Os conspiradores do bem | Mathieu Baudin | TEDxParis

Esta palestra foi dada num evento TEDx local, produzido independentemente das Conferências TED.

Historiador e futurologista de formação, Mathieu Baudin é diretor do "Instituto dos Futuros Desejáveis", um "Think and Do tank", cuja vocação é reabilitar o longo prazo das decisões do agora, e inspirar o debate público sobre os futuros desejáveis. Cercado de uma equipe de centenas de experts e de artistas, ele organiza e conduz explorações intelectuais, ou "Lab Sessions", para se encontrar e se projetar melhor no mundo de amanhã.

Acreditemos ou não,

aspiremos ou não,

o jovem século 21 vive uma revolução.

Não é sangrenta, como no passado,
libertadora ou opressora,

mas de um sistema que,
incapaz de se projetar para o futuro,

faz uma volta sobre si mesmo.

Acreditemos ou não,

temamos ou não,

em 2030 teremos atravessado
alguns "tipping points".

Limiares críticos que, ultrapassados,
geram a irreversibilidade.

Em 2030, seremos 8,5 bilhões.

Sem lítio para todos os celulares,

sem petróleo para todos os carros e
sem gás suficiente para todas as classes.

Diante disso,

podemos virar os olhos, levantar muros,

ou, então, podemos aproveitar
para reinventar nossas vidas.

Estamos, assim,
na junção entre dois mundos.

Um antigo que mostra por toda parte
os sinais de sua obsolescência,

moldado por uma crença, superada:

um crescimento infinito num mundo finito.

E um mundo que desabrocha plural,
emergente por todos os lados,

mas que ainda não encontrou sua coerência.

Um mundo velho morre,
um novo tarda a aparecer.

E se, como diz o poeta:
"Nesse claro-escuro aparecem monstros",

é também preciso constatar
que os exploradores é que ganham terreno.

Os criadores de cultura, certamente.

Esses criadores de cultura,
revelados por Paul Ray e Sherry Anderson,

que podem representar entre 25 e 30%
da população dos países industrializados.

Agentes de mudança: abertos
à ecologia, aos valores femininos,

à solidariedade, ao compartilhamento,
ao desenvolvimento interno;

e, sobretudo, que não aceitam mais
estar em contradição consigo mesmos.

Apreciadores do TED, sem dúvida.

Marcados pela cultura Y e seus valores:

conectividade, inventividade
e, às vezes, impaciência também.

Mas pioneiros, abertos e benévolos.

desejosos de reabilitar o amanhã,

pois sabem que a última
terra virgem que nos resta,

aqui e agora, para explorar, é o futuro.

Assim são os sonhadores do possível:

futurologistas, militantes do longo prazo
nas decisões do agora,

querem superar a ansiedade generalizada
e trabalham ao lado de artistas

para dar a luz ao amanhã com base
no que ele pode ter de melhor.

Convictos, como diz o pensador:
"O futuro não se prevê, se constrói".

Assim são os quantificadores do imaterial.

Contadores do seu próprio estado,

criam novos indicadores
para novas realidades.

Tentam rentabilizar
os serviços prestados pela natureza.

Sabem dizer quantas pessoas
e pipetas são necessárias

para polinizar cada flor,
no lugar das abelhas,

que até ontem faziam isso,
mas terão desaparecido.

Mas sabem dizer também,
ao calcular o capital imaterial

de uma empresa, qual é
o verdadeiro valor das empresas...

e isso muda bastante a visão das coisas.

Assim são os artesãos do livro.

Aficionados da economia compartilhada,

adoram encontros de "faça você mesmo"

e acreditam em uma inteligência
coletiva global capaz de superar

o sistema piramidal de nossas sociedades,
tão desajustado a esse século.

Demonstram, com uma prática
regular e cotidiana, que um modelo ágil,

em que colaboração supera
a concorrência, é capaz de criar valor.

Assim são os partidários da transição

que, inspirados em técnicas
contra a dependência toxicológica,

livram, atualmente, centenas
de cidades no mundo todo

de sua dependência do petróleo

e demonstram todo dia que, sem petróleo,

é possível inventar uma vida
feliz em comunidade.

Assim é ainda o guia de viagens desviadas:

companheiro de atalhos, pedagogo novo.

Como no TED, crê que a experiência
do conhecimento é mais importante

que a mera soma desses conhecimentos.

Propõe aos viajantes voluntários
do século que chegou

de explorar o desejável,
balizando o caminho com inspirações,

para fazer de uma formação,
uma transformação.

Desavisados, os guias do desvio,

os pró-transição e os artesãos do livro
formam uma confraria.

Uma confraria de conspiradores do bem.

Todos os dias, corajosos, experimentam
ir para além das estruturas,

para além das disciplinas,
para além das grandes corporações.

Como na época dos descobrimentos,

fretam caravelas para
ultrapassar o que já existe.

E, como na época dos descobrimentos,

eles penam para encontrar
um Lourenço, o Magnífico,

para convencer Isabel de Castilha,
a mostrar a mecenas potenciais

que talvez sejam eles
a realidade de amanhã.

Não obstante, eles partem, viajam,

tentam e voltam com o porão
cheio de curiosidades.

E compartilham, tenham eles
falhado ou sucedido.

Otimistas no ataque, combatem
com seu exemplo o pessimismo

e decidiram ir do encantando ao encarnado.

Do "eu quero que mude"
ao "eu sou o agente da mudança",

cuja filosofia "desestressa" todo mundo:
"na pior das hipóteses, vai que dá certo".

Há 10 anos não eram levados a sério.

Ficavam de fora das discussões mundiais
porque eram qualificados de utopistas.

Hoje são convocados
pelas mesmas qualidades,

diante de ilustres assembleias,
e são considerados portadores da inovação.

A primeira boa notícia é
que o olhar do mundo mudou.

A segunda, são vocês que irão anunciar.

Imaginem.

Imaginem em sua realidade,
em seu quotidiano,

em sua experiência do agora:

vocês topam compartilhar seu carro,
seu lanche e suas ideias?

Vocês topam, diariamente,
cada vez mais profundamente,

reinventar suas profissões?

Vocês topam viver melhor com menos?

Se toparem uma dessas três realidades,

peço que se levantem e que fiquem em pé.

(Aplausos)

A boa notícia são vocês.

A boa notícia é que não é
um conto de fadas;

é uma nova revolução.

E longe de estarmos sozinhos,

vocês são a prova de que somos uma legião.

Muito obrigado.

(Aplausos)