Rosalind Franklin: a heroína silenciada do ADN — Cláudio L. Guerra

Vejam a lição completa: http://ed.ted.com/lessons/rosalind-franklin-dna-s-unsung-hero-claudio-l-guerra

A descoberta da estrutura do ADN foi um dos feitos mais importantes
do século passado da História do Homem. A hoje famosa hélice dupla é quase sinónimo de Watson e Crick, dois dos cientistas que ganharam
o Prémio Nobel pela sua descoberta. Mas talvez tenham ouvido falar noutro nome: Rosalind Franklin. Cláudio L. Guerra conta a verdadeira história da mulher por detrás da cadeia do ADN.

Lição de Cláudio L. Guerra, animação de Chris Bishop.

A descoberta da estrutura do ADN

foi um dos feitos científicos
mais importantes do século passado

e mesmo de toda a História do Homem.

A hoje famosa hélice dupla é quase
sinónimo de Watson e Crick,

dois dos cientistas que ganharam
o Prémio Nobel pela sua descoberta.

Mas talvez tenham
ouvido falar noutro nome:

Rosalind Franklin.

Talvez tenham ouvido dizer
que a investigação dela

confirmou a ideia brilhante
de Watson e Crick

ou que ela era uma cientista belicosa
que se vestia de forma simples,

que é como Watson a descreveu
em "A dupla hélice".

Graças aos biógrafos de Franklin,

que investigaram a vida dela
e entrevistaram pessoas próximas dela,

sabemos hoje que essa imagem
está muito longe da verdade

e que os seus contributos científicos
foram amplamente desvalorizados.

Vamos ouvir a verdadeira história.

Rosalind Elsie Franklin
nasceu em Londres, em 1920.

Desde adolescente
que queria ser cientista,

o que, naquela época, não era
uma carreira vulgar ou fácil para mulheres.

De qualquer modo,
ela distinguiu-se nas ciências.

Ganhou uma bolsa
para estudar química em Cambridge,

onde fez um doutoramento

Mais tarde realizou uma investigação
sobre a estrutura do carvão,

que permitiu melhorar as máscaras de gás
britânicas durante a II Guerra Mundial.

Em 1951, entrou para o King's College,

onde utilizou técnicas de raios X
para estudar a estrutura do ADN,

que, na altura, era um dos
tópicos da moda na ciência.

Franklin melhorou
o laboratório de radiologia

e começou a enviar raios X de alta energia
em cristais minúsculos e húmidos de ADN.

Mas, na época, o meio académico
era pouco amigável com as mulheres

e Franklin viu-se isolada dos seus colegas.

Entrou em conflito com Maurice Wilkins,

um colega que achava que Franklin
tinha sido contratada para sua assistente.

Mas Franklin continuou o seu trabalho

e em 1952, obteve a Foto 51,
a mais famosa imagem de raios X de ADN.

Para obter essa imagem
foram necessárias 100 horas,

e os cálculos necessários para analisá-la
iriam demorar um ano.

Entretanto, James Watson,
o biólogo norte-americano,

e o físico britânico Francis Crick

também estavam a trabalhar
para encontrar a estrutura do ADN.

Sem o conhecimento de Franklin,

Wilkins pegou na Foto 51
e mostrou-a a Watson e Crick.

Em vez de calcularem
a posição exata de cada átomo,

fizeram uma análise rápida
dos dados de Franklin

e usaram-nos para criar
estruturas possíveis.

Acabaram por chegar à estrutura certa.

O ADN é feito de duas cadeias helicoidais,

antiparalelas, com bases no centro
como degraus de uma escada.

Watson e Crick publicaram
o seu modelo em abril de 1953.

Entretanto,
Franklin tinha concluído os cálculos,

tinha chegado à mesma conclusão

e apresentou o seu manuscrito.

O jornal publicou
os manuscritos em conjunto

mas pôs o de Franklin em último lugar,

sugerindo que as suas experiências

só confirmavam a descoberta
de Watson e Crick,

em vez de inspirá-los.

Mas Franklin já tinha deixado
de trabalhar no ADN

e morreu de cancro em 1958,

sem nunca saber que Watson e Crick
tinham visto as suas radiografias.

Watson, Crick e Wilkins
ganharam o Prémio Nobel em 1962

pelo seu trabalho sobre o ADN.

Diz-se muitas vezes que Franklin
teria sido galardoada com o Prémio Nobel

se o prémio pudesse ser
atribuído postumamente.

De facto, podia tê-lo ganho duas vezes.

O trabalho dela sobre a estrutura dos vírus
deu o prémio Nobel a um colega em 1982.

É tempo de contar a história
de uma mulher corajosa

que lutou contra o sexismo na ciência

e cujo trabalho revolucionou
a medicina, a biologia e a agricultura.

É tempo de homenagear
Rosalind Elsie Franklin,

a mãe ignorada da dupla cadeia.