A Rainha do Mar | Megan Davis | TEDxBocaRaton

Megan Davies apaixonou-se pela concha-rainha quando tinha 16 anos, e velejava nas Baamas com a família. A sua paixão por criar e conservar a concha seguiu-a até à faculdade e depois até Turks e Caicos onde foi cofundadora da primeira exploração de conchas do mundo. O espírito pioneiro de Megan levou-a a ser coinventora das técnicas para cultivar as pérolas da concha-rainha. Fiquem a saber coisas sobre as pérolas da concha e aonde a carreira duma cientista marinha pode levar quando se têm grandes sonhos.

Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saiba mais em http://ted.com/tedx

Foi num dia quente de verão
em 19 de junho de 1975.

Eu tinha 16 anos.

Estava a andar de barco nas Baamas
com a minha família.

Era um dia mesmo mágico.

O ar puro, o sol,

o mar cintilante, enchiam-me de alegria.

Então, apaixonei-me.

Apaixonei-me loucamente,
desesperadamente...

por uma concha.

(Risos)

Não era uma concha qualquer.

Era a rainha do mar.

Era uma magnífica concha-rainha.

Conhecem aquela sensação
que experimentamos

quando encontramos alguém especial?

Estamos a visitar um lugar muito belo,
a ler um bom livro

e queremos que isso dure para sempre?

Foi como me senti
em relação à concha-rainha.

Gostei tanto dela,
queria protegê-la toda a vida.

Foi nesse dia que comecei
a jornada de toda a minha vida

e a minha dedicação pioneira
de criar milhões de conchas

nas águas das Caraíbas e da Flórida.

O meu fascínio pela concha

manifestou-se nos meus relatórios
semestrais no liceu.

Depois, as minhas ligações com colegas

levaram-me às Caraíbas, onde, aos 21 anos,

estava a viver numa tenda
numa ilha muito pequena,

a trabalhar num laboratório artesanal,

a tentar descobrir
como criar a concha-rainha.

Como podem imaginar,
os meus pais ficaram entusiasmados.

(Risos)

Quatro anos de faculdade
e a filha deles era uma agricultora!

(Risos)

Bem, uma criadora de conchas,
a cultivar o mar,

tal como o agricultor trabalha a terra.

Isso levou-me a ser uma cofundadora

da primeira quinta comercial
mundial de conchas.

Naquele verão,
ao velejar com a minha família,

os baamitas foram muito gentis.

Ensinaram-me a apanhar a concha

e também como bater na concha

para fazer um buraco

e poder retirar a carne
da concha para a comer.

Esta concha é uma importante
fonte de proteínas

na dieta dos habitantes das Caraíbas.

É também um herbívoro,
um vegetariano muito importante

nos prados do fundo do mar
das águas turquesa

das Caraíbas e da Flórida.

Detém uma posição de majestade nas ilhas.

Obviamente uma espécie
a que é preciso dar atenção.

Foi o que eu fiz.

Mas tenho uma pergunta a fazer:

Já pensaram alguma vez como seria o mundo

sem a concha-rainha?"

Já sei. Alguns de vocês estão a pensar:

"É a primeira vez que oiço falar
duma concha-rainha".

Eu compreendo.

Mas alguns de vocês podem pensar:

"É uma concha ou um búzio belíssimo!".

Podemos pô-la sobre a lareira.

Alguns de vocês podem conhecê-la
como uma saborosa fritura de marisco.

Talvez já tenham ouvido falar
da águia majestosa

ou do urso panda fofinho
ou da poderosa baleia.

Mas eu pergunto:

Porque não a rainha dos mares?

A gloriosa concha que desliza
tão graciosamente pelo fundo do mar?

Há muitas espécies em perigo, como esta,

incluindo a concha-rainha,
que estão ameaçadas de extinção.

Na natureza, todos os anos
desaparecem uma a cinco espécies.

Este ritmo está a acelerar
devido às atividades humanas

como a pesca intensiva,
a introdução de espécies exóticas

e, sobretudo, por causa
da alteração climática.

Atualmente estão a desaparecer
dezenas de espécies,

não anualmente, mas todos os dias.

Enquanto criadora de conchas,
trabalhei muito esforçadamente

para conseguir defender
o destino da concha-rainha.

Lembro-me da primeira vez
que vi larvas de uma concha

ao microscópio e pensei:

"Como é possível
que esta coisinha pequenina,

"do tamanho da cabeça de um alfinete,

"possa crescer e transformar-se
numa coisa tão grande

"como uma concha de 2 a 3 quilos?"

Bem, todos nós começámos
assim muito pequenos,

portanto deve ser possível.

Estas larvas da concha,
com os seus compridos lóbulos

flutua livremente nas correntes do oceano,

e por vezes não sobrevive

porque é devorada pelos peixes larvares
e outro zooplâncton.

Uma concha põe cerca de 500 000 ovos
mas só sobrevive menos de 1 %.

É verdade, menos de 1 %!
Isso faz parte da natureza.

Um mês depois, depois de
andarem à deriva no mar,

assentam no fundo do oceano,
nas pradarias marinhas

e começam a passear pelo fundo,
à procura de comida.

Nessa altura, começam a ter
uma concha mais pesada.

Com cerca de um ano, têm espiras.

O que é realmente espantoso
é que as larvas são a ponta da concha

que vai ficando cada vez maior.

Mantém sempre a mesma concha
durante toda a vida.

E vive durante cerca de 40 anos.

Mesmo com esta concha,
continua vulnerável a predadores,

como caranguejos, polvos, peixes
e frequentemente tartarugas.

Mas o maior perigo, como
provavelmente já adivinharam,

somos todos nós, as pessoas.

Há cerca de dez anos,
havia o dobro das conchas que há hoje.

Eram exportadas das Caraíbas
para os portos marítimos dos EUA.

Há hoje regulamentos
que pretendem garantir

uma pesca de conchas sustentada,
mas a pesca intensiva continua.

Não sei se sabem,

mas esta concha leva quase três anos

a atingir a dimensão legal para a pesca.

É muito tempo.

Suponho que possam dizer

que não é propriamente
um alimento de consumo corrente.

Enquanto criadora de conchas,
trabalhei muito esforçadamente

e ajudei a criar centenas de milhares
de conchas em grandes tanques

e também no fundo do mar
em gaiolas marinhas.

Mas foi uma gota no fundo do balde.

Precisamos de mais explorações de conchas,
e ainda hoje é assim.

Quando as conchas
começaram a ser pescadas,

uma pérola muito requintada
começou a dar a volta ao mundo

como a única pérola cor-de-rosa do mar.

Esta joia escondida é rara.

Só uma em dez mil conchas na natureza
produz uma pérola como esta,

com tanto brilho e cintilação.

É de facto espantoso

que, se uma coisa irritante
se alojar na concha,

se transforme numa coisa
de tão grande beleza.

Haverá aqui alguma lição a aprender?

Será que as coisas que nos irritam

se podem transformar
em coisas belas e gratificantes?

Mudei-me das Caraíbas para a Flórida

onde continuei a ser criadora de conchas

no Instituto Oceanográfico
de Harbor Branch,

e fiz equipa
com o meu talentoso coinventor,

Dr. Héctor Acosta e, claro,
mais uns quantos.

Em conjunto, partilhámos
os seus anos de experiência

— ele é proveniente do México.

Com a sua experiência
de cultivo de pérolas de ostras

e os meus conhecimentos
de criação de conchas,

lançámo-nos à descoberta

de como criar as pérolas da concha-rainha.

Em 2006, o Harbor Branch
entrou na História.

Produzimos algumas centenas
de pérolas de conchas.

Cada uma delas leva doze meses
até ficar do tamanho duma pérola de ostra.

Em todo o mundo, os gemólogos
ficaram entusiasmados com esta inovação.

Atualmente, a tecnologia está patenteada

e, com uma precisão meticulosa,
continuamos a refinar as técnicas.

Portanto, de criadora de conchas,
a cultivadora de pérolas.

O que virá a seguir?

Há uma coisa de que tenho a certeza:

Precisamos de fazer reviver
a concha-rainha,

tal como a história de sucesso da águia.

Precisamos de trabalhar em conjunto

para encontrar soluções
para as espécies em extinção.

Quanto aos amantes de marisco,

procurem saber de onde vem o marisco

e comam apenas marisco
de fontes sustentadas.

Se gostam de voluntariado,

procurem uma organização local
de conservação e deem uma ajuda.

Quando contribuem para uma causa,

estão a ajudar os oceanos
e o nosso planeta.

Assim, quando voltarem a perguntar-vos:

"Já imaginaram como seria o mundo

"sem a concha-rainha?"

quero que se lembrem desta concha adorável

com uns olhos amorosos e digam:

"Restituam-lhe o seu poder!"

(Aplausos)