Shahzia Sikander: Desfazendo Fronteiras | Art21 "Extended Play"

(Música serena)

(Música suave)

Por ser mulher, minha vida toda,

eu fui consciente do espaço patriarcal,

como as mulheres são apagadas
do espaço cívico,

do espaço da lei e do espaço artístico.

É preciso abrir todos esses espaços
para representar todos nós.

(Música suave)

Por quase três décadas
eu venho trabalhando

nas tradições manuscritas
indianas e persas.

Por crescer nos Paquistão,

eu não tive acesso
à muitas das obras originais.

Por causa da história colonial,

a maior parte das obras
foram rasgadas, desmembradas

e acabaram em instituições ocidentais.

Apagamento.
Falta de visibilidade.

Essas coisas estão no núcleo
do meu relacionamento com a arte.

(Música suave)

Me movendo entre animações, murais,
mosaico e esculturas,

eu muitas vezes penso no meu trabalho
como um anti-monumento,

porque ele envolve o passado,
mas não o glorifica.

(Música suave)

(Música suave)

Eu fui muito inspirada
por obras de artes públicas

e pelo o que o monumento pode significar.

Os conflitos que existem

são porque as pessoas têm
visões conflitantes da história.

Quando o Madison Square Park

me pediu para criar uma proposta,

eu pensei em como eu adoraria explorar

a arte do tribunal em frente ao parque,

e então ligar ela com projeto no parque.

(Música suave)

Obras que estão aqui,

que naturalmente,
são parte de uma história,

isso é a captura de um momento,
no final das contas.

(Música suave)

No telhado do tribunal,

tem nove estátuas de
velhos legisladores e filósofos homens.

Como Manu, o autor das leis Hindu,

e também o rei Loius IV da França.

Mas o espaço para a mulher

está nesse espaço alegórico,
como a Dama da Justiça.

(Música suave)

Por que não poderia
ter outra interação feminina,

de pé pela sua própria verdade
e como uma participante no mesmo patamar?

— Tipo, se você passar por ali,

você veria as duas.

Eu decidi fazer duas esculturas.

Uma dentro do parque

e uma no telhado do tribunal.

(Pássaros cantando)

Esse é um dos primeiros esboços.

(Música suave)

A principal marca do meu trabalho
é o esse corpo feminino,

tipo um movimento rápido,

muitas vezes surgindo de guache no papel.

É um tipo de conceito
que o corpo é bem fluido,

tendo também uma multiplicidade.

Pareceu muito certo de começar por ali.

— O que é isso? São as pernas?

— É uma parte.

As pernas,

quando elas estão, tipo, dando voltas,

para mim, elas sugerem
uma forma de auto-enraizamento.

(Conversa indistinta)

— Okay.

A feminina pode levar
suas raízes onde ela for.

Ela pode escolher ir aonde ela quiser.

Não precisa ter raízes

em um tempo ou espaço específico,

nação ou cultura.

(Música suave)

A ideia dos chifres

pode ser a unificação pelas tranças.

Isso tem uma ligação muito clara
com uma das minhas pinturas.

Falando mais sobre a coragem,

fluidez e a resiliência da feminilidade.

Não existe uma pessoa que em um plinto

pode representar múltiplas perspectivas,

então foi necessário ser alegórico,

como um espaço coletivo feminino
que continua crescendo.

(Música suave)

A escultura do telhado

tem um assento de lótus.

É simbólico da humildade,
claridade e sabedoria.

Minha maior preocupação foi em como

ir na direção da escultura,

mas manter perto das minhas animações

e ter tanto quanto movimento na obra.

Você pode ver como a luz entra pelo teto.

É bem sutil, mas está mudando

e isso sugere movimento.

Eu queria usar o teto do tribunal

e a saia me deixou usar ele.

O teto de vidro
que a feminilidade pode romper.

Como se flutuasse aqui.

(Shahzia ri)

E então eu posso simular esse lindo vitral

com mosaico de vidro na escultura.

— Tipo, desse jeito.

— Nossa, essa cor é muito...

[Artista] — Tenho muito dessa.

[Shahzia] — Puro e claro.

[Artista] — É uma linda cor.

[Shahzia] Isso vai dar certo.

[Artista] — É lindo.

[Shahzia] — Você pode usar mais disso.

[Artista] — Sim.

Quando eu estava esboçando a saia,

Eu comecei a brincar
com a palavra "havah".

Na minha língua Urdu,
"havah" significa ar,

a relação entre respiração e vida.

E também, "havah" pode significar Eva.

(Conversa indistinta)

— Vamos quebrar isso.

[Artista] — Okay.

[Shahzia] Eva pode ser considerada
a primeira infratora.

(Vidro quebrando)
(Música suave)

Mulheres são muitas vezes marcadores
de quando fronteiras estão se desfazendo.

— A importancia de isto
estar aqui já é enorme!

— Simbolicamente.

— Sim!

— É uma grande intervenção.

— Sim.

(conversa indistinta)

Desde que a obra está aqui,

houve muitos comentários
sobre aborto e mulheres.

O contexto desse trabalho em particular

é deixar a obra ter significados

que ela não iria carregar de outra forma.

Ela anima a politica das pessoas
e seus relacionamentos angustiantes.

Eu floresço ao escutar o que aconteceu

com o projeto ou as conversas com o tempo.

— Artistas mulheres.

de que outra forma um artista centra
o seu senso de criatividade?

(Música suave)

Sempre que criamos art
e colocamos algo no mundo,

Eu acredito que isso força o limite

de quem é representado um pouco mais.

Isso é integral

em como arte pode negociar espaço
para as futuras gerações.

(Música suave)