Shakespeare, Marlowe e seus judeus | John Kleiner | TEDxWilliamsCollege
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0:10 - 0:13Marlowe e Shakespeare entram num bar...
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0:13 - 0:14(Risos)
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0:14 - 0:16Assim começa a anedota
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0:17 - 0:20que Tom Stoppard inventou em 1997
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0:20 - 0:22sobre dramaturgia.
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0:22 - 0:24Naquela época, Stoppard estava
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0:24 - 0:27trabalhando no roteiro
de "Shakespeare Apaixonado", -
0:27 - 0:29um filme que, num nível excepcional,
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0:29 - 0:33trata de questões relegadas,
em geral, aos críticos literários. -
0:34 - 0:36Por que Shakespeare se tornou
um dramaturgo trágico? -
0:37 - 0:39Onde ele encontrou sua voz?
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0:39 - 0:42De onde veio a ideia de "Romeu e Julieta"?
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0:43 - 0:45No fim, "Shakespeare Apaixonado"
responde a essas questões -
0:45 - 0:48ao longo de falas hollywoodianas
bastante convencionais. -
0:49 - 0:51Ocorre que o amor é a resposta.
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0:52 - 0:55Ocorre que o amor explica
a inventividade de Shakespeare. -
0:56 - 0:58Mas, antes de o filme chegar lá,
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0:58 - 1:00Marlowe e Shakespeare entram num bar...
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1:00 - 1:03(Vídeo) Shakespeare:
E o dinheiro para tanto. -
1:03 - 1:05Eu insisto, um trago para o Sr. Marlowe.
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1:06 - 1:08Soube que tem uma peça nova
para o Curtain. -
1:09 - 1:11Marlowe: Nova não... meu "Doutor Fausto".
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1:11 - 1:13S: Adoro sua obra.
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1:13 - 1:16"Foi esta a face que lançou mil navios
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1:16 - 1:19e queimou as torres
inalcançáveis de Ílion"? -
1:19 - 1:21M: Tenho uma quase pronta e melhor:
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1:21 - 1:24"O Massacre em Paris".
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1:25 - 1:26S: Ótimo título.
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1:26 - 1:28M: Hum... e a sua?
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1:29 - 1:31S: "Romeu e Ethel: a Filha do Pirata".
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1:33 - 1:35Sim, eu sei, eu sei...
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1:35 - 1:37M: Qual é a história?
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1:38 - 1:39S: Bem, há um pirata...
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1:43 - 1:45Na verdade, ainda não escrevi nada.
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1:46 - 1:48M: Romeu...
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1:48 - 1:51Romeu é italiano...
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1:52 - 1:53sempre em busca do amor...
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1:54 - 1:56S: Sim, isso é bom... até conhecer...
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1:57 - 1:58M: Ethel...
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1:58 - 1:59S: Você acha?
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1:59 - 2:00M: A filha de seu inimigo.
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2:00 - 2:02S: A filha de seu inimigo.
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2:02 - 2:05M: Seu melhor amigo é morto
num duelo pelo irmão de Ethel... -
2:05 - 2:07ou algo assim. Seu nome é Mercúcio.
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2:07 - 2:08S: Mercúcio...
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2:08 - 2:09Ótimo nome.
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2:09 - 2:11Um homem: Will, estão te esperando.
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2:11 - 2:12S: Já vou.
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2:13 - 2:15Boa sorte com a sua, Kit.
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2:18 - 2:21John Kleiner: Neste semestre
fiz um seminário -
2:21 - 2:23que estava na minha cabeça,
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2:23 - 2:25uma reencenação da anedota de Stoppard.
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2:26 - 2:29Toda semana Marlowe e Shakespeare
entram no meu gabinete. -
2:29 - 2:33Toda semana colocamos
os dois dramaturgos em contato. -
2:33 - 2:36Durante o semestre, lemos
quatro peças de Shakespeare, -
2:36 - 2:40quatro de Marlowe e seus dois
longos poemas de amor narrativos: -
2:40 - 2:43"Vênus e Adônis," e "Hero e Leandro".
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2:43 - 2:45O objetivo do seminário
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2:45 - 2:49não foi provar nada em particular
sobre Marlowe ou Shakespeare, -
2:49 - 2:50mas fazer um experimento:
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2:51 - 2:54o que acontece quando
esses dois dramaturgos, -
2:54 - 2:56que viviam lado a lado,
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2:56 - 3:00e que podem ou não terem se conhecido,
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3:00 - 3:03são lidos lado a lado?
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3:03 - 3:07O que acontece quando Marlowe
e Shakespeare entram num bar? -
3:07 - 3:11Hoje vou reencenar a piada de Stoppard
de uma forma um pouco diferente. -
3:11 - 3:15Vou colocar para dialogar duas passagens:
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3:15 - 3:18uma representando Marlowe,
outra representando Shakespeare, -
3:18 - 3:21e ver o que elas têm a dizer uma à outra.
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3:24 - 3:26A passagem à esquerda é de Marlowe.
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3:26 - 3:30É de sua peça "O Judeu de Malta", de 1589.
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3:31 - 3:33E ela apresenta o herói
que empresta seu nome à peça, -
3:33 - 3:36um mercador judeu chamado Barrabás.
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3:37 - 3:41Quando a peça começa,
Barrabás é incrivelmente rico, -
3:41 - 3:44é de longe o homem
mais rico de toda a ilha. -
3:44 - 3:47Tão grande é a fortuna
acumulada por Barrabás -
3:47 - 3:49que, no discurso de abertura da peça,
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3:49 - 3:53ele diz que acha um tédio contá-la.
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3:53 - 3:57No entanto, menos de 100 linhas depois
do início da peça, ele perde tudo. -
3:58 - 4:01Seus navios, suas
mercadorias, sua riqueza, -
4:02 - 4:04tudo lhe foi confiscado.
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4:04 - 4:08Ele é desalojado de sua casa,
que é convertida num convento. -
4:08 - 4:13Isso acontece porque os cristãos de Malta
precisam de dinheiro para pagar aos turcos -
4:13 - 4:17e porque Barrabás,
como judeu, é um alvo fácil. -
4:17 - 4:22Essa é a verdadeira explicação
para a expropriação de Barrabás. -
4:22 - 4:28Marlowe não se esforça para disfarçar
ou amenizar a motivação dos cristãos. -
4:29 - 4:31Na passagem à esquerda,
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4:31 - 4:34Barrabás dá voz a sua perda.
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4:34 - 4:37Mesmo quando os outros judeus
apelam por paciência, -
4:37 - 4:39Barrabás insiste em ser ouvido,
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4:40 - 4:42insiste em se expressar.
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4:42 - 4:46Quer que sua plateia
saiba o que ele está sentindo, -
4:47 - 4:50que compartilhe
imaginariamente de sua desgraça. -
4:50 - 4:54E então ele se compara a um comandante
num campo de batalha -
4:54 - 4:57cujas armas foram arrancadas dele
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4:57 - 5:00e cujos soldados estão mortos a seus pés.
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5:01 - 5:04Não se deveria permitir
a tal homem se queixar? -
5:06 - 5:09O que Barrabás pede
pode nos parecer banal, -
5:09 - 5:12mas não em 1589.
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5:12 - 5:16A ação que tem lugar
ficticiamente em Malta -
5:16 - 5:19evoca a expropriação real
dos judeus ingleses. -
5:20 - 5:24Assim como Barrabás é espoliado
de sua riqueza e expulso de sua casa, -
5:24 - 5:26assim foram os judeus da Inglaterra
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5:26 - 5:29expoliados e exilados por Eduardo I,
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5:30 - 5:35expulsos de seu país, assim como
muitos forasteiros e estrangeiros. -
5:35 - 5:40Na multidão a quem Barrabás
se dirige no Rose Theater, em 1589, -
5:40 - 5:43não há um único judeu para ouvi-lo,
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5:43 - 5:45nem um único judeu para chorar,
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5:45 - 5:48como os judeus choram na peça de Marlowe.
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5:49 - 5:53Quando Marlowe permite a esses judeus
expressarem empatia por Barrabás, -
5:53 - 5:56como se fosse um impulso humano básico,
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5:56 - 6:00"é uma tristeza ver
um homem em tal aflição", -
6:01 - 6:05o dramaturgo está fazendo algo
surpreendente para os padrões da época, -
6:05 - 6:08algo que tangencia a ilegalidade.
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6:09 - 6:13A segunda passagem, a da direita,
é da peça "O Mercador de Veneza". -
6:13 - 6:17Muitos vão reconhecê-la como o famoso
discurso de Shylock no Rialto. -
6:18 - 6:21Obviamente o estilo de Shylock
é diferente do de Barrabás. -
6:21 - 6:23Mesmo assim, a influência
da peça de Marlowe, -
6:23 - 6:28que precede a de Shakespeare cerca de sete
ou oito anos, é fácil de ser percebida. -
6:29 - 6:33Novamente um judeu vem a público
descrever os maus-tratos sofridos. -
6:34 - 6:38Novamente um judeu expressa
sua dor para uma plateia -
6:38 - 6:42à qual se pede imaginariamente
que entre nessa dor. -
6:43 - 6:48E novamente esse convite
à empatia expõe uma contradição. -
6:50 - 6:53Antônio, o herói nominal
de "O Mercador de Veneza", -
6:53 - 6:56e seus amigos cristãos, desprezam Shylock.
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6:56 - 7:00Eles riem da deserção
de sua filha Jessica, -
7:00 - 7:03eles cospem nele na rua,
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7:03 - 7:05e fazem isso sem remorso.
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7:06 - 7:10A degradação de Shylock não os comove,
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7:10 - 7:12no seu modo de ver,
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7:12 - 7:14porque, no seu modo de ver,
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7:14 - 7:16ele é diferente deles,
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7:16 - 7:18ele é meramente um judeu,
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7:18 - 7:19um estrangeiro,
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7:20 - 7:21um forasteiro.
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7:22 - 7:23"Cão judeu"
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7:23 - 7:26é um de seus epítetos
favoritos para Shylock. -
7:28 - 7:32E, ainda assim, quando a dor de Shylock
se torna visível no palco, -
7:32 - 7:36trazida à tona em sua linguagem,
essa justificativa cai por terra. -
7:36 - 7:41Sofrer não é ser judeu ou cristão,
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7:41 - 7:43mas ser humano.
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7:44 - 7:46Em sua vulnerabilidade,
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7:46 - 7:49Shylock não é diferente
de seus perseguidores: -
7:50 - 7:53"Quando vocês nos ferem, não sangramos?"
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7:54 - 7:58"Quando nos envenenam, não morremos?"
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7:58 - 8:02O fato de Marlowe e Shakespeare
darem voz a seus judeus dessa forma -
8:02 - 8:05sugere, penso eu,
um entendimento compartilhado, -
8:05 - 8:06da parte de ambos,
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8:06 - 8:10sobre a empreitada peculiar
na qual eles estão engajados. -
8:10 - 8:13Ambos os dramaturgos reconhecem no teatro
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8:13 - 8:16a singular capacidade
de tornar acessível uma moção, -
8:16 - 8:20um meio de dissipar ou superar diferenças.
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8:21 - 8:23Quando um personagem fala de sua dor,
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8:24 - 8:25quando ele a representa,
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8:26 - 8:30a plateia também a sente
e, nesse processo, torna-se como ele, -
8:31 - 8:33mesmo que momentaneamente.
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8:34 - 8:36Pode-se colocar até um judeu no palco
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8:37 - 8:39e, contanto que ele fale de forma tocante,
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8:39 - 8:42podemos nos reconhecer nele.
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8:43 - 8:47Isso é o que Marlowe e Shakespeare
estão dizendo um ao outro. -
8:47 - 8:49Isso é o que Shakespeare toma de Marlowe,
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8:50 - 8:53ou pelo menos é parte da sua conversa
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8:53 - 8:58sobre judeus no teatro.
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8:58 - 9:02A parte mais fácil e leve dela.
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9:03 - 9:05Como observei antes,
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9:05 - 9:09os judeus na peça de Marlowe
saem com lágrimas nos olhos. -
9:09 - 9:11Barrabás se despede deles
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9:11 - 9:15e então se apropria do palco.
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9:15 - 9:17Uma vez sozinho,
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9:17 - 9:21Barrabás avança,
se aproxima da beira do palco, -
9:21 - 9:23ou pelo menos é assim que vejo a cena.
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9:23 - 9:25Ele se aproxima da beira do palco,
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9:25 - 9:28até a multidão de espectadores
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9:28 - 9:30amontoados a seus pés
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9:30 - 9:33e, dali, ele provoca:
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9:34 - 9:38"Vejam a simplicidade
desses escravos básicos, -
9:38 - 9:42que, para os vilões não passam de idiotas,
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9:42 - 9:45e me julgam um monte de barro apático,
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9:45 - 9:50que se dissolve em qualquer água!"
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9:52 - 9:53Esse é um discurso violento,
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9:53 - 9:56violento em seu desdém.
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9:56 - 10:00O desdém de Barrabás pelos judeus
que se solidarizaram com ele, -
10:01 - 10:03que choraram por ele.
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10:03 - 10:07O desdém de Marlowe
pelos membros da plateia -
10:07 - 10:11que, como os judeus, foram alcançados
pelas palavras de Barrabás -
10:11 - 10:13e tocados por seu sofrimento.
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10:14 - 10:17De repente, aquele sofrimento
se revela uma farsa -
10:17 - 10:19e um espetáculo vazio.
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10:19 - 10:22Barrabás não perdeu tudo.
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10:22 - 10:24Como ele revela depois,
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10:24 - 10:27ainda tem uma fortuna escondida.
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10:27 - 10:29Ele não está falido ou miserável,
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10:30 - 10:33mas simplesmente fingiu miséria,
como faz um ator no palco. -
10:34 - 10:37O que ele busca não é empatia,
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10:37 - 10:38mas poder,
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10:39 - 10:42o poder de manipular uma plateia
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10:42 - 10:46e, no processo, degradá-la e diminuí-la.
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10:47 - 10:49Os judeus que sentem pena de Barrabás
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10:49 - 10:54se tornam para ele
"tantos escravos básicos, -
10:54 - 10:57tantos vilões idiotas",
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10:58 - 11:00porque eles não o entendem,
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11:00 - 11:03nem a natureza do sofrimento humano.
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11:06 - 11:09Nosso sofrimento em comum
não é motivo de orgulho, -
11:09 - 11:11mas o contrário, diz Barrabás.
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11:12 - 11:15Sofrer é um sinal
do nosso pó em comum -
11:15 - 11:20ou, para usar sua frase maliciosa,
"nossa insignificância em comum". -
11:20 - 11:23Sofrer é ser insignificante.
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11:23 - 11:29Ter empatia com o sofrimento
é ser um vilão e um escravo. -
11:31 - 11:34A traição e o desdém
de Barrabás são repugnantes. -
11:34 - 11:36Na verdade, muito
de "O Judeu de Malta" é assim. -
11:36 - 11:39Muito da arte de Marlowe é repulsivo.
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11:40 - 11:41Num outro momento na peça,
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11:41 - 11:46Barrabás vai exterminar
um convento inteiro de freiras, -
11:46 - 11:50inclusive sua própria filha,
presenteando-as com um mingau envenenado. -
11:52 - 11:54Ele vai estrangular um frade em sua cama
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11:54 - 11:59e depois se divertir sentando
o corpo na rua como se estivesse vivo. -
12:00 - 12:04Mas a questão é que nós
nos ressentimos de tal sordidez. -
12:05 - 12:08Nós vamos ao teatro
esperando ser afagados, -
12:08 - 12:14esperando ser confirmados na mais
feliz e esperançosa conta de quem somos. -
12:15 - 12:17Afinal, estamos pagando.
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12:18 - 12:21Porém, em vez disso,
somos traídos e atacados. -
12:22 - 12:26E o que dizer de Shakespeare,
de seu judeu, de Shylock? -
12:26 - 12:30Como ele elabora seu apelo
eloquente por compreensão, -
12:30 - 12:31por solidariedade?
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12:33 - 12:36"Se vocês nos furam, não sangramos?
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12:36 - 12:38Se nos fazem cócegas, não rimos?
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12:39 - 12:42Se nos envenenam, não morremos?
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12:43 - 12:46Se nos fazem mal,
não havemos de nos vingar? -
12:47 - 12:50Se somos como vocês em todo o resto,
nisto também seremos semelhantes. -
12:50 - 12:53Se um judeu faz mal a um cristão,
isso é recebido com humildade? -
12:53 - 12:55Vingança.
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12:55 - 12:57Se um cristão engana um judeu,
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12:57 - 13:01qual deve ser seu sentimento,
segundo o exemplo cristão? -
13:01 - 13:02A vingança, pois".
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13:04 - 13:07Se Barrabás abre seu coração
como um prelúdio para a violência, -
13:07 - 13:09o mesmo pode ser dito sobre Shylock.
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13:10 - 13:13Sua fala comovente
é citada fora de contexto -
13:13 - 13:16para ensinar a importância da empatia
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13:16 - 13:19e o valor da arte como forma
de combater o preconceito, -
13:19 - 13:21mas essa não é sua função,
-
13:21 - 13:25ou pelo menos não é toda a sua função
na peça de Shakespeare. -
13:26 - 13:27Em "O Mercador de Veneza",
-
13:27 - 13:32Shylock faz seu discurso comovente
e parece tocado quando o faz. -
13:32 - 13:33Enquanto ele fala,
-
13:33 - 13:38parece absorto em suas palavras como
poucos de nós jamais esteve na vida real. -
13:40 - 13:43No entanto, o que ele defende?
-
13:44 - 13:47Não é a empatia nem a solidariedade,
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13:47 - 13:48mas a vingança.
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13:49 - 13:51Essa é uma virada surpreendente,
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13:52 - 13:53uma virada desorientadora,
-
13:54 - 13:56talvez uma virada decepcionante.
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13:57 - 13:59Quando ela vem, não é o que esperamos,
-
13:59 - 14:02assim como não esperamos
que Barrabás expresse sua miséria -
14:02 - 14:05e, de repente, zombe de nós.
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14:06 - 14:09E, apesar disso, a virada
no discurso de Shylock é lógica. -
14:11 - 14:15Empatia e vingança podem,
num sentido superficial, -
14:15 - 14:16parecerem opostas.
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14:16 - 14:19A empatia pode parecer
até mesmo inviabilizar a vingança, -
14:20 - 14:22mas, na verdade, no fundo,
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14:22 - 14:25elas são dois lados da mesma moeda,
-
14:25 - 14:29duas expressões
de um mesmo padrão subjacente. -
14:30 - 14:34Ao sentir empatia, me faço como o outro,
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14:35 - 14:37sinto o que o outro sente,
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14:37 - 14:40conheço o que o outro conhece,
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14:40 - 14:42sofro o que o outro sofre.
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14:42 - 14:46Na vingança, o outro se iguala a mim.
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14:47 - 14:49Eu forço o outro a conhecer o que conheço,
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14:50 - 14:53forço o outro a sentir o que sinto,
-
14:53 - 14:56forço o outro a sofrer o que sofro.
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14:58 - 15:00Shylock não quer empatia.
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15:00 - 15:02Ele quer vingança.
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15:02 - 15:06Ele quer o poder
de compelir identificação. -
15:06 - 15:07Ele quer a capacidade
-
15:07 - 15:11de forçar o outro
a ver o mundo em seus termos. -
15:12 - 15:14E, mais do que isso,
-
15:14 - 15:19ele pede que seu desejo seja o nosso.
-
15:20 - 15:21De acordo com Shylock,
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15:21 - 15:25o que nos une como seres humanos
não é o sofrimento -
15:25 - 15:29ou a capacidade de ter empatia
com o sofrimento do outro, -
15:30 - 15:36mas a nossa compulsão humana em comum
de reagir ao sofrimento com vingança. -
15:37 - 15:43Ele quer e nós queremos o poder de fazer
os outros sentirem o que sentimos. -
15:44 - 15:49E esse é, penso, seu ponto
de contato com Shakespeare -
15:49 - 15:50e qualquer outro escritor sério,
-
15:50 - 15:55qualquer artista que não queira
meramente agradar sua plateia, -
15:55 - 15:57mas tocá-la, comovê-la,
-
15:57 - 16:00independente de a plateia
querer ser tocada ou não. -
16:01 - 16:03E, por artistas sérios, deixe-me explicar,
-
16:03 - 16:06não me refiro à respeitável
elite artística. -
16:06 - 16:08Mas exatamente o oposto.
-
16:08 - 16:10A ambição de que estou falando
-
16:10 - 16:14é a ambição de encontrar
um instrumento afiado ou cego -
16:14 - 16:17que lhes permita compelir
uma emoção em alguém, -
16:17 - 16:20para forçar uma compreensão,
-
16:20 - 16:22por qualquer meio disponível.
-
16:23 - 16:27E penso que é sobre isso que os judeus
de Marlowe e Shakespeare falam, -
16:28 - 16:32da busca pelo poder geralmente
mascarada como empatia. -
16:32 - 16:35E acredito que seja isso
o que Marlowe ensina a Shakespeare. -
16:36 - 16:39Ou pelo menos é a essência
dessa lição em particular no bar. -
16:40 - 16:42É nesse local
-
16:42 - 16:44que eles ouvem cada um falar
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16:44 - 16:47sobre o teatro e sobre nós.
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16:47 - 16:48Obrigado.
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16:48 - 16:50(Aplausos)
- Title:
- Shakespeare, Marlowe e seus judeus | John Kleiner | TEDxWilliamsCollege
- Description:
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John Kleiner é professor de inglês no Williams College. Ele é um estudioso de literatura clássica e medieval, cujo trabalho tem sido apoiado pela Andrew Mellon Foundation, pela Fundação Rockefeller e pela National Endowment for the Humanities. O autor de "Mismapping the Underworld: Error in Dante's 'Comedy'" está trabalhando num livro novo, "The Art of Losing: Versions of Failure from Virgil to Shakespeare". Seus artigos e ensaios incluem "On Failing One's Teachers", "Criminal Invention" e "Diffusion of hydrogen in a' -VHx". Ele tem ministrado cursos sobre Shakespeare, escrita dissertativa, Chaucer, Dante, alegoria, filmes de Hollywood, jornalismo e violência. Ele tem bacharelado em religião e física pela faculdade de Amherst, mestrado em física pela Universidade de Cornell, e mestrado e doutorado em literatura comparada pela Universidade de Stanford.
Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais, visite http://ted.com/tedx
- Video Language:
- English
- Team:
closed TED
- Project:
- TEDxTalks
- Duration:
- 17:01