Como me apaixonei por um peixe
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0:01 - 0:04Já conheci muitos peixes na minha vida.
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0:05 - 0:08Só amei dois.
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0:08 - 0:10O primeiro
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0:10 - 0:12foi mais como uma relação apaixonada.
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0:13 - 0:15Era um peixe lindo,
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0:15 - 0:18saboroso, texturado, carnudo,
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0:18 - 0:20um best-seller no menu.
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0:21 - 0:22Mas que peixe!
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0:22 - 0:24(Risos)
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0:25 - 0:27Ainda por cima,
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0:27 - 0:30supostamente, era produzido
segundo os mais altos padrões -
0:31 - 0:32de sustentabilidade.
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0:33 - 0:36Portanto, podia-me sentir bem em vendê-lo.
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0:37 - 0:39Tive uma relação com esta beldade
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0:39 - 0:41durante vários meses.
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0:43 - 0:46Um dia, o diretor da empresa telefonou-me
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0:46 - 0:48perguntando se queria falar num evento
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0:48 - 0:50sobre a sustentabilidade da piscicultura.
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0:50 - 0:51"Claro que sim", respondi.
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0:52 - 0:54Ali estava uma empresa
que tentava resolver -
0:54 - 0:57o que se tornara num problema
inimaginável para os nossos "chefs". -
0:58 - 1:01Como é que mantemos o peixe
nos nossos menus? -
1:02 - 1:05Nos últimos 50 anos
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1:05 - 1:07temos pescado nos mares
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1:07 - 1:10da mesma forma
que devastamos as florestas. -
1:12 - 1:14É difícil exagerar essa destruição.
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1:16 - 1:1990 % dos peixes grandes,
aqueles que adoramos, -
1:19 - 1:21os atuns, os alabotes,
os salmões, os espadartes, -
1:21 - 1:23entraram em colapso.
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1:23 - 1:25Já quase não há nada.
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1:27 - 1:29Portanto, para o bem ou para o mal,
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1:29 - 1:32a aquicultura, a piscicultura,
vai fazer parte do nosso futuro. -
1:32 - 1:34Há imensos argumentos contra isso.
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1:34 - 1:38As pisciculturas poluem, pelo menos,
a maioria delas fazem-no, -
1:38 - 1:40e são ineficazes, vejam o caso do atum,
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1:40 - 1:42que foi um grande revés.
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1:42 - 1:44Tem uma taxa de conversão alimentar
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1:44 - 1:46de quinze para um.
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1:46 - 1:49O que significa que são necessários
15 quilos de peixe do mar, -
1:49 - 1:51para se obter um quilo de atum de viveiro.
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1:51 - 1:53Não é muito sustentável.
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1:53 - 1:56E também não sabe lá muito bem.
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1:56 - 1:58Portanto, aqui estava finalmente
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1:58 - 2:00uma empresa a tentar fazer tudo bem.
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2:01 - 2:02Eu quis apoiá-los.
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2:03 - 2:05No dia anterior ao evento
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2:05 - 2:09telefonei ao responsável
das relações públicas da empresa. -
2:09 - 2:11Vamos chamar-lhe Don.
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2:12 - 2:14"Don," disse eu,
"só para ter a certeza de tudo, -
2:14 - 2:17"vocês são conhecidos
por terem a piscicultura -
2:17 - 2:19"tão longe da costa que não poluem."
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2:19 - 2:21"Certo", disse ele. "Estamos tão longe
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2:21 - 2:24"que os resíduos do peixe se espalham,
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2:24 - 2:26"não se concentram."
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2:26 - 2:28E depois acrescentou:
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2:28 - 2:31"Basicamente somos um mundo
para nós próprios". -
2:32 - 2:34"A vossa taxa de conversão alimentar?"
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2:34 - 2:37"É 2,5 para um", disse ele.
"A melhor da indústria." -
2:38 - 2:39É 2,5 para um, ótimo.
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2:39 - 2:42"2,5 para um, o quê?
O que é que lhes dão como alimento?" -
2:42 - 2:44"Proteínas sustentáveis", respondeu ele.
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2:44 - 2:47"Ótimo", disse eu e desliguei o telefone.
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2:47 - 2:50Nessa noite, estava na cama
e comecei a pensar: -
2:50 - 2:53Que diabo é uma proteína sustentável?
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2:53 - 2:56(Risos)
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2:57 - 3:00No dia seguinte, mesmo antes
do evento, telefonei ao Don e perguntei: -
3:00 - 3:03"Don, quais são alguns exemplos
de proteínas sustentáveis?" -
3:03 - 3:06Ele disse que não sabia,
mas que ia perguntar. -
3:06 - 3:09Acabei por falar ao telefone
com algumas pessoas da empresa. -
3:09 - 3:11Ninguém me soube dar uma resposta exata.
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3:11 - 3:16Até que finalmente tive ao telefone
o biólogo chefe. -
3:16 - 3:19Vamos também chamar-lhe Don.
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3:19 - 3:21(Risos)
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3:23 - 3:24"Don", disse-lhe eu,
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3:24 - 3:28"quais são alguns exemplos
de proteínas sustentáveis?" -
3:28 - 3:31Ele mencionou algumas algas
e alguns alimentos de peixe, -
3:31 - 3:33e depois disse; "Grânulos de frango".
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3:33 - 3:35"Grânulos de frango?", disse eu.
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3:35 - 3:39Ele disse: "Sim, feita com penas,
peles, ossos, restos, -
3:40 - 3:43"secos e processados para rações."
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3:43 - 3:48"Qual a percentagem da alimentação
que é frango?" -
3:48 - 3:50perguntei eu, a pensar
nuns dois por cento. -
3:51 - 3:53"É cerca de 30 %", respondeu ele.
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3:53 - 3:56Eu perguntei:
"Don, o que há de sustentável -
3:56 - 3:58em alimentar peixes com frango?"
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3:59 - 4:02(Risos)
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4:03 - 4:06Houve uma longa pausa
no outro lado da linha, -
4:07 - 4:10e ele disse: "Há frangos a mais no mundo."
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4:10 - 4:14(Risos)
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4:16 - 4:18Deixei de amar este peixe.
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4:18 - 4:19(Risos)
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4:19 - 4:23Não porque eu seja doido
por comida pretensiosa -
4:23 - 4:25com a mania de ser certinho em tudo
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4:25 - 4:27— o que sou na realidade.
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4:27 - 4:28(Risos)
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4:28 - 4:31Não. Deixei de gostar daquele peixe
porque — juro — -
4:31 - 4:34depois daquela conversa,
o peixe sabia-me a frango. -
4:34 - 4:37(Risos)
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4:44 - 4:46Este segundo peixe
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4:46 - 4:49é um tipo diferente de história de amor.
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4:49 - 4:51É do tipo romântico,
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4:53 - 4:56do tipo em que,
quanto melhor se conhece o peixe -
4:56 - 4:58mais nos apaixonamos por ele.
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4:58 - 5:02A primeira vez que o comi
foi num restaurante no sul de Espanha. -
5:02 - 5:05Um jornalista minha amiga já me tinha
falado neste peixe há muito. -
5:06 - 5:08De certo modo,
ela arranjou-nos um encontro. -
5:08 - 5:09(Risos)
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5:10 - 5:11Veio para a mesa
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5:11 - 5:14com uma cor branca viva, quase brilhante.
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5:16 - 5:19O "chef" tinha-o cozinhado demais.
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5:20 - 5:22Para aí, o dobro do tempo.
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5:22 - 5:25Espantosamente, ainda estava delicioso.
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5:26 - 5:29Quem é que consegue
fazer um peixe saber bem -
5:29 - 5:32mesmo depois de o ter cozinhado demais?
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5:32 - 5:33Eu não consigo,
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5:33 - 5:35mas este tipo conseguiu.
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5:36 - 5:39Vamos chamar-lhe Miguel.
Ele chama-se mesmo Miguel. -
5:39 - 5:42(Risos)
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5:42 - 5:45Não foi ele que cozinhou o peixe,
ele não é um "chef". -
5:46 - 5:48Pelo menos, "chef"
tal como entendemos. -
5:48 - 5:50Ele é biólogo
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5:50 - 5:52em Veta La Palma.
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5:52 - 5:56É uma piscicultura
no canto sudoeste de Espanha. -
5:56 - 5:58Fica na ponta do rio Guadalquivir.
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5:59 - 6:01Até aos anos 80,
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6:01 - 6:03a quinta esteve nas mãos de argentinos.
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6:03 - 6:05Criavam gado bovino,
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6:05 - 6:08naquilo que era basicamente
uma zona húmida. -
6:08 - 6:10Fizeram-no drenando a terra.
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6:10 - 6:14Construíram um conjunto
intrincado de canais -
6:14 - 6:16e forçaram a água
a escoar da terra para o rio. -
6:18 - 6:21Não conseguiram que isso resultasse,
economicamente. -
6:21 - 6:24E ecologicamente, foi um desastre.
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6:24 - 6:26Dizimaram 90 % das aves,
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6:26 - 6:29o que, para este local, são muitas aves.
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6:29 - 6:31Então, em 1982,
-
6:31 - 6:34uma empresa espanhola
com preocupações ambientais -
6:34 - 6:36comprou os terrenos.
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6:36 - 6:37O que é que fizeram?
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6:37 - 6:39Inverteram o fluxo da água.
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6:39 - 6:41Literalmente viraram tudo ao contrário.
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6:41 - 6:43Em vez de expulsar a água,
-
6:43 - 6:46utilizaram os canais para a fazer entrar.
-
6:46 - 6:48Inundaram os canais.
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6:48 - 6:51Criaram uma piscicultura
de quase 11 000 hectares -
6:52 - 6:54— robalos, salmonetes,
-
6:54 - 6:56camarões, enguias.
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6:56 - 6:59A fazerem isso, o Miguel e esta empresa
-
6:59 - 7:02inverteram por completo
a destruição ecológica. -
7:04 - 7:06A piscicultura é incrível.
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7:06 - 7:08Nunca vi nada assim.
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7:10 - 7:11Olhamos para o horizonte,
-
7:11 - 7:13que está a milhares
de quilómetros de distância, -
7:13 - 7:16e só vemos canais inundados
-
7:16 - 7:19e este pântano espesso e rico.
-
7:20 - 7:23Estive lá há não muito tempo com o Miguel.
-
7:24 - 7:26É um tipo espantoso,
-
7:26 - 7:30três quartos Charles Darwin,
um quarto Crocodilo Dundee. -
7:30 - 7:31(Risos)
-
7:31 - 7:35Ok? Lá íamos nós, a caminhar
com esforço através dos pântanos, -
7:35 - 7:38comigo a arfar e a transpirar,
com lama até aos joelhos, -
7:38 - 7:41e o Miguel calmamente
a dar-me uma aula de biologia. -
7:41 - 7:44Tão depressa me aponta
um peneireiro cinzento raro. -
7:44 - 7:48como, logo a seguir, enuncia
as necessidades minerais do fitoplâncton. -
7:48 - 7:52Aqui, vê um padrão de agrupamento
-
7:52 - 7:55que lhe lembra a girafa da Tanzânia.
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7:56 - 7:59Sucede que o Miguel passou
a maior parte da sua carreira -
7:59 - 8:02no Parque Nacional Mikumi em África.
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8:02 - 8:05Perguntei-lhe: "Como te tornaste
especialista em peixe?" -
8:06 - 8:09"Em peixe? Eu não sabia nada de peixe.
-
8:09 - 8:12"Eu sou um especialista
em relacionamentos". -
8:12 - 8:15E continuou a conversar
-
8:15 - 8:17sobre aves e algas raras
-
8:17 - 8:19e plantas aquáticas estranhas.
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8:19 - 8:21Não me interpretem mal,
foi mesmo fascinante, -
8:21 - 8:24uma espécie de comunidade biótica
em versão acústica. -
8:25 - 8:27Foi ótimo, mas eu estava apaixonado.
-
8:27 - 8:31E só pensava naquele peixe delicioso,
mas cozinhado demais, -
8:31 - 8:33que tinha comido na noite anterior.
-
8:33 - 8:35Então, interrompi-o e perguntei:
-
8:35 - 8:37"Miguel, porque é que
o vosso peixe sabe tão bem?" -
8:37 - 8:39Ele apontou para as algas.
-
8:39 - 8:42"Eu sei, meu, as algas, o fitoplâncton,
-
8:42 - 8:44"as relações, é fascinante.
-
8:45 - 8:48"Mas o que é que os vossos peixes comem?"
-
8:48 - 8:50"Qual é a taxa de conversão alimentar?"
-
8:51 - 8:55Então ele continuou explicando-me
-
8:55 - 8:56que o sistema é tão rico
-
8:56 - 8:59que os peixes comem o que comeriam
no meio natural. -
9:00 - 9:05A biomassa vegetal, o fitoplâncton,
o zooplâncton, é o que alimenta os peixes. -
9:05 - 9:06O sistema é tão saudável
-
9:06 - 9:09que se autorrenova integralmente.
-
9:09 - 9:11Não há qualquer alimento.
-
9:11 - 9:15Já ouviram falar de uma piscicultura
que não alimente os seus animais? -
9:18 - 9:19Mais tarde nesse mesmo dia,
-
9:19 - 9:22visitei a propriedade,
com o Miguel e perguntei-lhe: -
9:22 - 9:24"Num local que parece tão natural,
-
9:24 - 9:28"tão diferente de qualquer outro
onde já estive, -
9:29 - 9:31"como é que vocês medem o sucesso?"
-
9:32 - 9:36Nesse momento, foi como
se um realizador de cinema -
9:36 - 9:38pedisse uma mudança de cenário.
-
9:38 - 9:41Virámos a esquina e vi
o espetáculo mais espantoso. -
9:41 - 9:44Milhares e milhares
de flamingos cor-de-rosa, -
9:45 - 9:48literalmente um tapete cor de rosa
a perder de vista. -
9:49 - 9:51"Isto é sucesso", disse ele.
-
9:51 - 9:53"Olha para as barrigas, cor-de-rosa.
-
9:53 - 9:55"Estão-se a banquetear."
-
9:56 - 9:58"A banquetear?"
Eu estava confuso. -
9:58 - 10:01"Miguel, eles estão a banquetear-se
com os vossos peixes?" -
10:02 - 10:03"Sim", disse ele.
-
10:03 - 10:06(Risos)
-
10:09 - 10:14"Perdemos 20 % de peixe
e das ovas para as aves". -
10:15 - 10:19"No ano passado, esta propriedade
tinha 600 000 aves, -
10:19 - 10:22"com mais de 250 espécies diferentes.
-
10:22 - 10:24"É hoje o maior
-
10:24 - 10:27"e um dos mais importantes
-
10:28 - 10:30"santuários de aves privados
de toda a Europa." -
10:31 - 10:34E eu: "Miguel, uma população
florescente de aves -
10:34 - 10:37"não é a última coisa que se quer
numa piscicultura?" -
10:37 - 10:38(Risos)
-
10:39 - 10:41Ele abanou a cabeça e explicou:
-
10:41 - 10:46"Nós produzimos de forma extensiva,
não intensiva. -
10:46 - 10:49"Isto é uma rede ecológica.
-
10:49 - 10:52"Os flamingos comem camarão.
-
10:52 - 10:54"O camarão come o fitoplâncton.
-
10:54 - 10:56"Quanto mais cor-de-rosa
forem as barrigas dos flamingos, -
10:56 - 10:58"melhor é o sistema.
-
10:59 - 11:00"Vamos lá então fazer uma revisão.
-
11:00 - 11:04"Uma piscicultura
que não alimenta os seus animais -
11:04 - 11:06"e uma piscicultura que mede o seu sucesso
-
11:06 - 11:08"pela saúde dos seus predadores.
-
11:08 - 11:11"Uma piscicultura, mas também
um santuário de aves. -
11:12 - 11:15"Ah, e já agora, os flamingos
nem sequer lá deviam estar. -
11:16 - 11:19"Reproduzem-se numa cidade
a 240 km de distância, -
11:19 - 11:23"onde as condições do solo
são melhores para construírem os ninhos. -
11:23 - 11:28"Todas as manhãs,
voam 240 km até à quinta. -
11:29 - 11:32"E ao anoitecer, voam 240 km de volta.
-
11:32 - 11:36(Risos)
-
11:39 - 11:43"Fazem-no porque são capazes de seguir
-
11:43 - 11:47"o tracejado branco
da autoestrada A92." -
11:46 - 11:48(Risos)
-
11:48 - 11:50Não estou a brincar.
-
11:51 - 11:53Fiquei a imaginar uma marcha de pinguins,
-
11:53 - 11:55por isso olhei para o Miguel e disse:
-
11:55 - 11:59"Miguel, elas voam 240 km até aqui
-
11:59 - 12:03"e depois voam 240 km de volta à noite?
-
12:03 - 12:06"Fazem-no pelas crias?"
-
12:06 - 12:09Ele olhou para mim como
se eu estivesse a citar -
12:09 - 12:10uma canção de Whitney Houston.
-
12:11 - 12:13(Risos)
-
12:13 - 12:16"Não," respondeu.
Fazem-no porque a comida é melhor." -
12:16 - 12:18(Risos)
-
12:19 - 12:23Não falei na pele do meu bem-amado peixe,
-
12:26 - 12:29que era deliciosa
e eu não gosto de pele de peixe. -
12:29 - 12:32Não gosto dela tostada.
Não gosto dela crocante. -
12:32 - 12:35Tem aquele sabor acre,
como se fosse alcatrão. -
12:35 - 12:38Quase nunca cozinho com a pele.
-
12:38 - 12:41Mas, quando a provei naquele restaurante
do sul de Espanha, -
12:41 - 12:44não sabia nada a pele de peixe.
-
12:45 - 12:47Tinha um sabor doce e natural
-
12:47 - 12:50como se estivesse a dar uma dentada
no próprio oceano. -
12:50 - 12:53Quando referi isso, o Miguel concordou.
-
12:53 - 12:55"A pele funciona como uma esponja,
-
12:55 - 12:58"É a última defesa antes
de uma substância entrar no corpo. -
12:58 - 13:00Evoluiu para absorver as impurezas."
-
13:00 - 13:02E depois acrescentou:
-
13:02 - 13:06"Mas a nossa água não tem impurezas."
-
13:07 - 13:10OK. Uma piscicultura
que não alimenta os seus peixes. -
13:11 - 13:14Uma piscicultura que mede o seu sucesso
-
13:14 - 13:16pelo sucesso dos seus predadores.
-
13:17 - 13:19Então percebi que, quando ele diz,
-
13:19 - 13:21"uma quinta sem impurezas",
-
13:21 - 13:24ele dá a entender muito menos do que é
-
13:24 - 13:26porque a água que atravessa a quinta
-
13:26 - 13:28vem do rio Guadalquivir.
-
13:28 - 13:30É um rio que traz consigo
-
13:30 - 13:33tudo o que os rios
tendem a trazer hoje em dia, -
13:33 - 13:36químicos contaminantes,
-
13:36 - 13:37restos de pesticidas.
-
13:37 - 13:40E quando a água atravessa o sistema
-
13:40 - 13:42para o abandonar em seguida,
-
13:42 - 13:45é mais pura do que quando entrou.
-
13:45 - 13:47O sistema é tão saudável
que purifica a água. -
13:48 - 13:51Não só é uma piscicultura
que não alimenta os seus animais, -
13:51 - 13:56e que mede o sucesso
pela condição saudável dos predadores -
13:55 - 13:58mas também uma piscicultura que funciona
-
13:58 - 14:00como uma verdadeira estação
de purificação da água. -
14:01 - 14:03Não apenas para aqueles peixes,
-
14:04 - 14:06mas também para nós todos.
-
14:06 - 14:09Porque quando a água sai,^
vai para o Atlântico. -
14:12 - 14:13Uma gota no oceano, eu sei,
-
14:13 - 14:17mas eu aceito-a,
e vocês também devem aceitá-la, -
14:17 - 14:19porque esta história de amor,
-
14:20 - 14:22embora romântica,
-
14:22 - 14:25também é instrutiva.
-
14:25 - 14:26Poder-se-á dizer que é uma receita
-
14:26 - 14:28para o futuro da boa alimentação,
-
14:29 - 14:32quer se esteja a falar de robalos
ou de gado bovino. -
14:32 - 14:34O que precisamos agora
-
14:34 - 14:37é de uma conceção de agricultura
radicalmente inovadora, -
14:37 - 14:40em que a comida saiba mesmo bem.
-
14:40 - 14:42(Risos)
-
14:42 - 14:45(Aplausos)
-
14:47 - 14:49Mas para muitas pessoas,
-
14:49 - 14:51é um pouco radical em demasia.
-
14:52 - 14:54Nós, malucos por comida,
não somos realistas. -
14:55 - 14:56Somos apaixonados.
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14:57 - 14:59Adoramos feiras tradicionais.
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14:59 - 15:01Adoramos pequenas quintas familiares.
-
15:01 - 15:03Conversamos sobre produtos locais.
-
15:03 - 15:06Consumimos alimentos orgânicos.
-
15:06 - 15:09E quando se sugere
que estas são as iniciativas -
15:09 - 15:13que garantirão o futuro
de uma boa alimentação -
15:13 - 15:14alguém vai levantar-se algures e dizer:
-
15:14 - 15:18"É pá, eu adoro flamingos cor-de-rosa,
-
15:18 - 15:21"mas como é que vocês
vão alimentar o mundo?" -
15:22 - 15:24Como é que vocês vão alimentar o mundo?
-
15:24 - 15:26Posso ser franco?
-
15:26 - 15:28Eu não gosto desta pergunta,
-
15:29 - 15:32porque nós já produzimos
calorias suficientes -
15:32 - 15:35mais do que as necessárias
para alimentar o mundo. -
15:35 - 15:38Mas hoje, mil milhões de pessoas
vão passar fome. -
15:38 - 15:41Mil milhões — mais do que nunca —
-
15:41 - 15:44por causa das desigualdades
flagrantes na distribuição, -
15:44 - 15:46e não por causa da tonelagem.
-
15:47 - 15:50Não gosto desta pergunta
porque tem determinado a lógica -
15:50 - 15:53do nosso sistema alimentar
nos últimos 50 anos. -
15:53 - 15:55Dar cereais aos herbívoros,
-
15:55 - 15:58pesticidas às monoculturas,
químicos aos solos, -
15:58 - 16:00frango aos peixes.
-
16:00 - 16:05Desde o princípio,
a agroindústria só pergunta: -
16:05 - 16:08"Estamos a dar comida a mais pessoas
de uma forma mais barata, -
16:08 - 16:10"o que é que isso tem de terrível?"
-
16:12 - 16:15Esta tem sido a motivação
e justificação. -
16:15 - 16:17Tem sido este o plano de negócios
-
16:17 - 16:19da agricultura americana.
-
16:19 - 16:21Temos que chamar-lhe pelo que é,
-
16:21 - 16:23uma indústria em falência,
-
16:24 - 16:27uma indústria que está
a desgastar rapidamente -
16:27 - 16:31o capital ecológico que torna possível
essa mesma produção . -
16:31 - 16:32Isso não é uma indústria,
-
16:32 - 16:34e não é agricultura.
-
16:34 - 16:37Hoje em dia o nosso celeiro está ameaçado
-
16:37 - 16:40não por causa de um stock diminuto
-
16:40 - 16:42mas por causa de recursos que diminuem.
-
16:43 - 16:46Não por causa das invenções
em ceifadoras ou tratores, -
16:46 - 16:48mas por causa do solo fértil.
-
16:48 - 16:51Não por causa das bombas de água,
mas por causa da água potável. -
16:51 - 16:53não por causa das serras,
mas por causa das florestas; -
16:53 - 16:57não por causa dos barcos e redes de pesca,
mas por causa do peixe nos mares. -
16:57 - 16:58Queremos alimentar o mundo?
-
16:58 - 17:02Comecemos por perguntar: como é que
nos vamos alimentar a nós próprios? -
17:02 - 17:06Ou melhor, como é que podemos
criar condições -
17:06 - 17:10que permitam que cada comunidade
se alimente a si própria? -
17:10 - 17:13(Aplausos)
-
17:17 - 17:19Para fazer isso
-
17:19 - 17:22não olhemos para a agroindústria
como um modelo para o futuro. -
17:23 - 17:25Está velho e esgotado.
-
17:25 - 17:29Cheio de capital, químicos e máquinas
-
17:29 - 17:31e nunca produziu nada
de realmente bom para comer. -
17:33 - 17:37Em vez disso, voltemo-nos
para o modelo ecológico. -
17:37 - 17:41É ele que assenta
em dois mil milhões de anos -
17:41 - 17:43de experiência real.
-
17:44 - 17:45Vejam o Miguel,
-
17:45 - 17:47os piscicultores como o Miguel.
-
17:47 - 17:50Pisciculturas que não são
um mundo para eles próprios; -
17:51 - 17:55pisciculturas que recuperam
em vez de se esgotarem, -
17:55 - 17:58pisciculturas que produzem extensivamente
-
17:58 - 18:00em vez de apenas intensivamente,
-
18:00 - 18:03piscicultores que não são
apenas produtores -
18:03 - 18:05mas também especialistas em relações.
-
18:05 - 18:08Porque esses é que são também
os especialistas em sabor. -
18:09 - 18:11E para ser completamente franco,
-
18:11 - 18:14são melhores "chefs"
do que serei alguma vez. -
18:15 - 18:17Por mim tudo bem,
-
18:17 - 18:20porque se esse é o futuro da boa comida,
então vai ser delicioso. -
18:20 - 18:22Obrigado.
-
18:22 - 18:25(Aplausos)
- Title:
- Como me apaixonei por um peixe
- Speaker:
- Dan Barber
- Description:
-
O "chef" Dan Barber debate-se com um dilema que muitos "chefs" enfrentam hoje em dia: como continuar a apresentar peixe no menu. Numa palestra bem fundamentada e cheia de humor, conta-nos a sua procura de um peixe sustentável pelo qual se pudesse apaixonar, bem como a sua lua-de-mel desde que descobriu um peixe escandalosamente delicioso de uma piscicultura em Espanha que utiliza um método revolucionário.
- Video Language:
- English
- Team:
closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 18:41
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Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for How I fell in love with a fish | |
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Helena Sobral added a translation |