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A estranha história da mira Norden

  • 0:01 - 0:03
    Obrigado.
  • 0:03 - 0:05
    É um verdadeiro prazer estar aqui.
  • 0:05 - 0:07
    A última vez que apresentei uma TEDTalk
  • 0:07 - 0:10
    foi há cerca de 7 anos.
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    Falei sobre o molho de esparguete.
  • 0:13 - 0:16
    E tantas pessoas, creio,
    viram esses vídeos.
  • 0:16 - 0:19
    As pessoas têm vindo a abordar-me,
    desde então,
  • 0:19 - 0:21
    para me colocarem questões
    sobre o molho de esparguete,
  • 0:21 - 0:24
    o que é fantástico a curto prazo...
  • 0:24 - 0:26
    (Risos)
  • 0:26 - 0:30
    mas provou estar longe de ser ideal
    após sete anos.
  • 0:30 - 0:32
    E por isso pensei que devia vir
  • 0:32 - 0:35
    e deixar o molho de esparguete para trás.
  • 0:35 - 0:36
    (Risos)
  • 0:37 - 0:39
    O tema desta sessão é
    "As coisas que fazemos".
  • 0:39 - 0:41
    Por isso, pensei em contar uma história
  • 0:41 - 0:45
    sobre uma pessoa que fez
    um dos mais preciosos objectos
  • 0:45 - 0:47
    da sua era.
  • 0:47 - 0:50
    O seu nome é Carl Norden.
  • 0:50 - 0:53
    Carl Norden nasceu em 1880.
  • 0:53 - 0:55
    Ele era suíço.
  • 0:55 - 0:59
    Claro, os suíços podem ser divididos
    em duas categorias principais:
  • 0:59 - 1:03
    aqueles que fazem objectos pequenos,
    requintados e caros
  • 1:03 - 1:05
    e aqueles que gerem o dinheiro
  • 1:05 - 1:09
    dos que compram objectos pequenos,
    requintados e caros.
  • 1:09 - 1:10
    (Risos)
  • 1:10 - 1:13
    E Carl Norden posicionava-se
    claramente no primeiro grupo.
  • 1:13 - 1:15
    Ele é engenheiro.
  • 1:15 - 1:18
    Frequentou
    o Politécnico Federal em Zurique.
  • 1:18 - 1:21
    Com efeito, um dos seus colegas
    foi um jovem chamado Lenine
  • 1:21 - 1:26
    que viria a destruir objectos
    pequenos, caros e requintados.
  • 1:26 - 1:30
    Era um engenheiro suíço, o Carl.
  • 1:30 - 1:32
    E era-o no verdadeiro sentido da palavra.
  • 1:32 - 1:35
    Usava um fato de três peças;
  • 1:35 - 1:39
    e tinha um bigode
    muito pequeno e importante.
  • 1:40 - 1:44
    Era dominador e narcisista,
  • 1:44 - 1:48
    ambicioso e tinha um ego extraordinário.
  • 1:48 - 1:51
    Trabalhava 16 horas por dia
  • 1:51 - 1:54
    e tinha posições muito convictas
    sobre corrente alternada.
  • 1:54 - 1:58
    Considerava que estar bronzeado
    era um sinal de fraqueza moral.
  • 1:58 - 2:01
    Bebia imenso café e trabalhava melhor
  • 2:01 - 2:03
    sentado na cozinha da mãe,
    em Zurique, durante horas,
  • 2:03 - 2:06
    num silêncio completo
  • 2:06 - 2:08
    sem nada excepto uma régua de cálculo.
  • 2:08 - 2:12
    De qualquer forma, Carl Norden
    emigrou para os Estados Unidos
  • 2:12 - 2:15
    pouco antes da Primeira Guerra Mundial
  • 2:15 - 2:18
    e abriu uma loja na Rua Lafayette
    na baixa de Manhattan.
  • 2:18 - 2:23
    Fica obcecado com a questão de saber
    como largar bombas de um avião.
  • 2:24 - 2:28
    Se pensarem nisso,
    na era antes do GPS e do radar,
  • 2:28 - 2:31
    isso era obviamente
    um problema extremamente difícil,
  • 2:31 - 2:33
    um complicado problema de física.
  • 2:33 - 2:36
    Temos um avião que está
    a centenas de metros do chão,
  • 2:36 - 2:38
    a voar a centenas de quilómetros por hora,
  • 2:38 - 2:41
    e estamos a tentar largar
    um objecto, uma bomba,
  • 2:41 - 2:43
    num alvo imóvel
  • 2:43 - 2:46
    perante todo o tipo de ventos e nuvens
  • 2:46 - 2:48
    e todo o tipo de outros impedimentos.
  • 2:48 - 2:50
    E todo o tipo de pessoas,
  • 2:50 - 2:52
    até à I Guerra Mundial e entre guerras,
  • 2:52 - 2:54
    tentaram resolver este problema,
  • 2:54 - 2:56
    e quase todos fracassaram.
  • 2:56 - 2:59
    As miras que estavam disponíveis
    eram incrivelmente grosseiras.
  • 2:59 - 3:03
    Mas Carl Norden
    foi quem resolveu o puzzle.
  • 3:03 - 3:06
    Ele constrói este aparelho
    incrivelmente complicado.
  • 3:06 - 3:08
    Ele pesa cerca de 23 quilogramas.
  • 3:08 - 3:11
    Chama-se mira Norden Mark 15.
  • 3:11 - 3:14
    Tem todo o tipo de alavancas, rolamentos,
  • 3:14 - 3:17
    dispositivos e instrumentos de medição
  • 3:18 - 3:20
    e faz uma coisa complicada.
  • 3:20 - 3:22
    Como é que funciona?
  • 3:22 - 3:26
    Permite que o piloto do bombardeiro
    use este objecto,
  • 3:26 - 3:28
    visualize o alvo
  • 3:28 - 3:32
    — porque eles estão no cone
    de Plexiglas do bombardeiro —
  • 3:32 - 3:35
    e depois introduza a altitude do avião,
  • 3:35 - 3:38
    a velocidade do avião,
    a velocidade do vento
  • 3:38 - 3:42
    e as coordenadas do alvo.
  • 3:42 - 3:45
    E a mira dir-lhe-á onde largar a bomba!
  • 3:47 - 3:49
    Como Norden disse e ficou conhecido,
  • 3:49 - 3:51
    "Antes de haver esta mira,
  • 3:51 - 3:53
    as bombas nunca acertavam no alvo,
  • 3:53 - 3:55
    num raio de quase 2 km."
  • 3:55 - 3:58
    Mas afirmou que,
    com a mira Mark 15 Norden,
  • 3:58 - 4:00
    ele conseguia acertar com uma bomba
    num barril de picles
  • 4:00 - 4:02
    a uma altitude de 6000 metros.
  • 4:02 - 4:04
    Não vos consigo transmitir
  • 4:04 - 4:06
    até que ponto o exército dos Estados Unidos
  • 4:06 - 4:08
    ficou incrivelmente excitado
  • 4:08 - 4:10
    com as notícias da mira Norden.
  • 4:10 - 4:13
    Foi como um maná caído do céu.
  • 4:13 - 4:17
    Tinham um exército que acabara
    de passar pela I Guerra Mundial
  • 4:17 - 4:21
    em que milhões de homens
    lutaram nas trincheiras,
  • 4:21 - 4:23
    sem chegar a parte alguma,
    sem conseguir avançar
  • 4:23 - 4:26
    e aparecia alguém
    que tinha inventado um aparelho
  • 4:26 - 4:29
    que permitia que voassem nos céus,
  • 4:29 - 4:31
    bem acima do território inimigo,
  • 4:31 - 4:32
    destruindo o que eles quisessem
  • 4:32 - 4:35
    com uma precisão extraordinária.
  • 4:35 - 4:39
    O exército americano
    gastou 1500 milhões de dólares
  • 4:39 - 4:42
    — milhares de milhões de dólares
    em dólares de 1940 —
  • 4:42 - 4:44
    a desenvolver a mira Norden.
  • 4:44 - 4:46
    Pondo isto em perspectiva,
  • 4:46 - 4:49
    o custo total do Projecto Manhattan
  • 4:49 - 4:51
    foi de 3 mil milhões de dólares.
  • 4:51 - 4:54
    Gastou-se na mira Norden
    metade do dinheiro gasto
  • 4:54 - 4:59
    no mais famoso projecto militar
    e industrial da era moderna
  • 4:59 - 5:02
    Havia pessoas, estrategas,
    no exército norte-americano
  • 5:02 - 5:04
    que acreditavam genuinamente
  • 5:04 - 5:07
    que este aparelho iria ditar a diferença
  • 5:07 - 5:09
    entre a vitória e a derrota
  • 5:09 - 5:11
    quando chegasse
    a altura de lutar contra os nazis
  • 5:11 - 5:13
    e contra os japoneses.
  • 5:13 - 5:15
    Para Norden, também,
  • 5:15 - 5:18
    este aparelho tinha
    uma incrível importância moral,
  • 5:18 - 5:20
    porque Norden era um cristão convicto.
  • 5:20 - 5:22
    Aliás, ele ficava sempre aborrecido
  • 5:22 - 5:25
    quando as pessoas falavam da mira
    como uma invenção sua
  • 5:25 - 5:28
    pois, aos seus olhos,
    apenas Deus podia inventar coisas.
  • 5:28 - 5:31
    Ele era um mero instrumento
    da vontade de Deus.
  • 5:31 - 5:33
    E qual era a vontade de Deus?
  • 5:33 - 5:36
    A vontade de Deus era que o sofrimento
    envolvido em qualquer tipo de guerra
  • 5:36 - 5:39
    fosse reduzido ao mínimo possível.
  • 5:39 - 5:41
    E o que é que a mira Norden permitia?
  • 5:41 - 5:43
    Ela permitia fazer justamente isso.
  • 5:43 - 5:45
    Permitia bombardear apenas aquelas coisas
  • 5:45 - 5:49
    que precisávamos e queríamos
    absolutamente bombardear.
  • 5:49 - 5:52
    Por isso, nos anos que antecederam
    a II Guerra Mundial,
  • 5:52 - 5:56
    o exército norte-americano
    comprou 90 000 miras Norden
  • 5:56 - 5:59
    com um custo de 14 000 dólares cada
  • 5:59 - 6:02
    — também em dólares de 1940,
    o que é imenso dinheiro.
  • 6:02 - 6:06
    E treinaram 50 000 pilotos
    sobre como as usar
  • 6:06 - 6:09
    — longas e intensivas sessões de treino
    durante meses —
  • 6:09 - 6:11
    porque eram essencialmente
    computadores analógicos;
  • 6:11 - 6:13
    não são fáceis de usar.
  • 6:13 - 6:16
    E obrigavam cada um desses pilotos
    a jurar solenemente,
  • 6:16 - 6:18
    que, se alguma vez fossem capturados,
  • 6:18 - 6:21
    não divulgariam um único detalhe
  • 6:21 - 6:23
    deste aparelho especial ao inimigo,
  • 6:23 - 6:25
    porque era imperativo
    que o inimigo não se apoderasse
  • 6:25 - 6:28
    desta tecnologia absolutamente essencial.
  • 6:28 - 6:31
    Sempre que a mira Norden
    era levada num avião,
  • 6:31 - 6:34
    era escoltada por uma série
    de guardas armados.
  • 6:34 - 6:36
    Era transportada numa caixa
    tapada com panos.
  • 6:36 - 6:39
    A caixa era algemada a um dos guardas.
  • 6:39 - 6:42
    Nunca se pôde fotografá-la.
  • 6:42 - 6:45
    E tinha um pequeno aparelho
    incendiário lá dentro,
  • 6:45 - 6:48
    para que, caso o avião
    se despenhasse, ela fosse destruída
  • 6:48 - 6:50
    e não houvesse forma de o inimigo
    se apoderar dela.
  • 6:51 - 6:52
    A mira Norden
  • 6:52 - 6:54
    era o Santo Graal.
  • 6:55 - 6:58
    Então, o que é que aconteceu
    durante a II Guerra Mundial?
  • 6:58 - 7:02
    Bem, acontece que não era o Santo Graal.
  • 7:02 - 7:04
    Na prática, a mira Norden
  • 7:04 - 7:07
    pode largar uma bomba
    num barril de picles a 6 km de altitude,
  • 7:07 - 7:09
    mas isso é sob condições perfeitas.
  • 7:09 - 7:11
    E, claro, em tempo de guerra,
  • 7:11 - 7:13
    as condições não são perfeitas.
  • 7:13 - 7:15
    Em primeiro lugar,
    é muito difícil usá-la, muito difícil.
  • 7:16 - 7:19
    Nem todos os 50 000 pilotos
    dos bombardeiros
  • 7:19 - 7:23
    tinham a capacidade de programar
    devidamente um computador analógico.
  • 7:23 - 7:25
    Em segundo lugar,
    avaria com frequência.
  • 7:25 - 7:29
    Está cheia de todos os tipos
    de giroscópios, roldanas,
  • 7:29 - 7:31
    dispositivos e rolamentos,
  • 7:31 - 7:33
    que não funcionam tão bem como deviam
    no calor da batalha.
  • 7:33 - 7:36
    Em terceiro lugar, quando Norden
    fez os seus cálculos,
  • 7:36 - 7:39
    ele presumiu que o avião estaria a voar
  • 7:39 - 7:41
    a uma velocidade relativamente lenta
    e a baixas altitudes,
  • 7:41 - 7:44
    quando, na verdadeira guerra,
    não é possível fazer isso;
  • 7:44 - 7:46
    seriam abatidos.
  • 7:46 - 7:48
    Portanto, começaram a voar
    a grandes altitudes
  • 7:48 - 7:50
    e a velocidades incrivelmente elevadas.
  • 7:50 - 7:52
    E a mira Norden não funciona tão bem
    nessas condições.
  • 7:53 - 7:54
    Mas, acima de tudo,
  • 7:54 - 7:59
    a mira Norden requer que o piloto
    faça contacto visual com o alvo.
  • 7:59 - 8:02
    Mas, claro, o que acontece na vida real?
  • 8:02 - 8:04
    Existem nuvens, certo?
  • 8:05 - 8:08
    Ela precisa de um céu limpo
    para ser bem exacta.
  • 8:08 - 8:12
    Mas, quantos céus limpos
    acham que existiam na Europa Central
  • 8:12 - 8:14
    entre 1940 e 1945?
  • 8:15 - 8:17
    Não muitos.
  • 8:17 - 8:21
    Para vos dar uma ideia
    de como inexacta a mira Norden era,
  • 8:21 - 8:23
    houve um caso famoso em 1944
  • 8:23 - 8:25
    em que os aliados bombardearam
  • 8:25 - 8:27
    uma fábrica de químicos
    em Leuna, na Alemanha.
  • 8:27 - 8:31
    A fábrica de químicos englobava
    mais de 300 hectares.
  • 8:31 - 8:34
    Ao fim de 22 missões de bombardeamento,
  • 8:34 - 8:38
    os aliados largaram 85 000 bombas
  • 8:38 - 8:43
    nesta fábrica de químicos de 300 hectares,
  • 8:43 - 8:45
    usando a mira Norden.
  • 8:45 - 8:48
    Qual a percentagem dessas bombas
  • 8:48 - 8:50
    acham que caíram de facto
  • 8:50 - 8:52
    dentro do perímetro
    de 300 hectares co complexo?
  • 8:53 - 8:55
    Dez por cento! Dez por cento!
  • 8:56 - 8:58
    E desses 10% que lá caíram,
  • 8:58 - 9:01
    houve 16% que nem sequer explodiram.
    Foram fracassos.
  • 9:01 - 9:02
    A fábrica de químicos de Leuna,
  • 9:02 - 9:05
    após um dos bombardeamentos
    mais longos na história da guerra,
  • 9:05 - 9:08
    estava em funcionamento
    ao fim de semanas.
  • 9:08 - 9:11
    E, já agora, todas aquelas precauções
  • 9:11 - 9:13
    em manter a mira Norden
    longe das mãos dos nazis?
  • 9:14 - 9:18
    Bem, aconteceu que Carl Norden,
    como um verdadeiro suíço,
  • 9:18 - 9:21
    tinha grande fascínio
    por engenheiros alemães.
  • 9:21 - 9:23
    Por isso, em 1930,
    contratou um grupo deles,
  • 9:23 - 9:25
    incluindo um senhor chamado Hermann Long
  • 9:25 - 9:27
    que, em 1938,
  • 9:27 - 9:30
    deu aos nazis um conjunto completo
    de planos para a mira Norden.
  • 9:30 - 9:33
    Por isso eles tinham a sua
    mira Norden durante toda a guerra
  • 9:33 - 9:35
    — que, a propósito, também
    não funcionou muito bem.
  • 9:35 - 9:37
    (Risos)
  • 9:38 - 9:40
    Porque é que vos falo da mira Norden?
  • 9:41 - 9:43
    Bem, porque nós vivemos numa era
  • 9:43 - 9:46
    em que há imensas, imensas miras Norden.
  • 9:47 - 9:49
    Vivemos num tempo onde há todos os tipos
  • 9:49 - 9:50
    de pessoas muito, muito inteligentes
  • 9:50 - 9:53
    que andam de um lado para o outro
    a dizer que inventaram dispositivos
  • 9:53 - 9:55
    que vão mudar o nosso mundo para sempre.
  • 9:55 - 9:58
    Inventaram websites que vão permitir
    que as pessoas sejam livres.
  • 9:58 - 10:01
    Inventaram isto, ou aquilo, ou aqueloutro
  • 10:01 - 10:04
    que vai tornar o nosso mundo melhor,
    para sempre
  • 10:05 - 10:07
    Se forem às forças armadas,
  • 10:07 - 10:08
    encontrarão também muitos Carl Nordens.
  • 10:09 - 10:11
    Se forem ao Pentágono, eles dirão:
  • 10:11 - 10:13
    "Sabem, nós agora podemos realmente
  • 10:13 - 10:15
    largar uma bomba
    dentro de um barril de picles
  • 10:15 - 10:17
    a uma altitude de 6000 metros."
  • 10:17 - 10:19
    E sabem que mais? É verdade,
    eles conseguem mesmo fazer isso.
  • 10:19 - 10:22
    Mas precisamos de ser muito claros
  • 10:22 - 10:24
    sobre quão pouco isso significa.
  • 10:25 - 10:28
    Na guerra do Iraque, no início
    da primeira guerra do Iraque,
  • 10:28 - 10:30
    os militares norte-americanos,
    a força aérea,
  • 10:30 - 10:33
    enviou dois esquadrões
    de F-15E Fighter Eagles
  • 10:33 - 10:34
    para o deserto iraquiano
  • 10:34 - 10:37
    equipado com câmaras
    de 5 milhões de dólares
  • 10:37 - 10:40
    que lhes permitiam ver
    todo o solo do deserto.
  • 10:40 - 10:42
    A sua missão era encontrar e destruir
  • 10:42 - 10:44
    — lembram-se dos mísseis Scud,
  • 10:44 - 10:47
    aqueles mísseis do solo para o ar
  • 10:47 - 10:49
    que os iraquianos estavam
    a lançar aos israelitas?
  • 10:49 - 10:51
    A missão dos dois esquadrões
  • 10:51 - 10:53
    era livrarem-se de todos os mísseis Scud.
  • 10:53 - 10:56
    Para isso, realizaram missões noite e dia,
  • 10:56 - 10:58
    e lançaram milhares de bombas,
  • 10:58 - 11:00
    e dispararam milhares de mísseis
  • 11:00 - 11:03
    na tentativa de se livrarem
    deste específico flagelo.
  • 11:03 - 11:05
    No fim da guerra, houve uma auditoria
  • 11:05 - 11:07
    — como o exército e a força aérea
    sempre fazem —
  • 11:07 - 11:09
    e perguntaram:
  • 11:09 - 11:12
    "Quantos Scuds é que destruíram ao certo?"
  • 11:12 - 11:14
    Sabem qual foi a resposta?
  • 11:14 - 11:16
    Zero, nem um só!
  • 11:16 - 11:17
    Porque é que assim foi?
  • 11:17 - 11:20
    Terá sido porque as armas
    não eram precisas?
  • 11:20 - 11:22
    Ah não, tinham uma precisão brilhante.
  • 11:22 - 11:25
    Podiam destruir esta pequena coisa aqui
  • 11:25 - 11:27
    a 7000 metros de altitude.
  • 11:27 - 11:30
    O problema é que eles não sabiam
    onde estavam os mísseis Scud.
  • 11:31 - 11:34
    O problema com as bombas
    e os barris de picles
  • 11:34 - 11:36
    não é conseguir
    que a bomba atinja o barril,
  • 11:36 - 11:39
    mas sim saber como encontrar o barril.
  • 11:39 - 11:41
    Esse foi sempre o problema mais difícil
  • 11:41 - 11:43
    quando se trata de guerras.
  • 11:43 - 11:45
    Pensem na batalha no Afeganistão.
  • 11:45 - 11:47
    Qual era a arma de eleição
  • 11:47 - 11:50
    da guerra da CIA no Noroeste do Paquistão?
  • 11:50 - 11:53
    Eram os veículos aéreos
    não tripulados. O que eram eles?
  • 11:53 - 11:56
    Eram os netos da mira Norden Mark 15.
  • 11:57 - 12:01
    É esta arma de precisão
    e exactidão devastadora.
  • 12:01 - 12:03
    E no decurso dos últimos seis anos
  • 12:03 - 12:05
    no noroeste do Paquistão,
  • 12:05 - 12:10
    a CIA tem posto no ar centenas de mísseis
    em veículos aéreos não tripulados
  • 12:10 - 12:13
    e tem-nos usado
    para matar 2000 suspeitos,
  • 12:13 - 12:16
    militantes talibãs e paquistaneses.
  • 12:16 - 12:20
    Qual é a precisão destes
    veículos aéreos não tripulados?
  • 12:20 - 12:22
    É extraordinária.
  • 12:22 - 12:25
    Pensamos que está
    na casa dos 95% de precisão
  • 12:25 - 12:27
    no que toca aos ataques
    com veículos aéreos não tripulados.
  • 12:27 - 12:30
    Precisamos de matar 95%
    dessas pessoas, não é?
  • 12:30 - 12:32
    Este é um dos mais extraordinários registos
  • 12:32 - 12:34
    na história da guerra moderna.
  • 12:34 - 12:36
    Mas sabem o que é crucial?
  • 12:36 - 12:38
    Nesse mesmo período
  • 12:38 - 12:41
    em que temos usado estes aparelhos
    com uma exactidão devastadoras,
  • 12:41 - 12:45
    o número de ataques, de ataques suicidas
    e de ataques terroristas,
  • 12:45 - 12:47
    contra as forças americanas no Afeganistão
  • 12:47 - 12:50
    aumentou dez vezes.
  • 12:50 - 12:54
    À medida que nos tornamos
    cada vez mais eficazes em matá-los,
  • 12:54 - 12:57
    eles têm ficado cada vez mais descontentes
  • 12:57 - 13:00
    cada vez mais motivados para nos matar.
  • 13:00 - 13:03
    Não vos descrevi uma história de sucesso.
  • 13:03 - 13:06
    Descrevi-vos o oposto
    de uma história de sucesso.
  • 13:06 - 13:11
    E este é o problema com o nosso fascínio
    pelas coisas que construímos.
  • 13:11 - 13:14
    Pensamos que as coisas que fazemos
    podem resolver os nossos problemas,
  • 13:14 - 13:17
    mas os nossos problemas
    são muito mais complexos do que isso.
  • 13:17 - 13:20
    O problema não é a precisão
    das bombas que temos,
  • 13:20 - 13:22
    é como usar as bombas que temos,
  • 13:22 - 13:24
    e, mais importante ainda,
  • 13:24 - 13:26
    se é que devemos
    usar mesmo essas bombas.
  • 13:27 - 13:30
    Há um post-scriptum
  • 13:30 - 13:32
    na história de Norden,
  • 13:32 - 13:34
    de Carl Norden e da sua fabulosa mira.
  • 13:34 - 13:37
    É que, a 6 de Agosto de 1945,
  • 13:37 - 13:41
    um bombardeiro B-29,
    chamado o Enola Gay,
  • 13:41 - 13:45
    sobrevoou o Japão
    e, usando a mira Norden,
  • 13:45 - 13:48
    lançou um dispositivo
    termonuclear enorme
  • 13:48 - 13:50
    na cidade de Hiroxima.
  • 13:51 - 13:53
    Como era típico da mira Norden,
  • 13:53 - 13:57
    a bomba falhou o alvo
    em cerca de 200 metros.
  • 13:57 - 13:59
    Mas, claro, não importava.
  • 14:00 - 14:03
    Esta é a maior ironia da mira Norden.
  • 14:04 - 14:09
    A mira de 1500 milhões de dólares
    da Força Aérea
  • 14:09 - 14:12
    foi usada para largar uma bomba
    de 3000 milhões de dólares,
  • 14:12 - 14:15
    que não precisava de uma mira para nada.
  • 14:16 - 14:18
    Entretanto, em Nova Iorque,
  • 14:18 - 14:20
    ninguém disse a Carl Norden
  • 14:20 - 14:22
    que a sua mira
    tinha sido usada sobre Hiroxima.
  • 14:23 - 14:25
    Ele era um cristão convicto.
  • 14:25 - 14:27
    Pensava que tinha inventado uma coisa
  • 14:27 - 14:30
    que iria reduzir o sofrimento na guerra.
  • 14:30 - 14:32
    Ter-lhe-ia partido o coração.
  • 14:33 - 14:36
    (Aplausos)
Title:
A estranha história da mira Norden
Speaker:
Malcolm Gladwell
Description:

O mestre contador de histórias Malcolm Gladwell conta-nos o conto da mira Norden, um instrumento pioneiro da tecnologia da Segunda Guerra Mundial com um resultado profundamente inesperado.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
14:40
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for The strange tale of the Norden bombsight
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for The strange tale of the Norden bombsight
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