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Doces são os frutos da adversidade | Karla Souza | TEDxCalzadaDeLosHéroes

  • 0:22 - 0:26
    Em vez de me dizer:
    "Karla, tens de fazer assim,
  • 0:26 - 0:30
    "não podes fazer assado,
    isto está certo, isto está errado",
  • 0:30 - 0:33
    o meu pai prefere contar-me histórias.
  • 0:33 - 0:37
    As histórias dele
    refletem as minhas decisões
  • 0:37 - 0:40
    muito mais do que ele imagina.
  • 0:40 - 0:43
    Dou-vos um exemplo:
    quando eu tinha dez anos,
  • 0:43 - 0:47
    o meu pai viveu uma das situações
    mais aterrorizantes que possam imaginar.
  • 0:47 - 0:50
    Ao voltar de um jantar de família,
    em Cuernavaca,
  • 0:50 - 0:55
    depara-se com uma das amas
    a flutuar de cabeça para baixo na piscina.
  • 0:56 - 1:01
    O meu pai atira-se imediatamente à água,
    tira a jovem da piscina
  • 1:01 - 1:06
    e faz tudo para reanimá-la, em vão.
  • 1:06 - 1:09
    Eu só soube do que aconteceu
    uns anos mais tarde,
  • 1:09 - 1:14
    mas o meu pai conta-me que, nessa noite,
    deitado na cama sem conseguir dormir,
  • 1:15 - 1:19
    a única coisa que via era a imagem
    da pobre rapariga a flutuar na piscina.
  • 1:19 - 1:21
    Então, decide levantar-se,
    voltar à piscina,
  • 1:21 - 1:26
    sentar-se numa cadeira,
    olhando fixamente para a piscina,
  • 1:26 - 1:28
    encarando o trauma de frente.
  • 1:29 - 1:31
    Desconfortável.
  • 1:31 - 1:35
    As imagens vinham-lhe à cabeça,
    o corpo, o cabelo molhado,
  • 1:35 - 1:39
    a família e a morte, a culpa,
    os "e se" a percorrer-lhe a mente.
  • 1:39 - 1:40
    Porque fomos jantar?
  • 1:40 - 1:43
    Porque foi nadar sozinha,
    se não sabia nadar?
  • 1:43 - 1:45
    Como? Porquê? E se?
  • 1:47 - 1:50
    Continua a confrontar-se,
    sentado na cadeira,
  • 1:50 - 1:54
    sem desistir,
    enquanto não vencer os pensamentos.
  • 1:55 - 1:58
    Sete horas depois,
    começa a nascer o sol
  • 1:58 - 2:01
    e o meu pai
    tenta recordar outros momentos;
  • 2:01 - 2:04
    momentos felizes
    que também passáramos naquela piscina.
  • 2:04 - 2:07
    Férias, brincadeiras, gargalhadas.
  • 2:07 - 2:13
    Pouco a pouco, aquela imagem ou trauma
    perde o controlo sobre o meu pai.
  • 2:14 - 2:18
    Nos momentos em que eu mais quero correr,
  • 2:18 - 2:21
    fugir, escapar,
    lembro-me desta história.
  • 2:21 - 2:26
    As histórias dele convidam-me
    a lançar-me ao desconhecido,
  • 2:26 - 2:28
    ao que mais me assusta.
  • 2:28 - 2:31
    E, hoje, é esse o caso.
  • 2:31 - 2:35
    Quando me convidaram
    para ser oradora na TED,
  • 2:35 - 2:39
    a minha primeira reação foi:
    "Nem morta!"
  • 2:39 - 2:43
    Não, convidem-me
    para fazer qualquer papel,
  • 2:43 - 2:46
    uma alcoólica,
    uma cantora desafinada,
  • 2:46 - 2:50
    uma pedante, uma maluca,
    uma criminosa.
  • 2:51 - 2:56
    Uma estudante de Direito assassina,
    o que quiserem, que aceito de bom grado.
  • 2:56 - 2:59
    Até me podem pedir que faça de atriz.
  • 2:59 - 3:02
    Que pose em frente
    às câmaras de Hollywood,
  • 3:02 - 3:05
    gente por todo o lado,
    as estrelas de Hollywood,
  • 3:06 - 3:08
    com saltos altos desconfortáveis
    e muita maquilhagem.
  • 3:08 - 3:12
    Sorrio e respondo às perguntas indiscretas
    que gostam de fazer.
  • 3:13 - 3:15
    Peçam-mo,
    que tenho todo o gosto em fazê-lo.
  • 3:15 - 3:17
    Mas pedir-me que seja eu mesma,
  • 3:17 - 3:22
    tirar as máscaras das personagens
    atrás das quais me escondo,
  • 3:22 - 3:26
    subir a este palco
    e expor-me honestamente convosco,
  • 3:26 - 3:30
    dá-me voltas à barriga,
    insónias e muita vontade de dizer:
  • 3:30 - 3:32
    "Não, desculpem,
    estou com a agenda cheia."
  • 3:32 - 3:34
    (Risos)
  • 3:34 - 3:37
    Espero que o meu pai
    esteja orgulhoso por eu estar aqui.
  • 3:37 - 3:40
    As histórias dele são o meu legado.
  • 3:40 - 3:44
    E são o que me move
    na direção menos confortável.
  • 3:44 - 3:47
    Na nossa sociedade, tentamos evitar,
    a todo o custo,
  • 3:47 - 3:50
    esses momentos desconfortáveis,
    esses momentos difíceis.
  • 3:50 - 3:53
    A nossa sociedade vende-nos ideias.
  • 3:53 - 3:57
    Ideias que, na minha opinião,
    são mentiras muito bem disfarçadas.
  • 3:57 - 3:59
    Desde as mais simples, como:
  • 3:59 - 4:02
    "Perca 15 Kg
    sem exercício em dieta em dois dias."
  • 4:02 - 4:04
    (Risos)
  • 4:04 - 4:07
    "Aprenda uma língua
    em apenas duas semanas."
  • 4:08 - 4:11
    Ou os subtis filtros
    que aplicamos às fotografias
  • 4:11 - 4:17
    que publicamos nas redes sociais;
    versões perfeitas e irreais de quem somos.
  • 4:18 - 4:20
    Asfixiam-nos
  • 4:20 - 4:23
    quando tentamos manter essa imagem
    ou esse padrão.
  • 4:24 - 4:27
    O que me dizem das vidas
    de Rafa Márquez,
  • 4:27 - 4:30
    Rodolfo Neri, Iñárritu
    ou Frida Kahlo?
  • 4:30 - 4:33
    São vistos como seres sobredotados
  • 4:34 - 4:39
    e que obtiveram sucesso
    devido apenas ao seu talento
  • 4:38 - 4:43
    e não pelas horas infindas de experiência,
  • 4:43 - 4:45
    trabalho e fracasso diário.
  • 4:46 - 4:48
    O pior é que acreditamos nessas mentiras.
  • 4:48 - 4:51
    Não imaginam as vezes
    que alguém me diz:
  • 4:51 - 4:53
    "Karla, como faço
    para conquistar os meus sonhos?
  • 4:53 - 4:54
    "Quero ser atriz.
  • 4:54 - 4:57
    "A minha mãe e a minha tia
    dizem-me que tenho um jeitaço."
  • 4:57 - 4:59
    (Risos)
  • 5:00 - 5:04
    E quando lhes pergunto:
    "E que cadeiras ou curso estás a tirar?"
  • 5:05 - 5:09
    "Bom, ainda não comecei,
    mas a minha mãe e a minha tia
  • 5:09 - 5:13
    "dizem-me que já estou pronta
    para começar a representar."
  • 5:14 - 5:15
    Mentira.
  • 5:15 - 5:18
    Tenho um vídeo de quando tinha 12 anos,
  • 5:18 - 5:20
    a contracenar num projeto da escola,
  • 5:20 - 5:23
    para que percebam
    que a minha vontade de ser atriz
  • 5:23 - 5:25
    não era suficiente para o fazer.
  • 5:28 - 5:30
    (Vídeo)
  • 5:41 - 5:43
    (Risos)
  • 5:45 - 5:48
    Veem como era importante estudar,
    horas e horas?
  • 5:50 - 5:53
    Continuo a ter aulas de representação.
  • 5:53 - 5:55
    Um dos meus autores preferidos,
  • 5:55 - 5:59
    Malcolm Gladwell prova esta teoria,
    no seu livro "Outliers".
  • 5:59 - 6:02
    Pega em casos de intelectuais e génios,
  • 6:02 - 6:06
    que, normalmente, pensamos
    que nasceram assim, sobredotados,
  • 6:06 - 6:09
    e calcula que, na realidade,
    tiveram mais de 10 mil horas
  • 6:09 - 6:12
    de experiência e estudo na sua área
  • 6:12 - 6:16
    antes de serem
    chamados de génios ou peritos.
  • 6:17 - 6:21
    Eu pratiquei ginástica olímpica
    durante 8 anos.
  • 6:22 - 6:25
    Treinava 5 horas por dia,
    de segunda a sábado,
  • 6:25 - 6:29
    com feridas nas mãos,
    sujando as barras de sangue.
  • 6:29 - 6:33
    Tinha de continuar a esforçar-me,
    pois sabia que tinha de o fazer
  • 6:33 - 6:35
    para continuar na equipa.
  • 6:35 - 6:38
    Levantava-me às 5 horas da manhã
  • 6:38 - 6:40
    para ir treinar,
    antes de começarem as aulas,
  • 6:40 - 6:44
    sacrificando viagens,
    festas, namoricos.
  • 6:46 - 6:49
    Esses 8 anos ensinaram-me
    que a medalha de ouro
  • 6:49 - 6:52
    não se ganha por acaso.
  • 6:52 - 6:56
    O músculo tem de se rasgar
    para crescer.
  • 6:56 - 7:00
    O músculo tem de se rasgar
  • 7:00 - 7:02
    para poder crescer.
  • 7:02 - 7:06
    Percebo a ciência por detrás disto,
    mas porque é que, ainda assim,
  • 7:06 - 7:10
    protesto contra os momentos
    em que a adversidade me bate à porta?
  • 7:10 - 7:13
    Imaginem,
    é o meu primeiro dia
  • 7:14 - 7:16
    na escola de atores de Londres.
  • 7:16 - 7:21
    Apresentam-se 5000 miúdos
    e só aceitam 15 mulheres e 15 homens.
  • 7:21 - 7:24
    Como podem imaginar,
    sinto-me bastante especial.
  • 7:26 - 7:30
    Nesse dia, chega um dos professores
    mais reverenciados, que nos diz:
  • 7:30 - 7:33
    "Daqui a 5 anos,
    só 3 dos 30 que aqui estão
  • 7:33 - 7:36
    "vão ter trabalho nesta área."
  • 7:38 - 7:42
    Penso: "Como 10%,
    se todos temos talento?
  • 7:42 - 7:44
    "Não pode ser assim tão difícil."
  • 7:45 - 7:48
    Com o passar dos meses,
    seis desistiram no primeiro ano,
  • 7:48 - 7:52
    alguns mudaram de profissão,
    de curso,
  • 7:52 - 7:56
    outros perdemo-los
    por crises emocionais e psicológicas
  • 7:56 - 8:01
    e um amigo meu, Robin,
    um dos atores mais talentosos da escola,
  • 8:03 - 8:05
    suicidou-se.
  • 8:07 - 8:09
    É difícil.
  • 8:09 - 8:14
    Qualquer carreira que queiram seguir
    é e vai ser difícil.
  • 8:15 - 8:19
    Então, onde está a vossa força?
  • 8:20 - 8:22
    O que vos fará aguentar a pressão
    nos momentos mais escuros,
  • 8:22 - 8:25
    mais difíceis com que se vão deparar?
  • 8:25 - 8:29
    Como diria a advogada da série
    "Como Defender um Assassino":
  • 8:29 - 8:31
    Qual é o vosso motivo?
  • 8:31 - 8:34
    Não vos julgo,
    se o vosso motivo é serem milionários,
  • 8:34 - 8:36
    se é serem famosos,
  • 8:36 - 8:39
    fazer com que a vossa "ex"
    se arrependa por vos ter deixado...
  • 8:39 - 8:41
    (Risos)
  • 8:42 - 8:44
    ...tudo bem.
  • 8:44 - 8:48
    Só acho que esse motivo
    deve estar tão enraizado no vosso ser,
  • 8:48 - 8:50
    tão impregnado na vossa pele,
  • 8:50 - 8:54
    que independentemente do tumulto,
    da rejeição, da crítica que recebam,
  • 8:54 - 8:57
    esse motivo fará
    com que se levantem e continuem a tentar.
  • 8:57 - 9:00
    "Karla, desculpa, queremos alguém
    mais famoso para este papel."
  • 9:00 - 9:01
    Levanta-te, Karla.
  • 9:01 - 9:04
    "Karla, queremos alguém
    menos famoso para este papel."
  • 9:04 - 9:07
    "Mais latina, menos latina,
    mais magra, menos magra."
  • 9:07 - 9:09
    Vamos, Karla, continua.
  • 9:10 - 9:13
    A quantidade de "nãos", rejeições
    e críticas que recebo diariamente
  • 9:13 - 9:16
    vão desde comentários
    de produtores como estes
  • 9:16 - 9:20
    a comentários no Twitter como:
  • 9:20 - 9:22
    "Não gostei da tua atuação."
  • 9:23 - 9:26
    Ou "Estás bonita,
    mas estás meia vesga".
  • 9:27 - 9:28
    (Risos)
  • 9:29 - 9:31
    "Perninhas de alicate."
  • 9:31 - 9:35
    Ou comentários de familiares e amigos:
  • 9:34 - 9:37
    "Karla, porque vais para Hollywood?
  • 9:37 - 9:40
    "Estás maluca, esquece isso.
    Nunca vais conseguir."
  • 9:46 - 9:47
    Onde ia?
  • 9:49 - 9:50
    Um dia,
  • 9:51 - 9:55
    recebo notificação de um "casting",
    para um filme chamado "El Jesuita",
  • 9:55 - 10:00
    escrito pelo mesmo argumentista
    de "Taxi Driver", "O Touro Enraivecido",
  • 10:00 - 10:01
    Paul Schrader.
  • 10:01 - 10:03
    Estão à procura de uma atriz
    da minha idade.
  • 10:03 - 10:06
    Quando ligo à senhora do "casting":
  • 10:06 - 10:10
    "Karla, desculpa. Os produtores
    estão à procura de alguém que consiga...
  • 10:10 - 10:15
    "Os produtores acham que não és
    a pessoa indicada para este papel."
  • 10:14 - 10:17
    Eu conhecia um dos produtores,
    por isso, liguei-lhe:
  • 10:17 - 10:23
    "Karla, queremos alguém que consiga
    interpretar uma texana bruta e racista."
  • 10:24 - 10:27
    "Perfeito! Eu posso fazer isso."
  • 10:27 - 10:29
    "Claro, Karlita,
  • 10:29 - 10:32
    "a questão é que o realizador
    acha que és demasiado bonita,
  • 10:32 - 10:34
    "demasiado delicada.
  • 10:34 - 10:37
    "Estamos à procura de alguém
    com ar de drogada."
  • 10:37 - 10:38
    E desliga.
  • 10:38 - 10:42
    Sinto-me irritada e frustrada,
    porque só queria ter a oportunidade
  • 10:42 - 10:44
    de fazer a audição,
    mas nem isso me deram.
  • 10:44 - 10:47
    Por isso, consigo o guião,
  • 10:47 - 10:48
    decoro uma cena.
  • 10:48 - 10:52
    Peço aos meus amigos maquilhadores
    que me ajudem a pôr-me menos "delicada".
  • 10:53 - 10:55
    Alugo uma câmara, umas luzes
  • 10:55 - 10:58
    e, no dia seguinte,
    envio isto ao produtor.
  • 11:00 - 11:02
    (Vídeo)
  • 11:30 - 11:34
    Passaram duas semanas
    e não recebi nenhuma resposta.
  • 11:34 - 11:38
    De repente, recebo um telefonema
    e é o produtor com o realizador:
  • 11:39 - 11:41
    "Karla, damos-te o papel."
  • 11:42 - 11:44
    (Risos)
  • 11:46 - 11:49
    Fazemos as filmagens,
    mas, vá-se lá saber,
  • 11:49 - 11:53
    o filme não estreou,
    nem sei se vai estrear.
  • 11:54 - 11:58
    Espero que sim, mas às vezes
    sentimos que o esforço não valeu de nada.
  • 11:58 - 12:01
    Mas ninguém me tira esta experiência.
  • 12:01 - 12:03
    Além disso,
    juntei-a às minhas 10 mil horas.
  • 12:03 - 12:07
    O sucesso é a capacidade
    de passar de fracasso a fracasso
  • 12:07 - 12:11
    com entusiasmo,
    como disse, e bem, Churchill.
  • 12:11 - 12:15
    E eu creio que um bom motivo
    pode ajudar-nos a fazer isso.
  • 12:15 - 12:20
    Contudo, o meu motivo
    não foi sempre o mesmo.
  • 12:19 - 12:22
    Mudou há 8 anos,
    drasticamente.
  • 12:23 - 12:27
    Estava no final do meu primeiro ano
    dos 3 anos na escola de Londres,
  • 12:28 - 12:32
    e, um dia, sem razão aparente,
    deixo de falar.
  • 12:33 - 12:36
    Durante três meses,
    não consigo falar.
  • 12:36 - 12:38
    Durante três meses,
    não consigo pronunciar
  • 12:38 - 12:41
    nem uma miserável frase.
  • 12:41 - 12:44
    Nem os médicos
    nem os eletroencefalogramas
  • 12:44 - 12:47
    me puderam explicar
    o que realmente aconteceu.
  • 12:48 - 12:51
    O que vos posso dizer é que tive
    um momento de tanta frustração
  • 12:51 - 12:55
    e tanto desespero,
    que cheguei a querer suicidar-me.
  • 12:55 - 12:59
    Então, procuro dentro de mim
    a força que acreditava que tinha,
  • 12:59 - 13:02
    procuro a ajuda da minha família,
    dos meus amigos,
  • 13:02 - 13:06
    a minha fé em Deus
    e não encontro nada.
  • 13:06 - 13:08
    Não há cura, não há saída.
  • 13:08 - 13:13
    O meu motivo, a minha força
    começa a desvanecer e acaba.
  • 13:14 - 13:18
    Contudo, o inferno onde me encontro
  • 13:18 - 13:23
    torna-se um pouco mais leve,
    quando começo a ver a minha dor.
  • 13:24 - 13:29
    O mesmo tipo de dor refletido
    nas obras de arte de outras pessoas.
  • 13:30 - 13:33
    Em obras de teatro, em filmes,
  • 13:36 - 13:38
    em quadros.
  • 13:40 - 13:43
    Pouco a pouco,
    começo a ver a minha dor
  • 13:43 - 13:45
    e a lê-la em poemas.
  • 13:46 - 13:48
    As palavras dos poetas
    e das personagens
  • 13:48 - 13:50
    começam a preencher o meu silêncio.
  • 13:50 - 13:54
    Passam a ser a única forma
    de expressar as minhas emoções.
  • 13:55 - 13:58
    Leio a minha dor
    nos poemas de Sylvia Plath:
  • 13:59 - 14:05
    "Prostro-me diante de ti, entorpecida
    como um fóssil, diz-me que estou aqui."
  • 14:06 - 14:09
    Identifico-me
    com a problematização constante da vida
  • 14:09 - 14:12
    nos livros de Jack Kerouac;
    vejo os quadros de Frida Kahlo
  • 14:12 - 14:17
    e, pela primeira vez, consigo sentir
    o sofrimento dos seus autorretratos.
  • 14:17 - 14:20
    A arte transforma-se em algo vivo.
  • 14:20 - 14:24
    Durante esses três meses de silêncio,
  • 14:23 - 14:25
    de prisão e angústia,
  • 14:25 - 14:29
    apaixonei-me inexplicável
    e totalmente pela arte.
  • 14:29 - 14:33
    O sofrimento atingiu-me
    como um prego no coração de Deus.
  • 14:34 - 14:36
    E entristece-me saber
    que há pessoas que não acreditam
  • 14:36 - 14:40
    que a arte seja digna da nossa atenção
  • 14:40 - 14:42
    e do nosso financiamento.
  • 14:42 - 14:44
    Porque, para mim,
    não é apenas uma paixão,
  • 14:45 - 14:48
    foi o que me salvou a vida,
    o que me manteve viva.
  • 14:48 - 14:53
    Outra prova aconteceu há três anos,
    quando ganhei a lotaria.
  • 14:53 - 14:56
    Apaixonei-me por um homem.
  • 14:56 - 14:59
    Chamemos-lhe Pedro,
    para manter o anonimato.
  • 14:59 - 15:01
    (Risos)
  • 15:02 - 15:06
    Eu queria casar com o Pedro.
    Estava muito apaixonada.
  • 15:06 - 15:11
    Fui descobrindo que a família do Pedro,
    aqui no México, é muito poderosa,
  • 15:11 - 15:14
    tinham imenso dinheiro,
    muito mais do que eu imaginava,
  • 15:14 - 15:17
    muito mais do que conseguiria
    gastar numa vida.
  • 15:17 - 15:20
    Um dia, pedem-me que me sente
    e dizem-me:
  • 15:20 - 15:22
    "Karla, gostamos muito de ti,
  • 15:22 - 15:25
    "queremos que faças parte da família,
    mas só com uma condição:
  • 15:25 - 15:27
    "deixa de ser atriz.
  • 15:28 - 15:32
    "Apoiamos-te no que quiseres,
    em qualquer outra profissão que escolhas,
  • 15:32 - 15:34
    "mas deixa de representar,
    porque se continuares,
  • 15:34 - 15:38
    "não vais conseguir ser
    uma mulher fiel nem uma boa mãe
  • 15:38 - 15:41
    "e nós queremos o melhor para ti."
  • 15:47 - 15:49
    Ardiam-me os olhos.
  • 15:50 - 15:54
    Levanto-me e despeço-me
    do Pedro e da família.
  • 15:54 - 15:57
    Dou meia volta e saio
    sem saber o que fazer da vida,
  • 15:57 - 16:02
    mas certa de que
    o chamamento de Deus na minha vida,
  • 16:02 - 16:05
    os meus sonhos
    e a minha paixão não têm preço.
  • 16:05 - 16:07
    E o meu marido adora esta história.
  • 16:08 - 16:10
    (Risos)
  • 16:10 - 16:13
    Está aqui.
  • 16:13 - 16:15
    Porque vos conto estas histórias?
  • 16:15 - 16:18
    Porque, normalmente, as pessoas
    acham que o sucesso e a fama
  • 16:18 - 16:22
    são algo maravilhoso e fácil de levar.
  • 16:23 - 16:28
    Para mim, estas provas
    geram frutos como o perdão,
  • 16:28 - 16:33
    a perseverança, a disciplina,
    o carácter e a esperança.
  • 16:33 - 16:38
    São o que aguça o meu trabalho
    e o que, com muita paciência,
  • 16:38 - 16:42
    vai afinando o meu ser,
    libertando-me do meu orgulho.
  • 16:42 - 16:46
    Aprendi que os aplausos
    são efémeros
  • 16:46 - 16:49
    e essa fama que procuramos
    tão obsessivamente
  • 16:49 - 16:52
    é uma mera borbulha
    que facilmente se espreme.
  • 16:53 - 16:59
    Não sei a fórmula secreta
    para conquistar sonhos e metas na vida.
  • 17:00 - 17:04
    Aprendo à medida que avanço,
    com a ajuda das histórias do meu pai.
  • 17:04 - 17:06
    Continuo a desafiar-me
    a enfrentar os meus medos,
  • 17:07 - 17:09
    continuo a acrescentar
    às minhas 10 mil horas,
  • 17:09 - 17:12
    para alcançar a excelência
    no meu trabalho
  • 17:12 - 17:15
    e continuo a usar o sofrimento,
  • 17:15 - 17:19
    para que continue a atingir-me
    como um prego no coração de Deus.
  • 17:20 - 17:23
    Algumas ideias e revelações pessoais
    que temos na vida,
  • 17:23 - 17:26
    de alguma forma,
    não podem ser partilhadas,
  • 17:27 - 17:33
    não podem ser explicadas,
    só podem ser contadas, vividas.
  • 17:33 - 17:37
    Contudo, espero que as palavras
    do meu companheiro William Shakespeare
  • 17:38 - 17:41
    possam ecoar
    ao longo do vosso caminho:
  • 17:42 - 17:48
    "Doces são os frutos da adversidade,
    que como o sapo, feio e venenoso,
  • 17:48 - 17:51
    "carrega na cabeça
    uma joia preciosa."
  • 17:51 - 17:53
    A adversidade,
  • 17:54 - 17:55
    muitas vezes,
  • 17:56 - 18:00
    apresenta-se como esse sapo,
    feio e venenoso,
  • 18:01 - 18:03
    mas cada vez que aparece,
  • 18:04 - 18:07
    cada vez que surge o desafio,
    agora que penso nisso,
  • 18:07 - 18:10
    se esgravatar no caminho,
  • 18:10 - 18:12
    encontro uma joia preciosa.
  • 18:13 - 18:14
    Obrigada.
  • 18:14 - 18:17
    (Aplausos)
Title:
Doces são os frutos da adversidade | Karla Souza | TEDxCalzadaDeLosHéroes
Description:

Esta palestra foi feita num evento local TEDx, produzido independentemente das Conferências TED.

Existem estereótipos e paradigmas relativos a certas carreiras e à maneira de alcançar o sucesso. Na sua palestra, a atriz Karla Souza abre a sua alma, dando a sua vida como exemplo, para mostrar como podemos usar a adversidade em nosso benefício.

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Video Language:
Spanish
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
18:34

Portuguese subtitles

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