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[Aki Sasamoto: Um Artista Entra num Bar]
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Tenho um problema de rins.
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O médico proibiu-me de beber álcool
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durante uns três meses.
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Quando os três meses acabaram,
descobri que estava grávida.
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Portanto, não pude beber
durante mais nove meses
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e estava a entrar em parafuso.
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Percebi que tinha de fazer
um projeto para isto
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e tentar preencher este tempo.
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- Pode dar-me uns copos?
- Claro.
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Este aqui faz um som bonito.
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Acho que a minha inspiração
provém da minha vida diária.
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Ninguém sabe
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o que significa "espremer permanente".
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- Pode dar-me um guardanapo?
- Ok.
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Por vezes, vou ao bar
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e arranjo ali uma peça qualquer
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e faço esta peça chamada
"Hora Feliz Errada".
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[Hora Feliz Errada, 2014]
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Toda a premissa da exibição
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era empurrar da prateleira
todas estas garrafas de cerveja.
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Relacionei isso com afastar
todas as pessoas da minha vida romântica.
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Quando esta justaposição
funcionou, para mim,
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percebi que tinha de empurrar cada garrafa
e cada pessoa ao mesmo tempo.
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(Som de garrafas a cair)
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Ficas aqui?
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Desaparece!
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Vai-te embora!
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Tratava-se de solidão e romance
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e de procurar
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uma ferramenta para estoirar isto.
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- Tem um picador de gelo?
- Tenho.
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Quando eu estava na Índia,
estava a fazer uma peça
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e estava a pensar
na minha amiga adolescente
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que perdi para a morte.
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Depois, encontrei um vendedor
de gelo, na rua
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e ele disse-me que a primeira coisa
a fazer, quando alguém morre,
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é encomendar gelo
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para porem o corpo em gelo
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e guardar o corpo no fresco.
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Quando é que "corpo" se torna num objeto?
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À medida que o corpo se decompõe
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e se desfaz...
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O que queres ser, quando morreres?
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Acho que vou ser um copo,
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mas não sei se será transparente
ou totalmente opaco.
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Hoje, quero tentar fazer
um copo de uísque,
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talvez com algumas manchas
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como se esta parte seja
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- Como se tivesse uísque lá dentro?
- Sim, é isso.
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Sim, acho que isto era o interior.
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Vidro, um material muito minucioso.
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Gosto do aspeto do vidro.
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É exatamente aquilo em que
estou interessada no meu estúdio.
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Como controlar o incontrolável.
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O material está sempre a resistir.
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Estão a ver, esta coisa de fazer arte,
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temos de conseguir
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um controlo total.
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antes de aceitarmos o caos que contém.
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Pau, lembra-se de quando
eu fiz aquela prateleira no quarto?
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E estava talhada com perfeição
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com uma dimensão perfeita para aquilo,
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mas acabou por ser
um canto da cozinha.
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E ficava melhor ali.
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Não percebo.
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Temos de fazer um esforço tão grande
para a fazer perfeita.
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Depois, o objeto encontra o seu lugar
e o seu próprio ritmo.
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Espero que o meu filho
venha a ser um artista,
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mas acho que não posso controlar isso.
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Podemos comê-lo de dentro para fora?
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Podemos comê-lo de dentro para fora?
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Sem o partir!
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(Risos)
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[Estranhos Atratores, 2010]
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Só quero entrar lá dentro.
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Oh!
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Porquê os círculos?
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Porquê os círculos?
Porquê os círculos?
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[O passado num tempo futuro, 2019]
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Também fiquei a pensar no vídeo,
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porquê um donute?
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Não sei, não quero referir isso,
é difícil.
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Eu não podia beber, durante aquela época,
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por isso, todo o espetáculo era
sobre não poder beber
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e querer beber álcool
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Isto parece uma coisa alcoólica?
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Não é nada!
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Não acho.
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Tenho de fazer objetos
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de uma forma tão compulsiva,
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e quando está tudo alinhado,
começa a ter a sua própria lógica,
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e deixo de ter controlo sobre ele.
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Para mim, é outra forma
de ser dominada por objetos.
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Eles começam a contar
a sua própria história.
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Ok, Vou ligá-lo.
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Esta é a ventoinha mais fraca,
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por vezes, abranda e até para.
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e, ao fim de cinco minutos,
de repente, começa a girar outra vez.
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Eu gosto disso.
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quando os objetos começam
a ter vida própria.
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que não podemos controlar.
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Depois, de repente, percebo
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que é o que está a acontecer
na minha vida.
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(Choro de bebé)
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Nunca pensei em ser mãe,
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mas agoro sou.
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Quando olho para o copo a girar,
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nem sequer percebo
quando tomei essa decisão.
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Tudo está em movimento constante
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Tudo aquilo que eu julgava controlar,
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tudo aquilo que eu julgava ser,
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muda à minha frente.
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Isso, para mim, é excitante,
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na vida e na escultura.
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Vamos lá a ver. Eu não podia beber,
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eu não podia beber...
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Tradução de Margarida Ferreira