-
MIRANDA JULY:
DE QUE É QUE PODIAS SER CAPAZ?
-
Escrevo os meus filmes, livros,
performances,
-
e tudo isso, aqui nesta mesa.
-
E aqui também, às vezes.
-
Ponho esta almofada no colo.
-
Faço isso há 19 anos.
-
Então tenho todo um sistema,
-
para que pareça que tudo é novo.
-
Escrevo nesta mesa de cozinha.
-
E sinto-me como...
-
Sinto-me como uma mulher sentada à mesa.
-
Dá-me um sentimento atemporal
de mulher escritora.
-
Comecei tão jovem,
comecei quando tinha 16 anos.
-
A escrever e a realizar
a minha primeira peça.
-
Não consigo... Não consigo
dizê-lo com palavras e não
-
dá para tu saberes.
-
Não dá para tu saberes,
a menos que leias.
-
E tive uma grande reação do
público, o que foi espetacular.
-
Eu sabia que a peça não era perfeita.
-
E que o público, se calhar,
estava meio confuso.
-
Mas nunca tinha tido esse tipo
de experiência, de sensação.
-
E, de certa forma, tinha vivido toda a
minha vida para chegar a esse momento.
-
Se estão de acordo em ficar a viver
aqui neste teatro comigo, e construir
-
uma nova sociedade, digam:
Sim!
-
PÚBLICO: Sim!
-
De certa forma, isolo-me e
-
trabalho duro para criar algo,
-
por vezes, com muita miséria
na minha vida ou no projeto em si.
-
E depois saio cá para fora.
-
E apresento o trabalho, e,
-
como também sou performer,
isso também faz parte do meu trabalho.
-
E é uma espécie de estado alterado.
-
Façam-no com a parte mais
imprudente do vosso coração.
-
Façam-no como se
estivessem bêbedos.
-
Porque só assim é que uma coisa
deste tipo acontece.
-
Nunca vai acontecer se
estiveres a pensar bem em tudo.
-
"Então e o cão?"
-
Não!
-
Não, é sempre com raiva, desejo
e esperança, como um hino nacional.
-
Podemos ter o nosso próprio hino,
podemos fazer isso.
-
E depois, durante a pandemia,
recordo pensar
-
"Oh, se isso não puder acontecer,
-
se eu não puder ter aquele momento,
-
então, o resto da minha vida
tem que ser melhor."
-
Só o meu dia-a-dia.
-
É tipo, viver para o paraíso.
-
Não faz mal, ter uma vida miserável,
porque, um dia, vou para o céu.
-
Não posso viver assim.
-
De facto, fiz grandes mudanças
na minha vida por essa razão.
-
Costumo escrever muito nesta
cama aqui.
-
Aqui é onde durmo
todas as quartas-feiras.
-
Decidi ficar a dormir uma noite
por semana neste estúdio.
-
Decidi que, cada quarta-feira,
dormiria aqui, acordaria aqui,
-
e passaria aqui o dia.
-
O que não parece grande coisa.
-
Mas, tendo em conta que
tenho um filho,
-
que, na época, tinha 8 anos,
-
e um companheiro, com a sua
própria vida agitada.
-
E eu nunca tinha ouvido falar
de tal coisa.
-
As outras mães não fazem isso.
-
E, francamente, as outras mães artistas
também não.
-
Foi algo que, para nós, não foi problema.
-
O meu companheiro não pensou
que fosse um problema,
-
O meu filho dizia: "Sim! Podemos
comer pizza!"
-
Eles gostaram desse tipo de mudança.
-
Por isso, tive de pensar, tipo,
-
"Porque é que isto parece tão
perigoso?"
-
Acho que é perigoso, porque,
se és capaz de fazer uma coisa assim,
-
então, do que é que podias ser capaz?
-
Acho que o que acontecia era,
quando começou a pandemia,
-
costuma estava em reuniões
de Zoom,
-
e vestia alguma coisa só para
a chamada, porque era tão fácil.
-
E comecei a pensar: "Isto é
um disfarce,
-
mas, quem é esta?"
-
Comecei a ver, a questionar.
-
Tipo, "O que é isto?"
-
Uma vez que tens uma nova perspetiva,
-
da tua vida, da tua família
e como ambas interagem,
-
tudo se começa a desenvolver
a partir daí.
-
Aproximem-se.
-
Sim, isso. Aproximem-se.
-
Venham. Não vos vou magoar.
-
Não vos vou magoar.
-
Talvez vos magoe, mas só um bocadinho.
-
Ninguém vai ficar gravemente
ferido hoje.
-
Não nesta casa e não por mim.
-
Esforço-me muito para continuar a
perguntar, todos os dias,
-
"Não, a sério...
-
O que é que é realmente interessante?"
-
Lembro-me ter vinte e tal anos,
sacudir-me a mim mesma e pensar,
-
"Estás a dormir ao volante.
-
Lembra-te que és completamente
livre.
-
O que é que queres fazer hoje?"
-
E, tipo... "Acorda! Estás aqui! Tipo,
estás mesmo aqui."
-
Novo como o dia é jovem.
-
Como um bebé.
-
Duvido que alguém entenda isso como
-
um tema como recorrente na minha obra.
-
Mas seria bom.