Susan Cain: O poder dos introvertidos
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0:00 - 0:02Quando eu tinha nove anos
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0:02 - 0:04fui para um campo de férias de verão pela primeira vez.
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0:04 - 0:06E a minha mãe preparou-me uma mala
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0:06 - 0:08cheia de livros,
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0:08 - 0:10o que me pareceu algo perfeitamente natural.
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0:10 - 0:12Porque na minha família,
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0:12 - 0:15ler era a principal actividade em conjunto.
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0:15 - 0:17E isto pode parecer-vos anti-social,
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0:17 - 0:20mas para nós era apenas uma forma diferente de ser social.
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0:20 - 0:22Temos o calor animal da nossa família
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0:22 - 0:24sentada ali ao pé,
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0:24 - 0:26mas também podemos deambular pelo mundo das aventuras
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0:26 - 0:28dentro da nossa mente.
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0:28 - 0:30E eu tinha esta ideia
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0:30 - 0:32de que o campo seria assim, mas melhor.
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0:32 - 0:35(Risos)
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0:35 - 0:38Eu tinha uma visão de 10 meninas sentadas numa cabana
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0:38 - 0:40lendo livros aconchegadas nos seus pijamas a combinar.
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0:40 - 0:42(Risos)
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0:42 - 0:45O campo foi mais como uma festa do barril (cerveja) sem álcool.
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0:45 - 0:48E no primeiro dia
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0:48 - 0:50a nossa monitora reuniu-nos
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0:50 - 0:52e ensinou-nos o cântico que iríamos repetir
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0:52 - 0:54todos os dias até ao resto do Verão
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0:54 - 0:56para instigar o espírito de campo.
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0:56 - 0:58Era assim:
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0:58 - 1:00"R-O-W-D-I-E,
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1:00 - 1:02é assim que se soletra "rowdie" (desordeiras)
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1:02 - 1:05Desordeiras, desordeiras, vamos ser desordeiras."
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1:07 - 1:09Sim.
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1:09 - 1:11Eu não conseguia perceber nem pela minha vida
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1:11 - 1:13porque deveríamos ser tão desordeiras,
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1:13 - 1:16ou porque tínhamos de soletrar esta palavra incorrectamente.
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1:16 - 1:22(rowdie vs. rowdy) (Risos)
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1:22 - 1:25Mas eu recitei um cântico. Recitei um cântico com os outros todos.
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1:25 - 1:27Fiz o meu melhor.
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1:27 - 1:29E só esperava pela altura
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1:29 - 1:32em que poderia ir ler os meus livros.
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1:32 - 1:34Mas a primeira vez que tirei o meu livro da mala,
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1:34 - 1:36a rapariga mais popular do dormitório abordou-me
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1:36 - 1:39e perguntou-me, "Porque és tão sossegada?" --
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1:39 - 1:41sossegada, claro, sendo exactamente o oposto
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1:41 - 1:43de R-O-W-D-I-E (desordeira).
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1:43 - 1:45E na segunda tentativa,
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1:45 - 1:48a monitora abordou-me com uma expressão preocupada
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1:48 - 1:50e repetiu o objectivo do espírito do campo
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1:50 - 1:52e disse que deveríamos tentar a sério
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1:52 - 1:54sermos extrovertidos.
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1:54 - 1:57Então guardei os meus livros,
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1:57 - 2:00de volta à mala,
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2:00 - 2:04pu-los debaixo da cama,
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2:04 - 2:06e aí ficaram o resto do verão.
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2:06 - 2:08Eu sentia-me culpada por isto.
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2:08 - 2:10Sentia que, de alguma forma, os livros precisavam de mim,
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2:10 - 2:13eles chamavam-me e eu tinha-os abandonado.
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2:13 - 2:15Mas eu abandonei-os mesmo e não abri mais aquela mala
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2:15 - 2:17até estar de volta a casa com a minha família
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2:17 - 2:19no fim do Verão.
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2:19 - 2:22Ora, conto-vos esta história sobre o campo de férias.
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2:22 - 2:25Poderia ter-vos contado 50 outras parecidas --
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2:25 - 2:27todas as vezes que tive a noção
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2:27 - 2:31que, de alguma forma, a minha maneira de ser silenciosa e introvertida
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2:31 - 2:33não era necessariamente a certa a ter,
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2:33 - 2:36que deveria tentar ser mais extrovertida.
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2:36 - 2:39Sempre senti no meu âmago que isto estava errado
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2:39 - 2:41e que os introvertidos eram excelentes como eram.
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2:41 - 2:44Mas durante anos neguei esta intuição,
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2:44 - 2:47e tornei-me uma advogada de Wall Street, de todas as possibilidades,
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2:47 - 2:50em vez da escritora que sempre quis ser --
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2:50 - 2:52em parte porque precisava de provar a mim mesma
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2:52 - 2:54que também conseguia ser arrojada e assertiva.
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2:54 - 2:56E ia sempre sair a bares cheios
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2:56 - 2:59quando o que queria realmente era um jantar simpático com amigos.
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2:59 - 3:02E fiz todas estas escolhas de auto-negação
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3:02 - 3:04tão reflexivamente,
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3:04 - 3:07que nem estava ciente de que as fazia.
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3:07 - 3:09Isto é o que muitos introvertidos fazem,
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3:09 - 3:11e a perda é claramente nossa,
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3:11 - 3:13mas também dos nossos colegas
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3:13 - 3:15e da nossa comunidade.
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3:15 - 3:18E, correndo o risco de soar arrogante, do mundo.
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3:18 - 3:21Porque no que toca a criatividade e liderança,
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3:21 - 3:24precisamos dos introvertidos a fazer o que sabem melhor.
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3:24 - 3:26Entre um terço e metade da população são introvertidos --
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3:26 - 3:28de um terço a metade.
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3:28 - 3:31Isso é uma em cada duas ou três pessoas que conhecemos.
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3:31 - 3:34Então mesmo que seja um extrovertido,
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3:34 - 3:36estou a falar dos vossos colegas de trabalho
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3:36 - 3:38dos vossos cônjuges e dos vossos filhos
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3:38 - 3:41e da pessoa sentada ao vosso lado agora mesmo --
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3:41 - 3:43todas sujeitas a esta parcialidade
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3:43 - 3:45que é profunda e real na nossa sociedade.
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3:45 - 3:48Todos nós interiorizamos isto desde tenra idade
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3:48 - 3:51sem sequer termos uma linguagem para o que estamos a fazer.
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3:51 - 3:53Para ver bem esta parcialidade
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3:53 - 3:56precisamos de perceber o que é a introversão.
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3:56 - 3:58É diferente de ser tímido.
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3:58 - 4:00A timidez é o medo do julgamento social.
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4:00 - 4:02A introversão é mais sobre
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4:02 - 4:04como responder à estimulação,
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4:04 - 4:06incluindo estimulação social.
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4:06 - 4:09Os extrovertidos precisam de muita estimulação,
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4:09 - 4:11enquanto que os introvertidos se sentem mais vivos
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4:11 - 4:13mais ligados e mais capazes
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4:13 - 4:15quando estão em ambientes mais sossegados, mais recatados.
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4:15 - 4:17Não sempre -- as coisas não são absolutas --
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4:17 - 4:19mas a maior parte do tempo.
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4:19 - 4:21Então o truque
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4:21 - 4:24para maximizarmos os nossos talentos
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4:24 - 4:26é todos procurarem
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4:26 - 4:29os espaços de estimulação mais adequados.
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4:29 - 4:31Agora é onde entra a parcialidade.
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4:31 - 4:33As nossas instituições mais importantes,
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4:33 - 4:35as nossas escolas e os nossos locais de trabalho,
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4:35 - 4:37são desenhados maioritariamente para extrovertidos
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4:37 - 4:40e para a sua necessidade de muita estimulação.
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4:40 - 4:44Temos, hoje em dia, este sistema de crenças
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4:44 - 4:46que chamo de "o novo pensamento em grupo",
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4:46 - 4:49que defende que toda a criatividade e produtividade
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4:49 - 4:53vem de um lugar estranhamente gregário.
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4:54 - 4:56Então se visualizarmos a sala-de-aulas actual típica:
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4:56 - 4:58Quando andava na escola,
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4:58 - 5:00sentávamo-nos em filas.
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5:00 - 5:02Sentávamo-nos em filas de secretárias como esta,
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5:02 - 5:04e fazíamos a maior parte do nosso trabalho de forma autónoma.
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5:04 - 5:06Hoje em dia, a sala-de-aulas típica
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5:06 - 5:08tem ilhas de secretárias --
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5:08 - 5:11quatro, cinco, seis ou sete crianças em frente umas das outras.
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5:11 - 5:13As crianças têm imensos trabalhos de grupo.
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5:13 - 5:16Mesmo em disciplinas como Matemática e Escrita Criativa,
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5:16 - 5:19que pensamos que dependeriam de voos solitários de pensamento,
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5:19 - 5:23espera-se que as crianças ajam como membros de um comité.
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5:23 - 5:25E para os que preferem
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5:25 - 5:27tentar eles mesmos ou simplesmente trabalhar sozinhos,
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5:27 - 5:29esses míudos são vistos como estranhos
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5:29 - 5:31ou, pior, como problemas.
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5:33 - 5:36E a vasta maioria dos professores afirma acreditar
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5:36 - 5:38que o estudante ideal é extrovertido
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5:38 - 5:40ao contrário do introvertido,
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5:40 - 5:42mesmo tendo os introvertidos melhores notas
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5:42 - 5:44e sendo mais cultos,
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5:44 - 5:46segundo pesquisa.
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5:46 - 5:48(Risos)
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5:48 - 5:51Certo, a mesma coisa acontece no nosso local de trabalho.
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5:51 - 5:54Agora, quase todos nós trabalhamos em escritórios abertos,
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5:54 - 5:56sem paredes,
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5:56 - 5:58onde somos sujeitos
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5:58 - 6:00ao barulho constante e ao olhar perscrutador dos nossos colegas.
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6:00 - 6:02E no que toca à liderança,
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6:02 - 6:04os introvertidos são normalmente rechaçados de posições de liderança,
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6:04 - 6:06mesmo que costumem ser muito cuidadosos,
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6:06 - 6:08menos passíveis de correr riscos de maior --
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6:08 - 6:12que é algo que, hoje, talvez todos valorizemos.
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6:12 - 6:15Uma investigação interessante feita por Adam Grant na Wharton School
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6:15 - 6:17descobriu que os líderes introvertidos
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6:17 - 6:19costumam ter melhores resultados que os extrovertidos,
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6:19 - 6:22porque quando gerem empregados pro-activos,
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6:22 - 6:25são mais passíveis de deixá-los manter as suas próprias ideias,
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6:25 - 6:27enquanto que um extrovertido pode, inadvertidamente,
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6:27 - 6:29ficar tão excitado com as coisas
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6:29 - 6:31que põe o seu selo nas coisas,
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6:31 - 6:33e as ideias das outras pessoas podem não vir à superfície
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6:33 - 6:36tão facilmente.
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6:36 - 6:39Na realidade, alguns dos líderes mais marcantes da história foram introvertidos.
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6:39 - 6:41Vou dar-vos alguns exemplos.
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6:41 - 6:44Eleanor Roosevelt, Rosa Parks, Gandhi --
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6:44 - 6:46todas estas pessoas descreviam-se como
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6:46 - 6:49caladas, de fala serena e até tímidas.
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6:49 - 6:51E todas aceitaram as luzes da ribalta,
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6:51 - 6:53mesmo que todos os seus instintos
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6:53 - 6:56dissessem o contrário.
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6:56 - 6:58E isto acaba por ter o seu próprio poder,
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6:58 - 7:01porque as pessoas sentiam que estes líderes estavam ao leme,
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7:01 - 7:03não porque gostavam de mandar nos outros
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7:03 - 7:05nem por gostarem de ser admirados;
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7:05 - 7:07eles estavam lá porque não tinham escolha,
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7:07 - 7:10porque foram compelidos a fazer o que achavam certo.
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7:11 - 7:14Ora, acho que nesta altura é importante dizer
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7:14 - 7:17que eu até adoro extrovertidos.
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7:17 - 7:20Gosto sempre de dizer que alguns dos meus melhores amigos são extrovertidos,
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7:20 - 7:22incluindo o meu querido marido.
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7:24 - 7:26E todos caímos em diferentes pontos, claro,
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7:26 - 7:29dentro do espectro introvertido/extrovertido.
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7:29 - 7:32Até Carl Jung, o psicólogo que popularizou estes termos, disse
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7:32 - 7:34que não há um introvertido puro
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7:34 - 7:36nem um extrovertido puro.
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7:36 - 7:38Ele disse que tal homem estaria num asilo de malucos,
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7:38 - 7:41se sequer existisse.
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7:41 - 7:43Algumas pessoas caem mesmo no meio
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7:43 - 7:45do espectro introvertido/extrovertido,
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7:45 - 7:47e chamamo-las de "ambivertidos".
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7:47 - 7:50Costumo pensar que ele têm o melhor dos dois mundos.
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7:51 - 7:54Mas muitos de nós reconhecem-se num tipo ou noutro.
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7:54 - 7:57O que defendo é que culturalmente precisamos de um melhor equilíbrio.
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7:57 - 7:59Precisamos de mais ying e yang.
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7:59 - 8:01entre os dois tipos.
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8:01 - 8:03Isto é especialmente importante
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8:03 - 8:05no que toca à criatividade e à produtividade,
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8:05 - 8:07porque quando os psicólogos observam
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8:07 - 8:09a vida da maioria das pessoas criativas,
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8:09 - 8:11o que eles encontram
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8:11 - 8:13são pessoas muito boas a trocar ideias
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8:13 - 8:15e a desenvolver ideias,
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8:15 - 8:18mas que também têm um traço evidente de introversão.
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8:18 - 8:20E isto porque a solidão é muitas vezes um ingrediente
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8:20 - 8:22crucial para a criatividade.
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8:22 - 8:24Darwin,
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8:24 - 8:26ele dava longos passeios no bosque
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8:26 - 8:29e vivazmente declinava convites para jantares.
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8:29 - 8:32Theodor Geisel, mais conhecido como Doutor Seuss,
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8:32 - 8:34ele criava muitas das suas criações fantásticas
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8:34 - 8:36num escritório solitário que tinha num campanário
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8:36 - 8:39nas traseiras da sua casa em La Jolla, Califórnia.
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8:39 - 8:41E ele até tinha medo de conhecer
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8:41 - 8:43as crianças que liam os seus livros
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8:43 - 8:45por temer que elas esperassem que fosse
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8:45 - 8:47uma figura bem-disposta parecida com o Pai Natal
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8:47 - 8:51e ficassem desapontadas com a sua personalidade reservada.
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8:51 - 8:53Steve Wozniak inventou o primeiro computador da Apple
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8:53 - 8:55sentado sozinho no seu cubículo
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8:55 - 8:57na Hewlett-Packard, onde trabalhava na altura.
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8:57 - 9:00E ele diz que nunca se teria tornado um perito em primeira instância
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9:00 - 9:03se não fosse demasiado introvertido para sair de casa
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9:03 - 9:05quando era mais novo.
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9:05 - 9:08Claro que
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9:08 - 9:11isto não significa que deixemos de colaborar --
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9:11 - 9:14e um bom exemplo é o facto de Steve Wozniack ter-se associado a Steve Jobs
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9:14 - 9:17para lançar a Apple Computer --
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9:17 - 9:20mas significa, sim, que a solidão importa
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9:20 - 9:22e que para algumas pessoas
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9:22 - 9:24é como o ar que respiram.
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9:24 - 9:27E, de facto, sabemos há séculos
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9:27 - 9:30do poder transcendente da solidão.
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9:30 - 9:33Só agora é que estranhamente estamos a esquecê-lo.
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9:33 - 9:36Se olharmos para a maioria das religiões do mundo,
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9:36 - 9:38encontramos indagadores --
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9:38 - 9:41Moisés, Jesus, Buda, Maomé --
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9:41 - 9:43indagadores que se afastam sozinhos
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9:43 - 9:45a sós com a natureza
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9:45 - 9:47onde tiveram epifanias e revelações profundas
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9:47 - 9:50que depois trouxeram para o resto da comunidade.
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9:50 - 9:54Nada de natureza, nada de revelações.
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9:54 - 9:56Isto não é nenhuma surpresa
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9:56 - 9:59se olharmos para as ideias da psicologia contemporânea.
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9:59 - 10:02Parece que nem conseguimos estar com um grupo de pessoas
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10:02 - 10:05sem imitar as suas opiniões instintivamente.
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10:05 - 10:07Mesmo em coisas aparentemente pessoais e íntimas
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10:07 - 10:09como as pessoas que nos atraem,
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10:09 - 10:12começamos a imitar as crenças das pessoas à nossa volta
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10:12 - 10:14sem sequer nos apercebermos do que fazemos.
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10:14 - 10:17E os grupos, como se sabe, seguem as opiniões
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10:17 - 10:19da pessoa mais dominante e carismática presente,
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10:19 - 10:21mesmo não havendo nenhuma correlação
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10:21 - 10:24entre ser o melhor orador e ter as melhores ideias --
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10:24 - 10:26Quero dizer, zero.
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10:26 - 10:28Portanto...
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10:28 - 10:30(Risos)
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10:30 - 10:33Podem estar a seguir a pessoa com as melhores ideias,
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10:33 - 10:35mas também podem não estar.
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10:35 - 10:38E querem mesmo deixar isso ao acaso?
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10:38 - 10:40É muito melhor cada um isolar-se,
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10:40 - 10:42gerar as suas próprias ideias
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10:42 - 10:44livres das distorções das dinâmicas de grupo,
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10:44 - 10:46e depois reunirem-se como uma equipa
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10:46 - 10:49para falarem num ambiente bem gerido
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10:49 - 10:51e partir daí.
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10:51 - 10:53Se tudo isto é verdade,
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10:53 - 10:56então porque estamos a entender isto tão mal?
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10:56 - 10:58Porque organizamos as nossas escolas e os nossos locais de trabalho assim?
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10:58 - 11:00E porque fazemos estes introvertidos sentirem-se tão culpados
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11:00 - 11:04por apenas quererem estar sozinhos às vezes?
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11:04 - 11:07Uma das respostas está enraizada na nossa história cultural.
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11:07 - 11:09As sociedade ocidentais,
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11:09 - 11:11em particular os E.U.A.,
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11:11 - 11:13sempre favoreceram o homem de acção
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11:13 - 11:15ao homem de contemplação
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11:15 - 11:19Homem de contemplação.
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11:19 - 11:22Mas nos primórdios da América,
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11:22 - 11:25vivíamos no que os historiadores chamavam de cultura do carácter,
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11:25 - 11:27quando ainda valorizávamos as pessoas
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11:27 - 11:30pelo seu inteiror e a sua rectidão moral.
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11:30 - 11:32E se olharem para os livros de auto-ajuda de então,
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11:32 - 11:34todos tinham títulos como
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11:34 - 11:37"Carácter, a Coisa Mais Grandiosa do Mundo."
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11:37 - 11:40E os seus exemplos eram Abraham Lincoln
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11:40 - 11:42que era elogiado por ser modesto e despretencioso.
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11:42 - 11:44Ralph Waldo Emerson apelidou-o de
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11:44 - 11:47"Um homem que não ofende por ser superior."
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11:47 - 11:50Mas depois chegámos ao século XX
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11:50 - 11:52e entrámos numa cultura nova
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11:52 - 11:54que os historiadores chamam de cultura da personalidade.
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11:54 - 11:56O que aconteceu foi que evoluímos de uma economia agrícola
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11:56 - 11:58para um mundo de grandes negócios.
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11:58 - 12:00De repente, as pessoas estão a mudar-se
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12:00 - 12:02de vilas pequenas para cidades.
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12:02 - 12:05E em vez de trabalharem com pessoas que conheceram toda a vida,
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12:05 - 12:07agora têm de provar o seu valor
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12:07 - 12:09numa multidão de estranhos.
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12:09 - 12:11Então, compreensivelmente,
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12:11 - 12:13qualidades como o magnetismo e carisma
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12:13 - 12:15parecem, de repente, muito importantes.
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12:15 - 12:18E com certeza, os livros de auto-ajuda mudam para satisfazer estas novas necessidades
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12:18 - 12:20e eles começam a ter nomes
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12:20 - 12:22como "Como Ganhar Amigos e Influenciar Pessoas."
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12:22 - 12:24E os exemplos em destaque são
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12:24 - 12:27grandes vendedores.
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12:27 - 12:29Este é o mundo em que vivemos.
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12:29 - 12:33É a nossa herança cultural.
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12:33 - 12:35Nada disto quer dizer
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12:35 - 12:38que as habilidades sociais não são importantes,
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12:38 - 12:40e também não invoco
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12:40 - 12:43a abolição do trabalho em equipa, de todo.
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12:43 - 12:46As mesmas religiões que enviaram os seus sábios para cumes de montanha solitários
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12:46 - 12:49também nos ensinam sobre o amor e a confiança.
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12:49 - 12:51E os problemas que enfrentamos hoje
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12:51 - 12:53em campos como a ciência ou a economia
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12:53 - 12:55são tão vastos e complexos
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12:55 - 12:57que precisaremos de exércitos de pessoas a aliarem-se
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12:57 - 12:59para resolvê-los, trabalhando juntas.
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12:59 - 13:02Mas estou a dizer que quanto mais liberdade dermos aos introvertidos para serem eles próprios,
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13:02 - 13:04maior a probabilidade de eles
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13:04 - 13:07surgirem com as suas próprias soluções únicas para esses problemas.
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13:09 - 13:11Então gostaria de partilhar convosco
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13:11 - 13:14o que está na minha mala hoje.
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13:18 - 13:20Adivinham?
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13:20 - 13:22Livros.
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13:22 - 13:24Eu tenho uma mala cheia de livros.
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13:24 - 13:26Aqui está a Margaret Atwood, "Cat's Eye" (Olho de Gato)
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13:26 - 13:29Aqui está um romance de Milan Kundera.
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13:29 - 13:31E aqui está "The Guide for the Perplexed" (O Guia para os Perplexos)
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13:31 - 13:34de Maimonides.
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13:34 - 13:37Mas estes não mesmo meus livros.
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13:37 - 13:39Eu trouxe-os comigo
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13:39 - 13:43porque foram escritos pelos autores favoritos do meu avô.
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13:43 - 13:45O meu avô era um rabi
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13:45 - 13:47e era um viúvo
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13:47 - 13:50que vivia sozinho num pequeno apartamento em Brooklyn
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13:50 - 13:53que era o meu sítio favorito quando era criança,
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13:53 - 13:56em parte, porque estava imbuído da sua presença gentil e cortês
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13:56 - 13:59e, em parte, porque estava cheio de livros.
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13:59 - 14:02Literalmente todas as mesas, todas as cadeiras neste apartamento
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14:02 - 14:04tinham cedido a sua função original
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14:04 - 14:07para agora servirem de base a equilibrarem pilhas de livros.
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14:07 - 14:09Tal como o resto da família,
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14:09 - 14:12a actividade favorita do meu avô no mundo inteiro era ler.
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14:12 - 14:15Mas ele também adorava a sua congregação,
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14:15 - 14:18e podíamos sentir o seu amor nos seus sermões
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14:18 - 14:22todas as semanas, durante os 62 anos que ele foi rabi.
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14:22 - 14:25Ele pegava nos frutos da leitura de cada semana
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14:25 - 14:28e ele tecia estas tapeçarias intricadas do pensamento antigo e humanista.
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14:28 - 14:30E as pessoas vinham de todo o lado
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14:30 - 14:32para ouvi-lo falar.
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14:32 - 14:35Mas eis o que é interessante sobre o meu avô.
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14:35 - 14:37Debaixo do seu papel ceremonial,
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14:37 - 14:40ele era muito modesto e muito introvertido --
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14:40 - 14:43tanto que quando dava estes sermões,
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14:43 - 14:45tinha problemas em estabelecer contacto visual
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14:45 - 14:47com a esta mesma congregação
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14:47 - 14:49para quem havia orado durante 62 anos.
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14:49 - 14:51E mesmo afastado do púlpito,
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14:51 - 14:53quando o chamavam para cumprimentar,
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14:53 - 14:55ele costumava acabar prematuramente a conversa
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14:55 - 14:59com medo de que estivesse a tomar muito tempo.
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14:59 - 15:02Mas quando morreu aos 94 anos,
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15:02 - 15:05a polícia teve de fechar as ruas do seu bairro
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15:05 - 15:07para acomodar a multidão
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15:07 - 15:10que veio fazer o seu luto.
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15:11 - 15:14E agora tento seguir o exemplo do meu avô
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15:14 - 15:16à minha maneira.
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15:16 - 15:19Publiquei recentemente um livro sobre a introversão,
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15:19 - 15:21e demorei uns 7 anos a escrevê-lo.
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15:21 - 15:24E para mim, estes 7 anos foram uma benção,
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15:24 - 15:27porque eu estava a ler, estava a escrever,
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15:27 - 15:29estava a pensar, estava a investigar.
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15:29 - 15:31Era a minha versão
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15:31 - 15:34das horas que o meu avô passava sozinho na biblioteca.
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15:34 - 15:37Mas agora, de repente, a minha função é muito diferente,
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15:37 - 15:40e a minha função é estar aqui a falar-vos disso,
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15:40 - 15:43falar sobre introversão.
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15:43 - 15:47(Risos)
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15:47 - 15:49E isso é-me muito mais difícil,
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15:49 - 15:51pois por mais honrada que me sinta
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15:51 - 15:53de estar aqui convosco neste momento,
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15:53 - 15:56este não é o meu ambiente natural.
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15:56 - 15:58Então eu preparei-me para momentos como estes
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15:58 - 16:00o melhor que podia.
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16:00 - 16:02Passei o último ano a praticar oratória
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16:02 - 16:04sempre que pude.
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16:04 - 16:07E chamo-lhe o meu "ano de falar arriscadamente."
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16:07 - 16:09(Risos)
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16:09 - 16:11E isso até ajudou muito.
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16:11 - 16:13Mas digo-vos, o que ajuda ainda mais
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16:13 - 16:16é a minha sensação, a minha crença, a minha esperança
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16:16 - 16:18de que, no que toca às nossas atitudes
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16:18 - 16:20quanto à introversão, ao silêncio e à solidão,
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16:20 - 16:22estamos mesmo à beira de uma mudança profunda.
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16:22 - 16:24Quero dizer, estamos mesmo.
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16:24 - 16:26E agora vou deixar-vos
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16:26 - 16:28com 3 chamadas de atenção
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16:28 - 16:30para os que partilham desta visão.
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16:30 - 16:32Número um:
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16:32 - 16:34Parem com a loucura de trabalho em grupo constante.
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16:34 - 16:36Parem.
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16:36 - 16:39(Risos)
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16:39 - 16:41Obrigada.
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16:41 - 16:43(Aplausos)
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16:43 - 16:45E quero ser clara no que estou a dizer,
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16:45 - 16:47porque acredito piamente que os nossos escritórios
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16:47 - 16:49deviam encorajar
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16:49 - 16:51as interacções casuais, conversas de café --
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16:51 - 16:53vocês sabem, do tipo em que as pessoas se reúnem
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16:53 - 16:55e, do nada, trocam ideias.
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16:55 - 16:57Isso é óptimo.
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16:57 - 16:59É óptimo para introvertidos e para extrovertidos.
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16:59 - 17:01Mas precisamos de mais privacidade e mais liberdade
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17:01 - 17:03e mais autonomia no trabalho.
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17:03 - 17:05Na escola, a mesma coisa.
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17:05 - 17:08Claro que precisamos de ensinar as crianças a trabalhar juntas,
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17:08 - 17:10mas também temos de os ensinar a trabalhar sozinhos.
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17:10 - 17:13Isto é especialmente importante também para crianças extrovertidas.
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17:13 - 17:15Elas precisam de trabalhar sozinhas
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17:15 - 17:17porque é daí que o pensamento profundo vem, em parte.
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17:17 - 17:20Ok, número dois: Vão para a natureza.
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17:20 - 17:23Sejam como Buda, tenham as vossas próprias revelações.
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17:23 - 17:25Não estou a dizer
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17:25 - 17:28que temos de ir todos agora construir as nossas cabanas no bosque
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17:28 - 17:31e nunca mais falar uns com os outros,
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17:31 - 17:33mas digo que todos deveríamos conseguir desligar
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17:33 - 17:35e ir para dentro das nossas cabeças
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17:35 - 17:38mais frequentemente.
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17:39 - 17:42Número três:
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17:42 - 17:44Olhem para o que há dentro das vossas malas
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17:44 - 17:46e porque é que puseram isso lá.
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17:46 - 17:48Extrovertidos,
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17:48 - 17:50talvez a vossa mala também esteja cheia de livros.
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17:50 - 17:52Ou cheia de copos de champanhe
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17:52 - 17:55ou equipamento de paraquedismo.
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17:55 - 17:59O que quer que seja, espero que tirem essas coisas para fora sempre que possam
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17:59 - 18:02e nos agraciem com a vossa energia e alegria.
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18:02 - 18:05Mas introvertidos, vocês sendo vocês mesmos,
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18:05 - 18:07provavelmente têm o impulso de guardar muito bem
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18:07 - 18:09o que têm dentro da vossa mala.
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18:09 - 18:11E isso está bem.
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18:11 - 18:13Mas ocasionalmente, só ocasionalmente,
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18:13 - 18:16espero que abram a vossa mala para as outras pessoas verem,
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18:16 - 18:19porque o mundo precisa de vocês e das coisas que carregam.
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18:21 - 18:23Desejo-vos a melhor de todas as jornadas possíveis
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18:23 - 18:26e a coragem para falar baixinho.
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18:26 - 18:28Muito obrigada.
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18:28 - 18:32(Aplausos)
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18:32 - 18:35Obrigada. Obrigada.
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18:35 - 18:42(Aplausos)
- Title:
- Susan Cain: O poder dos introvertidos
- Speaker:
- Susan Cain
- Description:
-
Numa cultura em que ser social e extrovertido são valorizados acima de tudo, pode ser difícil, até embaraçoso, ser introvertido. Mas, como Susan Cain defende nesta conversa entusiasta, os introvertidos trazem talentos e habilidades extraordinários ao mundo, e devem ser encorajados e reconhecidos.
- Video Language:
- English
- Team:
closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 18:43