Meriem Bennani: em Entre Idiomas | Art21 "New York Close Up"
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0:09 - 0:13Estamos em vias de instalar
"Festa no CAPS". -
0:14 - 0:16Esta parede curva
com três partes distintas -
0:16 - 0:18vai ser montada numa só,
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0:18 - 0:19pintada
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0:19 - 0:20e por fim instalada.
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0:20 - 0:23Vai ser um ecrã.
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0:28 - 0:29Tenho estes parâmetros
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0:29 - 0:31como o som,
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0:31 - 0:34a edição e a animação.
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0:34 - 0:37Está tudo concebido para o filme.
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0:39 - 0:41Depois acrescento o espaço,
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0:41 - 0:42quantos ecrãs,
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0:42 - 0:43a escala.
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0:44 - 0:46Tudo se vai organizando
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0:46 - 0:48e depois o toque final é:
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0:48 - 0:52o vídeo por fim aparece
nas superfícies que construímos para ele. -
0:55 - 0:58O problema é que as coisas
nunca estão bem niveladas. -
0:58 - 1:01Esta é a altura
em que eu edito o meu filme, -
1:01 - 1:04mas usando o espaço em vez do tempo.
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1:04 - 1:07Vejo cena a cena
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1:07 - 1:11e, para cada cena,
decido o que vocês veem e onde. -
1:12 - 1:13Posso fazer cortes,
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1:13 - 1:16mas também posso mostrar
qualquer coisa em locais diferentes. -
1:16 - 1:19Isso tem um efeito em como
vocês assistem ao filme. -
1:20 - 1:23[Meriem Bennani; Entre Idiomas]
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1:29 - 1:33As esculturas começaram a ocorrer
já com os filmes em mente. -
1:34 - 1:38Eu nunca fiz uma escultura
que não se destinasse a um filme. -
1:40 - 1:42Metemos-lhe coisas
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1:42 - 1:46que são características
de outra forma de pensar. -
1:47 - 1:48[Ação!]
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1:51 - 1:54Aprendemos qualquer coisa
com a animação -
1:54 - 1:56que tem a ver com o humor.
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2:02 - 2:05Depois podemos fazer
esculturas engraçadas. -
2:07 - 2:10Eu tenho a versão final do vídeo
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2:10 - 2:12— que é o que vamos ver como um filme —
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2:15 - 2:17e depois as esculturas,
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2:17 - 2:20provêm de um mundo digital
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2:20 - 2:22que eu imagino.
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2:24 - 2:26Depois são fabricadas.
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2:26 - 2:30Todos elas provêm de locais opostos
e encontram-se no meio. -
2:33 - 2:35(Campainha da escola)
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2:36 - 2:39Fui para o secundário
em Rabat, Marrocos, -
2:41 - 2:44e filmei um grupo de adolescentes.
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2:52 - 2:54O tema de "Mission Teens"
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2:54 - 2:57é a cultura de língua francesa
em Marrocos. -
2:58 - 3:00- Eu vivo no sistema francês
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3:00 - 3:03desde... basicamente desde o infantário.
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3:03 - 3:05Meriem Bennanni:
A maior ferramenta -
3:05 - 3:07para a forma de os franceses
manterem o poder -
3:07 - 3:08é a educação.
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3:08 - 3:12- Ter os filhos na Missão é...
é um prestígio! -
3:12 - 3:14MB: O filme não é sobre a forma
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3:14 - 3:16como o francês
não é um idioma marroquino -
3:16 - 3:18mas é sobretudo sobre
porque é que o francês é político -
3:18 - 3:21e também uma ferramenta de poder.
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3:21 - 3:24Professora: Assim, a definição
de Terceiro Mundo -
3:24 - 3:26é uma coisa que vocês
precisam de dominar! -
3:27 - 3:29Meriem Bennani:
Eu tive uma educação francesa. -
3:29 - 3:31Aprendi História de França,
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3:31 - 3:33geografia da França.
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3:33 - 3:34A minha forma de pensar
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3:34 - 3:37é a forma que desenvolvi
de poder ser crítica, -
3:37 - 3:40todas essas coisas são produtos
completos da escola francesa. -
3:40 - 3:42Eu tive de me emancipar disso
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3:42 - 3:44para conseguir falar sobre isso.
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3:44 - 3:46- A missão francesa
é não nos focarmos muito -
3:46 - 3:49no país em que vivemos.
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3:49 - 3:51Saber que, mesmo sendo
uma escola francesa -
3:51 - 3:54estamos em Marrocos e eu gostaria
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3:54 - 4:00que se focassem mais em Marrocos
e no Islão e nessas coisas todas. -
4:03 - 4:06♪ Sou uma casa elegante em Rabat...
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4:06 - 4:08MB: Também filmei casas
dos bairros vizinhos -
4:08 - 4:11onde vive a maioria das pessoas
que frequentam a escola francesa. -
4:12 - 4:14♪ ... Arranjaram-me uma porta dourada.
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4:14 - 4:17Sou aquilo que todos admiram.
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4:18 - 4:19MB: Pela arquitetura
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4:19 - 4:22podemos ver qual o estilo de vida
que as pessoas aspiram ter. -
4:23 - 4:24"Mission teens"
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4:24 - 4:26foi exibido pela primeira vez
na Bienal Whitney, -
4:26 - 4:29dentro destas esculturas no terraço.
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4:29 - 4:32Chamei-lhes "estações de visualização".
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4:32 - 4:34♪ ... palmeiras.
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4:34 - 4:36... chão de mármore.
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4:38 - 4:40MB: Quando carregamos no botão,
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4:40 - 4:42rouba o vídeo do outro lado.
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4:43 - 4:46A outra pessoa do outro lado
também carrega no botão. -
4:46 - 4:48Tudo se resume a ter de coexistir.
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4:53 - 4:55Os temas que escolho para o meu trabalho.
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4:55 - 4:57Não faço uma escolha consciente de ser
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4:57 - 4:59tipo "quero falar do pós-colonização".
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4:59 - 5:01Tento seguir
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5:01 - 5:05o que me atrai, espontaneamente.
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5:23 - 5:25Em "Party on the CAPS".
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5:26 - 5:30imaginei um mundo onde
o teletransporte é possível -
5:30 - 5:33- Lembram-se quando o teletransporte
substituiu os aviões? -
5:34 - 5:37MB: É como pensar na imigração no futuro.
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5:37 - 5:39- Não podem entrar.
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5:39 - 5:41- Não podem entrar.
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5:42 - 5:44MB: A Europa e a América
iam entrar em pânico -
5:44 - 5:46por causa das fronteiras
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5:46 - 5:47se o teletransporte fosse possível.
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5:52 - 5:55- Calculo que ainda estão confusos.
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5:55 - 5:57Caps é uma ilha
no meio do Atlântico. -
5:57 - 6:00É um local onde os polícias americanos
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6:01 - 6:04— que são uma nova versão
da polícia de imigração e fronteiras — -
6:04 - 6:06colocaram as pessoas
que foram intercetadas -
6:06 - 6:09a tentarem teletransportar-se
de África para os EUA. -
6:09 - 6:12Depois, o local passou a ser
um local de propriedade deles. -
6:15 - 6:17Toda a ilha de Caps
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6:17 - 6:20é uma analogia física
para a ideia da diáspora -
6:21 - 6:24— como as pessoas pensam na diáspora
quer tendo assimilado totalmente -
6:24 - 6:27quer regressando à terra de origem.
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6:27 - 6:29Mas há uma terceira alternativa
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6:29 - 6:31que se situa no meio.
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6:32 - 6:36Podemos fazer o ponto de partida
onde estão as lentes? -
6:38 - 6:41Vejam, o ecrã deve ficar aqui.
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6:42 - 6:45Normalmente, quando
uma coisa me interessa, -
6:45 - 6:48a princípio não consigo clarificar
porque é que estou interessada nela. -
6:48 - 6:51Esse esforço para exprimir esse interesse,
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6:51 - 6:53é essa a obra.
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6:53 - 6:56Não consegui exprimir-me
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6:56 - 6:59nem expressar-me com palavras
tão bem como gostaria. -
6:59 - 7:02Penso que isso tem a ver
com o facto de estar aqui há 10 anos -
7:02 - 7:05e ter o inglês como segundo idioma,
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7:05 - 7:08e sentir que estou a perder um pouco
do meu primeiro idioma, -
7:08 - 7:10o que é um sentimento muito estranho.
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7:10 - 7:13Sempre estive entre idiomas.
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7:13 - 7:18Descobri que desenvolver esta prática
que vem de idiomas tão diferentes, -
7:18 - 7:19— a TV,
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7:19 - 7:20o cinema,
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7:20 - 7:22a escultura e as instalações —
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7:22 - 7:27misturando tudo, permitiu-me
conseguir a nota certa -
7:27 - 7:29à minha moda.
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7:31 - 7:33Tradução de Margarida Ferreira.
- Title:
- Meriem Bennani: em Entre Idiomas | Art21 "New York Close Up"
- Description:
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E se um idioma não for suficiente?
A trabalhar na instalação da sua exposição na Galeria Clearing em Brooklyn, a artista Meriem Bennani relata um recente conjunto de ambiciosas obras em vídeo, revelando a sua mistura pessoal, humorística e política de animação digital, cenas documentais e escultura interativa. Inicialmente de Marrocos, Bennani, que reside na cidade de Nova Iorque, explica como “estar aqui durante 10 anos e ter o inglês como segundo idioma, e sentindo que estou a perder um pouco do meu primeiro idioma… descobri que desenvolver esta prática que vem de idiomas tão diferentes, da TV, do cinema, da escultura e das instalações, misturando tudo permitiu-me conseguir a nota certa, à minha moda.”
Para a sua obra para a Bienal Whitney 2019, “Mission Teens” (2019), Bennani filmou um grupo de adolescentes que falam francês na sua antiga escola secundária em Rabat, Marrocos, assim como as grandes casas da classe média e alta de Rabat. Bennani por sua vez complica habilidosamente a polícia pós-colonial da sua obra colocando os filmes numa série de “estações de visualização”, esculturas absurdas e exóticas como um oásis com palmeiras no terraço exterior de Whitney. O espetador não só é forçado a sentar-se e espreitar para dentro das esculturas como tem de coexistir e cooperar com outros espetadores para ver os filmes.
Voltando à galeria Clearing, a instalação de vídeos de oito canais, “Party on the Caps” (2018-2019) imagina um futuro fictício em que os imigrantes estão isolados numa ilha no meio do Oceano Atlântico e começam novas sociedades híbridas. Tal como a sua obra divertidamente misturada, “toda a ilha de Cap é uma analogia física para a ideia de diáspora, como as pessoas pensam nas diásporas quer tendo de assimilar totalmente ou regressado à terra de origem”, diz Bennani. “Mas há uma terceira alternativa que se situa no meio.”
Meriem Bennani (n. 1988, Rabat, Marrocos) vive e trabalha em Nova Iorque.
Saibam mais sobre a artista em: https://art21.org/artist/meriem-bennani/ - Video Language:
- English
- Team:
Art21
- Project:
- "New York Close Up" series
- Duration:
- 07:48
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Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Meriem Bennani: In Between Languages | Art21 "New York Close Up" | |
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Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Meriem Bennani: In Between Languages | Art21 "New York Close Up" |