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As armas não-letais são um perigo moral?

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    Hoje quero falar de alguns dos problemas
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    que as forças armadas do mundo Ocidental,
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    da Austrália, dos EUA,
    do Reino Unido, e outros
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    enfrentam nalguns dos seus destacamentos
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    e com os quais lidam atualmente
    no mundo moderno.
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    Se pensarmos no tipo de coisas
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    para que temos enviado os militares
    australianos nestes últimos anos,
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    temos coisas óbvias,
    como o Iraque e o Afeganistão,
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    mas também temos Timor Leste
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    e as ilhas Salomão, entre outros.
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    Muitos destes destacamentos
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    para onde enviamos militares, atualmente,
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    não são guerras tradicionais.
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    Muitas das tarefas que pedimos
    aos nossos militares, nestas situações,
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    são as que, nos seus países,
    n Austrália, nos EUA, etc.,
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    seriam feitas pelas forças policiais.
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    Por isso, surgem muitos problemas
    para os militares, nestas situações,
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    porque estão a fazer coisas
    para as quais não foram treinados.
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    Estão a fazer coisas que
    aqueles que as fazem, nos seus países,
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    receberam formação muito diferente
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    e estão equipados
    de forma muito diferente.
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    Há uma série de razões
    para enviarmos militares
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    em vez de agentes da polícia,
    para essas tarefas.
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    Se, amanhã, a Austrália tivesse
    que enviar mil pessoas,
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    para a Papua Ocidental por exemplo,
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    não temos disponíveis
    mil agentes da polícia
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    que pudessem ir amanhã
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    mas temos mil soldados que podiam ir.
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    Quando temos que enviar alguém,
    enviamos os militares,
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    porque esses estão disponíveis
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    e estão habituados a deslocar-se
    e a viverem por sua conta.
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    Não precisam de apoio extra.
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    Nesse sentido, eles são competentes.
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    Mas não têm a mesma formação
    que os agentes da polícia
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    e não estão equipados do mesmo modo
    que os agentes da polícia.
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    Isso tem-lhes levantado
    uma série de problemas
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    quando lidam com este tipo de problemas.
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    Uma coisa em especial que surge,
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    e em que eu estou
    especialmente interessado,
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    é a questão de saber
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    se, quando enviamos militares
    para esse tipo de tarefas,
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    devemos equipá-los de modo diferente,
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    especialmente, se devemos dar-lhes acesso
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    ao mesmo tipo de armas não letais
    que a polícia tem.
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    Como eles estão a fazer
    algumas das mesmas tarefas
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    talvez devessem ter
    o mesmo tipo de coisas.
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    Claro, há uma série de locais
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    em que essas coisas
    seriam realmente úteis.
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    Por exemplo, no que respeita
    a postos militares de controlo.
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    Se as pessoas se aproximam
    desses postos de controlo
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    e os militares não têm a certeza
    se essas pessoas são hostis ou não.
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    Digamos que esta pessoa
    está a aproximar-se e eles pensam:
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    "Será um bombista suicida ou não?
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    "Terá alguma coisa escondida
    debaixo da roupa? Que irá acontecer?"
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    Não sabem se essa pessoa é hostil ou não.
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    Se essa pessoa não obedece às indicações,
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    podem acabar por lhe dar um tiro
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    e virem a descobrir depois
    que tinham alvejado a pessoa certa
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    ou que era apenas uma pessoa inocente
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    que não percebera
    o que se estava a passar.
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    Se eles tivessem armas não letais, diriam:
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    "Podemos usá-las neste tipo de situações.
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    "Se atingirmos alguém que não era hostil,
    pelo menos, não a matámos".
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    Outra situação.
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    Esta foto é de uma das missões
    nos Balcãs, no final dos anos 90.
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    A situação é um pouco diferente.
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    Provavelmente, sabem
    que uma pessoa é hostil,
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    há alguém a disparar sobre eles
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    ou a fazer qualquer coisa nitidamente
    hostil, atirar pedras, etc.
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    Se ripostarem,
    há uma série de pessoas à volta
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    que são pessoas inocentes
    que podem ficar feridas
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    — danos colaterais de que os militares
    não gostam de falar.
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    Diriam: "Se tivéssemos acesso
    a armas não letais,
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    "se houvesse alguém
    que sabemos ser hostil,
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    "podíamos lidar com eles
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    "e, se atingíssemos alguém ali à roda,
    pelo menos, não mataríamos ninguém".
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    Outra sugestão:
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    como estamos a pôr
    tantos robôs no terreno,
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    podemos chegar a ver uma altura
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    em que eles enviem robôs para o terreno,
    que sejam autónomos.
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    Vão tomar decisões por si mesmos
    sobre quem alvejar ou não,
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    sem a intervenção duma pessoa.
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    Portanto, a sugestão é:
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    Se vamos enviar robôs
    e permitir-lhes fazer isso,
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    talvez fosse boa ideia, com estas coisas,
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    que estivessem armados
    com armas não letais
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    para que, se o robô
    tomar uma decisão errada,
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    e alvejar a pessoa errada, não a mate.
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    Há uma enorme gama
    de tipos diferentes de armas não letais,
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    algumas das quais estão já disponíveis,
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    outras estão a ser aperfeiçoadas.
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    Temos as coisas tradicionais
    como o gás pimenta,
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    — o "OC spray", ali em cima —
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    as pistolas de eletrochoques, aqui.
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    A que está em cima à direita
    é um laser ofuscante
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    destinado a cegar uma pessoa
    momentaneamente e a desorientá-la.
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    Temos cartucheiras
    de espingardas não letais
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    que contêm balas de borracha
    em vez das balas tradicionais de metal.
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    Este aqui no meio, o camião grande,
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    chama-se o Sistema Ativo de Recusa
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    — uma coisa em que os militares dos EUA
    estão a trabalhar atualmente.
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    É essencialmente uma grande
    transmissor de micro-ondas.
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    É uma espécie da nossa ideia clássica
    de um raio de calor.
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    Tem um grande poder de alcance,
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    em comparação com qualquer
    outra destas coisas.
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    Qualquer pessoa atingida por isto
    sente aquela súbita onda de calor,
  • 4:33 - 4:35
    e só quer afastar-se do caminho.
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    É muito mais sofisticado do que
    um forno de micro-ondas,
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    mas, basicamente,
    pôe as moléculas de água a ferver
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    à superfície da pele.
  • 4:42 - 4:45
    Por isso, sentimos aquele enorme calor e:
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    "Quero sair daqui para fora".
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    Pensa-se que é deveras útil
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    em locais em que é necessário evacuar
    uma multidão duma determinada área,
  • 4:52 - 4:53
    se a multidão está a ser hostil.
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    Se precisarmos de manter as pessoas
    afastadas dum local determinado,
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    podemos fazê-lo com este tipo de coisas.
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    Obviamente, há toda uma gama
    de tipos diferentes
  • 5:01 - 5:03
    de armas não letais
    que podíamos dar aos militares
  • 5:03 - 5:07
    e há toda uma gama de situações
    em que eles podiam olhar para elas e dizer:
  • 5:07 - 5:09
    "Estas coisas podem ser muito úteis".
  • 5:09 - 5:11
    Mas, conforme eu disse,
  • 5:11 - 5:14
    os militares e os agentes da polícia
    são muito diferentes.
  • 5:15 - 5:16
    Não é preciso pensar muito
  • 5:16 - 5:19
    para reconhecer o facto de que
    podem ser muito diferentes.
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    Especialmente, a attitude
    para com o uso da força
  • 5:22 - 5:24
    e a forma como eles são treinados
    para usar a força
  • 5:24 - 5:26
    são particularmente diferentes.
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    Sei do que falo, porque já ajudei
    na formação de polícias.
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    A polícia, em especial nas jurisdições
    ocidentais, pelo menos,
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    é treinada para reduzir a força,
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    para tentar evitar o uso da força,
    sempre que possível,
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    e usar a força letal
    apenas como último recurso.
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    Os militares são treinados para a guerra,
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    portanto são treinados para que,
    quando as coisas ficam feias,
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    a sua primeira resposta
    seja a força letal.
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    No momento em que a material fecal
    atinge a turbina rotativa,
  • 6:00 - 6:03
    podemos começar a disparar
    sobre as pessoas.
  • 6:03 - 6:06
    Portanto, as suas atitudes
  • 6:06 - 6:08
    para com o uso da força letal
    são muito diferentes.
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    Penso que é bastante óbvio
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    que a atitude deles
    para com o uso de armas não letais
  • 6:13 - 6:15
    será também muito diferente
    do que se passa com a polícia.
  • 6:16 - 6:18
    E como já temos tido tantos problemas
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    com o uso de armas não letais pela polícia,
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    achei que seria boa ideia
    olhar para algumas dessas coisas
  • 6:24 - 6:26
    e tentar relacioná-las
    num contexto militar.
  • 6:26 - 6:29
    Fiquei muito surpreendido
    quando comecei a fazer isso,
  • 6:29 - 6:30
    por ver que, de facto,
  • 6:30 - 6:33
    mesmo as pessoas que defendem o uso
    de armas não letais pelos militares
  • 6:33 - 6:35
    não o tinham feito.
  • 6:35 - 6:36
    Devem pensar, com certeza:
  • 6:36 - 6:39
    "Porquê preocupar-nos
    com o que aconteceu com a polícia?
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    "Estamos a olhar
    para uma coisa diferente".
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    Parece que não reconheceram
    que estavam a olhar
  • 6:44 - 6:45
    praticamente para a mesma coisa.
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    Eu comecei a investigar
    alguns desses problemas
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    e a observar a forma
    como a polícia usa as armas não letais,
  • 6:51 - 6:53
    quando elas foram introduzidas
  • 6:53 - 6:56
    e alguns dos problemas
    que podem surgir desse tipo de coisas
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    quando elas foram introduzidas.
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    Como sou australiano, comecei a observar
    as coisas na Austrália,
  • 7:01 - 7:05
    conhecendo, pela minha experiência,
    as diversas alturas
  • 7:05 - 7:08
    em que as armas não letais
    foram introduzidas na Austrália.
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    Uma das coisas que observei,
    em especial, foi o uso do gás OC,
  • 7:11 - 7:14
    — o gás Oleorresina Capsicum,
    ou gás pimento —
  • 7:14 - 7:16
    pela polícia australiana.
  • 7:16 - 7:19
    Ver quando tinha sido introduzido,
    o que tinha acontecido,
  • 7:19 - 7:21
    e esse tipo de questões.
  • 7:21 - 7:25
    Encontrei um estudo, especialmente
    interessante, em Queensland,
  • 7:25 - 7:29
    porque tiveram lá um período experimental
    para o uso do gás pimenta
  • 7:29 - 7:31
    antes de ser introduzido
    mais alargadamente.
  • 7:31 - 7:35
    Observei os números que lá apareciam.
  • 7:35 - 7:38
    Quando introduziram o gás OVC
    em Queensland,
  • 7:38 - 7:39
    foram muito explícitos.
  • 7:39 - 7:42
    O ministro das polícias fez
    várias declarações públicas sobre isso.
  • 7:42 - 7:44
    Disse: "Isto destina-se explicitamente
  • 7:44 - 7:48
    "a dar à polícia uma opção
    entre gritar e disparar.
  • 7:49 - 7:51
    "É uma coisa que pode ser usada
    em vez duma arma de fogo
  • 7:51 - 7:55
    "em situações em que anteriormente
    era preciso disparar sobre alguém".
  • 7:55 - 7:58
    Então, comecei a observar
    aqueles números de disparos da polícia.
  • 7:58 - 8:00
    Não é muito fácil encontrá-los
  • 8:00 - 8:02
    para os estados individuais
    australianos.
  • 8:02 - 8:04
    Só consegui encontrar estes
    num relatório
  • 8:04 - 8:06
    do Instituto Australiano de Criminologia.
  • 8:06 - 8:08
    Como podem ver, se conseguirem
    ler aqui em cima:
  • 8:08 - 8:12
    "Mortes por tiroteio da polícia"
    não são só pessoas alvejadas pela polícia
  • 8:12 - 8:14
    mas pessoas que morreram
    na presença da polícia.
  • 8:14 - 8:17
    Mas são estes os números
    que existem por todo o pais.
  • 8:17 - 8:20
    A seta vermelha representa o ponto
    em que Queensland disse:
  • 8:20 - 8:23
    "É aqui que vamos dar a todos os agentes
    da polícia do estado
  • 8:23 - 8:25
    "o acesso ao gás OC".
  • 8:26 - 8:29
    Podem ver que havia seis mortes
    que levaram a isso,
  • 8:29 - 8:31
    todos os anos, durante uma série de anos.
  • 8:31 - 8:33
    Tinha havido um pico, uns anos antes,
  • 8:33 - 8:35
    mas não fora em Queensland.
  • 8:35 - 8:37
    Alguém sabe onde foi?
    Não, não foi em Port Arthur.
  • 8:38 - 8:40
    Victoria? Correto.
  • 8:40 - 8:42
    Este pico foi em Victoria.
  • 8:43 - 8:46
    Portanto, não era Queensland
    que tinha um problema especial
  • 8:46 - 8:49
    com mortes provocadas
    por tiroteio da polícia.
  • 8:49 - 8:51
    Portanto, seis mortes por todo o país,
  • 8:51 - 8:53
    muito consistente com os anos anteriores.
  • 8:53 - 8:56
    Estes são os dois anos que estudaram
    a seguir — 2001, 2002.
  • 8:56 - 8:59
    Alguém quer tentar acertar
    no número de vezes,
  • 8:59 - 9:01
    em relação ao que eles registaram,
  • 9:01 - 9:04
    o número de vezes que a polícia
    de Queensland usou o gás OC nesse período?
  • 9:04 - 9:06
    Centenas? Uma, três?
  • 9:07 - 9:09
    Mil está a aproximar-se mais.
  • 9:11 - 9:14
    Explicitamente, introduziram
    como alternativa ao uso da força letal
  • 9:14 - 9:17
    uma alternativa entre gritar e disparar.
  • 9:18 - 9:19
    Vou arriscar aqui e dizer
  • 9:19 - 9:23
    que, se a polícia de Queensland
    não tivesse o gás OC,
  • 9:23 - 9:27
    não teria matado 2226 pessoas
    naqueles dois anos.
  • 9:30 - 9:33
    Na verdade, se observarem
    os estudos que se fizeram,
  • 9:33 - 9:36
    o material que reuniram e examinaram,
  • 9:36 - 9:39
    podemos ver que os suspeitos
    apenas estavam armados
  • 9:39 - 9:42
    em cerca de 15% dos casos
    em que usaram o gás OC.
  • 9:43 - 9:46
    Foi usado rotineiramente neste período
  • 9:46 - 9:48
    e, claro, ainda é usado rotineiramente
  • 9:48 - 9:50
    porque nunca ninguém se queixou,
  • 9:50 - 9:53
    pelo menos, no contexto deste estudo.
  • 9:53 - 9:55
    Foi usado rotineiramente
  • 9:55 - 9:58
    para lidar com pessoas violentas,
    potencialmente violentas
  • 9:58 - 10:01
    e também foi usado muito frequentemente
  • 10:01 - 10:05
    para lidar com pessoas que eram apenas
    passivamente não obedientes.
  • 10:07 - 10:09
    Essas pessoas não estão
    a fazer nada de violento,
  • 10:09 - 10:11
    só não fazem o que queremos
    que elas façam.
  • 10:11 - 10:13
    Não obedecem às instruções que lhes damos,
  • 10:13 - 10:16
    por isso, damos-lhes um jato de gás OC.
  • 10:16 - 10:19
    Isso fá-las andar depressa.
    Tudo funciona melhor desse modo.
  • 10:19 - 10:21
    Isto foi uma coisa
    explicitamente introduzida
  • 10:21 - 10:24
    para ser uma alternativa às armas de fogo,
  • 10:24 - 10:25
    mas está a ser usada rotineiramente
  • 10:25 - 10:28
    para lidar com toda uma gama
    de outro tipo de problemas.
  • 10:29 - 10:31
    Um dos problemas especiais
    que se apresenta
  • 10:31 - 10:34
    com o uso de armas não letais
    pelos militares
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    e com as pessoas, quando dizem:
    "Pode haver alguns problemas",
  • 10:37 - 10:40
    há alguns problemas em especial
    que se destacam.
  • 10:40 - 10:41
    Um desses problemas
  • 10:41 - 10:45
    é que as armas não letais
    podem ser usadas indiscriminadamente.
  • 10:45 - 10:49
    Um dos princípios fundamentais
    do uso militar da força
  • 10:49 - 10:50
    é que temos que discriminar.
  • 10:50 - 10:52
    Temos que ter cuidado
    com quem vamos alvejar.
  • 10:53 - 10:56
    Portanto, um dos problemas
    que tem sido apontado com armas não letais
  • 10:56 - 10:58
    é que podem ser usadas
    indiscriminadamente,
  • 10:58 - 11:01
    podem ser usadas contra
    uma grande gama de pessoas
  • 11:01 - 11:03
    porque já não temos
    que nos preocupar tanto.
  • 11:03 - 11:06
    E há uma situação
    em que isso aconteceu.
  • 11:06 - 11:10
    Foi o cerco ao Teatro Dubrovka
    em Moscovo, em 2002
  • 11:10 - 11:13
    que, provavelmente, muitos de vós,
    ao contrário dos meus alunos
  • 11:13 - 11:15
    tem idade suficiente para se lembrarem.
  • 11:15 - 11:17
    Os chechenos entraram e assumiram
    o controlo do teatro.
  • 11:17 - 11:20
    Mantinham como reféns
    cerca de 700 pessoas.
  • 11:20 - 11:22
    Libertaram uma data de pessoas
  • 11:22 - 11:24
    mas ainda tinham cerca
    de 700 pessoas como reféns.
  • 11:24 - 11:30
    A polícia militar especial russa,
    as forças especiais, as Spetsnaz,
  • 11:30 - 11:32
    entraram e invadiram o teatro.
  • 11:32 - 11:34
    Fizeram-no, enchendo tudo
    com gás anestésico.
  • 11:35 - 11:40
    Aconteceu que muitos dos reféns morreram
  • 11:40 - 11:42
    em consequência de terem inalado o gás.
  • 11:43 - 11:45
    Foi usado indiscriminadamente.
  • 11:45 - 11:47
    Encheram todo o teatro com gás.
  • 11:47 - 11:50
    Não admira que tenham morrido pessoas,
  • 11:50 - 11:54
    porque não sabemos que quantidade de gás
    cada pessoa ia inalar,
  • 11:54 - 11:57
    em que posição iam cair,
    quando ficassem inconscientes, etc.
  • 11:58 - 12:02
    Só houve algumas pessoas
    feridas a tiro, neste episódio.
  • 12:03 - 12:05
    Quando observaram aquilo, mais tarde,
  • 12:05 - 12:08
    só havia algumas pessoas que teriam sido
    alvejadas pelos assaltantes
  • 12:08 - 12:10
    ou alvejadas pelas forças policiais
  • 12:10 - 12:13
    que entraram e estavam
    a tentar lidar com a situação.
  • 12:13 - 12:17
    Praticamente, todos os que morreram,
    morreram por inalar o gás.
  • 12:17 - 12:20
    O resultado total de reféns
    não é bem conhecido,
  • 12:20 - 12:22
    mas certamente é maior do que aquilo,
  • 12:22 - 12:25
    houve outras pessoas
    que morreram nos dias seguintes.
  • 12:25 - 12:27
    Este foi um problema em especial
    de que se falou,
  • 12:27 - 12:29
    o uso indiscriminado do gás.
  • 12:29 - 12:31
    O segundo problema
    de que as pessoas falam,
  • 12:31 - 12:33
    sobre o uso militar de armas não letais,
  • 12:33 - 12:36
    é a razão por que,
    na convenção de armas químicas,
  • 12:36 - 12:39
    é muito claro que não se pode usar
    agentes de controlo de motins
  • 12:39 - 12:40
    como uma arma de guerra.
  • 12:40 - 12:42
    O problema é que, por vezes, considera-se
  • 12:42 - 12:46
    que as armas não letais podem ser usadas,
    não como uma alternativa à força letal,
  • 12:46 - 12:49
    mas como um multiplicador da força letal
  • 12:49 - 12:51
    — que se usem primeiro armas não letais
  • 12:51 - 12:54
    para que as armas letais
    sejam mais eficazes.
  • 12:54 - 12:58
    As pessoas sobre quem vamos disparar
    não vão poder fugir.
  • 12:58 - 13:01
    Não vão perceber o que está a acontecer
    e podemos matá-las melhor.
  • 13:01 - 13:03
    Foi isso exatamente o que aconteceu aqui.
  • 13:04 - 13:07
    Os criminosos que ficaram
    inconscientes com o gás
  • 13:07 - 13:09
    não foram parar à prisão,
  • 13:09 - 13:11
    pura e simplesmente
    levaram um tiro na cabeça.
  • 13:12 - 13:16
    Portanto, esta arma não letal
    foi usada, neste caso,
  • 13:16 - 13:19
    como um multiplicador da força letal,
  • 13:19 - 13:22
    para tornar a morte mais eficaz,
    nesta situação especial.
  • 13:23 - 13:26
    Outro problema
    que quero referir rapidamente
  • 13:26 - 13:28
    é que há todo um monte de problemas
  • 13:28 - 13:32
    com a forma como as pessoas
    são ensinadas a usar armas não letais
  • 13:32 - 13:34
    e são treinadas e testadas,
    em relação a elas.
  • 13:34 - 13:37
    Porque são testadas em ambientes
    agradáveis, seguros.
  • 13:37 - 13:40
    As pessoas são ensinadas
    em ambientes agradáveis, seguros,
  • 13:40 - 13:43
    como este, onde podem ver
    exatamente o que se passa.
  • 13:43 - 13:46
    A pessoa que está a espalhar o gás CO
    tem uma luva de borracha
  • 13:46 - 13:49
    para ter a certeza
    de que não é contaminada.
  • 13:49 - 13:50
    Mas nunca são usadas deste modo.
  • 13:50 - 13:52
    São usadas no mundo real
  • 13:52 - 13:55
    como no Texas, assim.
  • 13:56 - 14:01
    Confesso que este caso especial
    foi o que despertou o meu interesse.
  • 14:01 - 14:04
    Aconteceu quando eu estava a fazer
    uma investigação na Academia Naval dos EUA.
  • 14:04 - 14:07
    Começaram a aparecer notícias
    sobre esta situação
  • 14:07 - 14:10
    em que uma mulher estava a discutir
    com um agente da polícia.
  • 14:10 - 14:11
    Ela não era violenta.
  • 14:11 - 14:14
    Provavelmente, ele era mais alto
    que eu uns 15 cm,
  • 14:14 - 14:16
    e ela era desta altura.
  • 14:16 - 14:18
    Por fim ela disse-lhe:
  • 14:18 - 14:20
    "Vou voltar a entrar no meu carro".
  • 14:20 - 14:22
    E ele: "Se entrar no carro,
    vou aplicar-lhe um choque".
  • 14:22 - 14:26
    E ela: "Aplique. Aplique-me um choque".
    E ele aplicou mesmo.
  • 14:26 - 14:29
    Ficou tudo registado
    na câmara de vigilância
  • 14:29 - 14:31
    que estava em frente do carro da polícia.
  • 14:32 - 14:35
    Ela tem 72 anos.
  • 14:35 - 14:38
    Vê-se logo que foi a forma
    mais adequada de lidar com ela.
  • 14:39 - 14:41
    Outros exemplos do mesmo tipo de coisas
  • 14:41 - 14:43
    com outras pessoas, em que pensamos:
  • 14:43 - 14:46
    "Isto será uma forma adequada
    de usar armas não letais?"
  • 14:46 - 14:50
    "Chefe da polícia aplica choque elétrico
    em rapariga de 14 anos".
  • 14:50 - 14:52
    "Ela ia a fugir.
    O que é que eu devia fazer?"
  • 14:52 - 14:54
    (Risos)
  • 14:54 - 14:55
    Ou na Flórida.
  • 14:56 - 14:59
    "Polícia aplica choque em miúdo
    de seis anos na escola primária".
  • 14:59 - 15:02
    Nitidamente, aprenderam muito,
    porque, no mesmo bairro:
  • 15:03 - 15:05
    "Policia reviu a política depois
    de crianças com choques:
  • 15:05 - 15:08
    "segunda criança com choque elétrico
    poucas semanas depois".
  • 15:08 - 15:10
    O mesmo bairro policial.
  • 15:10 - 15:13
    Outra criança poucas semanas depois
    do choque à criança de seis anos.
  • 15:13 - 15:16
    No caso de vocês pensarem
    que isto só acontece nos EUA,
  • 15:16 - 15:19
    também aconteceu no Canadá.
  • 15:19 - 15:22
    Um colega meu enviou-me isto de Londres.
  • 15:23 - 15:27
    Mas o meu preferido destes, confesso,
    vem mesmo dos EUA.
  • 15:28 - 15:32
    "Oficiais aplicam choque elétrico
    a mulher deficiente de 86 anos, acamada".
  • 15:32 - 15:34
    (Audiência: Oh!)
  • 15:34 - 15:36
    Verifiquei as notícias deste caso.
  • 15:36 - 15:38
    Era realmente surpreendente.
  • 15:38 - 15:42
    Parece que ela assumiu uma posição
    na cama mais ameaçadora.
  • 15:43 - 15:44
    (Risos)
  • 15:44 - 15:46
    Não estou a gozar. Foi o que foi dito.
  • 15:46 - 15:49
    "Ela assumiu uma posição na cama
    mais ameaçadora".
  • 15:50 - 15:51
    Ok.
  • 15:51 - 15:54
    Lembro-vos de que estamos a falar
    dos usos militares de armas não letais.
  • 15:54 - 15:56
    Então, porque é que isto é relevante?
  • 15:56 - 16:00
    Porque a polícia, habitualmente,
    é mais refreada no uso da força
  • 16:00 - 16:01
    do que os militares.
  • 16:01 - 16:04
    São treinados para serem mais refreados
    no uso da força do que os militares,
  • 16:04 - 16:07
    para pensar mais,
    para tentar minimizar as coisas.
  • 16:07 - 16:10
    Por isso, se temos problemas
    com a polícia, com armas não letais,
  • 16:10 - 16:14
    por que diabo hão de pensar
    que vai ser melhor com os militares?
  • 16:15 - 16:19
    A última coisa que eu gosto de dizer
  • 16:19 - 16:20
    quando falo para a polícia
  • 16:20 - 16:23
    sobre como devia ser
    uma arma não letal perfeita,
  • 16:23 - 16:25
    eles inevitavelmente dizem a mesma coisa:
  • 16:25 - 16:28
    "Vai ser uma coisa que seja
    bastante desagradável
  • 16:28 - 16:31
    "para as pessoas não quererem
    ser atingidas com essa arma.
  • 16:31 - 16:34
    "Se ameaçarmos usá-la.
    as pessoas vão submeter-se,
  • 16:35 - 16:39
    "mas também tem que ser uma coisa
    que não deixe efeitos duradouros".
  • 16:41 - 16:44
    Por outras palavras,
    a arma não letal perfeita
  • 16:44 - 16:46
    é uma coisa perfeita para o abuso.
  • 16:46 - 16:48
    O que teriam feito estes tipos
  • 16:48 - 16:50
    se tivessem acesso às pistolas de choques
  • 16:50 - 16:53
    ou a uma versão portátil
    do Sistema Ativo de Recusa
  • 16:54 - 16:56
    — um pequeno raio de calor
    que pudessem usar nas pessoas
  • 16:56 - 16:59
    e não se preocuparem mais com isso.
  • 16:59 - 17:01
    Portanto, penso que pode haver formas
  • 17:01 - 17:04
    de as armas não letais virem a ser
    ótimas nestas situações
  • 17:04 - 17:07
    mas também há um monte de problemas
    que também é preciso ponderar.
  • 17:08 - 17:09
    Muito obrigado.
  • 17:09 - 17:12
    (Aplausos)
Title:
As armas não-letais são um perigo moral?
Speaker:
Stephen Coleman
Description:

Gás pimenta e pistolas de choques estão a ser cada vez mais utilizados pela polícia e por militares, e estão a ser desenvolvidas mais armas não letais como raios de calor. Na TEDxCanberra, o perito em ética Stephen Coleman explora as consequências inesperadas delas e coloca algumas questões desafiadoras.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
17:11

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