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E tu, o que é que fazes?!? | Catarina Alves | TEDxOPorto

  • 0:16 - 0:17
    "Ele bateu-me outra vez.
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    "Duvido agora que seja normal.
  • 0:19 - 0:23
    "Porque ninguém apanha na cara de ninguém,
    e esfrega num prato de comida,
  • 0:23 - 0:25
    "nem rebaixa uma pessoa com palavrões."
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    "Denuncia!" gritam os cartazes.
  • 0:28 - 0:31
    Até mostram a sequência
    dos acontecimentos a preto e branco
  • 0:31 - 0:34
    mas será a melhor solução
    ou a suficiente?
  • 0:35 - 0:36
    Pois bem,
  • 0:38 - 0:40
    conheço casos muito tristes
  • 0:40 - 0:44
    em que as pessoas foram
    arrancadas dos seus lares
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    com o pouco que se pode chamar de seu,
  • 0:46 - 0:47
    e também os filhos.
  • 0:47 - 0:50
    Foram atiradas para um lugar
    longe do problema,
  • 0:51 - 0:54
    sem aquele conforto.
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    Sim, estou a fugir, mas será suficiente?
  • 0:58 - 1:01
    Foram atiradas para lugares
    opostos à felicidade que mostram.
  • 1:02 - 1:04
    Será que denunciar é a melhor solução?
  • 1:04 - 1:06
    Isso faz-me lembrar o "bullying".
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    "Hoje voltaram a empurrar-me nas escadas.
  • 1:10 - 1:12
    "Como se isso não chegasse,
  • 1:12 - 1:14
    "puseram-me dentro da casa de banho
    e bateram-me.
  • 1:14 - 1:16
    "Fiz queixa do empurrão
  • 1:16 - 1:18
    "mas toda a gente diz
    que foi na brincadeira.
  • 1:18 - 1:21
    "As mesmas brincadeiras de todos os dias."
  • 1:21 - 1:24
    O "bullying" muitas vezes é confundido
    com brincadeiras, piadas.
  • 1:25 - 1:27
    Senhores, nós não estamos
    num mundo selvagem
  • 1:27 - 1:30
    para que pequenas agressões e lutas
  • 1:30 - 1:33
    sejam necessárias
    ao crescimento duma criança.
  • 1:33 - 1:36
    Se fosse assim, nós teríamos
    de ser animais especiais,
  • 1:36 - 1:38
    visto que existe a agressão verbal
  • 1:41 - 1:44
    presente nos gozamentos entre as crianças.
  • 1:47 - 1:51
    Estas agressões verbais são conhecidas
    como brincadeiras, piadas?
  • 1:52 - 1:54
    Dizem sempre: "Faz orelhas moucas!"
  • 1:55 - 1:57
    Sim, faço orelhas moucas todos os dias.
  • 1:57 - 1:59
    Mas isto entra no coração;
  • 1:59 - 2:02
    não é fazer orelhas moucas
    que vai resolver o problema.
  • 2:03 - 2:05
    E quando nós somos maiores?
  • 2:09 - 2:12
    " 'E essa roupa?' foram as palavras
    que começaram o meu dia.
  • 2:12 - 2:14
    "Estou farta de comentários estúpidos.
  • 2:14 - 2:16
    "Sinto-me um lixo todos os dias.
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    "Choro noites e noites.
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    "Cortei-me outra vez. Não resisti.
  • 2:21 - 2:23
    "É a única maneira de me sentir viva."
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    O "bullying", quando somos mais jovens,
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    quer dizer, quando somos mais velhos,
  • 2:28 - 2:31
    mas na minha idade, é muito especial.
  • 2:31 - 2:32
    Porquê?
  • 2:33 - 2:34
    Não existe uma máscara.
  • 2:34 - 2:39
    Ele está presente em julgamentos,
    comparações, atitudes,
  • 2:39 - 2:40
    e muitas outras coisas.
  • 2:41 - 2:44
    São essas pequenas coisas
    que rebaixam uma jovem
  • 2:44 - 2:50
    e esse rebaixamento acaba
    por nos levar para a vida
  • 2:50 - 2:52
    e nós pensamos que somos um falhanço,
  • 2:52 - 2:54
    começamos a falhar na escola
  • 2:54 - 2:57
    e as coisas começam
    numa bola de neve gigante.
  • 2:57 - 3:00
    Quando estou na minha idade,
  • 3:00 - 3:03
    o nosso maior objetivo é sermos aceites,
    sermos populares,
  • 3:03 - 3:06
    sermos aquela pessoa top
    que toda a gente adora.
  • 3:06 - 3:08
    Mas muitas vezes não dá.
  • 3:08 - 3:12
    Muitas vezes nós saímos feridos
    dessa tentativa.
  • 3:12 - 3:15
    E não digo psicologicamente,
    emocionalmente,
  • 3:15 - 3:18
    mas também fisicamente.
  • 3:18 - 3:21
    Não é aquela agressão de sermos
    espancados por uma pessoa,
  • 3:21 - 3:24
    mas somos nós que nos maltratamos
    a nós próprios.
  • 3:24 - 3:26
    Como?
  • 3:26 - 3:27
    Com a automutilação,
  • 3:27 - 3:29
    um tema tabu na minha idade
  • 3:29 - 3:33
    um tema que pode ter existido
    no passado
  • 3:33 - 3:35
    mas que está muito presente agora.
  • 3:36 - 3:39
    Eu tenho muitos amigos,
    basicamente um grupo de dez,
  • 3:40 - 3:44
    e muitos deles, basicamente
    cinco ou seis, automutilam-se.
  • 3:44 - 3:46
    E é muito triste
  • 3:46 - 3:48
    estar a nossa amiga a sorrir
  • 3:48 - 3:51
    e nós pegarmos no braço dela,
    puxar a manga
  • 3:51 - 3:54
    e ver aquele panorama horrível.
  • 3:54 - 3:57
    Eu conheço casos que são simples
    como, por exemplo, um corte
  • 3:57 - 4:00
    que disfarça-se como uma arranhadela
    do gato ou num muro
  • 4:00 - 4:03
    mas conheço casos
    que têm os braços em sangue.
  • 4:03 - 4:07
    E, basicamente, uma rede
    de riscos vermelhos
  • 4:07 - 4:10
    de uma dor inconsolável.
  • 4:10 - 4:11
    Isso é muito triste.
  • 4:11 - 4:17
    É muito triste nós pensarmos
    que os vossos filhos são pessoas decentes
  • 4:17 - 4:20
    e não estou a dizer mal de ninguém,
  • 4:20 - 4:24
    mas que chegam a uma escola
    e conseguem rebaixar uma pessoa
  • 4:24 - 4:26
    ao nível de fazê-la sangrar.
  • 4:27 - 4:31
    Nós não estamos a dizer "chorar",
    estamos a dizer "sangrar".
  • 4:31 - 4:34
    deitar sangue de nós próprios.
  • 4:34 - 4:38
    Chegar a um ponto de pegarmos
    na pessoa e dizermos:
  • 4:38 - 4:40
    "Tu não vales nada!"
  • 4:40 - 4:43
    e a pessoa sentir tanto isso
    que não aguenta,
  • 4:43 - 4:45
    não aguenta o seu coração
  • 4:45 - 4:49
    e não se esvazia nas lágrimas,
    mas sim no sangue que escorre.
  • 4:49 - 4:54
    Eu tenho uma imagem que, sinceramente,
    é a imagem que eu mais adoro.
  • 4:54 - 4:56
    As minhas lágrimas não saem pelos olhos,
  • 4:56 - 5:00
    as minhas lágrimas saem pelo meu braço
    em forma de gotas de sangue.
  • 5:00 - 5:02
    É muito triste.
  • 5:04 - 5:06
    Basicamente, é isto.
  • 5:06 - 5:09
    Eu quero parar a automutilação
    mas eu não consigo sozinha.
  • 5:09 - 5:14
    Eu preciso de apoio, eu preciso
    de gente que me ajude, nesta batalha.
  • 5:18 - 5:20
    Preciso de gente que me ajude.
  • 5:20 - 5:23
    Eu tenho um exemplo,
    é fazer diferente.
  • 5:24 - 5:27
    Estava eu na minha vida normal,
    no oitavo ano,
  • 5:27 - 5:32
    e vejo um grupo de crianças
    do quinto, sexto ano, à volta disso,
  • 5:32 - 5:34
    à volta duma criança.
  • 5:34 - 5:36
    Eu fiquei: "OK, devem estar a brincar".
  • 5:36 - 5:38
    Mas comecei a tomar mais atenção.
  • 5:38 - 5:40
    Eles estavam a gozar com aquela criança.
  • 5:40 - 5:43
    Eu vi a criança a encolher-se
    nos cacifos e ressenti-me.
  • 5:43 - 5:44
    O que é que eu fiz?
  • 5:45 - 5:46
    Fiz diferente.
  • 5:46 - 5:47
    Não cheguei lá e disse:
  • 5:47 - 5:49
    "Vocês estão a gozar
    com a criança. Parem!"
  • 5:49 - 5:51
    Não. Fiz diferente. Como?
  • 5:51 - 5:52
    Cheguei lá e disse:
  • 5:52 - 5:55
    "As vossas palavras podem virar lâminas".
  • 5:55 - 5:57
    "O quê?"
  • 5:57 - 6:00
    "Sim, as vossas palavras
    podem virar lâminas.
  • 6:00 - 6:02
    "A pessoa, ou as palavras.
  • 6:02 - 6:03
    "As palavras entram no coração.
  • 6:03 - 6:07
    "Não conseguem suportar mais
    aquelas palavras e vão-se cortar".
  • 6:07 - 6:10
    Basicamente, foi
    o que eu disse às crianças.
  • 6:10 - 6:11
    Sexto ano.
  • 6:11 - 6:13
    Elas foram embora e não me disseram nada
  • 6:13 - 6:16
    porque já não existe respeito
    entre crianças do oitavo e do sexto ano,
  • 6:16 - 6:18
    Já não existe.
  • 6:18 - 6:20
    Basicamente, nós gozamos
    uns com os outros.
  • 6:20 - 6:22
    Caramba! Só tenho 14 anos.
  • 6:22 - 6:26
    Mas quando andava
    no 5.º ano, era respeito.
  • 6:26 - 6:27
    Mas já não existe.
  • 6:27 - 6:29
    Basicamente, eu fiz diferente,
  • 6:29 - 6:31
    consegui parar, pelo menos daquela vez
  • 6:31 - 6:33
    e elas foram embora.
  • 6:33 - 6:36
    Falei com a criança,
    ela ficou um bocado ressentida
  • 6:36 - 6:38
    mas agradeceu-me,
    porque já não estava a aguentar.
  • 6:38 - 6:40
    E eu então disse-lhe:
  • 6:40 - 6:42
    "Nunca, nunca, nunca te cortes.
  • 6:42 - 6:45
    "Sempre fala com alguém
    e sempre faz diferente.
  • 6:45 - 6:48
    "Não sejas:
    'Ah, eu vou fazer queixa..."
  • 6:49 - 6:51
    e palavras moucas. "OK. Obrigada".
  • 6:51 - 6:53
    Não adianta, não adianta.
  • 6:53 - 6:55
    Por isso, é o que eu digo:
    "Façam diferente".
  • 6:55 - 6:57
    Estás-me a gozar?
    Achas que me importo?
  • 6:57 - 6:59
    Pelo menos eu sou diferente de ti,
  • 6:59 - 7:02
    não estou a gozar com alguém
    e sou honesto.
  • 7:02 - 7:03
    Mas pronto...
  • 7:04 - 7:07
    Basicamente, eu aqui falei
    de vários problemas:
  • 7:08 - 7:10
    violência doméstica, "bullying"
    e automutilação.
  • 7:10 - 7:12
    Falei de soluções?
  • 7:12 - 7:13
    Não falei.
  • 7:13 - 7:14
    Porquê?
  • 7:14 - 7:18
    Porque espero as vossas soluções
    e espero as vossas ideias.
  • 7:18 - 7:20
    Basicamente, existem muitos cartazes.
  • 7:20 - 7:24
    menos da automutilação mas acredito
    que vai existir se nós conseguirmos.
  • 7:24 - 7:26
    Já existem muitos cartazes.
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    Dizem ideias batidas,
    com que as pessoas não sabem lidar.
  • 7:29 - 7:31
    E é por isso que vos convido aqui
  • 7:31 - 7:35
    para virem comigo escrever
    novas soluções, ideias diferentes,
  • 7:35 - 7:38
    atrás do cartaz, na parte em branco
    que toda a gente ignora.
  • 7:38 - 7:40
    Eu sei que nós conseguimos juntos.
  • 7:41 - 7:44
    (Aplausos)
Title:
E tu, o que é que fazes?!? | Catarina Alves | TEDxOPorto
Description:

Uma comovente palestra sobre "bullying" e automutilação é um grito de ajuda — para ajudar a Catarina a ajudar toda a sua geração.
A Catarina é uma rapariga de 14 anos muito extrovertida, brincalhona e faladora. Adora ouvir música e escrever histórias extensas e pensa um dia escrever um livro ou dois. Gosta muito de escrever poemas, uma forma de descrever como se sente. Não gosta de seguir as regras que as pessoas ditam e isso reflete-se na sua escrita.

Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saiba mais em http://ted.com/tedx

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Video Language:
Portuguese
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
07:54

Portuguese subtitles

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