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Como me apaixonei por um peixe

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    Já conheci muitos peixes na minha vida.
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    Só amei dois.
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    O primeiro
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    foi mais como uma relação apaixonada.
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    Era um peixe lindo,
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    saboroso, texturado, carnudo,
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    um best-seller no menu.
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    Mas que peixe!
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    (Risos)
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    Ainda por cima,
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    supostamente, era produzido
    segundo os mais altos padrões
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    de sustentabilidade.
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    Portanto, podia-me sentir bem em vendê-lo.
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    Tive uma relação com esta beldade
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    durante vários meses.
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    Um dia, o diretor da empresa telefonou-me
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    perguntando se queria falar num evento
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    sobre a sustentabilidade da piscicultura.
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    "Claro que sim", respondi.
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    Ali estava uma empresa
    que tentava resolver
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    o que se tornara num problema
    inimaginável para os nossos "chefs".
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    Como é que mantemos o peixe
    nos nossos menus?
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    Nos últimos 50 anos
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    temos pescado nos mares
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    da mesma forma
    que devastamos as florestas.
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    É difícil exagerar essa destruição.
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    90 % dos peixes grandes,
    aqueles que adoramos,
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    os atuns, os alabotes,
    os salmões, os espadartes,
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    entraram em colapso.
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    Já quase não há nada.
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    Portanto, para o bem ou para o mal,
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    a aquicultura, a piscicultura,
    vai fazer parte do nosso futuro.
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    Há imensos argumentos contra isso.
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    As pisciculturas poluem, pelo menos,
    a maioria delas fazem-no,
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    e são ineficazes, vejam o caso do atum,
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    que foi um grande revés.
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    Tem uma taxa de conversão alimentar
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    de quinze para um.
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    O que significa que são necessários
    15 quilos de peixe do mar,
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    para se obter um quilo de atum de viveiro.
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    Não é muito sustentável.
  • 1:53 - 1:56
    E também não sabe lá muito bem.
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    Portanto, aqui estava finalmente
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    uma empresa a tentar fazer tudo bem.
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    Eu quis apoiá-los.
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    No dia anterior ao evento
  • 2:05 - 2:09
    telefonei ao responsável
    das relações públicas da empresa.
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    Vamos chamar-lhe Don.
  • 2:12 - 2:14
    "Don," disse eu,
    "só para ter a certeza de tudo,
  • 2:14 - 2:17
    "vocês são conhecidos
    por terem a piscicultura
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    "tão longe da costa que não poluem."
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    "Certo", disse ele. "Estamos tão longe
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    "que os resíduos do peixe se espalham,
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    "não se concentram."
  • 2:26 - 2:28
    E depois acrescentou:
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    "Basicamente somos um mundo
    para nós próprios".
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    "A vossa taxa de conversão alimentar?"
  • 2:34 - 2:37
    "É 2,5 para um", disse ele.
    "A melhor da indústria."
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    É 2,5 para um, ótimo.
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    "2,5 para um, o quê?
    O que é que lhes dão como alimento?"
  • 2:42 - 2:44
    "Proteínas sustentáveis", respondeu ele.
  • 2:44 - 2:47
    "Ótimo", disse eu e desliguei o telefone.
  • 2:47 - 2:50
    Nessa noite, estava na cama
    e comecei a pensar:
  • 2:50 - 2:53
    Que diabo é uma proteína sustentável?
  • 2:53 - 2:56
    (Risos)
  • 2:57 - 3:00
    No dia seguinte, mesmo antes
    do evento, telefonei ao Don e perguntei:
  • 3:00 - 3:03
    "Don, quais são alguns exemplos
    de proteínas sustentáveis?"
  • 3:03 - 3:06
    Ele disse que não sabia,
    mas que ia perguntar.
  • 3:06 - 3:09
    Acabei por falar ao telefone
    com algumas pessoas da empresa.
  • 3:09 - 3:11
    Ninguém me soube dar uma resposta exata.
  • 3:11 - 3:16
    Até que finalmente tive ao telefone
    o biólogo chefe.
  • 3:16 - 3:19
    Vamos também chamar-lhe Don.
  • 3:19 - 3:21
    (Risos)
  • 3:23 - 3:24
    "Don", disse-lhe eu,
  • 3:24 - 3:28
    "quais são alguns exemplos
    de proteínas sustentáveis?"
  • 3:28 - 3:31
    Ele mencionou algumas algas
    e alguns alimentos de peixe,
  • 3:31 - 3:33
    e depois disse; "Grânulos de frango".
  • 3:33 - 3:35
    "Grânulos de frango?", disse eu.
  • 3:35 - 3:39
    Ele disse: "Sim, feita com penas,
    peles, ossos, restos,
  • 3:40 - 3:43
    "secos e processados para rações."
  • 3:43 - 3:48
    "Qual a percentagem da alimentação
    que é frango?"
  • 3:48 - 3:50
    perguntei eu, a pensar
    nuns dois por cento.
  • 3:51 - 3:53
    "É cerca de 30 %", respondeu ele.
  • 3:53 - 3:56
    Eu perguntei:
    "Don, o que há de sustentável
  • 3:56 - 3:58
    em alimentar peixes com frango?"
  • 3:59 - 4:02
    (Risos)
  • 4:03 - 4:06
    Houve uma longa pausa
    no outro lado da linha,
  • 4:07 - 4:10
    e ele disse: "Há frangos a mais no mundo."
  • 4:10 - 4:14
    (Risos)
  • 4:16 - 4:18
    Deixei de amar este peixe.
  • 4:18 - 4:19
    (Risos)
  • 4:19 - 4:23
    Não porque eu seja doido
    por comida pretensiosa
  • 4:23 - 4:25
    com a mania de ser certinho em tudo
  • 4:25 - 4:27
    — o que sou na realidade.
  • 4:27 - 4:28
    (Risos)
  • 4:28 - 4:31
    Não. Deixei de gostar daquele peixe
    porque — juro —
  • 4:31 - 4:34
    depois daquela conversa,
    o peixe sabia-me a frango.
  • 4:34 - 4:37
    (Risos)
  • 4:44 - 4:46
    Este segundo peixe
  • 4:46 - 4:49
    é um tipo diferente de história de amor.
  • 4:49 - 4:51
    É do tipo romântico,
  • 4:53 - 4:56
    do tipo em que,
    quanto melhor se conhece o peixe
  • 4:56 - 4:58
    mais nos apaixonamos por ele.
  • 4:58 - 5:02
    A primeira vez que o comi
    foi num restaurante no sul de Espanha.
  • 5:02 - 5:05
    Um jornalista minha amiga já me tinha
    falado neste peixe há muito.
  • 5:06 - 5:08
    De certo modo,
    ela arranjou-nos um encontro.
  • 5:08 - 5:09
    (Risos)
  • 5:10 - 5:11
    Veio para a mesa
  • 5:11 - 5:14
    com uma cor branca viva, quase brilhante.
  • 5:16 - 5:19
    O "chef" tinha-o cozinhado demais.
  • 5:20 - 5:22
    Para aí, o dobro do tempo.
  • 5:22 - 5:25
    Espantosamente, ainda estava delicioso.
  • 5:26 - 5:29
    Quem é que consegue
    fazer um peixe saber bem
  • 5:29 - 5:32
    mesmo depois de o ter cozinhado demais?
  • 5:32 - 5:33
    Eu não consigo,
  • 5:33 - 5:35
    mas este tipo conseguiu.
  • 5:36 - 5:39
    Vamos chamar-lhe Miguel.
    Ele chama-se mesmo Miguel.
  • 5:39 - 5:42
    (Risos)
  • 5:42 - 5:45
    Não foi ele que cozinhou o peixe,
    ele não é um "chef".
  • 5:46 - 5:48
    Pelo menos, "chef"
    tal como entendemos.
  • 5:48 - 5:50
    Ele é biólogo
  • 5:50 - 5:52
    em Veta La Palma.
  • 5:52 - 5:56
    É uma piscicultura
    no canto sudoeste de Espanha.
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    Fica na ponta do rio Guadalquivir.
  • 5:59 - 6:01
    Até aos anos 80,
  • 6:01 - 6:03
    a quinta esteve nas mãos de argentinos.
  • 6:03 - 6:05
    Criavam gado bovino,
  • 6:05 - 6:08
    naquilo que era basicamente
    uma zona húmida.
  • 6:08 - 6:10
    Fizeram-no drenando a terra.
  • 6:10 - 6:14
    Construíram um conjunto
    intrincado de canais
  • 6:14 - 6:16
    e forçaram a água
    a escoar da terra para o rio.
  • 6:18 - 6:21
    Não conseguiram que isso resultasse,
    economicamente.
  • 6:21 - 6:24
    E ecologicamente, foi um desastre.
  • 6:24 - 6:26
    Dizimaram 90 % das aves,
  • 6:26 - 6:29
    o que, para este local, são muitas aves.
  • 6:29 - 6:31
    Então, em 1982,
  • 6:31 - 6:34
    uma empresa espanhola
    com preocupações ambientais
  • 6:34 - 6:36
    comprou os terrenos.
  • 6:36 - 6:37
    O que é que fizeram?
  • 6:37 - 6:39
    Inverteram o fluxo da água.
  • 6:39 - 6:41
    Literalmente viraram tudo ao contrário.
  • 6:41 - 6:43
    Em vez de expulsar a água,
  • 6:43 - 6:46
    utilizaram os canais para a fazer entrar.
  • 6:46 - 6:48
    Inundaram os canais.
  • 6:48 - 6:51
    Criaram uma piscicultura
    de quase 11 000 hectares
  • 6:52 - 6:54
    — robalos, salmonetes,
  • 6:54 - 6:56
    camarões, enguias.
  • 6:56 - 6:59
    A fazerem isso, o Miguel e esta empresa
  • 6:59 - 7:02
    inverteram por completo
    a destruição ecológica.
  • 7:04 - 7:06
    A piscicultura é incrível.
  • 7:06 - 7:08
    Nunca vi nada assim.
  • 7:10 - 7:11
    Olhamos para o horizonte,
  • 7:11 - 7:13
    que está a milhares
    de quilómetros de distância,
  • 7:13 - 7:16
    e só vemos canais inundados
  • 7:16 - 7:19
    e este pântano espesso e rico.
  • 7:20 - 7:23
    Estive lá há não muito tempo com o Miguel.
  • 7:24 - 7:26
    É um tipo espantoso,
  • 7:26 - 7:30
    três quartos Charles Darwin,
    um quarto Crocodilo Dundee.
  • 7:30 - 7:31
    (Risos)
  • 7:31 - 7:35
    Ok? Lá íamos nós, a caminhar
    com esforço através dos pântanos,
  • 7:35 - 7:38
    comigo a arfar e a transpirar,
    com lama até aos joelhos,
  • 7:38 - 7:41
    e o Miguel calmamente
    a dar-me uma aula de biologia.
  • 7:41 - 7:44
    Tão depressa me aponta
    um peneireiro cinzento raro.
  • 7:44 - 7:48
    como, logo a seguir, enuncia
    as necessidades minerais do fitoplâncton.
  • 7:48 - 7:52
    Aqui, vê um padrão de agrupamento
  • 7:52 - 7:55
    que lhe lembra a girafa da Tanzânia.
  • 7:56 - 7:59
    Sucede que o Miguel passou
    a maior parte da sua carreira
  • 7:59 - 8:02
    no Parque Nacional Mikumi em África.
  • 8:02 - 8:05
    Perguntei-lhe: "Como te tornaste
    especialista em peixe?"
  • 8:06 - 8:09
    "Em peixe? Eu não sabia nada de peixe.
  • 8:09 - 8:12
    "Eu sou um especialista
    em relacionamentos".
  • 8:12 - 8:15
    E continuou a conversar
  • 8:15 - 8:17
    sobre aves e algas raras
  • 8:17 - 8:19
    e plantas aquáticas estranhas.
  • 8:19 - 8:21
    Não me interpretem mal,
    foi mesmo fascinante,
  • 8:21 - 8:24
    uma espécie de comunidade biótica
    em versão acústica.
  • 8:25 - 8:27
    Foi ótimo, mas eu estava apaixonado.
  • 8:27 - 8:31
    E só pensava naquele peixe delicioso,
    mas cozinhado demais,
  • 8:31 - 8:33
    que tinha comido na noite anterior.
  • 8:33 - 8:35
    Então, interrompi-o e perguntei:
  • 8:35 - 8:37
    "Miguel, porque é que
    o vosso peixe sabe tão bem?"
  • 8:37 - 8:39
    Ele apontou para as algas.
  • 8:39 - 8:42
    "Eu sei, meu, as algas, o fitoplâncton,
  • 8:42 - 8:44
    "as relações, é fascinante.
  • 8:45 - 8:48
    "Mas o que é que os vossos peixes comem?"
  • 8:48 - 8:50
    "Qual é a taxa de conversão alimentar?"
  • 8:51 - 8:55
    Então ele continuou explicando-me
  • 8:55 - 8:56
    que o sistema é tão rico
  • 8:56 - 8:59
    que os peixes comem o que comeriam
    no meio natural.
  • 9:00 - 9:05
    A biomassa vegetal, o fitoplâncton,
    o zooplâncton, é o que alimenta os peixes.
  • 9:05 - 9:06
    O sistema é tão saudável
  • 9:06 - 9:09
    que se autorrenova integralmente.
  • 9:09 - 9:11
    Não há qualquer alimento.
  • 9:11 - 9:15
    Já ouviram falar de uma piscicultura
    que não alimente os seus animais?
  • 9:18 - 9:19
    Mais tarde nesse mesmo dia,
  • 9:19 - 9:22
    visitei a propriedade,
    com o Miguel e perguntei-lhe:
  • 9:22 - 9:24
    "Num local que parece tão natural,
  • 9:24 - 9:28
    "tão diferente de qualquer outro
    onde já estive,
  • 9:29 - 9:31
    "como é que vocês medem o sucesso?"
  • 9:32 - 9:36
    Nesse momento, foi como
    se um realizador de cinema
  • 9:36 - 9:38
    pedisse uma mudança de cenário.
  • 9:38 - 9:41
    Virámos a esquina e vi
    o espetáculo mais espantoso.
  • 9:41 - 9:44
    Milhares e milhares
    de flamingos cor-de-rosa,
  • 9:45 - 9:48
    literalmente um tapete cor de rosa
    a perder de vista.
  • 9:49 - 9:51
    "Isto é sucesso", disse ele.
  • 9:51 - 9:53
    "Olha para as barrigas, cor-de-rosa.
  • 9:53 - 9:55
    "Estão-se a banquetear."
  • 9:56 - 9:58
    "A banquetear?"
    Eu estava confuso.
  • 9:58 - 10:01
    "Miguel, eles estão a banquetear-se
    com os vossos peixes?"
  • 10:02 - 10:03
    "Sim", disse ele.
  • 10:03 - 10:06
    (Risos)
  • 10:09 - 10:14
    "Perdemos 20 % de peixe
    e das ovas para as aves".
  • 10:15 - 10:19
    "No ano passado, esta propriedade
    tinha 600 000 aves,
  • 10:19 - 10:22
    "com mais de 250 espécies diferentes.
  • 10:22 - 10:24
    "É hoje o maior
  • 10:24 - 10:27
    "e um dos mais importantes
  • 10:28 - 10:30
    "santuários de aves privados
    de toda a Europa."
  • 10:31 - 10:34
    E eu: "Miguel, uma população
    florescente de aves
  • 10:34 - 10:37
    "não é a última coisa que se quer
    numa piscicultura?"
  • 10:37 - 10:38
    (Risos)
  • 10:39 - 10:41
    Ele abanou a cabeça e explicou:
  • 10:41 - 10:46
    "Nós produzimos de forma extensiva,
    não intensiva.
  • 10:46 - 10:49
    "Isto é uma rede ecológica.
  • 10:49 - 10:52
    "Os flamingos comem camarão.
  • 10:52 - 10:54
    "O camarão come o fitoplâncton.
  • 10:54 - 10:56
    "Quanto mais cor-de-rosa
    forem as barrigas dos flamingos,
  • 10:56 - 10:58
    "melhor é o sistema.
  • 10:59 - 11:00
    "Vamos lá então fazer uma revisão.
  • 11:00 - 11:04
    "Uma piscicultura
    que não alimenta os seus animais
  • 11:04 - 11:06
    "e uma piscicultura que mede o seu sucesso
  • 11:06 - 11:08
    "pela saúde dos seus predadores.
  • 11:08 - 11:11
    "Uma piscicultura, mas também
    um santuário de aves.
  • 11:12 - 11:15
    "Ah, e já agora, os flamingos
    nem sequer lá deviam estar.
  • 11:16 - 11:19
    "Reproduzem-se numa cidade
    a 240 km de distância,
  • 11:19 - 11:23
    "onde as condições do solo
    são melhores para construírem os ninhos.
  • 11:23 - 11:28
    "Todas as manhãs,
    voam 240 km até à quinta.
  • 11:29 - 11:32
    "E ao anoitecer, voam 240 km de volta.
  • 11:32 - 11:36
    (Risos)
  • 11:39 - 11:43
    "Fazem-no porque são capazes de seguir
  • 11:43 - 11:47
    "o tracejado branco
    da autoestrada A92."
  • 11:46 - 11:48
    (Risos)
  • 11:48 - 11:50
    Não estou a brincar.
  • 11:51 - 11:53
    Fiquei a imaginar uma marcha de pinguins,
  • 11:53 - 11:55
    por isso olhei para o Miguel e disse:
  • 11:55 - 11:59
    "Miguel, elas voam 240 km até aqui
  • 11:59 - 12:03
    "e depois voam 240 km de volta à noite?
  • 12:03 - 12:06
    "Fazem-no pelas crias?"
  • 12:06 - 12:09
    Ele olhou para mim como
    se eu estivesse a citar
  • 12:09 - 12:10
    uma canção de Whitney Houston.
  • 12:11 - 12:13
    (Risos)
  • 12:13 - 12:16
    "Não," respondeu.
    Fazem-no porque a comida é melhor."
  • 12:16 - 12:18
    (Risos)
  • 12:19 - 12:23
    Não falei na pele do meu bem-amado peixe,
  • 12:26 - 12:29
    que era deliciosa
    e eu não gosto de pele de peixe.
  • 12:29 - 12:32
    Não gosto dela tostada.
    Não gosto dela crocante.
  • 12:32 - 12:35
    Tem aquele sabor acre,
    como se fosse alcatrão.
  • 12:35 - 12:38
    Quase nunca cozinho com a pele.
  • 12:38 - 12:41
    Mas, quando a provei naquele restaurante
    do sul de Espanha,
  • 12:41 - 12:44
    não sabia nada a pele de peixe.
  • 12:45 - 12:47
    Tinha um sabor doce e natural
  • 12:47 - 12:50
    como se estivesse a dar uma dentada
    no próprio oceano.
  • 12:50 - 12:53
    Quando referi isso, o Miguel concordou.
  • 12:53 - 12:55
    "A pele funciona como uma esponja,
  • 12:55 - 12:58
    "É a última defesa antes
    de uma substância entrar no corpo.
  • 12:58 - 13:00
    Evoluiu para absorver as impurezas."
  • 13:00 - 13:02
    E depois acrescentou:
  • 13:02 - 13:06
    "Mas a nossa água não tem impurezas."
  • 13:07 - 13:10
    OK. Uma piscicultura
    que não alimenta os seus peixes.
  • 13:11 - 13:14
    Uma piscicultura que mede o seu sucesso
  • 13:14 - 13:16
    pelo sucesso dos seus predadores.
  • 13:17 - 13:19
    Então percebi que, quando ele diz,
  • 13:19 - 13:21
    "uma quinta sem impurezas",
  • 13:21 - 13:24
    ele dá a entender muito menos do que é
  • 13:24 - 13:26
    porque a água que atravessa a quinta
  • 13:26 - 13:28
    vem do rio Guadalquivir.
  • 13:28 - 13:30
    É um rio que traz consigo
  • 13:30 - 13:33
    tudo o que os rios
    tendem a trazer hoje em dia,
  • 13:33 - 13:36
    químicos contaminantes,
  • 13:36 - 13:37
    restos de pesticidas.
  • 13:37 - 13:40
    E quando a água atravessa o sistema
  • 13:40 - 13:42
    para o abandonar em seguida,
  • 13:42 - 13:45
    é mais pura do que quando entrou.
  • 13:45 - 13:47
    O sistema é tão saudável
    que purifica a água.
  • 13:48 - 13:51
    Não só é uma piscicultura
    que não alimenta os seus animais,
  • 13:51 - 13:56
    e que mede o sucesso
    pela condição saudável dos predadores
  • 13:55 - 13:58
    mas também uma piscicultura que funciona
  • 13:58 - 14:00
    como uma verdadeira estação
    de purificação da água.
  • 14:01 - 14:03
    Não apenas para aqueles peixes,
  • 14:04 - 14:06
    mas também para nós todos.
  • 14:06 - 14:09
    Porque quando a água sai,^
    vai para o Atlântico.
  • 14:12 - 14:13
    Uma gota no oceano, eu sei,
  • 14:13 - 14:17
    mas eu aceito-a,
    e vocês também devem aceitá-la,
  • 14:17 - 14:19
    porque esta história de amor,
  • 14:20 - 14:22
    embora romântica,
  • 14:22 - 14:25
    também é instrutiva.
  • 14:25 - 14:26
    Poder-se-á dizer que é uma receita
  • 14:26 - 14:28
    para o futuro da boa alimentação,
  • 14:29 - 14:32
    quer se esteja a falar de robalos
    ou de gado bovino.
  • 14:32 - 14:34
    O que precisamos agora
  • 14:34 - 14:37
    é de uma conceção de agricultura
    radicalmente inovadora,
  • 14:37 - 14:40
    em que a comida saiba mesmo bem.
  • 14:40 - 14:42
    (Risos)
  • 14:42 - 14:45
    (Aplausos)
  • 14:47 - 14:49
    Mas para muitas pessoas,
  • 14:49 - 14:51
    é um pouco radical em demasia.
  • 14:52 - 14:54
    Nós, malucos por comida,
    não somos realistas.
  • 14:55 - 14:56
    Somos apaixonados.
  • 14:57 - 14:59
    Adoramos feiras tradicionais.
  • 14:59 - 15:01
    Adoramos pequenas quintas familiares.
  • 15:01 - 15:03
    Conversamos sobre produtos locais.
  • 15:03 - 15:06
    Consumimos alimentos orgânicos.
  • 15:06 - 15:09
    E quando se sugere
    que estas são as iniciativas
  • 15:09 - 15:13
    que garantirão o futuro
    de uma boa alimentação
  • 15:13 - 15:14
    alguém vai levantar-se algures e dizer:
  • 15:14 - 15:18
    "É pá, eu adoro flamingos cor-de-rosa,
  • 15:18 - 15:21
    "mas como é que vocês
    vão alimentar o mundo?"
  • 15:22 - 15:24
    Como é que vocês vão alimentar o mundo?
  • 15:24 - 15:26
    Posso ser franco?
  • 15:26 - 15:28
    Eu não gosto desta pergunta,
  • 15:29 - 15:32
    porque nós já produzimos
    calorias suficientes
  • 15:32 - 15:35
    mais do que as necessárias
    para alimentar o mundo.
  • 15:35 - 15:38
    Mas hoje, mil milhões de pessoas
    vão passar fome.
  • 15:38 - 15:41
    Mil milhões — mais do que nunca —
  • 15:41 - 15:44
    por causa das desigualdades
    flagrantes na distribuição,
  • 15:44 - 15:46
    e não por causa da tonelagem.
  • 15:47 - 15:50
    Não gosto desta pergunta
    porque tem determinado a lógica
  • 15:50 - 15:53
    do nosso sistema alimentar
    nos últimos 50 anos.
  • 15:53 - 15:55
    Dar cereais aos herbívoros,
  • 15:55 - 15:58
    pesticidas às monoculturas,
    químicos aos solos,
  • 15:58 - 16:00
    frango aos peixes.
  • 16:00 - 16:05
    Desde o princípio,
    a agroindústria só pergunta:
  • 16:05 - 16:08
    "Estamos a dar comida a mais pessoas
    de uma forma mais barata,
  • 16:08 - 16:10
    "o que é que isso tem de terrível?"
  • 16:12 - 16:15
    Esta tem sido a motivação
    e justificação.
  • 16:15 - 16:17
    Tem sido este o plano de negócios
  • 16:17 - 16:19
    da agricultura americana.
  • 16:19 - 16:21
    Temos que chamar-lhe pelo que é,
  • 16:21 - 16:23
    uma indústria em falência,
  • 16:24 - 16:27
    uma indústria que está
    a desgastar rapidamente
  • 16:27 - 16:31
    o capital ecológico que torna possível
    essa mesma produção .
  • 16:31 - 16:32
    Isso não é uma indústria,
  • 16:32 - 16:34
    e não é agricultura.
  • 16:34 - 16:37
    Hoje em dia o nosso celeiro está ameaçado
  • 16:37 - 16:40
    não por causa de um stock diminuto
  • 16:40 - 16:42
    mas por causa de recursos que diminuem.
  • 16:43 - 16:46
    Não por causa das invenções
    em ceifadoras ou tratores,
  • 16:46 - 16:48
    mas por causa do solo fértil.
  • 16:48 - 16:51
    Não por causa das bombas de água,
    mas por causa da água potável.
  • 16:51 - 16:53
    não por causa das serras,
    mas por causa das florestas;
  • 16:53 - 16:57
    não por causa dos barcos e redes de pesca,
    mas por causa do peixe nos mares.
  • 16:57 - 16:58
    Queremos alimentar o mundo?
  • 16:58 - 17:02
    Comecemos por perguntar: como é que
    nos vamos alimentar a nós próprios?
  • 17:02 - 17:06
    Ou melhor, como é que podemos
    criar condições
  • 17:06 - 17:10
    que permitam que cada comunidade
    se alimente a si própria?
  • 17:10 - 17:13
    (Aplausos)
  • 17:17 - 17:19
    Para fazer isso
  • 17:19 - 17:22
    não olhemos para a agroindústria
    como um modelo para o futuro.
  • 17:23 - 17:25
    Está velho e esgotado.
  • 17:25 - 17:29
    Cheio de capital, químicos e máquinas
  • 17:29 - 17:31
    e nunca produziu nada
    de realmente bom para comer.
  • 17:33 - 17:37
    Em vez disso, voltemo-nos
    para o modelo ecológico.
  • 17:37 - 17:41
    É ele que assenta
    em dois mil milhões de anos
  • 17:41 - 17:43
    de experiência real.
  • 17:44 - 17:45
    Vejam o Miguel,
  • 17:45 - 17:47
    os piscicultores como o Miguel.
  • 17:47 - 17:50
    Pisciculturas que não são
    um mundo para eles próprios;
  • 17:51 - 17:55
    pisciculturas que recuperam
    em vez de se esgotarem,
  • 17:55 - 17:58
    pisciculturas que produzem extensivamente
  • 17:58 - 18:00
    em vez de apenas intensivamente,
  • 18:00 - 18:03
    piscicultores que não são
    apenas produtores
  • 18:03 - 18:05
    mas também especialistas em relações.
  • 18:05 - 18:08
    Porque esses é que são também
    os especialistas em sabor.
  • 18:09 - 18:11
    E para ser completamente franco,
  • 18:11 - 18:14
    são melhores "chefs"
    do que serei alguma vez.
  • 18:15 - 18:17
    Por mim tudo bem,
  • 18:17 - 18:20
    porque se esse é o futuro da boa comida,
    então vai ser delicioso.
  • 18:20 - 18:22
    Obrigado.
  • 18:22 - 18:25
    (Aplausos)
Title:
Como me apaixonei por um peixe
Speaker:
Dan Barber
Description:

O "chef" Dan Barber debate-se com um dilema que muitos "chefs" enfrentam hoje em dia: como continuar a apresentar peixe no menu. Numa palestra bem fundamentada e cheia de humor, conta-nos a sua procura de um peixe sustentável pelo qual se pudesse apaixonar, bem como a sua lua-de-mel desde que descobriu um peixe escandalosamente delicioso de uma piscicultura em Espanha que utiliza um método revolucionário.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
18:41
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for How I fell in love with a fish
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for How I fell in love with a fish
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for How I fell in love with a fish
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for How I fell in love with a fish
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for How I fell in love with a fish
Helena Sobral added a translation

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