Qual é a boa relação com os animais? | Annette Lanjouw | TEDxCannes
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0:21 - 0:25Sou primatóloga e trabalho
na conservação da natureza. -
0:25 - 0:28Esta sou eu, aos 25 anos,
quando comecei a minha carreira -
0:29 - 0:31na República Democrática do Congo,
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0:31 - 0:37Estava numa missão de três anos,
para estudar e fazer investigação -
0:37 - 0:42numa comunidade de chimpanzés
no Parque Nacional de Virunga. -
0:43 - 0:45Foi em 1987.
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0:46 - 0:49Os chimpanzés eram o objetivo
dos meus estudos -
0:49 - 0:51mas, ao mesmo tempo,
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0:51 - 0:54eram o meu principal contacto social
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0:54 - 1:01e, portanto, com o tempo, tornaram-se
cada vez mais importantes para mim. -
1:01 - 1:04Passava todo o dia na floresta com eles.
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1:05 - 1:07Nunca me senti ameaçada
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1:07 - 1:10apesar de terem
uma reputação de perigosos. -
1:11 - 1:16e começava, progressivamente, a conhecer
a personalidade de cada indivíduo. -
1:16 - 1:18Reconhecia-os pelos seus gestos,
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1:18 - 1:22pelas suas amizades,
pela sua posição no grupo. -
1:22 - 1:29Enquanto cientista, aprendi
a ser imparcial, objetiva, -
1:29 - 1:31e a evitar, a todo o custo,
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1:31 - 1:36ficar ligada demasiado afetivamente
ao objeto das investigações. -
1:36 - 1:42Mas a realidade é que eu sou,
e todos somos, primatas sociais. -
1:43 - 1:45Por isso, temos uma compreensão natural
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1:45 - 1:48por eles e uma empatia.
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1:48 - 1:51O que significa que temos a tendência
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1:51 - 1:54para interpretar o que observamos.
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1:55 - 2:00Por vezes, para evitar antropomorfizar
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2:00 - 2:02e perder a objetividade,
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2:02 - 2:06evitamos reconhecer o que é evidente.
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2:07 - 2:09No entanto, houve uma exceção,
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2:09 - 2:13com um chimpanzé a que chamei Ozzie.
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2:15 - 2:17Eu caminhava na floresta todos os dias
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2:17 - 2:19e conhecia-os a todos.
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2:19 - 2:23Mas Ozzie era um macho adolescente
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2:23 - 2:26que tinha ficado ferido
antes da minha chegada à floresta -
2:26 - 2:29numa armadilha de caçadores furtivos.
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2:29 - 2:33Como veem, a mão dele
— apesar da má qualidade da foto — -
2:33 - 2:35a mão dele já não funcionava.
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2:35 - 2:40A mão esquerda estava inchada,
sem pelo e sem destreza. -
2:41 - 2:45Podia utilizá-la como um gancho
para puxar ramos -
2:45 - 2:49e também para se deslocar
normalmente na floresta. -
2:49 - 2:53Mas era posto de lado
pelos outros chimpanzés. -
2:54 - 2:56Raramente era desafiado,
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2:56 - 2:58o que, para um chimpanzé
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2:58 - 3:01é um sinal de estatuto social inferior.
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3:02 - 3:06Numa tarde, numa dessas tardes
cheias de sol, -
3:06 - 3:09todos os chimpanzés
estavam a fazer a sesta. -
3:09 - 3:13Eu estava sentada ao sol
encostada a uma árvore -
3:13 - 3:17e eles estavam todos espalhados
à minha volta e eu observava-os. -
3:17 - 3:20Mas Ozzie estava muito perto,
numa árvore, -
3:21 - 3:23em cima dum ramo,
talvez a um metro do solo. -
3:24 - 3:27Estava a descansar, de olho fechados.
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3:27 - 3:31Mas, a certa altura, dei-me conta
de que ele estava a olhar para mim. -
3:32 - 3:34Balançava o braço bom
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3:34 - 3:40e estava muito descontraído.
quase "cool" demais, -
3:40 - 3:44quase como um rapazinho
que se espreguiça no cinema -
3:44 - 3:47para pôr o braço
em volta da rapariga ao lado dele. -
3:48 - 3:50A certa altura, apercebi-me
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3:50 - 3:55de que me estendia a mão,
como convidando-me a tocar-lhe. -
3:56 - 3:58Ele não tinha medo de mim,
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3:58 - 4:01estava curioso e estendia-me a mão.
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4:01 - 4:06Se eu me mexesse levemente
e estendesse o meu braço, -
4:06 - 4:09podia tocar-lhe nos dedos.
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4:11 - 4:13O meu primeiro reflexo
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4:13 - 4:17foi um gesto que me pareceu amigável.
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4:17 - 4:21O meu primeiro reflexo
foi responder àquele gesto. -
4:21 - 4:25Estava comovida, estava tentada,
estava curiosa, -
4:25 - 4:27mas não estava segura.
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4:28 - 4:32Devia atravessar a ponte
com outra espécie? -
4:32 - 4:36Devia ir ao encontro daquele ser
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4:36 - 4:40que se mantinha insondável para mim
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4:40 - 4:44mesmo depois de anos
de pesquisa e de observação? -
4:44 - 4:49Era, simultaneamente, um familiar
mas também um estranho -
4:49 - 4:53que nunca poderia conhecer
verdadeiramente. -
4:54 - 4:58Eu estava ali, sentada,
encostada a uma árvore. -
4:58 - 5:00e não sabia o que fazer.
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5:02 - 5:07Foi esta confusão, esta perturbação
que Ozzie provocou em mim -
5:07 - 5:10que suscitou a pergunta que aqui faço:
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5:11 - 5:15Qual é a boa relação
entre o ser humano e o outro? -
5:15 - 5:22Qual deve ser a ponte ideal
entre o ser humano e o animal? -
5:24 - 5:26Sem uma linguagem comum
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5:26 - 5:30é impossível explicarmo-nos claramente
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5:30 - 5:32e sem confusão aos outros animais.
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5:32 - 5:36Como, para eles, é impossível
exprimir-se para nós. -
5:36 - 5:38Não quero dizer que,
com uma linguagem comum, -
5:38 - 5:41não há possibilidade de confusão
ou de mal entendidos. -
5:41 - 5:43Mas, sem linguagem verbal,
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5:43 - 5:47é muito fácil pôr em questão
o que observamos -
5:47 - 5:49ou interpretá-lo mal.
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5:49 - 5:53Portanto, utilizamos a ciência
como a linguagem que nos permite -
5:53 - 5:56compreender e explicar
o que observamos, -
5:57 - 5:59Quanto mais estrita for a disciplina,
-
5:59 - 6:02menos arriscamos perder a objetividade.
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6:02 - 6:05Isso é muito importante,
porque temos a tendência -
6:05 - 6:09para explicar, interpretar
o que observamos, -
6:10 - 6:13O medo do antropomorfismo
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6:14 - 6:19e os esforços para evitar
qualquer interpretação subjetiva -
6:19 - 6:23são válidos, mas também servem
como uma venda -
6:23 - 6:25que nos tapa os olhos
-
6:25 - 6:27e que nos impedem de ver.
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6:28 - 6:31O que é muitas vezes
extremamente cómodo. -
6:31 - 6:33Considerem isto:
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6:33 - 6:36se não podemos provar
que um animal sofre, -
6:37 - 6:39podemos ignorar o seu sofrimento.
-
6:39 - 6:42Se não podemos demonstrar claramente
-
6:42 - 6:48o funcionamento
do seu cérebro sofisticado, -
6:48 - 6:52não podemos negar que ele tem
um funcionamento sofisticado. -
6:52 - 6:55Podemos simplesmente concluir
-
6:55 - 6:57que é levado pelos seus instintos,
-
6:57 - 7:02sem consciência de si mesmo,
incapaz de refletir na sua vida, -
7:02 - 7:07nos seus medos, nos seus desejos,
nas suas esperanças. -
7:07 - 7:11Tudo isso não existe
porque não é possível ver. -
7:12 - 7:14Está em vigor
um sistema de crenças -
7:14 - 7:18com base na filosofia e na religião,
-
7:18 - 7:23que faz com que o homem se coloque
e se creia no topo duma pirâmide, -
7:23 - 7:28com superioridade e domínio
sobre todas as outras espécies. -
7:29 - 7:31Uma prova disto, entre outras,
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7:31 - 7:34é que a investigação
sobre a inteligência animal -
7:34 - 7:36procura e demonstra, sobretudo,
-
7:36 - 7:40como o ser humano é superior
aos outros animais. -
7:42 - 7:49Consideramos que as nossas aptidões
e as nossas capacidades superiores -
7:49 - 7:54se devem ao nosso cérebro
complexo e sofisticado -
7:54 - 7:57e que isso nos dota
de um potencial único -
7:57 - 8:02em inteligência, empatia ou altruísmo.
-
8:02 - 8:05Mas a realidade é que essas aptidões
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8:05 - 8:09não são exclusivas do ser humano,
nem sempre são superiores. -
8:09 - 8:11Vou dar-vos um exemplo.
-
8:11 - 8:15O cérebro da orca é grande,
-
8:16 - 8:20e comparável quanto à estrutura
ao cérebro humano. -
8:21 - 8:26Aparte uma zona, a zona
que nos permite sentir emoções, -
8:26 - 8:30controlar as emoções
e desenvolver laços sociais. -
8:30 - 8:33Esta zona contém o lobo límbico,
-
8:33 - 8:36o córtex insular e o opérculo.
-
8:36 - 8:40Esta zona na orca é, proporcionalmente,
-
8:40 - 8:45maior e mais complexa do que no homem.
-
8:46 - 8:50Então, a única conclusão lógica
duma tal observação -
8:50 - 8:53— e uma lógica que aplicamos muitas vezes
-
8:53 - 8:56para explicar a nossa superioridade humana
-
8:56 - 8:58em relação aos outros animais —
-
8:58 - 9:03é que esta complexidade indicaria
maior capacidade nesta criatura. -
9:03 - 9:07Essa parte do cérebro da orca
é mais complexa, -
9:07 - 9:11portanto, é muito provável
que os seus laços emocionais -
9:11 - 9:15a sua vida emocional,
sejam mais profundos, -
9:15 - 9:20mais complexos e insondáveis,
para nós, os seres humanos -
9:20 - 9:23que não temos essas capacidades.
-
9:23 - 9:28Mas continuamos a desconhecer
as implicações destes estudos, -
9:28 - 9:31e a procurar investigações
-
9:31 - 9:34que não ponham em dúvida
a nossa superioridade. -
9:35 - 9:40Negar a capacidade duma reflexão
sofisticada nos animais -
9:41 - 9:45tem-nos servido muito bem
e continua a servir. -
9:45 - 9:52Isso tem-nos permitido explorar
e exterminar outras espécies -
9:53 - 9:56sem consideração do impacto
quanto à vida delas. -
9:56 - 9:58E sem muitos remorsos.
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9:59 - 10:03Fala-se do ser humano e do animal,
-
10:03 - 10:06mas não do ser humano enquanto animal.
-
10:07 - 10:11O animal é utilizado
como uma palavra pejorativa. -
10:12 - 10:16Historicamente e na vida contemporânea,
-
10:16 - 10:19utiliza-se a palavra animal
como um insulto. -
10:19 - 10:23Comportar-se como um animal
é indigno de nós. -
10:23 - 10:27Selvagem, descontrolado.
sem restrições, -
10:27 - 10:31levado pelos seus instintos
e sem qualquer moral. -
10:31 - 10:34Como um animal, um porco,
-
10:34 - 10:37ou um rato, ou uma barata.
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10:39 - 10:44Pensem quantas vezes
já ouviram esta frase: -
10:44 - 10:47"Querido, comes como um porco".
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10:47 - 10:50Mas não é uma frase no ar.
-
10:50 - 10:52Pode ter um grande alcance.
-
10:52 - 10:56Na linguagem racista e genocida,
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10:56 - 11:00as comparações com os animais
são muito correntes. -
11:01 - 11:06Então, também temos utilizado
-
11:06 - 11:11as mesmas teorias da superioridade humana
-
11:11 - 11:14para explorar e fazer mal
aos outros seres humanos. -
11:14 - 11:17comparando-os com os animais.
-
11:17 - 11:21Temos justificado,
pela sua falta de moral, -
11:21 - 11:24ou de capacidades cerebrais sofisticadas,
-
11:24 - 11:28a exploração e a escravatura
dos outros seres humanos -
11:29 - 11:34com esta comparação
e esta teoria de superioridade. -
11:34 - 11:39Isso permitiu-nos
discriminar, com base na etnia, -
11:39 - 11:43com base na religião,
com base na sexualidade, -
11:43 - 11:45ou com base no sexo.
-
11:49 - 11:52É muito importante recordar
-
11:52 - 11:57que a exploração dos seres humanos
-
11:57 - 12:02foi feita da mesma maneira
que explorámos os animais. -
12:02 - 12:06Então, qual é a boa relação
com o animal? -
12:07 - 12:09Agora, eu não queria
-
12:09 - 12:13substituir uma ilusão por outra,
-
12:14 - 12:19e que vocês fiquem com a ilusão
de um mundo utópico, -
12:19 - 12:22onde todos os animais
têm as mesmas capacidades. -
12:22 - 12:25Mas queria, sobretudo,
que tenham consciência -
12:25 - 12:29da nossa falta de humildade
e falta de integridade, -
12:29 - 12:32e que a reconheçam como ilusória.
-
12:33 - 12:36Vejam, por exemplo, um animal.
-
12:36 - 12:40Ponham-se em frente dum cão,
por exemplo. -
12:40 - 12:44Vamos considerar-nos superiores
-
12:44 - 12:49apesar de este cão ter capacidades de faro
-
12:49 - 12:53ou de deteção de determinadas doenças,
muito para além das nossas. -
12:54 - 12:57Então, superiores em quê?
-
12:58 - 13:01Pode ser que, dentro de algumas décadas,
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13:01 - 13:03olhemos para as nossas atitudes
-
13:03 - 13:06e para o nosso comportamento
para com os animais -
13:06 - 13:11com a mesma vergonha
e o consideremos grotesco -
13:11 - 13:14que consideramos hoje
a discriminação -
13:14 - 13:17para com as outras populações humanas,
-
13:17 - 13:19a escravatura e o genocídio.
-
13:21 - 13:25Então, qual é a boa relação
com os animais? -
13:27 - 13:30Vou voltar a Ozzie
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13:30 - 13:33que me estendeu o braço, na floresta.
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13:34 - 13:38Tudo indicava um gesto amistoso.
-
13:40 - 13:43Talvez mesmo reconhecendo
-
13:43 - 13:48o meu estatuto inferior de estrangeira
-
13:48 - 13:51como sendo um pouco parecido com o dele.
-
13:51 - 13:55Talvez fôssemos os dois
um "outro" vis-à-vis nós dois, -
13:55 - 13:59tal como com todos os outros
chimpanzés no grupo. -
13:59 - 14:03Foi-me muito difícil fazer a escolha.
-
14:03 - 14:06Que tentação atravessar a fronteira
-
14:07 - 14:10e ir ao encontro da outra espécie,
-
14:10 - 14:12de um animal totalmente selvagem
-
14:12 - 14:18e corresponder à cumplicidade
e à amizade que me parecia exprimir. -
14:18 - 14:20Mas uma coisa eu sabia:
-
14:20 - 14:24tocar num animal selvagem,
sobretudo, num grande macaco, -
14:24 - 14:27que é tão vulnerável
frente aos seres humanos, -
14:27 - 14:29raramente é bom para o animal.
-
14:30 - 14:33Portanto, não respondi àquele gesto,
-
14:34 - 14:38Olhei para ele, mas com as mãos
colocadas nos joelhos. -
14:39 - 14:43Depois de um pequeno momento,
Ozzie retirou a mão -
14:43 - 14:45e nunca mais olhou para mim.
-
14:45 - 14:50Eu tinha optado por não atravessar a ponte
-
14:50 - 14:56porque, de certo modo,
eu senti que isso seria para mim -
14:56 - 14:58mas não para ele.
-
14:58 - 15:02Eu queria que ele soubesse
que não tinha de ter medo de mim. -
15:02 - 15:07Mas a realidade desagradável
é que o homem representa -
15:07 - 15:13tudo o que é perigoso,
ameaçador e essencialmente imoral -
15:13 - 15:16no mundo dos animais.
-
15:16 - 15:20Para Ozzie, o seu futuro
e o seu bem-estar -
15:20 - 15:24dependeriam de ele manter
algum medo do homem. -
15:25 - 15:28Não soube e nunca teria podido
saber as consequências -
15:28 - 15:31mas, depois disso, a guerra no Congo
-
15:31 - 15:35levou a massacres de seres humanos
e de animais, feitos pelos militares, -
15:35 - 15:38pelos caçadores furtivos e pelos rebeldes.
-
15:38 - 15:43Para Ozzie, o seu futuro era
com os chimpanzés. -
15:43 - 15:46Teria sido perigoso para ele
-
15:46 - 15:49ter demasiada confiança
num ser humano. -
15:50 - 15:54Mas continuo a perguntar:
"E se...?" -
15:54 - 15:57Não posso fingir que não
me senti tentada -
15:57 - 16:01nem que não tenho pena
da minha decisão. -
16:02 - 16:05Ao fim de tantos anos
com animais selvagens, -
16:05 - 16:07e ao fim de tantos anos
-
16:07 - 16:11a procurar o posicionamento
científico ideal, -
16:11 - 16:15começo a compreender
os limites dos meus conhecimentos -
16:16 - 16:22e de tudo o que se mantém insondável
e essencialmente diferente. -
16:23 - 16:25Volto à pergunta que vos fiz:
-
16:25 - 16:29Qual é a ponte ideal
entre o ser humano e o animal? -
16:30 - 16:32E pergunto-me se deveríamos
-
16:32 - 16:37concentrarmo-nos tanto
sobre uma comparação das diferenças -
16:37 - 16:41ou se deveríamos observar
essas diferenças -
16:41 - 16:46e o valor, a beleza e a importância
dessas diferenças. -
16:47 - 16:52Eu penso que a terra desconhecida
dos outros animais -
16:52 - 16:55é definida pela nossa ignorância
-
16:55 - 16:59e pela venda que pomos
deliberadamente nos olhos, -
16:59 - 17:01para não vermos.
-
17:02 - 17:08Talvez que a ponte ideal
entre o ser humano e o outro -
17:09 - 17:13devesse ser uma celebração
dessas diferenças -
17:13 - 17:17para uma coexistência respeitosa.
-
17:17 - 17:18Obrigada.
-
17:18 - 17:22(Aplausos)
- Title:
- Qual é a boa relação com os animais? | Annette Lanjouw | TEDxCannes
- Description:
-
Qual é a boa relação com os animais? Qual devia ser a ponte ideal entre o ser humano e o animal? Os seres humanos são superiores aos animais? Qual o papel para a ciência na nossa compreensão do funcionamento das espécies? No decurso desta palestra, Annette Lanjouw questiona a relação dos seres humanos com os animais e mais globalmente, a relação das espécies entre elas. Conta-nos qual é a sua ideia quanto a este tema.
Annette Lanjouw é uma primatóloga de renome internacional, que continuou o trabalho de Diane Fossey para proteger o ameaçado gorila da montanha, em regiões devastadas pelas guerras em África. Durante estes últimos 25 anos, contribuiu para proteger os orangotangos, os chimpanzés e os bonobos. O seu percurso desenvolveu nela o amor pela vida e pelos lugares selvagens e a ideia que os seres humanos constituem apenas uma parte dum sistema natural complexo.Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saiba mais em http://ted.com/tedx
- Video Language:
- French
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDxTalks
- Duration:
- 17:30
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