,
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16:33 - 16:36era mais ou menos como um trem bala que me levava pra dentro de mim.
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16:36 - 16:41(Risos)
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16:41 - 16:46E então, na minha aprendizagem, pensei:
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16:46 - 16:51OK, a tristeza é esse veículo que me leva pro meu interior.
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16:51 - 16:55E o que está acontecendo nesse interior?
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16:55 - 17:00O que é que faz com que de repente, no meu interior,
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17:00 - 17:04quando o mundo externo já tinha desaparecido pra mim,
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17:04 - 17:12e eu estava nesse espaço, que eu me sentisse pleno?
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17:12 - 17:17Custava acreditar. Eu me sentia feliz!
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17:17 - 17:25Como eu nunca havia me sentido, tão pleno e feliz!
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17:25 - 17:31Nesse espaço do meu mundo interior.
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17:31 - 17:35Eu continuei observando, continuei indagando.
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17:35 - 17:40Eu continuei tentando ver o que era isso, em que consistia tudo isso.
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17:40 - 17:45E eu percebi o seguinte: quando eu iniciava o processo,
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17:45 - 17:50quando eu iniciava a viagem ao meu espaço interior,
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17:50 - 17:57quem iniciava, quem começava a viagem era esse personagem
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17:57 - 17:59chamado Hugo Dopaso, que estava desolado
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17:59 - 18:02pelo tema da morte, que não podia trabalhar,
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18:02 - 18:04esse personagem sofredor.
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18:04 - 18:09Esse era o personagem que iniciava a trajetória.
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18:09 - 18:12Mas no caminho ao meu mundo interior,
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18:12 - 18:16na medida em que eu ia penetrando mais e mais dentro de mim,
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18:16 - 18:18esse personagem ia se desfazendo
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18:18 - 18:21até que por último esse personagem desaparecia.
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18:21 - 18:25Já não estava mais lá. Não fazia mais parte da minha realidade.
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18:25 - 18:38Quem estava lá, nesse estado de paz, não era ninguém mais que eu mesmo.
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18:38 - 18:47Era eu, era eu consciente de ser o que sou.
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18:47 - 18:53E esse estado de consciência, esse ser que eu sou,
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18:53 - 18:57mas que habita o meu mundo interior
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18:57 - 19:00— e somente meu mundo interior e esse espaço —
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19:00 - 19:06não só me produzia bem-estar e felicidade,
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19:06 - 19:12mas também me mostrava que essa era minha condição.
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19:12 - 19:21A felicidade, a paz, é minha verdadeira natureza.
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19:21 - 19:24Claro que eu queria ficar vivendo ali.
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19:24 - 19:26Eu não queria mais ir pra fora.
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19:26 - 19:27Não queria mais nada com o mundo.
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19:28 - 19:33Porque eu percebia que sistematicamente, quando esse momento
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19:33 - 19:37terminava, era como se ele tivesse de terminar
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19:37 - 19:41necessariamente, e inexplicavelmente.
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19:41 - 19:43E assim como começava, também terminava.
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19:43 - 19:48E assim como entrava, tinha de sair.
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19:48 - 19:52Na medida em que eu ia me recuperando da minha saída ao exterior,
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19:52 - 19:57eu ia recuperando novamente o personagem que eu era,
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19:57 - 20:02o personagem comum com que eu me desenvolvia perante o mundo.
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20:02 - 20:09Nesse mundo, neste mundo, que chamamos de mundo da realidade.
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20:09 - 20:13E uma vez ali, apesar de me sentir um pouco melhor,
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20:13 - 20:18porque a lembrança dessa experiência me fazia muito bem,
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20:18 - 20:21eu me encontrava também com todos os problemas que significa
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20:21 - 20:25viver e compartilhar isto que chamamos vida,
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20:25 - 20:28o mundo, a realidade, como queiramos chamar.
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20:28 - 20:35E eu sabia que a minha situação vital existencial era esta.
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20:35 - 20:38Entrar, sair, não posso ficar dentro,
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20:38 - 20:42tenho que fazer minha vida fora, o mundo está aí.
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20:42 - 20:47Para me envolver, pra fazer as minhas coisas.
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20:47 - 20:52E quando toda essa situação crítica foi passando e ficando pra trás,
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20:52 - 20:55com esse aprendizado fenomenal — realmente fenomenal —
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20:55 - 20:59que eu tive, num momento eu disse, bem, OK,
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20:59 - 21:02enquanto estiver neste mundo quero cumprir
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21:02 - 21:08com o meu papel de médido psicoterapeuta e quero me dedicar
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21:08 - 21:12a acompanhar as pessoas no final da vida.
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21:12 - 21:14Isso é o que sinto que quero fazer.
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21:14 - 21:17Essa é a tarefa à qual quero me dedicar.
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21:17 - 21:23Quero aprender o que é, em que consiste, porque dado meu papel profissional,
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21:23 - 21:27eu não conhecia bem a questão do final da vida,
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21:27 - 21:29não sabia bem a questão dos pacientes terminais.
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21:29 - 21:32Comecei a estudar, comecei a me capacitar.
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21:32 - 21:37Felizmente havia um lugar apropriado pra isso.
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21:37 - 21:40Uma fundação que recentemente tinha sido organizada em Buenos Aires.
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21:40 - 21:44E eu me formei como médico psicoterapeuta
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21:44 - 21:47acompanhante de pacientes terminais.
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21:47 - 21:53Talvez a melhor maneira de resumir, seria dizendo o seguinte:
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21:53 - 22:02eu entendi em que consiste a morte e o processo humano de morrer.
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22:02 - 22:08O paciente terminal é uma pessoa para quem
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22:08 - 22:14como no teatro o ator quando fecham as cortinas, terminou seu papel,
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22:15 - 22:16o paciente terminal é uma pessoa que já não pode
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22:16 - 22:20cumprir nenhum outro papel, terminou com todos os papéis.
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22:20 - 22:24Está aí, tranquilo, disposto.
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22:24 - 22:28Claro, inquieto, inseguro, temeroso,
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22:28 - 22:31porque não sabe como vai continuar a coisa.
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22:31 - 22:36Ele nunca se viu a si mesmo sozinho, consigo mesmo,
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22:36 - 22:39como eu tinha aprendido a me ver, sozinho comigo mesmo
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22:39 - 22:41e descoberto meu ser interior.
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22:41 - 22:47Ele estava identificado e pensava que era somente os papéis que cumpria.
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22:47 - 22:49E que cumpriu em função de sua vida.
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22:49 - 22:52Todos os papéis que realizou.
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22:52 - 22:57Estava identificado com os personagens
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22:57 - 23:02com os quais se desenvolvia no mundo.
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23:02 - 23:10Mas não havia conhecido o ator que está por trás desse personagem
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23:10 - 23:15que é o ser que você verdadeiramente é.
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23:15 - 23:20E só se pode expressar no mundo através
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23:20 - 23:23do cumprimento das tarefas e das funções,
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23:23 - 23:25todas essas tarefas e funções que cumprimos,
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23:25 - 23:29e a que nos dedicamos cotidianamente.
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23:29 - 23:32O paciente terminal, então, ainda identificado
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23:33 - 23:40com seus personagens e identificado com seu próprio corpo, teme a morte.
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23:40 - 23:45Porque sabe, intuitivamente, que o que vai acontecer
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23:45 - 23:49é que ele vai ficar sem corpo.
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23:49 - 23:54O corpo é o que vai morrer.
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23:54 - 23:57Então, e com isto sim acho que posso encerrar,
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23:57 - 24:00e deixar mais ou menos clara a ideia.
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24:00 - 24:04Isto me disse um paciente que eu acompanhei.
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24:04 - 24:09Ele disse: Doutor, vem aqui. Eu quero te fazer uma pergunta
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24:09 - 24:12— ele tinha 42 anos, morria de um câncer de pâncreas —
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24:12 - 24:23Por que, se eu sei que vou morrer, eu acho que não vou morrer?
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24:23 - 24:26Porque as duas coisas estão certas, eu pude dizer.
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24:26 - 24:28Quando você está identificado com o seu corpo,
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24:28 - 24:30quando acha que você é o seu corpo,
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24:30 - 24:33você sabe que o seu corpo vai morrer porque ele tem câncer.
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24:33 - 24:38Mas o que verdadeiramente você é, o que observa,
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24:38 - 24:42a testemunha dessa experiência do corpo,
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24:42 - 24:45evidentemente não é o corpo.
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24:45 - 24:47É distinto, é diferente.
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24:47 - 24:53E isso que você é não é só distinto e diferente.
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24:53 - 24:58É uma linhagem, uma origem distinta do físico e do corporal.
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24:58 - 25:00O corpo com a morte se desintegra.
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25:00 - 25:07Termina feito os minerais dos quais é composto.
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25:07 - 25:12Mas a pessoa, de repente, não está nesse corpo.
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25:12 - 25:15Deixou esse corpo, abandonou esse corpo.
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25:15 - 25:17Isso chamamos de morrer.
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25:17 - 25:19Qual foi o destino?
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25:19 - 25:24Pra onde vai essa consciência, esse ser, ou como queiramos chamar?
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25:24 - 25:27É um tema para se pensar em outras oportunidades.
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25:27 - 25:27Obrigado.
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25:27 - 25:29(Aplausos)
- Title:
- Aprender a morrer: Hugo Dopaso em TEDxBuenosAires
- Description:
-
O psiquiatra Hugo Dopaso trabalha há 20 anos na questão do final da vida, acompanhando a agonia como uma transformação e superação do medo da morte. Nesta conversa de TEDxBuenosAires, ele conta uma historia pessoal, uma passagem pela tristeza e o desassossego mais profundo, produto de uma verdadeira crise existencial, e como a partir dali, ele empreende uma viagem ao espaço... interior, em um trem bala imaginário, que o transporta a um lugar em que finalmente entende — e que compartilha aqui — em que consiste a morte e o processo humano de morrer.
- Video Language:
- Spanish
- Team:
closed TED
- Project:
- TEDxTalks
- Duration:
- 25:30
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Krystian Aparta
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