Return to Video

Como aprendemos a trabalhar com máquinas inteligentes?

  • 0:01 - 0:03
    São 6:30 da manhã,
  • 0:04 - 0:09
    e Kristen está levando seu paciente
    prostático para a sala de cirurgia.
  • 0:10 - 0:12
    Ela é médica residente,
    uma cirurgiã em treinamento.
  • 0:12 - 0:14
    O trabalho dela é aprender.
  • 0:15 - 0:19
    Hoje ela está ansiosa para fazer
    uma cirurgia que preserva os nervos,
  • 0:19 - 0:23
    uma dissecção extremamente delicada
    que pode preservar as funções eréteis.
  • 0:24 - 0:27
    Isso ficará a cargo do cirurgião,
    no entanto ele ainda não chegou.
  • 0:28 - 0:30
    Ela e a equipe anestesiam o paciente,
  • 0:30 - 0:34
    e ela conduz a incisão inicial
    de 20 cm no baixo ventre.
  • 0:35 - 0:39
    Assim que o corte está pinçado, ela pede
    à enfermeira para chamar o cirurgião.
  • 0:40 - 0:42
    Ele chega, coloca o traje,
  • 0:42 - 0:48
    e a partir daí, as quatro mãos
    estão naquele paciente,
  • 0:49 - 0:52
    ele orientando, mas Kristen
    mostrando o caminho.
  • 0:53 - 0:55
    Quando a próstata está fora,
  • 0:55 - 0:57
    e sim, ele deixou que a Kristen
    preservasse o nervo,
  • 0:57 - 1:01
    ele arranca o traje e começa
    a preencher a papelada.
  • 1:01 - 1:06
    A Kristen fecha o paciente às 8:15,
  • 1:06 - 1:09
    com um residente júnior
    espiando atrás de seu ombro.
  • 1:09 - 1:13
    E ela deixa que ele finalize as suturas.
  • 1:13 - 1:16
    Ela se sente ótima.
  • 1:16 - 1:22
    O paciente ficará bem, e sem dúvida ela é
    uma cirurgiã melhor do que era às 6:30.
  • 1:22 - 1:25
    Bem, esse é um exemplo extremo.
  • 1:25 - 1:28
    Mas a Kristen está aprendendo
    a fazer seu trabalho
  • 1:28 - 1:31
    da forma que a maioria de nós aprende:
    observando um perito por um tempo,
  • 1:31 - 1:35
    envolvendo-se nas partes
    fáceis e seguras do trabalho
  • 1:35 - 1:37
    e evoluindo para tarefas
    mais arriscadas e difíceis
  • 1:37 - 1:40
    enquanto a orientam,
    até que decidam que ela está pronta.
  • 1:40 - 1:43
    Por toda a minha vida, esse tipo
    de aprendizado tem me fascinado.
  • 1:43 - 1:47
    Parece natural, parte
    do que nos faz humanos.
  • 1:48 - 1:53
    Tem diferentes nomes: estágio, coaching,
    mentoria, treinamento na prática...
  • 1:53 - 1:57
    Na cirurgia, chamamos de "veja
    uma, faça uma, ensine uma".
  • 1:57 - 2:01
    Mas o processo é igual, e tem sido
    o principal caminho para a habilidade
  • 2:01 - 2:04
    através do mundo durante milhares de anos.
  • 2:04 - 2:10
    No momento, estamos lidando com a IA
    de uma forma que bloqueia esse caminho.
  • 2:10 - 2:13
    Estamos sacrificando o aprendizado
    em nossa busca por produtividade.
  • 2:13 - 2:16
    Descobri isso a primeira vez na cirurgia
    quando eu estava no MIT,
  • 2:16 - 2:19
    mas agora há evidências
    de que está ocorrendo por toda a parte,
  • 2:19 - 2:23
    em muitas atividades diferentes
    e com diversos tipos de IA.
  • 2:23 - 2:26
    Se não fizermos nada a respeito disso,
  • 2:26 - 2:29
    milhões de nós vamos bater contra um muro
  • 2:29 - 2:32
    enquanto tentamos aprender
    como lidar com a IA.
  • 2:33 - 2:36
    Vamos voltar para a cirurgia
    para entender como.
  • 2:36 - 2:38
    Vamos avançar seis meses.
  • 2:38 - 2:43
    São 6:30 de novo, e a Kristen está
    levando outro paciente prostático,
  • 2:43 - 2:47
    mas desta vez para uma sala
    de cirurgia robótica.
  • 2:48 - 2:51
    O cirurgião conduz o procedimento,
    fixando um robô de quatro braços
  • 2:51 - 2:53
    e 450 kg no paciente.
  • 2:53 - 2:59
    Ambos tiram os trajes e vão até o painel
    de controle a quatro metros de distância,
  • 2:59 - 3:03
    e a Kristen apenas observa.
  • 3:04 - 3:09
    O robô permite que o cirurgião faça todo
    o procedimento sozinho, e é o que ele faz.
  • 3:10 - 3:12
    Ele sabe que ela precisa de prática.
  • 3:12 - 3:14
    Ele quer dar o controle a ela.
  • 3:14 - 3:17
    Mas ele também sabe
    que ela será mais lenta,
  • 3:17 - 3:20
    e cometerá mais erros, e o paciente
    vem em primeiro lugar.
  • 3:20 - 3:25
    Kristen não tem esperança de chegar perto
    daqueles nervos durante esse turno.
  • 3:25 - 3:30
    Terá sorte se operar mais que 15 minutos
    durante um procedimento de quatro horas.
  • 3:30 - 3:33
    E ela sabe que quando cometer um erro,
  • 3:33 - 3:37
    ele irá tocar numa tela e ela
    estará assistindo novamente,
  • 3:37 - 3:41
    se sentindo como uma criança
    no canto da sala com orelhas de burro.
  • 3:41 - 3:45
    Como todos os estudos sobre robôs
    e trabalhos que fiz em oito anos,
  • 3:45 - 3:48
    este começou com uma grande
    questão em aberto:
  • 3:48 - 3:51
    "Como aprendemos a trabalhar
    com máquinas inteligentes?"
  • 3:51 - 3:57
    Para descobrir, passei dois anos e meio
    observando vários residentes e cirurgiões
  • 3:57 - 4:01
    em cirurgias tradicionais e robóticas,
    entrevistando-os e, de modo geral,
  • 4:01 - 4:04
    passando o tempo com os residentes
    enquanto eles tentavam aprender.
  • 4:04 - 4:09
    Cobri 18 dos principais hospitais
    universitários, e a história era a mesma.
  • 4:10 - 4:13
    A maioria dos residentes estava
    na mesma situação da Kristen.
  • 4:13 - 4:16
    Eles tinham bastante da parte "veja uma",
  • 4:16 - 4:19
    mas a "faça uma"
    quase não estava disponível.
  • 4:19 - 4:21
    Eles não encaravam as dificuldades,
    e não estavam aprendendo.
  • 4:21 - 4:26
    Isso era importante para os cirurgiões,
    mas eu precisava saber o real alcance.
  • 4:26 - 4:30
    Onde mais estavam usando IA
    impedindo o aprendizado no trabalho?
  • 4:30 - 4:35
    Para saber, contatei um grupo pequeno
    mas crescente de jovens pesquisadores
  • 4:35 - 4:38
    que haviam feito estudos de campo
    sobre o trabalho envolvendo IA
  • 4:38 - 4:41
    em vários contextos
    como startups, policiamento,
  • 4:41 - 4:44
    bancos de investimento
    e educação à distância.
  • 4:44 - 4:49
    Como eu, eles passaram ao menos um ano
    e centenas de horas observando,
  • 4:49 - 4:55
    entrevistando e muitas vezes trabalhando
    lado a lado com as pessoas estudadas.
  • 4:55 - 4:58
    Trocamos dados, e procurei por padrões.
  • 4:58 - 5:04
    Não importa a atividade, o trabalho,
    a IA, a história era a mesma.
  • 5:04 - 5:08
    As organizações estavam tentando
    cada vez mais obter resultados com a IA,
  • 5:08 - 5:12
    e estavam afastando os aprendizes
    do trabalho especializado nesse processo.
  • 5:12 - 5:16
    Gestores de startups estavam
    terceirizando o contato com o consumidor.
  • 5:16 - 5:19
    Policiais precisavam aprender a lidar
    com prognósticos de crimes
  • 5:19 - 5:21
    sem o apoio de especialistas.
  • 5:21 - 5:25
    Jovens banqueiros estavam sendo
    cortados de análises complexas,
  • 5:25 - 5:28
    e professores precisavam criar
    cursos online sem ajuda.
  • 5:29 - 5:33
    E os efeitos de tudo isso
    eram os mesmos da cirurgia.
  • 5:33 - 5:36
    Aprender no trabalho
    estava cada vez mais difícil.
  • 5:37 - 5:39
    Isso não pode durar.
  • 5:39 - 5:44
    A McKinsey estima que entre
    500 mil e 1 bilhão de pessoas
  • 5:44 - 5:49
    terão que se adaptar à IA
    no trabalho de rotina até 2030.
  • 5:49 - 5:53
    E supomos que o aprendizado na prática
    estará disponível enquanto tentamos.
  • 5:53 - 5:57
    A pesquisa mais recente com funcionários
    da Accenture mostrou que a maioria
  • 5:57 - 6:01
    aprende habilidades essenciais
    no trabalho, não em treinamentos formais.
  • 6:01 - 6:05
    Portanto enquanto falamos bastante
    sobre os potenciais impactos futuros,
  • 6:05 - 6:09
    o aspecto da IA que mais
    importa neste momento
  • 6:09 - 6:12
    é que estamos lidando com ela de uma forma
    que bloqueia o aprendizado no trabalho
  • 6:12 - 6:15
    justo quando mais precisamos disso.
  • 6:16 - 6:22
    Por todos os lugares, uma pequena minoria
    encontrou uma forma de aprender.
  • 6:24 - 6:27
    Eles fizeram isso quebrando
    e contornando regras.
  • 6:27 - 6:30
    Os métodos aprovados
    não estavam funcionando.
  • 6:30 - 6:32
    Então eles contornaram
    e quebraram as regras
  • 6:32 - 6:34
    para colocar a mão na massa
    com os especialistas.
  • 6:34 - 6:38
    No meu caso, os residentes
    se envolveram em cirurgia robótica
  • 6:38 - 6:44
    na faculdade de medicina,
    comprometendo a formação generalista.
  • 6:44 - 6:50
    E gastaram centenas de horas extras
    com simuladores e gravações de cirurgias,
  • 6:50 - 6:54
    enquanto supostamente devemos
    aprender na sala de cirurgia.
  • 6:54 - 6:57
    E talvez o mais importante, eles acharam
    um jeito de enfrentar as dificuldades
  • 6:57 - 7:02
    de cirurgias reais com supervisão
    limitada de especialistas.
  • 7:02 - 7:05
    Chamo tudo isso de "educação nas sombras",
  • 7:05 - 7:08
    porque contorna as regras
    e o aluno aprende fora dos holofotes.
  • 7:10 - 7:14
    E todo mundo finge que não vê
    porque traz resultados.
  • 7:14 - 7:18
    Lembrem, estamos falando
    dos melhores alunos do grupo.
  • 7:18 - 7:22
    Agora, obviamente, isso não é certo
    e não é sustentável.
  • 7:22 - 7:24
    Ninguém deveria se arriscar
    a perder o emprego
  • 7:24 - 7:27
    para aprender as habilidades
    que precisa em seu trabalho.
  • 7:27 - 7:30
    Mas precisamos aprender com essas pessoas.
  • 7:30 - 7:33
    Elas correm sérios riscos para aprender.
  • 7:33 - 7:37
    Entenderam que precisam defender
    as batalhas e desafios no trabalho,
  • 7:37 - 7:40
    para que possam se forçar
    a enfrentar problemas difíceis,
  • 7:40 - 7:42
    próximos ao limite de suas capacidades.
  • 7:42 - 7:45
    Elas se certificam de ter
    um especialista por perto,
  • 7:45 - 7:49
    para dar conselhos e atuar
    como uma barreira contra catástrofes.
  • 7:49 - 7:53
    Vamos criar essa combinação
    de dificuldades e apoio especializado
  • 7:53 - 7:56
    em cada implementação de IA.
  • 7:56 - 8:00
    Tenho aqui um exemplo claro
    que consegui em campo.
  • 8:00 - 8:04
    Antes dos robôs, se você fosse
    um técnico de desativação de bombas,
  • 8:04 - 8:07
    lidaria com bombas caseiras de perto.
  • 8:07 - 8:10
    Um oficial subalterno estaria
    a centenas de metros de distância,
  • 8:10 - 8:12
    e poderia apenas observar e ajudar
  • 8:12 - 8:15
    se você decidisse que era seguro
    e o chamasse ao local.
  • 8:15 - 8:20
    Agora, vocês se sentam lado a lado
    em um caminhão à prova de bombas.
  • 8:20 - 8:23
    Ambos assistem ao vídeo,
    controlam um robô à distância
  • 8:23 - 8:26
    e você orienta o trabalho em voz alta.
  • 8:26 - 8:29
    Os treinandos aprendem melhor
    do que faziam antes dos robôs.
  • 8:29 - 8:33
    Podemos ampliar isso para cirurgia,
    startups, policiamento,
  • 8:33 - 8:37
    bancos de investimento,
    educação à distância e além.
  • 8:37 - 8:40
    A boa notícia é que temos
    novas ferramentas para isso.
  • 8:40 - 8:42
    A internet e a nuvem significam
    que não precisamos
  • 8:42 - 8:47
    de um especialista para cada treinando,
    que eles estejam fisicamente próximos
  • 8:47 - 8:50
    ou até que estejam na mesma organização.
  • 8:50 - 8:55
    E podemos criar IA para ajudar a treinar
    estudantes em seus esforços,
  • 8:55 - 8:58
    para treinar especialistas
    enquanto treinam
  • 8:58 - 9:02
    e para conectar esses dois grupos
    de formas inteligentes.
  • 9:03 - 9:06
    Existem pessoas no trabalho
    em sistemas assim,
  • 9:06 - 9:10
    mas geralmente estão concentradas
    em treinamento formal.
  • 9:10 - 9:12
    E a crise mais grave está
    no treinamento na prática.
  • 9:12 - 9:15
    Precisamos fazer melhor.
  • 9:15 - 9:19
    Os problemas atuais requerem
    que façamos melhor para criar um trabalho
  • 9:19 - 9:23
    que aproveite ao máximo
    todas as possibilidades incríveis da IA,
  • 9:23 - 9:27
    ao mesmo tempo em que melhora
    as nossas habilidades.
  • 9:27 - 9:29
    Esse é o tipo de futuro que eu sonhava
    quando era criança.
  • 9:29 - 9:32
    E o tempo de criá-lo é agora.
  • 9:32 - 9:34
    Obrigado.
  • 9:34 - 9:36
    (Aplausos)
Title:
Como aprendemos a trabalhar com máquinas inteligentes?
Speaker:
Matt Beane
Description:

O caminho para as habilidades em todo o mundo tem sido o mesmo há milhares de anos: treinar sob a responsabilidade de um especialista e assumir tarefas pequenas e fáceis antes de progredir para tarefas mais arriscadas e difíceis. Mas agora, estamos lidando com a inteligência artificial (IA) de uma maneira que bloqueia esse caminho, e sacrificando o aprendizado em nossa busca pela produtividade, diz o etnógrafo organizacional Matt Beane. O que pode ser feito? Beane compartilha uma visão que transforma a história atual em uma mentoria distribuída e aprimorada pelas máquinas, que aproveita ao máximo os recursos incríveis da inteligência artificial, aprimorando nossas habilidades ao mesmo tempo.

more » « less
Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
09:50

Portuguese, Brazilian subtitles

Revisions