Por que o cérebro do polvo é tão extraordinário - Cláudio L. Guerra

Veja a lição completa: http://ed.ted.com/lessons/why-the-octopus-brain-is-so-extraordinary-claudio-l-guerra

Os polvos têm a capacidade de resolver quebra-cabeças, aprender por meio da observação e, até mesmo, usar ferramentas – exatamente como os humanos. Mas o que faz a inteligência do polvo ser tão incrível é que ela vem de uma estrutura biológica completamente distinta da nossa. Cláudio L. Guerra nos guia numa visita para dentro do impressionante cérebro do polvo.

Lição de Cláudio L. Guerra; animação de Cinematic.

O que os polvos poderiam ter
em comum conosco?

Afinal, eles não têm pulmões, espinha
dorsal, nem um plural consensual.

Mas o que eles têm é a capacidade
de resolver quebra-cabeças,

aprender por meio da observação,

e até de usar ferramentas,

como outros animais que conhecemos.

E o que mais impressiona
na inteligência do polvo

é o fato de vir de uma estrutura biológica

completamente diferente da nossa.

As 200 espécies ou mais de polvos

são moluscos que pertencem
à ordem dos cefalópodes,

palavra grega para cabeça-pés.

Essas cabeças possuem cérebros
surpreendentemente grandes,

com a proporção entre o cérebro e o corpo
semelhante a outros animais inteligentes,

e um complexo sistema nervoso com o número
aproximado de neurônios de um cão.

No entanto, em vez de se
concentrarem no cérebro,

esses 500 milhões de neurônios se espalham
por uma rede de gânglios interligados,

organizados em três estruturas básicas.

O cérebro central contém apenas
cerca de 10% dos neurônios,

enquanto os dois enormes lobos
óticos contêm cerca de 30%.

Os outros 60% estão nos tentáculos,

o que, para os humanos, seria como
se nossos braços tivessem vida própria.

E é aqui que as coisas ficam
ainda mais interessantes.

Vertebrados como nós têm um esqueleto
rígido para sustentar o corpo,

com juntas que nos permitem nos mover.

Mas nem todos os tipos
de movimentos são possíveis.

Não podemos dobrar o joelho para trás,

ou o antebraço no meio, por exemplo.

Os cefalópodes, por sua vez,
não têm osso nenhum,

o que lhes permite dobrar seus membros
em qualquer ponto, em qualquer direção.

Mover assim seus tentáculos

em qualquer um dos ilimitados
arranjos possíveis

é diferente de qualquer coisa
com que estamos acostumados.

Por exemplo, uma tarefa simples
como agarrar e comer uma maçã.

O cérebro humano possui
um mapa neurológico do nosso corpo.

Quando vemos a maçã,

o centro motor do nosso cérebro
ativa os músculos apropriados,

permitindo-nos alcançá-la com o braço,

agarrá-la com a mão,

dobrar a junta do nosso cotovelo

e levá-la até a boca.

Para um polvo, o processo é bem diferente.

Mais do que um mapa do corpo,

o cérebro do cefalópode
possui uma biblioteca comportamental.

Assim, quando um polvo vê comida,

seu cérebro não ativa
uma parte específica do corpo,

mas sim uma reação comportamental
para agarrar.

Logo que o sinal viaja pela rede,

os neurônios do braço captam a mensagem

e entram em ação
para comandar o movimento.

Tão logo o braço toca o alimento,

uma onda de ativação muscular
viaja pelo braço todo até sua base,

enquanto o braço envia de volta
outra onda da base para a ponta.

Os sinais se encontram a meio caminho
entre o alimento e a base do braço,

alertando-o para dobrar naquele ponto.

O que tudo isso significa é que cada
um dos oito braços do polvo

basicamente consegue pensar por si mesmo.

Isso dá a ele uma flexibilidade
e uma criatividade incríveis

para enfrentar situações
ou problemas novos,

seja abrir uma garrafa para pegar comida,

escapar num labirinto,

se mover num ambiente novo,

mudar a textura e a cor da pele
para se camuflar no cenário,

ou até imitar outras criaturas
para assustar os inimigos.

Os cefalópodes podem ter
desenvolvido cérebros complexos

bem antes dos nossos parentes vertebrados.

E a inteligência do polvo não é útil
apenas para os polvos.

Seu sistema nervoso tão diferente
e os apêndices pensantes autônomos

têm inspirado novas pesquisas

para o desenvolvimento de robôs
flexíveis, feitos de material macio.

Estudar como a inteligência pode surgir
numa trajetória evolucionária tão distinta

pode nos ajudar a entender melhor
a inteligência e a consciência em geral.

Quem sabe quais outras formas
de vida inteligente são possíveis,

ou como elas processam o mundo ao redor?