Tudo o que pensamos saber sobre a toxicodependência está errado.
-
0:01 - 0:03Uma das minhas recordações mais antigas
-
0:03 - 0:06é tentar acordar um dos
meus familiares e não conseguir. -
0:06 - 0:08Eu era apenas uma criança,
por isso não entendi porquê. -
0:08 - 0:10À medida que fui crescendo, dei-me conta
-
0:10 - 0:13que tínhamos toxicodependentes
na minha família, -
0:13 - 0:14incluindo o uso da cocaína.
-
0:14 - 0:16Tenho pensando nisso ultimamente,
-
0:16 - 0:19em parte porque faz exatamente100 anos
-
0:19 - 0:21que as drogas foram proibidas
nos EUA e na Grã-Bretanha, -
0:21 - 0:24e depois isso foi imposto
no resto do mundo. -
0:24 - 0:28Faz um século que tomámos
essa decisão fatal -
0:28 - 0:32de castigar os toxicodependentes
e fazê-los sofrer -
0:32 - 0:34porque acreditávamos
que isso iria dissuadi-los -
0:34 - 0:37e dar-lhes um incentivo para parar.
-
0:37 - 0:42Há uns anos, pensei nos toxicodependentes
na minha vida, que eu amo, -
0:42 - 0:45tentando ver se haveria
maneira de os ajudar. -
0:45 - 0:48Percebi que havia muitas
questões bastante fundamentais -
0:48 - 0:50a que eu não sabia responder,
-
0:50 - 0:53como por exemplo:
O que é que causa a dependência? -
0:53 - 0:56Porque continuarmos com esta abordagem
que parece não funcionar? -
0:56 - 0:58Haverá uma melhor forma
que podemos tentar? -
0:58 - 1:00Li muita coisa a esse respeito
-
1:00 - 1:02mas não encontrei
as respostas que procurava. -
1:02 - 1:05Então pensei: "Vou falar com pessoas
do mundo inteiro, -
1:05 - 1:07que passaram por isto e estudaram isto.
-
1:07 - 1:10Vou falar com elas a ver
se posso aprender alguma coisa. -
1:10 - 1:13Não sabia que iria acabar
numa viagem de mais de 48 000 km, -
1:13 - 1:15mas fui e acabei por conhecer
muitas pessoas diferentes -
1:15 - 1:19desde um transsexual traficante de "crack"
em Brownsville, Brooklyn, -
1:19 - 1:22a um cientista que passa o tempo
a alimentar mangustos com alucinogénios -
1:22 - 1:24para ver se eles gostam disso.
-
1:24 - 1:27Parece que eles gostam, mas só
em circunstâncias muito específicas. -
1:27 - 1:31Até chegar ao único país que até agora
descriminalizou todas as drogas, -
1:31 - 1:33desde o haxixe ao "crack", Portugal.
-
1:33 - 1:36O que compreendi,
o que abriu o meu espírito, -
1:36 - 1:40foi que quase tudo o que pensávamos
saber sobre a dependência está errado. -
1:40 - 1:43Se começarmos a assimilar
os novos indícios sobre a dependência, -
1:43 - 1:46penso que vamos ter que alterar
muito mais do que a política da droga. -
1:46 - 1:50Comecemos primeiro com o que
pensamos saber, o que eu julgava saber. -
1:50 - 1:52Vamos pensar nisso,
nesta fila aqui, a do meio. -
1:52 - 1:56Imaginem que vocês passaram a usar
heroína, durante 20 dias, 3 vezes por dia. -
1:56 - 1:59Há aí alguém muito entusiasmado
com esta perspetiva... -
1:59 - 2:00(Risos)
-
2:00 - 2:03Não se preocupem,
é apenas uma situação hipotética. -
2:03 - 2:05Imaginem a situação, ok?
O que aconteceria? -
2:05 - 2:08Durante um século contaram-nos a história
do que aconteceria. -
2:08 - 2:11Como há uma dependência
química da heroína, -
2:11 - 2:13quando é usada durante uns tempos,
-
2:13 - 2:16pensamos que o nosso corpo
fica dependente e precisa dela, -
2:16 - 2:18começa a necessitar dela fisicamente
-
2:18 - 2:21e, ao fim desses 20 dias,
vocês estariam viciados em heroína. -
2:21 - 2:23Isso era o que eu pensava.
-
2:23 - 2:26A primeira coisa que me alertou para
que algo estava errado com esta historia -
2:26 - 2:28foi quando ma explicaram.
-
2:28 - 2:31Se eu sair desta palestra TED hoje,
for atropelado e partir a anca, -
2:31 - 2:35serei levado para o hospital
e vão dar-me montes de diamorfina. -
2:35 - 2:37A diamorfina é heroína.
-
2:37 - 2:40Seria uma heroína muito melhor
do que a comprada na rua, -
2:40 - 2:42porque a droga do traficante
é adulterada. -
2:42 - 2:44Contém pouquíssima heroína
-
2:44 - 2:47enquanto que a que se obtém
no médico é quimicamente pura. -
2:47 - 2:49E é administrada
durante um longo período de tempo -
2:49 - 2:51Muita gente nesta sala,
-
2:51 - 2:54talvez não se tenha dado conta
de que já usou muita heroína. -
2:54 - 2:56Isto acontece em qualquer lugar do mundo.
-
2:56 - 2:59Se o que acreditamos sobre
a dependência fosse verdade -
2:59 - 3:02o que aconteceria às pessoas
expostas a esses químicos viciantes? -
3:02 - 3:05Tornar-se-iam dependentes.
-
3:05 - 3:07Isto tem sido estudado com muito cuidado.
-
3:07 - 3:09Isso não acontece! Nós daríamos por isso.
-
3:09 - 3:12A nossa avó que foi operada à anca
e não voltou para casa viciada. -
3:12 - 3:14(Risos)
-
3:14 - 3:16Quando ouvi isto, pareceu-me estranho,
-
3:16 - 3:19tão contrário a tudo o que se dizia,
a tudo que eu pensava saber. -
3:19 - 3:22Achei que isso não podia estar certo,
até que conheci Bruce Alexander. -
3:22 - 3:25Ele é professor universitário
de Psicologia em Vancouver -
3:25 - 3:29e realizou um teste científico incrível
que nos ajuda a entender esta questão. -
3:29 - 3:33O Professor Alexander explicou-me
que o conceito que temos da dependência, -
3:33 - 3:38surgiu em parte devido a testes
realizados no início do século XX. -
3:38 - 3:40São testes muito simples.
-
3:40 - 3:42Podem realizá-los em casa
se se sentirem um pouco sádicos. -
3:42 - 3:46Coloquem um rato dentro duma gaiola,
e deem-lhe duas garrafas de água -
3:46 - 3:50uma só com água,
e outra com água e heroína ou cocaína. -
3:50 - 3:54O rato quase sempre
preferirá a água com droga -
3:54 - 3:57e quase sempre morrerá
bastante rapidamente. -
3:57 - 4:00E aí está! Certo?
É assim que pensamos que funciona. -
4:00 - 4:04No anos 70, o Professor Alexander
analisou este teste e notou uma coisa. -
4:04 - 4:07Disse: "Ah, estamos a colocar
o rato numa gaiola vazia. -
4:07 - 4:09"Não tem nada que fazer
a não ser usar drogas. -
4:09 - 4:11"Vamos fazer outra coisa".
-
4:11 - 4:15Então, ele construiu uma gaiola
a que chamou "Parque dos Ratos" -
4:15 - 4:17que é basicamente
um paraíso para os ratos. -
4:17 - 4:21Têm montes de queijo,
montes de bolas coloridas e de túneis. -
4:21 - 4:25Muito importante, têm muitos amigos,
e podem ter montes de sexo. -
4:25 - 4:30E têm as duas garrafas de
água normal e de água com droga. -
4:30 - 4:32Mas aqui vai a coisa fascinante:
-
4:32 - 4:36No Parque dos Ratos,
eles não gostam da água com droga, -
4:36 - 4:38quase nunca a bebem.
-
4:38 - 4:40Nenhum deles a usa compulsivamente.
-
4:40 - 4:42Nenhum deles sofreu uma "overdose".
-
4:42 - 4:45Passámos de 100% de sobredosagem,
quando estão isolados, -
4:45 - 4:48para 0%, quando têm uma
vida feliz e com relações. -
4:48 - 4:51Quando observou isto,
o Prof. Alexander pensou: -
4:51 - 4:54"Talvez isto seja coisa de ratos,
eles são muito diferentes de nós. -
4:54 - 4:57"Talvez não tão diferentes
quanto gostaríamos". -
4:57 - 4:59Mas felizmente,
houve um teste com pessoas, -
4:59 - 5:02em que aconteceu a mesma coisa,
exatamente na mesma altura. -
5:02 - 5:05Foi a Guerra do Vietname.
-
5:05 - 5:09No Vietname, 20% das tropas americanas
usavam montes de heroína. -
5:09 - 5:12Se virmos as noticias dessa época,
-
5:12 - 5:14andavam bastante preocupados
porque pensavam: -
5:14 - 5:18"Meu Deus, vamos ter centenas de viciados
pelas ruas dos EUA". -
5:18 - 5:20Quando a guerra acabou,
fazia todo o sentido. -
5:20 - 5:23Os soldados que estavam a usar
heroína a mais foram seguidos até casa. -
5:23 - 5:27Os Arquivos de Psiquiatria Geral
fizeram estudos bastante detalhados. -
5:27 - 5:28E o que lhes aconteceu?
-
5:28 - 5:32Eles não precisaram de desintoxicação.
Não foram suspensos. -
5:33 - 5:36Pura e simplesmente,
95% deixaram de a usar. -
5:36 - 5:39A acreditar na história da dependência
química, isto não fazia sentido. -
5:39 - 5:43O Professor Alexander começou a pensar
que a história devia ser outra e disse: -
5:43 - 5:47"E se a dependência não tem
a ver com uma dependência química -
5:47 - 5:49"mas tem a ver com a nossa gaiola?
-
5:49 - 5:52"E se a dependência é uma forma
de adaptação ao nosso ambiente?" -
5:52 - 5:56Perante isto, outro professor,
chamado Peter Cohen, na Holanda, -
5:56 - 5:59disse que talvez não devêssemos
chamar-lhe dependência. -
5:59 - 6:01Talvez devêssemos chamar-lhe adesão.
-
6:01 - 6:05Os seres humanos têm uma necessidade
natural e inata de criar laços sociais. -
6:05 - 6:08Quando somos felizes e saudáveis,
criamos ligações uns com os outros -
6:08 - 6:10mas, quando não o podemos fazer
-
6:10 - 6:14porque estamos traumatizados,
isolados ou derrubados pela vida, -
6:14 - 6:17criamos uma relação com outras coisas
que nos deem uma sensação de alívio. -
6:17 - 6:23Poderão ser apostas, pornografia,
cocaína ou haxixe. -
6:23 - 6:26Criamos ligações porque
essa é a nossa natureza. -
6:26 - 6:29É isso que desejamos como seres humanos.
-
6:30 - 6:32Inicialmente, achei
muito difícil de entender. -
6:32 - 6:35O que me ajudou a entender foi...
-
6:35 - 6:38Eu tenho uma garrafa de água
debaixo do banco. -
6:38 - 6:41Vejo que vocês também têm
garrafas de água. -
6:41 - 6:44Esqueçam as drogas.
Esqueçam a guerra às drogas. -
6:44 - 6:48Legalmente essas garrafas de água
podiam ser garrafas de vodka, não é? -
6:48 - 6:51Podíamos estar a embebedar-nos...
-
6:51 - 6:52(Risos)
-
6:52 - 6:53... mas não estamos.
-
6:53 - 6:56Suponho que quem pode
pagar milhares de euros -
6:56 - 6:57para assistir a um TED Talk,
-
6:57 - 7:02podia dar-se ao luxo
de beber vodka nos próximos 6 meses -
7:02 - 7:04sem correr o risco de ficar sem casa.
-
7:04 - 7:09Mas não o farão,
— não porque vos impeçam — -
7:09 - 7:10mas pela simples razão
-
7:10 - 7:13de que têm laços sociais e relações
que pretendem manter. -
7:13 - 7:16Têm um trabalho de que gostam.
Têm pessoas que amam. -
7:16 - 7:18Têm relações saudáveis.
-
7:18 - 7:23Penso que tudo indica
que o problema central da dependência -
7:23 - 7:27tem a ver com não ser capaz
de enfrentar a vida. -
7:27 - 7:30Isto tem implicações significativas.
-
7:30 - 7:33As implicações mais óbvias são
na Guerra Contra as Drogas. -
7:33 - 7:36No Arizona, estive
com um grupo de mulheres -
7:36 - 7:40que foram obrigadas a vestir "T-shirts"
que diziam "Eu fui uma drogada" -
7:40 - 7:43e a sair acorrentadas
para escavar sepulturas -
7:43 - 7:46enquanto a populaça fazia troça delas.
-
7:46 - 7:49Essas mulheres vão sair da prisão,
com cadastro criminal -
7:49 - 7:51o que significa que jamais
arranjarão emprego. -
7:51 - 7:54Obviamente este é um exemplo extremo,
no caso das correntes, -
7:54 - 7:58mas em quase todo o mundo
tratamos os toxicodependentes assim, -
7:58 - 8:01com punições, humilhações
e registos criminais. -
8:01 - 8:04Pomos barreiras à sua reintegração social.
-
8:04 - 8:07O Dr. Gabor Maté, médico no Canadá,
um homem incrível, disse-me: -
8:07 - 8:09"Se pudéssemos criar um sistema
-
8:09 - 8:12"que tornasse o problema da dependência
mais grave, criá-lo-íamos". -
8:12 - 8:15Mas existe um lugar que decidiu
fazer exatamente o oposto, -
8:15 - 8:17e fui lá ver como funcionava.
-
8:17 - 8:21Em 2000, Portugal tinha um dos piores
problemas com drogas da Europa. -
8:21 - 8:25Havia 1% da população viciada
em heroína, o que é catastrófico. -
8:25 - 8:27Ano após ano,
tentaram o sistema americano. -
8:27 - 8:30Puniam, estigmatizavam e humilhavam
os toxicodependentes, -
8:30 - 8:32e ano após anos, o problema ia piorando.
-
8:32 - 8:35O primeiro-ministro e o líder da oposição
reuniram e disseram: -
8:36 - 8:39"Não podemos continuar a ter
tantas pessoas viciadas em heroína." -
8:39 - 8:42"Vamos criar um painel
de cientistas e médicos -
8:42 - 8:45"para pensar genuinamente
em como resolver este problema." -
8:45 - 8:48O tal painel foi liderado
por um homem incrível, o Dr. João Goulão, -
8:48 - 8:50para avaliar esta nova situação.
-
8:50 - 8:53E eles voltaram e disseram:
-
8:53 - 8:57"Descriminalizem todas as drogas,
desde o haxixe ao "crack" mas..." -
8:57 - 9:00— e este é o ponto crucial —
-
9:00 - 9:04"... utilizem todo o dinheiro, que gastamos
na punição e prisão dos toxicodependentes, -
9:04 - 9:08"para a sua desintoxicação
e reintegração social". -
9:08 - 9:11Isto não é propriamente o que pensamos
-
9:11 - 9:15quanto a tratamento de drogas
nos EUA e na Grã-Bretanha. -
9:15 - 9:19Eles proporcionam reabilitação em casa,
terapia psicológica, que tem o seu valor. -
9:19 - 9:22Mas a melhor coisa que fizeram
foi oposta ao que nós fazemos: -
9:22 - 9:25um programa maciço de criação de empregos
para toxicodependentes, -
9:25 - 9:28e microcrédito para iniciarem
pequenos negócios. -
9:28 - 9:30Suponhamos que se trata de um mecânico.
-
9:30 - 9:32Depois de recuperado,
eles arranjam-lhe um emprego, -
9:32 - 9:34pagando metade do salário durante um ano.
-
9:34 - 9:37Garantem assim que
os toxicodependentes em Portugal -
9:37 - 9:39tenham um motivo
para se levantarem de manhã. -
9:39 - 9:41Quando contactei
toxicodependentes em Portugal, -
9:41 - 9:44eles disseram-me que, à medida
que redescobriam um objetivo, -
9:44 - 9:48redescobriam mais relações
e mais laços sociais. -
9:48 - 9:51Há 15 anos que começou esta experiência
-
9:51 - 9:53e o resultado é este:
-
9:53 - 9:55o uso de drogas injetáveis
diminuiu em Portugal. -
9:55 - 9:58De acordo com o British
Journal of Criminology. -
9:58 - 10:00diminuiu 50% — cinquenta por cento!
-
10:00 - 10:04As "overdoses" e a SIDA diminuíram
drasticamente nos toxicodependentes. -
10:04 - 10:07Em todos os estudos, a toxicodependência
diminuiu significativamente. -
10:07 - 10:09Sabemos que isto funcionou tão bem
-
10:09 - 10:12porque ninguém em Portugal
quer voltar ao sistema antigo. -
10:12 - 10:14Estas são apenas as implicações políticas.
-
10:14 - 10:18Eu acho que existe um outro nível
de implicações para esta investigação. -
10:18 - 10:22Vivemos numa cultura em que as pessoas
se sentem cada vez mais vulneráveis -
10:22 - 10:23a todo o tipo de dependências,
-
10:23 - 10:26desde as compras
aos "smartphones" ou à comida. -
10:26 - 10:29Antes desta palestra começar
— vocês repararam — -
10:29 - 10:31disseram-nos que não era permitido
telemóveis ligados. -
10:31 - 10:34Tenho que dizer, muitos de vocês
pareciam toxicodependentes -
10:34 - 10:38a quem diziam que o seu traficante
estaria indisponível nas próximas horas. -
10:38 - 10:41Muitos de nós sentimo-nos assim,
e talvez seja estranho dizer -
10:41 - 10:43— eu referi como a falta de relações
-
10:43 - 10:45é uma causa importante da dependência —
-
10:45 - 10:47essa dependência está a aumentar,
-
10:47 - 10:50porque achamos que vivemos na sociedade
mais ligada que já existiu. -
10:50 - 10:54Mas começo a pensar cada vez mais
que as relações que temos ou pensamos ter, -
10:54 - 10:56são uma espécie de caricatura
das relações humanas. -
10:56 - 10:59Se tivermos uma crise na nossa vida,
vão reparar numa coisa. -
10:59 - 11:03Não serão os vossos seguidores no Twitter
que se sentarão ao vosso lado. -
11:03 - 11:06Nem os amigos do Facebook
que vos ajudarão a dar a volta por cima. -
11:06 - 11:09Serão os amigos de carne e osso,
com quem têm uma ligação profunda, -
11:09 - 11:11com quem têm uma relação cara-a-cara.
-
11:11 - 11:16Há um estudo, que me mostrou Bill McKibben,
o escritor ambientalista, -
11:16 - 11:18que fala bastante sobre isto.
-
11:18 - 11:20Determinava o número de amigos próximos
-
11:20 - 11:23com quem o americano médio pode contar
num momento de crise. -
11:23 - 11:26Esse número tem vindo a diminuir
regularmente desde os anos 50. -
11:26 - 11:30Mas o espaço que um indivíduo
tem em casa tem aumentado regularmente. -
11:31 - 11:33Penso que isto é como uma metáfora
-
11:33 - 11:35das escolhas que fazemos enquanto cultura.
-
11:35 - 11:39Trocámos amigos por mais espaço,
trocámos interação social por coisas, -
11:39 - 11:43e o resultado é que somos a sociedade
mais solitária que alguma vez existiu. -
11:44 - 11:46Bruce Alexander, que criou
o Parque dos Ratos, diz: -
11:46 - 11:50"Estamos sempre a falar de dependência.
de recuperação individual, -
11:50 - 11:52"e é correto falarmos disso.
-
11:52 - 11:55""mas precisamos de falar muito mais
sobre recuperação social. -
11:55 - 11:58"Algo correu mal connosco, não só
como indivíduos, mas como grupo. -
11:58 - 12:00"Criámos uma sociedade onde,
para muitos de nós, -
12:00 - 12:03"a vida cada vez é mais parecida
com uma gaiola isolada -
12:03 - 12:05"e cada vez menos com o Parque dos Ratos".
-
12:05 - 12:09Para ser franco, não foi por isso
que comecei a investigar. -
12:09 - 12:12Não me interessava descobrir
as questões políticas e sociais. -
12:12 - 12:14Eu queria saber como ajudar
as pessoas que amo. -
12:14 - 12:17Quando voltei desta longa jornada,
onde aprendi tudo isto, -
12:17 - 12:20olhei para os toxicodependentes
da minha vida -
12:20 - 12:25e, para ser franco, é difícil amar
um toxicodependente. -
12:25 - 12:27Muita gente nesta sala deve saber disso.
-
12:27 - 12:30Sentimo-nos zangados muitas vezes,
-
12:30 - 12:34e acho que uma das razões
para este debate ser tão cheio de carga -
12:34 - 12:36é porque ele passa pelo coração
de cada um de nós. -
12:36 - 12:39Temos um lado que olha
para um toxicodependente e pensa; -
12:39 - 12:41"Gostava que alguém te fizesse parar".
-
12:41 - 12:44As fórmulas que nos dão sobre como lidar
com dependentes na nossa vida -
12:44 - 12:47estão tipificadas
pela série televisiva "Intervention", -
12:47 - 12:50Acho que tudo na vida
é definido pela "realidade" da TV, -
12:50 - 12:52mas isso dava para outra palestra TED.
-
12:52 - 12:54Se já viram o programa
televisivo "Intervention", -
12:54 - 12:56é uma premissa bastante simples.
-
12:56 - 12:59Juntem um toxicodependente
com as pessoas da vida dele, -
12:59 - 13:01confrontem-no com o que ele está a fazer,
e digam-lhe: -
13:01 - 13:04"Se não te endireitares,
deixamos de falar contigo". -
13:04 - 13:07Isto é uma ameaça para terminar
a relação com o dependente. -
13:07 - 13:10Tornam a relação dependente
do comportamento dele, -
13:10 - 13:13de o toxicodependente se comportar
da forma que eles querem. -
13:13 - 13:16Comecei a ver porque é
que esta abordagem não funciona. -
13:16 - 13:19Comecei a pensar que é quase como imitar
-
13:19 - 13:23a lógica da Guerra Contra as Drogas
para a nossa vida privada. -
13:23 - 13:26Então pensei:
"Como poderei ser português?" -
13:26 - 13:30É o que tenho tentado fazer agora,
e não posso dizer que seja consistente, -
13:30 - 13:34ou que seja fácil dizer
aos toxicodependentes da minha vida -
13:34 - 13:36que quero aprofundar a nossa relação.
-
13:36 - 13:40Dizer-lhes: "Amo-te, não me importa
que uses drogas ou não. -
13:40 - 13:43"Amo-te, não me importa
o estado em que estejas. -
13:43 - 13:45"Se precisares de mim,
sentar-me-ei ao teu lado, -
13:45 - 13:50"porque te amo e não quero deixar-te só
nem que te sintas só". -
13:50 - 13:53Penso que a essência desta mensagem
-
13:53 - 13:55— não estás sozinho, amamos -te —
-
13:55 - 13:58deve ser incluída nas respostas
que damos aos toxicodependentes, -
13:58 - 14:01social, política e individualmente.
-
14:01 - 14:05Há 100 anos que temos vindo a cantar
canções de guerra sobre os dependentes. -
14:05 - 14:09Acho que todo este tempo devíamos ter-lhes
cantado canções de amor, -
14:09 - 14:13porque o oposto de dependência
não é sobriedade. -
14:14 - 14:17O oposto de dependência é relações.
-
14:17 - 14:19Obrigado
-
14:19 - 14:22(Aplausos)
- Title:
- Tudo o que pensamos saber sobre a toxicodependência está errado.
- Speaker:
- Johann Hari
- Description:
-
O que é que causa a dependência — de todas as coisas, desde a cocaína aos "smartphones"? E como podemos ultrapassá-la? Johann Hari observou os nossos métodos atuais, enquanto observava seres queridos numa luta para lidar com a sua dependência. Começou a pensar porque é que tratamos os toxicodependentes da forma que o fazemos — e se poderia haver uma melhor forma. Nesta palestra profundamente pessoal, conta como as suas dúvidas o levaram por todo o mundo e como descobriu formas surpreendentes e esperançosas de pensar num problema tão antigo.
- Video Language:
- English
- Team:
closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 14:42
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Rafael Galupa edited Portuguese subtitles for Everything you think you know about addiction is wrong | |
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Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Everything you think you know about addiction is wrong | |
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