Como fugi da escravidão | Manoel Cunha | TEDxAmazônia
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0:18 - 0:20Boa tarde a todos e todas.
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0:22 - 0:25Está fraco. Deve ser a falta do almoço.
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0:29 - 0:34Mas, a primeira coisa
é agradecer o convite -
0:34 - 0:35feito pelo companheiro Denis.
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0:35 - 0:37Ele disse que ia ficar de férias,
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0:37 - 0:39deve estar aí na cadeira.
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0:39 - 0:43Obrigado, se não eu não teria
esta oportunidade -
0:44 - 0:47de falar um pouco da minha história.
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0:47 - 0:51Mas aí, me veja
como milhões de extrativistas -
0:51 - 0:55que estão por debaixo
das camadas de floresta -
0:55 - 0:58e não teria esta oportunidade, Denis,
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0:58 - 1:01de falar aqui para um público
tão importante -
1:01 - 1:04e num momento tão importante
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1:04 - 1:08em que todos estão juntando os esforços
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1:08 - 1:11no sentido de construir um mundo melhor
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1:11 - 1:15e mais justo para todos, porque merecemos.
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1:17 - 1:21Como já fui apresentado, sou Manoel Cunha,
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1:21 - 1:26filho do município de Carauari,
no estado do Amazonas, -
1:27 - 1:32pouco mais de 700, 750 km
daqui, em linha reta, -
1:32 - 1:36se pegar o rio é muito mais tempo
para chegar lá. -
1:37 - 1:40E nasci em 2 de março de 1968,
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1:40 - 1:42não sou tão velho assim.
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1:42 - 1:48Mas, conheci boa parte, ainda,
de uma história triste, -
1:48 - 1:51podemos dizer, velha, triste,
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1:51 - 1:54que incomodou muito a vida das pessoas.
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1:55 - 1:58E aconteceu muita coisa interessante
na minha vida -
1:58 - 2:02que gostaria de tentar falar para vocês.
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2:03 - 2:06Nós somos 14 irmãos.
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2:07 - 2:11Criados por um velho
chamado Joaquim Cunha. -
2:11 - 2:15Então, não tivemos
muitas oportunidades na vida, -
2:15 - 2:17e uma delas foi de não poder estudar.
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2:18 - 2:23Naquele período, agora entrando
mais direto no assunto, -
2:23 - 2:28os patrões não queriam
que os filhos de seringueiros estudassem. -
2:28 - 2:35Diziam que para tirar a borracha
não precisava ter escolaridade. -
2:35 - 2:40Nem imaginávamos que não queriam
que nos educássemos -
2:40 - 2:44para que não virássemos a regra do jogo.
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2:44 - 2:46Imaginávamos que estavam certos mesmo,
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2:46 - 2:51que para tirar borracha
não precisava ter escolaridade nenhuma. -
2:51 - 2:54Então, quando tinha 11 anos de idade,
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2:54 - 2:58estava me manifestando a ir
para a floresta mais o meu pai, -
2:58 - 3:00para ajudá-lo a colher borracha,
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3:00 - 3:05o patrão, vizinho do nosso,
conseguiu uma escola. -
3:06 - 3:09Não era uma escola, mas era uma permissão
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3:09 - 3:16para a esposa do patrão ensinar
aquele povo que morava no campo. -
3:17 - 3:20Moravámos a uma hora e meia de remo,
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3:20 - 3:24como bem mostrou o nosso companheiro
de saúde e alegria, -
3:24 - 3:26para chegar até lá.
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3:26 - 3:29Mas, mesmo assim, meu pai
tomou uma decisão muito importante -
3:29 - 3:31na vida dele e na vida de todos nós:
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3:31 - 3:34colocar duas irmãs para estudar
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3:34 - 3:39com o objetivo de
que pudessem se alfabetizar -
3:39 - 3:42e depois nos alfabetizar em casa,
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3:42 - 3:43já que não podíamos ir para a escola
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3:43 - 3:46porque tínhamos de ir
para a estrada de seringa. -
3:46 - 3:49A professora tinha pena delas.
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3:49 - 3:54Então, só deixava elas irem
três dias por semana à aula, -
3:54 - 3:56dois dias ela dava em forma de tarefa.
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3:57 - 4:00Eu, com muita boa vontade
de aprender a ler e escrever, -
4:00 - 4:03consegui me alfabetizar com elas,
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4:03 - 4:06quando se juntavam
para fazer as tarefas delas. -
4:06 - 4:13Então, aí consegui me alfabetizar,
apenas sou alfabetizado, dessa forma. -
4:13 - 4:16E aí, começou toda a minha vida.
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4:16 - 4:19Mas me enfiei na produção de borracha
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4:19 - 4:23e naquela vida humilhante que vivíamos
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4:23 - 4:25Lembro até hoje.
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4:26 - 4:29Teve um ano em que meu pai
teve um problema de saúde -
4:29 - 4:35e só conseguiu chegar nas seringueiras
no mês de outubro, -
4:35 - 4:40e a época do verão, para nós,
é de julho a dezembro. -
4:41 - 4:44E, nesse ano, meu pai chegou em outubro,
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4:44 - 4:47só havia os outros dois meses do ano,
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4:47 - 4:51e o patrão tinha uma regra que,
no dia 31 de dezembro, -
4:51 - 4:53tinha que tirar todas as tigelas do mato,
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4:53 - 4:58tirar tigelas do mato,
não podia mais coletar borracha. -
4:58 - 5:01Meu pai foi obrigado a seguir aquela regra
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5:01 - 5:06e passamos mais necessidade
do que já passávamos. -
5:08 - 5:12Se for contar aqui,
são inúmeras as humilhações. -
5:12 - 5:15Por exemplo, se você pescasse...
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5:15 - 5:17esse lago aqui é o Lago do Mandioca,
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5:17 - 5:21do seringal São Romão, onde morava.
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5:21 - 5:26O patrão determinava que só podia pescar
aqui a partir do dia 1º de agosto. -
5:26 - 5:28Um exemplo.
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5:28 - 5:31E se nós, por uma necessidade,
para alimentação, -
5:31 - 5:34pescássemos naquele lago
antes daquela data, -
5:34 - 5:37era motivo para perder a sua colocação.
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5:37 - 5:42Perder a sua colocação, naquela região,
era quase perder a vida -
5:42 - 5:47porque todas as colocações de seringueiro
estavam ocupadas, -
5:47 - 5:50então não tinha nenhuma
colocação sobrando. -
5:50 - 5:52Então, nos humilhávamos até o último ponto
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5:52 - 5:55para que não perdêssemos a colocação.
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5:55 - 5:59Matar um peixe num lugar
que não era autorizado -
5:59 - 6:04também era motivo
de perder a sua colocação. -
6:04 - 6:07E no sistema de trabalho que tínhamos,
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6:07 - 6:09não se sabia por quanto
se vendia a produção -
6:09 - 6:12nem por quanto se comprava a mercadoria,
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6:12 - 6:16só ouvíamos uma voz grossa por detrás
dum balcão no final do ano, dizendo: -
6:16 - 6:21"Você ficou devendo, precisa produzir
mais borracha no ano que vem". -
6:22 - 6:25Começamos a perceber
que quanto mais produzíamos, -
6:25 - 6:27mais apresentava o débito,
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6:27 - 6:29para que pudessémos produzir mais
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6:29 - 6:34para gerar mais riqueza para ele,
já que todo o lucro era dele. -
6:34 - 6:36Aí, eu, como muitos...
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6:36 - 6:40e, como disse,
estou falando aqui em nome de muitos... -
6:40 - 6:42começamos a nos revoltar com isso,
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6:42 - 6:43a achar que não estava certo,
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6:43 - 6:45mas não tínhamos como fazer diferente.
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6:46 - 6:49Aí, já estava grande nesse tempo,
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6:49 - 6:52já era casado, já era pai de três filhos,
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6:52 - 6:57e em toda essa vida em que nasci
e me criei, até os 24 anos, -
6:57 - 7:01conheci apenas 14 praias de um rio,
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7:01 - 7:05o equivalente a 40 minutos de voadeira 40.
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7:05 - 7:08Então, minha vida estava
toda determinada àquele lugar. -
7:08 - 7:10Então, nunca tive nenhuma oportunidade
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7:10 - 7:13de que alguém me falasse
de outro mecanismo, -
7:13 - 7:19que fosse possível se implantar
para se mudar a região, -
7:19 - 7:23para mudar o jeito de produzir de alguém.
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7:24 - 7:28E aí, um certo dia, mais ou menos
pelo mês de maio, -
7:28 - 7:31ouvimos um aviso no rádio
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7:31 - 7:36de uma instituição chamada MEB,
Movimento de Educação de Base, -
7:36 - 7:38que era ligado à Igreja Católica,
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7:38 - 7:43que iriam fazer um trabalho
de mobilização dos seringueiros. -
7:43 - 7:45Esperamos...
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7:45 - 7:48e por volta de 8 horas da noite,
numa certa noite, -
7:48 - 7:51subiram na casa do meu pai,
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7:51 - 7:56e falaram dessa outra vida
que era possível se viver. -
7:56 - 8:00E lembro até hoje das pessoas dizendo:
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8:00 - 8:03"Vocês podem se organizar,
os seringueiros, -
8:03 - 8:06o que está na ponta de cima,
o da ponta de baixo, o do meio -
8:06 - 8:08e formarem uma comunidade,
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8:08 - 8:13aí vocês criam força
para reivindicar escola, posto de saúde, -
8:13 - 8:15e aí os filhos de vocês vão poder estudar.
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8:15 - 8:19E o mais interessante,
é que as comunidades lá de baixo, -
8:19 - 8:21eram as comunidades
mais próximas do município, -
8:21 - 8:24já estão se organizando em associação.
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8:25 - 8:29E o objetivo é que possamos vender
os nossos próprios produtos -
8:29 - 8:32através das nossas organizações
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8:32 - 8:37e eliminar esse sistema criminoso
que os patrões têm". -
8:37 - 8:42Aquele dia, acho que foi o dia
de maior alegria de minha vida, -
8:42 - 8:47porque consegui ver ali que tinha
uma outra forma, diferente, -
8:47 - 8:51da pessoa viver e viver dignamente.
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8:51 - 8:53Aí começou toda a luta.
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8:53 - 9:00Aí pulo um bom pedaço da história
para dizer que em 1997 -
9:00 - 9:05conseguimos criar a primeira reserva
extrativista do estado do Amazonas, -
9:05 - 9:09lá nas minhas comunidades,
lá no Médio Juruá. -
9:09 - 9:12(Aplausos)
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9:17 - 9:20E hoje esse mesmo público,
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9:20 - 9:24que passou por essa tremenda humilhação
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9:24 - 9:26que tentei dizer aqui,
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9:26 - 9:30essa associação cresceu, se mobilizou.
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9:30 - 9:33Os nossos seringueiros individuais,
do seringal São Romão, -
9:33 - 9:36transformamo-nos numa comunidade
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9:36 - 9:40e me tornei líder dela
e me tornei professor. -
9:40 - 9:42Interessante, nunca fui aluno,
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9:42 - 9:46mas fui professor por quatro anos
para a minha comunidade. -
9:46 - 9:48Com uma diferença:
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9:48 - 9:54sempre vi na educação não só o aprender
a ler e escrever, nem ver números, -
9:54 - 10:00mas um mecanismo, um meio, uma luz acesa
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10:00 - 10:03para a transformação de uma sociedade.
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10:03 - 10:09Tentei colocar isso para aqueles jovens
e adultos que comecei a formar. -
10:09 - 10:12Acho que hoje, sem discriminar
nenhuma região, -
10:12 - 10:18mas uma das regiões que têm o maior
acúmulo de lideranças comunitárias, -
10:18 - 10:20é a comunidade São Raimundo
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10:20 - 10:23e especialmente a Reserva
Extrativista do Médio Juruá. -
10:23 - 10:26E talvez, fui parte dessa história
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10:26 - 10:30por esse sentido de educar
de uma forma diferente, -
10:30 - 10:34preparando para enfrentar
a problemática do dia a dia. -
10:35 - 10:38Nessas comunidades,
voltando agora para os dias atuais, -
10:38 - 10:41em que vivíamos nessa situação,
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10:41 - 10:46hoje toda a produção
é vendida através da associação -
10:46 - 10:50ou da cooperativa direto aos consumidores.
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10:50 - 10:54A nossa companheira da Natura,
quando fez a apresentação dela, -
10:54 - 10:57um dos pontos que apresentou
foi o Médio Juruá. -
10:57 - 11:03Então, as comunidades do Médio Juruá
fornecem em torno de 15 a 20 toneladas -
11:03 - 11:08de óleo vegetal direto para a Cognis,
em Jacareí, São Paulo. -
11:08 - 11:11Sai da torneira da usina,
de dentro da reserva extrativista, -
11:11 - 11:17e vai para Jacareí, São Paulo,
para que a Cognis faça o beneficiamento -
11:17 - 11:19e depois repasse à Natura.
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11:19 - 11:22A borracha que sai
de dentro daquelas comunidades, -
11:22 - 11:25ou ia para Sena Madureira, no Acre,
-
11:25 - 11:27que era onde tinha
uma usina de beneficiamento, -
11:27 - 11:31ou ia para Manicoré,
no estado do Amazonas. -
11:31 - 11:37A farinha que sobra da produção
familiar é vendida num balcão -
11:37 - 11:41da própria associação, dentro da cidade.
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11:41 - 11:43Os produtos, os outros produtos,
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11:43 - 11:46a vassoura, o remo, o artesanato, então,
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11:46 - 11:50todos os produtos são vendidos
direto a quem consome, -
11:50 - 11:53ou a quem dá o tratamento final,
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11:53 - 11:57no caso da Natura
que transforma os óleos em cosméticos. -
11:57 - 11:58E o que é mais interessante,
-
11:58 - 12:02nesse período de vida
que tínhamos, por exemplo, -
12:02 - 12:05vivi muito tempo da minha vida
com duas blusas -
12:05 - 12:08e tinha que torcer
para fazer sol para enxugar, -
12:08 - 12:10para quando chegar em casa, vestir,
-
12:10 - 12:12porque tinha uma que levávamos
para o trabalho -
12:12 - 12:15e outra que a mãe
ficava para bater na tábua. -
12:15 - 12:20Hoje, as pessoas vivem dignamente
dentro dessa reserva. -
12:20 - 12:25E essa reserva já deu possibilidade
de criar, diria, -
12:25 - 12:28mais de uma dezena de outras unidades
de conservação. -
12:28 - 12:32As pessoas, quando vão fazer as palestras,
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12:32 - 12:35mobilizar as comunidades
para criar as unidades de conservação, -
12:35 - 12:38usam sempre o Médio Juruá como exemplo
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12:38 - 12:41de uma região que saiu
dessa situação de escravidão -
12:41 - 12:44e hoje tem uma independência total,
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12:44 - 12:48um movimento muito forte,
muito organizado. -
12:48 - 12:52Por último, agora foi implantado
o comércio ribeirinho solidário -
12:52 - 12:54que são cantinas, nós chamamos de cantina,
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12:54 - 12:59mas são como um pequeno supermercado
espalhado em todas as comunidades. -
12:59 - 13:04Estou falando de uma área
de 400km em linha reta, -
13:04 - 13:09da sede do município até a última
comunidade que atendemos. -
13:09 - 13:13Estou falando de mais
de 54 horas de barco, -
13:13 - 13:15que é o meio de transporte que temos,
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13:15 - 13:16fazendo todas essas curvas do rio.
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13:16 - 13:21Então, um povo que conseguiu,
dentro dos seus esforços, -
13:21 - 13:25dentro da perseguição da polícia,
que essa parte pulei, -
13:25 - 13:26das perseguições dos patrões,
-
13:26 - 13:30conseguiu encontrar
uma forma de sobreviver. -
13:30 - 13:34E o mais interessante,
sobreviver de forma sustentável. -
13:34 - 13:36Tudo que é feito naquela reserva
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13:36 - 13:41é feito olhando para as presentes
e futuras gerações. -
13:41 - 13:42E se me permitem,
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13:42 - 13:44queria contar uma história da andiroba.
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13:44 - 13:46Quando começamos,
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13:46 - 13:48eu era presidente da associação na época,
-
13:48 - 13:52começamos a fazer um estudo
do potencial da andiroba -
13:52 - 13:55junto com a Universidade
do Estado do Amazonas, -
13:55 - 14:00encontrávamos, numa hora ou outra,
um tablado de andiroba nas casas, -
14:00 - 14:03e dizíamos: "Corta outra árvore,
deixa a andiroba, -
14:03 - 14:04estamos pesquisando".
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14:05 - 14:09A andiroba só servia
para medicina caseira, -
14:09 - 14:14ou para fazer o sabão de soda,
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14:14 - 14:18que era mais barato do que comprar
o sabão industrializado. -
14:18 - 14:21E quando esse projeto se consolidou...
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14:21 - 14:24inclusive a Natura, porque
o grande objetivo era gerar energia -
14:24 - 14:28a partir de óleo vegetal,
e gerou, e gera até hoje. -
14:28 - 14:30Qualquer um de vocês pode ir lá ver.
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14:30 - 14:33Mas a Natura apareceu,
justamente nesse período, em 2002, -
14:33 - 14:36interessada em comprar essa matéria-prima.
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14:36 - 14:41Dissemos: "Não, espere aí.
A Natura quer comprar a R$ 8/kg de óleo, -
14:41 - 14:46o litro de óleo diesel custa R$ 0,92,
alguma coisa assim. -
14:46 - 14:49Escute, dá para comprar o diesel
e ainda comprar o rancho de casa". -
14:49 - 14:52E aí, começamos a queimar nos motores,
-
14:52 - 14:55mas também, boa parte vender.
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14:55 - 14:59E hoje é um contrato, inclusive,
bastante justo, bastante organizado, -
14:59 - 15:04que é feito entre comunidade
e Natura, cooperativa e Cognis, -
15:04 - 15:08sempre o Conselho do Seringueiro
está nessa hora da negociação, -
15:08 - 15:11é uma coisa bastante respeitosa.
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15:11 - 15:16Inclusive, estão discutindo
agora o Fundo do Médio Juruá, -
15:16 - 15:18com o objetivo de apresentar projetos.
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15:18 - 15:19Mas, voltando à questão.
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15:19 - 15:22Então, quando as famílias começaram
a vender essa matéria-prima -
15:22 - 15:27a R$ 8, 10, 14, 18,
hoje é vendida a R$ 24/kg -
15:27 - 15:30de óleo de andiroba
ou de manteiga de murumuru, -
15:30 - 15:33nos dias de hoje, aquela mesma família,
-
15:33 - 15:35que não via na andirobeira a importância,
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15:35 - 15:40que às vezes cortava para fazer a madeira
da sua casa, não para vender, -
15:40 - 15:44hoje, ele quer saber,
nas picadas de andiroba, -
15:44 - 15:47qual foi a criança atrevida que passou lá
-
15:47 - 15:50e deu um corte na sacupemba
da andirobeira dele, -
15:50 - 15:53porque está com medo
de atrapalhar a frutificação dela. -
15:53 - 15:58E conto essa história para dizer
da nossa responsabilidade -
15:58 - 16:01em encontrar o verdadeiro
valor da floresta, -
16:01 - 16:05encontrar a forma de valorizar
o trabalho de conservação de floresta -
16:05 - 16:07que nossas populações fazem.
-
16:07 - 16:09Porque, quando encontramos isso,
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16:09 - 16:12como o Médio Juruá encontrou
na andiroba, no murumuru, -
16:12 - 16:17eles não precisam de lei
nem de fiscais para fiscalizar. -
16:17 - 16:20O melhor fiscal é a própria comunidade,
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16:20 - 16:23é o próprio usuário do meio que ele tem,
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16:23 - 16:26assim que ele compreende esse processo.
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16:26 - 16:28Então, isso mostra para mim...
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16:28 - 16:32e comecei agora a falar
um pouco da minha vida. -
16:32 - 16:34Passei pela presidência da associação
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16:34 - 16:39e cheguei à presidência do Conselho
Nacional das Populações Extrativistas. -
16:39 - 16:44Até julho do ano passado era chamado
de Conselho Nacional Seringueiro. -
16:44 - 16:46Acho que não foi porque...
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16:46 - 16:49primeiro porque sou muito feio
e não tenho leitura nem escrita, -
16:49 - 16:52mas talvez por defender
seriamente essa questão -
16:52 - 16:58da importância da convivência
em harmonia do homem com a floresta. -
16:58 - 17:00As mudanças climáticas estão aí,
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17:00 - 17:04estão atingindo gravemente
as nossas comunidades, -
17:04 - 17:06e mesmo assim, muita gente,
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17:06 - 17:08não esse público que está aqui,
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17:08 - 17:09não compreende isso.
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17:09 - 17:16E trouxe uma água para cá, para fechar,
depois de contar essa história. -
17:16 - 17:20Convidar, fazer um convite a todos vocês.
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17:21 - 17:25O Conselho do Seringueiro é uma
instituição de base, sem fins econômicos, -
17:25 - 17:30que vive de doações, mas tem
um trabalho muito bonito na Amazônia. -
17:30 - 17:33Um deles é mais de quase 20 milhões
de hectares de floresta, -
17:33 - 17:35com populações extrativistas,
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17:35 - 17:42e essa política fomos nós
que puxamos junto ao governo pelo CNS. -
17:42 - 17:45Mas, dizer para vocês, para fechar.
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17:45 - 17:51Só queria que todos que estão aqui
ajudassem a passar esse recado. -
17:51 - 17:55As pessoas imaginam
que a grande devastação da Amazônia -
17:55 - 17:58é pela ganância da moeda.
-
17:58 - 18:01Mas, as pessoas não compreendem
-
18:01 - 18:05que quando não tiver
mais água potável para beber, -
18:06 - 18:10não tiver mais esse ar gostoso
para respirar... -
18:12 - 18:15isso que está no meu bolso,
não vai valer mais nada, -
18:15 - 18:20não vai salvar nem a minha vida,
nem a vida do meu filho, -
18:20 - 18:22nem a vida do planeta.
-
18:22 - 18:25É a tal da moeda que gera tanta ganância.
-
18:25 - 18:27Obrigado a todos.
-
18:27 - 18:30(Aplausos)
- Title:
- Como fugi da escravidão | Manoel Cunha | TEDxAmazônia
- Description:
-
Manuel Cunha era um adolescente que trabalhava na extração de borracha, um seringueiro, quando decidiu que não queria mais trabalhar em regime de semiescravidão. Ele convenceu seus companheiros a penetrarem na floresta, durante dias, de barco, pelo rio, em busca de autonomia. Hoje, com mais de 50 anos, ele é o presidente do Conselho Nacional dos Seringueiros.
Esta palestra foi dada em um evento TEDx que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx
- Video Language:
- Portuguese, Brazilian
- Team:
closed TED
- Project:
- TEDxTalks
- Duration:
- 18:39
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