As armas não-letais são um perigo moral?
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0:00 - 0:04Hoje quero falar de alguns dos problemas
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0:04 - 0:07que as forças armadas do mundo Ocidental,
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0:07 - 0:10da Austrália, dos EUA,
do Reino Unido, e outros -
0:10 - 0:12enfrentam nalguns dos seus destacamentos
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0:12 - 0:15e com os quais lidam atualmente
no mundo moderno. -
0:15 - 0:16Se pensarmos no tipo de coisas
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0:16 - 0:20para que temos enviado os militares
australianos nestes últimos anos, -
0:20 - 0:23temos coisas óbvias,
como o Iraque e o Afeganistão, -
0:23 - 0:24mas também temos Timor Leste
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0:24 - 0:27e as ilhas Salomão, entre outros.
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0:27 - 0:28Muitos destes destacamentos
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0:28 - 0:31para onde enviamos militares, atualmente,
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0:31 - 0:34não são guerras tradicionais.
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0:35 - 0:38Muitas das tarefas que pedimos
aos nossos militares, nestas situações, -
0:38 - 0:42são as que, nos seus países,
n Austrália, nos EUA, etc., -
0:42 - 0:45seriam feitas pelas forças policiais.
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0:45 - 0:49Por isso, surgem muitos problemas
para os militares, nestas situações, -
0:49 - 0:52porque estão a fazer coisas
para as quais não foram treinados. -
0:52 - 0:57Estão a fazer coisas que
aqueles que as fazem, nos seus países, -
0:57 - 0:59receberam formação muito diferente
-
0:59 - 1:01e estão equipados
de forma muito diferente. -
1:01 - 1:04Há uma série de razões
para enviarmos militares -
1:04 - 1:07em vez de agentes da polícia,
para essas tarefas. -
1:07 - 1:09Se, amanhã, a Austrália tivesse
que enviar mil pessoas, -
1:09 - 1:12para a Papua Ocidental por exemplo,
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1:12 - 1:15não temos disponíveis
mil agentes da polícia -
1:15 - 1:16que pudessem ir amanhã
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1:16 - 1:19mas temos mil soldados que podiam ir.
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1:19 - 1:21Quando temos que enviar alguém,
enviamos os militares, -
1:21 - 1:23porque esses estão disponíveis
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1:23 - 1:26e estão habituados a deslocar-se
e a viverem por sua conta. -
1:27 - 1:29Não precisam de apoio extra.
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1:29 - 1:31Nesse sentido, eles são competentes.
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1:31 - 1:34Mas não têm a mesma formação
que os agentes da polícia -
1:34 - 1:37e não estão equipados do mesmo modo
que os agentes da polícia. -
1:37 - 1:39Isso tem-lhes levantado
uma série de problemas -
1:39 - 1:41quando lidam com este tipo de problemas.
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1:41 - 1:43Uma coisa em especial que surge,
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1:43 - 1:45e em que eu estou
especialmente interessado, -
1:45 - 1:46é a questão de saber
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1:46 - 1:49se, quando enviamos militares
para esse tipo de tarefas, -
1:49 - 1:51devemos equipá-los de modo diferente,
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1:51 - 1:53especialmente, se devemos dar-lhes acesso
-
1:53 - 1:56ao mesmo tipo de armas não letais
que a polícia tem. -
1:56 - 1:58Como eles estão a fazer
algumas das mesmas tarefas -
1:58 - 2:00talvez devessem ter
o mesmo tipo de coisas. -
2:00 - 2:02Claro, há uma série de locais
-
2:02 - 2:04em que essas coisas
seriam realmente úteis. -
2:04 - 2:07Por exemplo, no que respeita
a postos militares de controlo. -
2:07 - 2:09Se as pessoas se aproximam
desses postos de controlo -
2:09 - 2:13e os militares não têm a certeza
se essas pessoas são hostis ou não. -
2:13 - 2:15Digamos que esta pessoa
está a aproximar-se e eles pensam: -
2:15 - 2:17"Será um bombista suicida ou não?
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2:17 - 2:20"Terá alguma coisa escondida
debaixo da roupa? Que irá acontecer?" -
2:20 - 2:22Não sabem se essa pessoa é hostil ou não.
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2:22 - 2:24Se essa pessoa não obedece às indicações,
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2:24 - 2:26podem acabar por lhe dar um tiro
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2:26 - 2:29e virem a descobrir depois
que tinham alvejado a pessoa certa -
2:29 - 2:30ou que era apenas uma pessoa inocente
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2:30 - 2:33que não percebera
o que se estava a passar. -
2:33 - 2:35Se eles tivessem armas não letais, diriam:
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2:35 - 2:37"Podemos usá-las neste tipo de situações.
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2:37 - 2:41"Se atingirmos alguém que não era hostil,
pelo menos, não a matámos". -
2:41 - 2:42Outra situação.
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2:42 - 2:46Esta foto é de uma das missões
nos Balcãs, no final dos anos 90. -
2:47 - 2:49A situação é um pouco diferente.
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2:49 - 2:51Provavelmente, sabem
que uma pessoa é hostil, -
2:51 - 2:53há alguém a disparar sobre eles
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2:53 - 2:56ou a fazer qualquer coisa nitidamente
hostil, atirar pedras, etc. -
2:56 - 2:58Se ripostarem,
há uma série de pessoas à volta -
2:58 - 3:01que são pessoas inocentes
que podem ficar feridas -
3:01 - 3:05— danos colaterais de que os militares
não gostam de falar. -
3:05 - 3:08Diriam: "Se tivéssemos acesso
a armas não letais, -
3:08 - 3:10"se houvesse alguém
que sabemos ser hostil, -
3:10 - 3:12"podíamos lidar com eles
-
3:12 - 3:16"e, se atingíssemos alguém ali à roda,
pelo menos, não mataríamos ninguém". -
3:16 - 3:18Outra sugestão:
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3:18 - 3:20como estamos a pôr
tantos robôs no terreno, -
3:20 - 3:22podemos chegar a ver uma altura
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3:22 - 3:25em que eles enviem robôs para o terreno,
que sejam autónomos. -
3:25 - 3:28Vão tomar decisões por si mesmos
sobre quem alvejar ou não, -
3:28 - 3:30sem a intervenção duma pessoa.
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3:30 - 3:32Portanto, a sugestão é:
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3:32 - 3:34Se vamos enviar robôs
e permitir-lhes fazer isso, -
3:34 - 3:37talvez fosse boa ideia, com estas coisas,
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3:37 - 3:39que estivessem armados
com armas não letais -
3:39 - 3:42para que, se o robô
tomar uma decisão errada, -
3:42 - 3:44e alvejar a pessoa errada, não a mate.
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3:45 - 3:48Há uma enorme gama
de tipos diferentes de armas não letais, -
3:48 - 3:50algumas das quais estão já disponíveis,
-
3:50 - 3:52outras estão a ser aperfeiçoadas.
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3:52 - 3:54Temos as coisas tradicionais
como o gás pimenta, -
3:54 - 3:56— o "OC spray", ali em cima —
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3:56 - 3:57as pistolas de eletrochoques, aqui.
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3:57 - 4:00A que está em cima à direita
é um laser ofuscante -
4:00 - 4:04destinado a cegar uma pessoa
momentaneamente e a desorientá-la. -
4:04 - 4:07Temos cartucheiras
de espingardas não letais -
4:07 - 4:10que contêm balas de borracha
em vez das balas tradicionais de metal. -
4:10 - 4:13Este aqui no meio, o camião grande,
-
4:13 - 4:15chama-se o Sistema Ativo de Recusa
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4:15 - 4:18— uma coisa em que os militares dos EUA
estão a trabalhar atualmente. -
4:18 - 4:21É essencialmente uma grande
transmissor de micro-ondas. -
4:21 - 4:24É uma espécie da nossa ideia clássica
de um raio de calor. -
4:24 - 4:27Tem um grande poder de alcance,
-
4:27 - 4:29em comparação com qualquer
outra destas coisas. -
4:29 - 4:33Qualquer pessoa atingida por isto
sente aquela súbita onda de calor, -
4:33 - 4:35e só quer afastar-se do caminho.
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4:35 - 4:38É muito mais sofisticado do que
um forno de micro-ondas, -
4:38 - 4:41mas, basicamente,
pôe as moléculas de água a ferver -
4:41 - 4:42à superfície da pele.
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4:42 - 4:45Por isso, sentimos aquele enorme calor e:
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4:45 - 4:46"Quero sair daqui para fora".
-
4:46 - 4:48Pensa-se que é deveras útil
-
4:48 - 4:52em locais em que é necessário evacuar
uma multidão duma determinada área, -
4:52 - 4:53se a multidão está a ser hostil.
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4:53 - 4:56Se precisarmos de manter as pessoas
afastadas dum local determinado, -
4:56 - 4:58podemos fazê-lo com este tipo de coisas.
-
4:59 - 5:01Obviamente, há toda uma gama
de tipos diferentes -
5:01 - 5:03de armas não letais
que podíamos dar aos militares -
5:03 - 5:07e há toda uma gama de situações
em que eles podiam olhar para elas e dizer: -
5:07 - 5:09"Estas coisas podem ser muito úteis".
-
5:09 - 5:11Mas, conforme eu disse,
-
5:11 - 5:14os militares e os agentes da polícia
são muito diferentes. -
5:15 - 5:16Não é preciso pensar muito
-
5:16 - 5:19para reconhecer o facto de que
podem ser muito diferentes. -
5:19 - 5:22Especialmente, a attitude
para com o uso da força -
5:22 - 5:24e a forma como eles são treinados
para usar a força -
5:24 - 5:26são particularmente diferentes.
-
5:27 - 5:31Sei do que falo, porque já ajudei
na formação de polícias. -
5:31 - 5:35A polícia, em especial nas jurisdições
ocidentais, pelo menos, -
5:35 - 5:38é treinada para reduzir a força,
-
5:38 - 5:41para tentar evitar o uso da força,
sempre que possível, -
5:41 - 5:46e usar a força letal
apenas como último recurso. -
5:46 - 5:49Os militares são treinados para a guerra,
-
5:49 - 5:52portanto são treinados para que,
quando as coisas ficam feias, -
5:52 - 5:55a sua primeira resposta
seja a força letal. -
5:57 - 6:00No momento em que a material fecal
atinge a turbina rotativa, -
6:00 - 6:03podemos começar a disparar
sobre as pessoas. -
6:03 - 6:06Portanto, as suas atitudes
-
6:06 - 6:08para com o uso da força letal
são muito diferentes. -
6:08 - 6:10Penso que é bastante óbvio
-
6:10 - 6:13que a atitude deles
para com o uso de armas não letais -
6:13 - 6:15será também muito diferente
do que se passa com a polícia. -
6:16 - 6:18E como já temos tido tantos problemas
-
6:18 - 6:21com o uso de armas não letais pela polícia,
-
6:21 - 6:24achei que seria boa ideia
olhar para algumas dessas coisas -
6:24 - 6:26e tentar relacioná-las
num contexto militar. -
6:26 - 6:29Fiquei muito surpreendido
quando comecei a fazer isso, -
6:29 - 6:30por ver que, de facto,
-
6:30 - 6:33mesmo as pessoas que defendem o uso
de armas não letais pelos militares -
6:33 - 6:35não o tinham feito.
-
6:35 - 6:36Devem pensar, com certeza:
-
6:36 - 6:39"Porquê preocupar-nos
com o que aconteceu com a polícia? -
6:39 - 6:41"Estamos a olhar
para uma coisa diferente". -
6:41 - 6:44Parece que não reconheceram
que estavam a olhar -
6:44 - 6:45praticamente para a mesma coisa.
-
6:45 - 6:48Eu comecei a investigar
alguns desses problemas -
6:48 - 6:51e a observar a forma
como a polícia usa as armas não letais, -
6:51 - 6:53quando elas foram introduzidas
-
6:53 - 6:56e alguns dos problemas
que podem surgir desse tipo de coisas -
6:56 - 6:58quando elas foram introduzidas.
-
6:58 - 7:01Como sou australiano, comecei a observar
as coisas na Austrália, -
7:01 - 7:05conhecendo, pela minha experiência,
as diversas alturas -
7:05 - 7:08em que as armas não letais
foram introduzidas na Austrália. -
7:08 - 7:11Uma das coisas que observei,
em especial, foi o uso do gás OC, -
7:11 - 7:14— o gás Oleorresina Capsicum,
ou gás pimento — -
7:14 - 7:16pela polícia australiana.
-
7:16 - 7:19Ver quando tinha sido introduzido,
o que tinha acontecido, -
7:19 - 7:21e esse tipo de questões.
-
7:21 - 7:25Encontrei um estudo, especialmente
interessante, em Queensland, -
7:25 - 7:29porque tiveram lá um período experimental
para o uso do gás pimenta -
7:29 - 7:31antes de ser introduzido
mais alargadamente. -
7:31 - 7:35Observei os números que lá apareciam.
-
7:35 - 7:38Quando introduziram o gás OVC
em Queensland, -
7:38 - 7:39foram muito explícitos.
-
7:39 - 7:42O ministro das polícias fez
várias declarações públicas sobre isso. -
7:42 - 7:44Disse: "Isto destina-se explicitamente
-
7:44 - 7:48"a dar à polícia uma opção
entre gritar e disparar. -
7:49 - 7:51"É uma coisa que pode ser usada
em vez duma arma de fogo -
7:51 - 7:55"em situações em que anteriormente
era preciso disparar sobre alguém". -
7:55 - 7:58Então, comecei a observar
aqueles números de disparos da polícia. -
7:58 - 8:00Não é muito fácil encontrá-los
-
8:00 - 8:02para os estados individuais
australianos. -
8:02 - 8:04Só consegui encontrar estes
num relatório -
8:04 - 8:06do Instituto Australiano de Criminologia.
-
8:06 - 8:08Como podem ver, se conseguirem
ler aqui em cima: -
8:08 - 8:12"Mortes por tiroteio da polícia"
não são só pessoas alvejadas pela polícia -
8:12 - 8:14mas pessoas que morreram
na presença da polícia. -
8:14 - 8:17Mas são estes os números
que existem por todo o pais. -
8:17 - 8:20A seta vermelha representa o ponto
em que Queensland disse: -
8:20 - 8:23"É aqui que vamos dar a todos os agentes
da polícia do estado -
8:23 - 8:25"o acesso ao gás OC".
-
8:26 - 8:29Podem ver que havia seis mortes
que levaram a isso, -
8:29 - 8:31todos os anos, durante uma série de anos.
-
8:31 - 8:33Tinha havido um pico, uns anos antes,
-
8:33 - 8:35mas não fora em Queensland.
-
8:35 - 8:37Alguém sabe onde foi?
Não, não foi em Port Arthur. -
8:38 - 8:40Victoria? Correto.
-
8:40 - 8:42Este pico foi em Victoria.
-
8:43 - 8:46Portanto, não era Queensland
que tinha um problema especial -
8:46 - 8:49com mortes provocadas
por tiroteio da polícia. -
8:49 - 8:51Portanto, seis mortes por todo o país,
-
8:51 - 8:53muito consistente com os anos anteriores.
-
8:53 - 8:56Estes são os dois anos que estudaram
a seguir — 2001, 2002. -
8:56 - 8:59Alguém quer tentar acertar
no número de vezes, -
8:59 - 9:01em relação ao que eles registaram,
-
9:01 - 9:04o número de vezes que a polícia
de Queensland usou o gás OC nesse período? -
9:04 - 9:06Centenas? Uma, três?
-
9:07 - 9:09Mil está a aproximar-se mais.
-
9:11 - 9:14Explicitamente, introduziram
como alternativa ao uso da força letal -
9:14 - 9:17uma alternativa entre gritar e disparar.
-
9:18 - 9:19Vou arriscar aqui e dizer
-
9:19 - 9:23que, se a polícia de Queensland
não tivesse o gás OC, -
9:23 - 9:27não teria matado 2226 pessoas
naqueles dois anos. -
9:30 - 9:33Na verdade, se observarem
os estudos que se fizeram, -
9:33 - 9:36o material que reuniram e examinaram,
-
9:36 - 9:39podemos ver que os suspeitos
apenas estavam armados -
9:39 - 9:42em cerca de 15% dos casos
em que usaram o gás OC. -
9:43 - 9:46Foi usado rotineiramente neste período
-
9:46 - 9:48e, claro, ainda é usado rotineiramente
-
9:48 - 9:50porque nunca ninguém se queixou,
-
9:50 - 9:53pelo menos, no contexto deste estudo.
-
9:53 - 9:55Foi usado rotineiramente
-
9:55 - 9:58para lidar com pessoas violentas,
potencialmente violentas -
9:58 - 10:01e também foi usado muito frequentemente
-
10:01 - 10:05para lidar com pessoas que eram apenas
passivamente não obedientes. -
10:07 - 10:09Essas pessoas não estão
a fazer nada de violento, -
10:09 - 10:11só não fazem o que queremos
que elas façam. -
10:11 - 10:13Não obedecem às instruções que lhes damos,
-
10:13 - 10:16por isso, damos-lhes um jato de gás OC.
-
10:16 - 10:19Isso fá-las andar depressa.
Tudo funciona melhor desse modo. -
10:19 - 10:21Isto foi uma coisa
explicitamente introduzida -
10:21 - 10:24para ser uma alternativa às armas de fogo,
-
10:24 - 10:25mas está a ser usada rotineiramente
-
10:25 - 10:28para lidar com toda uma gama
de outro tipo de problemas. -
10:29 - 10:31Um dos problemas especiais
que se apresenta -
10:31 - 10:34com o uso de armas não letais
pelos militares -
10:34 - 10:37e com as pessoas, quando dizem:
"Pode haver alguns problemas", -
10:37 - 10:40há alguns problemas em especial
que se destacam. -
10:40 - 10:41Um desses problemas
-
10:41 - 10:45é que as armas não letais
podem ser usadas indiscriminadamente. -
10:45 - 10:49Um dos princípios fundamentais
do uso militar da força -
10:49 - 10:50é que temos que discriminar.
-
10:50 - 10:52Temos que ter cuidado
com quem vamos alvejar. -
10:53 - 10:56Portanto, um dos problemas
que tem sido apontado com armas não letais -
10:56 - 10:58é que podem ser usadas
indiscriminadamente, -
10:58 - 11:01podem ser usadas contra
uma grande gama de pessoas -
11:01 - 11:03porque já não temos
que nos preocupar tanto. -
11:03 - 11:06E há uma situação
em que isso aconteceu. -
11:06 - 11:10Foi o cerco ao Teatro Dubrovka
em Moscovo, em 2002 -
11:10 - 11:13que, provavelmente, muitos de vós,
ao contrário dos meus alunos -
11:13 - 11:15tem idade suficiente para se lembrarem.
-
11:15 - 11:17Os chechenos entraram e assumiram
o controlo do teatro. -
11:17 - 11:20Mantinham como reféns
cerca de 700 pessoas. -
11:20 - 11:22Libertaram uma data de pessoas
-
11:22 - 11:24mas ainda tinham cerca
de 700 pessoas como reféns. -
11:24 - 11:30A polícia militar especial russa,
as forças especiais, as Spetsnaz, -
11:30 - 11:32entraram e invadiram o teatro.
-
11:32 - 11:34Fizeram-no, enchendo tudo
com gás anestésico. -
11:35 - 11:40Aconteceu que muitos dos reféns morreram
-
11:40 - 11:42em consequência de terem inalado o gás.
-
11:43 - 11:45Foi usado indiscriminadamente.
-
11:45 - 11:47Encheram todo o teatro com gás.
-
11:47 - 11:50Não admira que tenham morrido pessoas,
-
11:50 - 11:54porque não sabemos que quantidade de gás
cada pessoa ia inalar, -
11:54 - 11:57em que posição iam cair,
quando ficassem inconscientes, etc. -
11:58 - 12:02Só houve algumas pessoas
feridas a tiro, neste episódio. -
12:03 - 12:05Quando observaram aquilo, mais tarde,
-
12:05 - 12:08só havia algumas pessoas que teriam sido
alvejadas pelos assaltantes -
12:08 - 12:10ou alvejadas pelas forças policiais
-
12:10 - 12:13que entraram e estavam
a tentar lidar com a situação. -
12:13 - 12:17Praticamente, todos os que morreram,
morreram por inalar o gás. -
12:17 - 12:20O resultado total de reféns
não é bem conhecido, -
12:20 - 12:22mas certamente é maior do que aquilo,
-
12:22 - 12:25houve outras pessoas
que morreram nos dias seguintes. -
12:25 - 12:27Este foi um problema em especial
de que se falou, -
12:27 - 12:29o uso indiscriminado do gás.
-
12:29 - 12:31O segundo problema
de que as pessoas falam, -
12:31 - 12:33sobre o uso militar de armas não letais,
-
12:33 - 12:36é a razão por que,
na convenção de armas químicas, -
12:36 - 12:39é muito claro que não se pode usar
agentes de controlo de motins -
12:39 - 12:40como uma arma de guerra.
-
12:40 - 12:42O problema é que, por vezes, considera-se
-
12:42 - 12:46que as armas não letais podem ser usadas,
não como uma alternativa à força letal, -
12:46 - 12:49mas como um multiplicador da força letal
-
12:49 - 12:51— que se usem primeiro armas não letais
-
12:51 - 12:54para que as armas letais
sejam mais eficazes. -
12:54 - 12:58As pessoas sobre quem vamos disparar
não vão poder fugir. -
12:58 - 13:01Não vão perceber o que está a acontecer
e podemos matá-las melhor. -
13:01 - 13:03Foi isso exatamente o que aconteceu aqui.
-
13:04 - 13:07Os criminosos que ficaram
inconscientes com o gás -
13:07 - 13:09não foram parar à prisão,
-
13:09 - 13:11pura e simplesmente
levaram um tiro na cabeça. -
13:12 - 13:16Portanto, esta arma não letal
foi usada, neste caso, -
13:16 - 13:19como um multiplicador da força letal,
-
13:19 - 13:22para tornar a morte mais eficaz,
nesta situação especial. -
13:23 - 13:26Outro problema
que quero referir rapidamente -
13:26 - 13:28é que há todo um monte de problemas
-
13:28 - 13:32com a forma como as pessoas
são ensinadas a usar armas não letais -
13:32 - 13:34e são treinadas e testadas,
em relação a elas. -
13:34 - 13:37Porque são testadas em ambientes
agradáveis, seguros. -
13:37 - 13:40As pessoas são ensinadas
em ambientes agradáveis, seguros, -
13:40 - 13:43como este, onde podem ver
exatamente o que se passa. -
13:43 - 13:46A pessoa que está a espalhar o gás CO
tem uma luva de borracha -
13:46 - 13:49para ter a certeza
de que não é contaminada. -
13:49 - 13:50Mas nunca são usadas deste modo.
-
13:50 - 13:52São usadas no mundo real
-
13:52 - 13:55como no Texas, assim.
-
13:56 - 14:01Confesso que este caso especial
foi o que despertou o meu interesse. -
14:01 - 14:04Aconteceu quando eu estava a fazer
uma investigação na Academia Naval dos EUA. -
14:04 - 14:07Começaram a aparecer notícias
sobre esta situação -
14:07 - 14:10em que uma mulher estava a discutir
com um agente da polícia. -
14:10 - 14:11Ela não era violenta.
-
14:11 - 14:14Provavelmente, ele era mais alto
que eu uns 15 cm, -
14:14 - 14:16e ela era desta altura.
-
14:16 - 14:18Por fim ela disse-lhe:
-
14:18 - 14:20"Vou voltar a entrar no meu carro".
-
14:20 - 14:22E ele: "Se entrar no carro,
vou aplicar-lhe um choque". -
14:22 - 14:26E ela: "Aplique. Aplique-me um choque".
E ele aplicou mesmo. -
14:26 - 14:29Ficou tudo registado
na câmara de vigilância -
14:29 - 14:31que estava em frente do carro da polícia.
-
14:32 - 14:35Ela tem 72 anos.
-
14:35 - 14:38Vê-se logo que foi a forma
mais adequada de lidar com ela. -
14:39 - 14:41Outros exemplos do mesmo tipo de coisas
-
14:41 - 14:43com outras pessoas, em que pensamos:
-
14:43 - 14:46"Isto será uma forma adequada
de usar armas não letais?" -
14:46 - 14:50"Chefe da polícia aplica choque elétrico
em rapariga de 14 anos". -
14:50 - 14:52"Ela ia a fugir.
O que é que eu devia fazer?" -
14:52 - 14:54(Risos)
-
14:54 - 14:55Ou na Flórida.
-
14:56 - 14:59"Polícia aplica choque em miúdo
de seis anos na escola primária". -
14:59 - 15:02Nitidamente, aprenderam muito,
porque, no mesmo bairro: -
15:03 - 15:05"Policia reviu a política depois
de crianças com choques: -
15:05 - 15:08"segunda criança com choque elétrico
poucas semanas depois". -
15:08 - 15:10O mesmo bairro policial.
-
15:10 - 15:13Outra criança poucas semanas depois
do choque à criança de seis anos. -
15:13 - 15:16No caso de vocês pensarem
que isto só acontece nos EUA, -
15:16 - 15:19também aconteceu no Canadá.
-
15:19 - 15:22Um colega meu enviou-me isto de Londres.
-
15:23 - 15:27Mas o meu preferido destes, confesso,
vem mesmo dos EUA. -
15:28 - 15:32"Oficiais aplicam choque elétrico
a mulher deficiente de 86 anos, acamada". -
15:32 - 15:34(Audiência: Oh!)
-
15:34 - 15:36Verifiquei as notícias deste caso.
-
15:36 - 15:38Era realmente surpreendente.
-
15:38 - 15:42Parece que ela assumiu uma posição
na cama mais ameaçadora. -
15:43 - 15:44(Risos)
-
15:44 - 15:46Não estou a gozar. Foi o que foi dito.
-
15:46 - 15:49"Ela assumiu uma posição na cama
mais ameaçadora". -
15:50 - 15:51Ok.
-
15:51 - 15:54Lembro-vos de que estamos a falar
dos usos militares de armas não letais. -
15:54 - 15:56Então, porque é que isto é relevante?
-
15:56 - 16:00Porque a polícia, habitualmente,
é mais refreada no uso da força -
16:00 - 16:01do que os militares.
-
16:01 - 16:04São treinados para serem mais refreados
no uso da força do que os militares, -
16:04 - 16:07para pensar mais,
para tentar minimizar as coisas. -
16:07 - 16:10Por isso, se temos problemas
com a polícia, com armas não letais, -
16:10 - 16:14por que diabo hão de pensar
que vai ser melhor com os militares? -
16:15 - 16:19A última coisa que eu gosto de dizer
-
16:19 - 16:20quando falo para a polícia
-
16:20 - 16:23sobre como devia ser
uma arma não letal perfeita, -
16:23 - 16:25eles inevitavelmente dizem a mesma coisa:
-
16:25 - 16:28"Vai ser uma coisa que seja
bastante desagradável -
16:28 - 16:31"para as pessoas não quererem
ser atingidas com essa arma. -
16:31 - 16:34"Se ameaçarmos usá-la.
as pessoas vão submeter-se, -
16:35 - 16:39"mas também tem que ser uma coisa
que não deixe efeitos duradouros". -
16:41 - 16:44Por outras palavras,
a arma não letal perfeita -
16:44 - 16:46é uma coisa perfeita para o abuso.
-
16:46 - 16:48O que teriam feito estes tipos
-
16:48 - 16:50se tivessem acesso às pistolas de choques
-
16:50 - 16:53ou a uma versão portátil
do Sistema Ativo de Recusa -
16:54 - 16:56— um pequeno raio de calor
que pudessem usar nas pessoas -
16:56 - 16:59e não se preocuparem mais com isso.
-
16:59 - 17:01Portanto, penso que pode haver formas
-
17:01 - 17:04de as armas não letais virem a ser
ótimas nestas situações -
17:04 - 17:07mas também há um monte de problemas
que também é preciso ponderar. -
17:08 - 17:09Muito obrigado.
-
17:09 - 17:12(Aplausos)
- Title:
- As armas não-letais são um perigo moral?
- Speaker:
- Stephen Coleman
- Description:
-
Gás pimenta e pistolas de choques estão a ser cada vez mais utilizados pela polícia e por militares, e estão a ser desenvolvidas mais armas não letais como raios de calor. Na TEDxCanberra, o perito em ética Stephen Coleman explora as consequências inesperadas delas e coloca algumas questões desafiadoras.
- Video Language:
- English
- Team:
closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 17:11
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Isabel Vaz Belchior edited Portuguese subtitles for Non-lethal weapons, a moral hazard? | |
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