Como estou a usar os dados biológicos para contar histórias melhores — e desencadear uma mudança social
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0:01 - 0:05Nos últimos 15 anos tenho tentado
mudar a vossa opinião. -
0:06 - 0:10No meu trabalho, uso a cultura popular
e as tecnologias emergentes -
0:10 - 0:12para mudar as normas culturais.
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0:12 - 0:16Fiz videojogos para promover
os direitos humanos, -
0:16 - 0:20Fiz animações para chamar a atenção
para leis injustas de imigração -
0:21 - 0:25e fiz aplicativos de localização
em realidade aumentada -
0:25 - 0:28para mudar a perceção
sobre os sem abrigo -
0:28 - 0:30muito antes do Pokémon Go.
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0:30 - 0:31(Risos)
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0:31 - 0:35Mas depois comecei a pensar
se um jogo ou uma aplicação -
0:35 - 0:38podem realmente mudar
atitudes e comportamentos -
0:38 - 0:40e, se assim for, posso
medir essa mudança? -
0:41 - 0:43Qual a ciência por detrás deste processo?
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0:44 - 0:47Então mudei o meu interesse da criação
de conteúdos e tecnologias -
0:47 - 0:51para a medição
dos efeitos neurobiológicos. -
0:51 - 0:53Aqui está o que descobri.
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0:53 - 0:57A Internet, os dispositivos móveis,
a realidade virtual e aumentada, -
0:57 - 1:00estavam a reescrever
o nosso sistema nervoso. -
1:00 - 1:03Estavam literalmente a mudar
a estrutura do nosso cérebro. -
1:04 - 1:07As mesmas tecnologias que eu estava a usar
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1:07 - 1:09para influenciar positivamente
corações e mentes, -
1:09 - 1:13estavam a corroer as funções
do cérebro necessárias à empatia -
1:13 - 1:15e à tomada de decisões.
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1:15 - 1:19De facto, a nossa dependência
da Internet e dos dispositivos móveis -
1:19 - 1:23pode passar a comandar as nossas
faculdades cognitivas e afetivas, -
1:24 - 1:27tornando-nos social
e emocionalmente incompetentes. -
1:27 - 1:31Senti-me cúmplice desta desumanização.
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1:31 - 1:34Percebi que, antes de continuar a criar
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1:34 - 1:36conteúdos sobre problemas sociais
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1:36 - 1:38precisava de criar uma engenharia inversa
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1:38 - 1:41para estudar os efeitos
perigosos da tecnologia. -
1:41 - 1:44Para resolver isso, perguntei-me:
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1:44 - 1:47"Como posso traduzir
os mecanismos de empatia, -
1:47 - 1:51"os aspetos cognitivos,
afetivos e motivacionais, -
1:51 - 1:54"num motor que simule
os ingredientes narrativos -
1:54 - 1:56"que nos fazem agir?"
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1:57 - 2:00Para responder a isto,
tive de criar uma máquina. -
2:01 - 2:02(Risos)
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2:02 - 2:05Estou a desenvolver um laboratório
biométrico de código aberto, -
2:05 - 2:08um sistema de IA a que chamo
Laboratório Límbico. -
2:09 - 2:11Este laboratório não só capta
a reação inconsciente -
2:11 - 2:14do cérebro e do corpo
aos meios de comunicação e à tecnologia, -
2:14 - 2:18mas também utiliza a aprendizagem
de máquina para adaptar conteúdos, -
2:18 - 2:20com base nessas reações biológicas.
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2:21 - 2:24O meu objetivo é encontrar
as combinações de ingredientes narrativos -
2:24 - 2:26mais atraentes e galvanizadoras
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2:26 - 2:28para visar audiências específicas
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2:28 - 2:33e possibilitar organizações
de justiça social, cultural e educacional -
2:33 - 2:36a criar meios de comunicação
mais eficazes. -
2:36 - 2:39O Laboratório Límbico
consiste em dois componentes: -
2:39 - 2:42um motor narrativo e uma máquina
de meios de comunicação -
2:42 - 2:47Enquanto um sujeito está a visualizar
ou a interagir com esses conteúdos, -
2:47 - 2:51o motor narrativo capta e sincroniza dados
de ondas cerebrais, em tempo real -
2:51 - 2:53— dados biofísicos
como batimentos cardíacos, -
2:53 - 2:56fluxo sanguíneo, temperatura corporal
e contração muscular, -
2:56 - 2:59assim como rastreamento ocular
e expressões faciais. -
3:00 - 3:03Os dados são captados
em locais importantes -
3:03 - 3:05onde ocorrem pontos críticos da trama,
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3:05 - 3:08interação de personagens
ou ângulos de câmara incomuns. -
3:08 - 3:11Como a cena final em
"Game of Thrones, Red Wedding", -
3:11 - 3:15quando chocantemente,
toda a gente morre. -
3:15 - 3:16(Risos)
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3:17 - 3:20Os dados de pesquisa sobre as crenças
políticas dessa pessoa -
3:20 - 3:23juntamente com os seus dados
psicográficos e demográficos, -
3:23 - 3:25são integrados no sistema
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3:25 - 3:28para ganhar um entendimento
mais profundo do indivíduo. -
3:29 - 3:31Vou dar um exemplo.
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3:32 - 3:34A combinação das preferências
de TV das pessoas -
3:34 - 3:37com a sua visão
dos problemas de justiça social -
3:37 - 3:41revela que os americanos que colocam
a imigração no topo das suas preocupações -
3:41 - 3:44são mais propensos a ser fãs
de "The Walking Dead," -
3:45 - 3:48e veem-no, sobretudo,
para aumentar a adrenalina, -
3:48 - 3:50o que é uma coisa mensurável.
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3:50 - 3:54A assinatura biológica de uma pessoa
e a sua reação à pesquisa -
3:54 - 3:56são combinadas numa base de dados
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3:56 - 3:59para criar uma impressão exclusiva
sobre os meios de comunicação. -
3:59 - 4:03O nosso modelo preditivo encontra padrões
entre as impressões desses meios -
4:03 - 4:05e diz-me quais os ingredientes narrativos
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4:05 - 4:09mais propensos a levar ao empenhamento
num comportamento altruísta -
4:09 - 4:11em vez de provocar angústia e apatia.
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4:11 - 4:14Quanto mais impressões são adicionadas
à base de dados -
4:14 - 4:17através desses meios, dos episódios
de televisão para os jogos, -
4:17 - 4:19melhor se torna o modelo preditivo.
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4:20 - 4:24Resumindo, estou a mapear o primeiro
genoma dos meios de comunicação -
4:25 - 4:27(Aplausos)
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4:32 - 4:36Considerando que o genoma humano
identifica todos os genes envolvidos -
4:36 - 4:38na sequenciação do ADN humano,
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4:38 - 4:42a crescente base de dados das impressões
mediáticas acabará por me permitir -
4:42 - 4:45determinar o ADN mediático
de uma pessoa específica. -
4:46 - 4:49O mecanismo narrativo
do Laboratório Límbico -
4:50 - 4:54já ajuda os criadores de conteúdos
a refinar a forma de contar histórias, -
4:54 - 4:57para entrarem em consonância
com o público alvo, a nível individual. -
4:59 - 5:01O outro componente do Laboratório Límbico,
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5:01 - 5:03a máquina mediática,
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5:03 - 5:08avaliará como os "media" conseguem
uma reação emocional e fisiológica, -
5:08 - 5:10e depois vão buscar cenas
a uma biblioteca de conteúdos -
5:11 - 5:13dirigidas ao ADN mediático
de uma pessoa específica. -
5:14 - 5:18A aplicação da inteligência artificial
aos dados biométricos -
5:18 - 5:21cria uma experiência personalizada
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5:21 - 5:26que, em tempo real, adapta conteúdos
com base em reações inconscientes. -
5:27 - 5:30Imaginem se os criadores de "media"
e as organizações sem fins lucrativos -
5:30 - 5:34conseguirem medir como o público
se sente, enquanto experimenta isso, -
5:35 - 5:37e alterarem o conteúdo
nesse mesmo instante. -
5:37 - 5:41Acredito que este é o futuro dos "media".
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5:41 - 5:45Até agora, a maioria dos "media"
e das estratégias de mudança social -
5:45 - 5:47têm tentado apelar
ao público em massa, -
5:47 - 5:51mas o futuro são "media"
personalizados para cada pessoa. -
5:51 - 5:54À medida que a medição em tempo real
do consumo mediático -
5:54 - 5:57e a produção mediática automatizada
se tornem a norma, -
5:57 - 6:01em breve estaremos a consumir "media"
adaptados diretamente aos nossos desejos -
6:01 - 6:05usando uma mistura de psicografia,
biometria e IA. -
6:06 - 6:10É como um remédio personalizado
com base no nosso ADN. -
6:10 - 6:13Eu chamo-lhe "biomediática".
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6:13 - 6:16Atualmente estou a testar
o Laboratório Límbico num estudo piloto -
6:16 - 6:18com o Centro Norm Lear,
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6:18 - 6:22que assiste às 50 séries
televisivas de topo. -
6:22 - 6:25Mas enfrento um dilema ético.
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6:25 - 6:29Se eu criar uma ferramenta
que possa ser transformada numa arma, -
6:29 - 6:31devo construí-la?
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6:32 - 6:36Ao tornar o laboratório em código aberto
para incentivar o acesso e a inclusão, -
6:36 - 6:39também corro o risco de permitir
que governos poderosos -
6:39 - 6:42e empresas com fins lucrativos
se apropriem da plataforma -
6:42 - 6:46para notícias falsas, propaganda
ou outras formas de persuasão de massas. -
6:47 - 6:51Para mim, portanto, é imprescindível
que a minha pesquisa -
6:51 - 6:53seja tão transparente
para um público leigo -
6:53 - 6:56como os rótulos dos organismos
geneticamente modificados. -
6:56 - 6:58Mas isso não é suficiente.
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6:59 - 7:01Como tecnólogos criativos,
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7:01 - 7:03temos a responsabilidade
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7:03 - 7:06não só de refletir sobre como
a tecnologia atual -
7:06 - 7:08modela os nossos valores culturais
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7:08 - 7:10e o nosso comportamento social,
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7:10 - 7:14mas também de desafiar ativamente
a trajetória da tecnologia futura. -
7:15 - 7:19Tenho esperança de que façamos
um compromisso ético -
7:19 - 7:21para explorar a inteligência do corpo
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7:21 - 7:25para a criação de histórias
autênticas e justas -
7:25 - 7:27que transformem os "media" e a tecnologia
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7:27 - 7:31de armas nocivas
em medicina narrativa. -
7:31 - 7:32Obrigada.
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7:32 - 7:34(Aplausos)
- Title:
- Como estou a usar os dados biológicos para contar histórias melhores — e desencadear uma mudança social
- Speaker:
- Heidi Boisvert
- Description:
-
Que tipo de histórias nos levam a agir? Para responder a essa pergunta, a tecnóloga criativa Heidi Boisvert está a medir como o cérebro e o corpo das pessoas respondem inconscientemente a diferentes "media". Ela mostra como está a usar esses dados para determinar os ingredientes narrativos específicos que inspiram empatia e justiça — e desencadeiam mudanças sociais em larga escala.
- Video Language:
- English
- Team:
closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 07:49