Qual é a definição de comédia? Banana — Addison Anderson
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0:11 - 0:13Qual é a definição de comédia?
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0:13 - 0:15Pensadores e filósofos,
de Platão a Aristóteles, -
0:15 - 0:17a Hobbes, Freud e não só,
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0:17 - 0:20incluindo alguém tão insensato
que tentasse explicar uma piada, -
0:20 - 0:21pensaram nisto
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0:21 - 0:23mas nenhum deles respondeu.
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0:23 - 0:25Têm muita sorte
em terem encontrado este vídeo. -
0:25 - 0:27Antes de definir comédia, perguntamos
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0:27 - 0:29porque é que "comédia"
parece desafiar uma definição. -
0:29 - 0:31A resposta é simples.
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0:31 - 0:33Comédia é um desafio para uma definição
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0:33 - 0:35porque as definições, às vezes,
precisam de ser desafiadas. -
0:35 - 0:37Reparem na palavra "definição".
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0:37 - 0:39Quando definimos, usamos uma linguagem
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0:39 - 0:41que estabelece limites
em volta de uma coisa -
0:41 - 0:44que destacamos no rodopio
do caos da existência. -
0:44 - 0:45Dizemos o que significa
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0:45 - 0:47e encaixamo-la num sistema
de significados. -
0:47 - 0:49O caos passa a ser cosmos.
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0:49 - 0:50O universo é traduzido
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0:50 - 0:53numa construção cosmológica
de conhecimentos. -
0:53 - 0:54E, sejamos honestos,
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0:54 - 0:56precisamos de uma certa
ordem cósmica lógica -
0:56 - 0:58senão teríamos o puro caos.
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0:58 - 0:59O caos pode ser difícil
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0:59 - 1:02por isso, criamos uma coisa
a que chamamos realidade. -
1:02 - 1:05Pensem na lógica e no "logos",
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1:05 - 1:07esse nó cego que interliga
uma palavra e a verdade. -
1:07 - 1:09Pensemos no que é divertido,
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1:09 - 1:11porque algumas pessoas
dizem que é muito simples: -
1:11 - 1:12a verdade é divertida.
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1:13 - 1:15É divertida porque é verdade.
mas isso é simplista. -
1:15 - 1:17Há muitas mentiras divertidas.
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1:17 - 1:18A ficção cómica pode ser divertida.
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1:18 - 1:21A algaravia absurda
frequentemente é hilariante. -
1:21 - 1:23Por exemplo, o Florp
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1:23 - 1:24— hilariante!
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1:24 - 1:26Muitas verdades não são divertidas.
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1:26 - 1:28Dois mais dois é igual a quatro.
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1:28 - 1:30Não me estou a rir, só porque é verdade.
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1:30 - 1:32Podemos contar uma anedota verdadeira
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1:32 - 1:34e a nossa parceira não se rir.
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1:34 - 1:38Então, porque é que há inverdades
e só algumas verdades que são divertidas? -
1:38 - 1:40Como é que essas verdades
e inverdades divertidas -
1:40 - 1:42se relacionam com a Verdade
com maiúscula, -
1:42 - 1:45a realidade cosmológica
de factos e definições? -
1:45 - 1:47O que é que as torna divertidas?
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1:47 - 1:49Há um francês que talvez possa ajudar,
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1:49 - 1:51outro pensador que não definiu comédia
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1:51 - 1:53porque expressamente não o quis fazer.
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1:53 - 1:55Henri Bergson é um filósofo francês
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1:55 - 1:57que escreveu no prefácio
do seu ensaio sobre o riso -
1:57 - 1:59dizendo que não ia definir "o cómico"
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1:59 - 2:01porque é uma coisa viva.
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2:01 - 2:03Argumentou que o riso
tem uma função social -
2:03 - 2:06para destruir a falta
de elasticidade mecânica -
2:06 - 2:08nas atitudes e comportamentos das pessoas.
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2:08 - 2:10Uma pessoa que faz a mesma coisa
sem parar -
2:10 - 2:12ou que cria uma imagem falsa
de si mesma e do mundo -
2:12 - 2:15ou que não se adapta à realidade
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2:15 - 2:17nem para reparar
na casca de banana no chão -
2:17 - 2:19— isso é automatismo,
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2:19 - 2:21ignorância da sua própria
rigidez cega -
2:21 - 2:23e é perigosa, mas também é caricata.
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2:23 - 2:25O ridículo cómico ajuda a corrigi-la.
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2:25 - 2:28O cómico é uma força vital, cinética
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2:28 - 2:29ou um "élan" vital
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2:29 - 2:31que nos ajuda a adaptarmo-nos.
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2:31 - 2:32Bergson elabora esta ideia
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2:32 - 2:35para estudar o que é divertido
em todo o tipo de coisas. -
2:35 - 2:36Mas fiquemos por aqui.
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2:36 - 2:39Na base deste conceito
de comédia está a contradição -
2:39 - 2:42entre humanidade vital adaptativa
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2:42 - 2:44e automatismo desumanizado.
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2:44 - 2:47Um sistema que afirme definir realidade
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2:47 - 2:50pode ser uma dessas forças desumanizadoras
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2:50 - 2:52que a comédia pretende destruir.
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2:52 - 2:53Voltemos agora a Aristóteles.
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2:53 - 2:57Não à Poética, onde ele lança
alguns pensamentos sobre a comédia, -
2:57 - 2:58mas à Metafísica,
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2:58 - 3:00a lei fundamental da não contradição,
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3:00 - 3:02a pedra de suporte da lógica.
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3:02 - 3:05Afirmações contraditórias
não são verdades, simultaneamente, -
3:05 - 3:07Se A é um axioma,
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3:07 - 3:08não pode acontecer
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3:08 - 3:11que A e o oposto de A
sejam ambos verdadeiros. -
3:11 - 3:13A comédia parece viver aqui
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3:13 - 3:15para subsistir do ilógico
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3:15 - 3:18da contradição lógica e seus derivados.
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3:18 - 3:20Rimo-nos quando a ordem
que projetamos no mundo -
3:20 - 3:22é contrariada e rejeitada,
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3:22 - 3:24como quando a forma como agimos
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3:24 - 3:26contradiz verdades
de que não gostamos de falar -
3:26 - 3:29ou quando observações esquisitas
que todos fazemos -
3:29 - 3:31na escuridão silenciosa
do pensamento privado -
3:31 - 3:33são lançadas em público
numa boa "stand-up" -
3:33 - 3:35e quando gatos tocam piano,
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3:35 - 3:38porque os gatos, que também
têm qualquer coisa de humano, -
3:38 - 3:40comprometem a nossa realidade.
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3:40 - 3:42Assim, não nos rimos só da verdade,
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3:42 - 3:45rimo-nos com a revelação
divertida e edificante dos defeitos, -
3:45 - 3:47das incongruências, das coincidências,
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3:47 - 3:49e dos conflitos autênticos
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3:49 - 3:51no sistema de verdades
supostamente ordenado -
3:51 - 3:54que usamos para definir o mundo
e a nós mesmos. -
3:54 - 3:56Quando temos o nosso
pensamento em alta conta, -
3:56 - 3:58e achamos que as coisas são verdades,
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3:58 - 4:01só porque dizemos que são "logos"
e deixamos de nos adaptar, -
4:01 - 4:03tornamo-nos alvo
das piadas sobre nós -
4:03 - 4:05por esse velhaco lunático, o caos.
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4:05 - 4:09A comédia transmite esse divertimento
destruidor, instrutivo, -
4:09 - 4:10mas não tem uma definição lógica
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4:10 - 4:14porque atua sobre a nossa lógica,
paralogicamente, -
4:14 - 4:16do exterior dos seus limites finitos.
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4:16 - 4:19Longe de ter uma definição definida,
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4:19 - 4:21tem uma indefinição infinita.
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4:21 - 4:23A indefinição da comédia
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4:23 - 4:25é que nada pode ser
explorado para a comédia. -
4:25 - 4:27Assim, todas as definições da realidade
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4:27 - 4:30especialmente aquelas
que afirmam ser universais, -
4:30 - 4:31lógicas, cósmicas,
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4:31 - 4:33Verdades com maiúscula,
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4:33 - 4:35tornam-se risíveis.
- Title:
- Qual é a definição de comédia? Banana — Addison Anderson
- Description:
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Vejam a lição completa em: http://ed.ted.com/lessons/what-s-the-definition-of-comedy-banana-addison-anderson
O que nos faz rir e dar gargalhadas? A dificuldade de definir a comédia é o seu próprio fator de atração: define-se pelo seu desafio à definição. Addison Anderson recorre à filosofia de Henri Bergson e a Aristóteles para esclarecer como uma definição traça limites, enquanto a comédia os destrói.
Lição de Addison Anderson, animação de Anton Bogaty.
- Video Language:
- English
- Team:
closed TED
- Project:
- TED-Ed
- Duration:
- 04:51
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Margarida Ferreira approved Portuguese subtitles for What's the definition of comedy? Banana. - Addison Anderson | |
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Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for What's the definition of comedy? Banana. - Addison Anderson | |
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Isabel Vaz Belchior accepted Portuguese subtitles for What's the definition of comedy? Banana. - Addison Anderson | |
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Isabel Vaz Belchior edited Portuguese subtitles for What's the definition of comedy? Banana. - Addison Anderson | |
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Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for What's the definition of comedy? Banana. - Addison Anderson | |
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