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Como nos sentimos quando vemos a Terra a partir do espaço

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    Estamos na véspera de Natal de 1968.
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    A nave Apollo 8 concluiu com êxito
    as primeiras três órbitas à volta da Lua.
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    Lançada do Cabo Canaveral três dias antes,
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    esta foi a primeira viagem
    de seres humanos
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    para além da órbita terrestre.
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    Na quarta passagem da nave,
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    a Terra apareceu lentamente,
    revelando-se acima do horizonte lunar.
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    O astronauta Bill Anders
    pergunta freneticamente à tripulação
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    onde está a máquina fotográfica,
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    pega na Hasselblad, aponta-a
    para a janela, carrega no botão
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    e tira uma das fotos
    mais importantes de todos os tempos:
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    o "nascer da Terra".
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    Quando a tripulação, dias depois,
    chegou a casa, sãos e salvos,
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    interrogaram-nos sobre a missão.
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    Diz-se que Anders respondeu:
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    "Fomos à Lua,
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    "mas, na verdade, descobrimos a Terra".
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    Como é que ele e os seus
    companheiros de tripulação se sentem
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    neste momento incrível?
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    Num estudo divulgado no ano passado,
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    uma equipa de investigadores
    da Universidade da Pensilvânia
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    examinou os depoimentos
    de centenas de astronautas
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    que tiveram a oportunidade
    de ver a Terra do espaço.
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    A análise deles revelou
    três sentimentos em comum:
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    primeiro, uma maior apreciação
    da beleza da Terra;
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    segundo, um maior sentimento de ligação
    com todos os outros seres vivos;
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    e terceiro, uma emoção inesperada
    e geralmente surpreendente.
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    Os investigadores pensam que ver
    a Terra a uma grande distância
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    estimula o desenvolvimento
    de novas estruturas cognitivas
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    para entender o que estão a ver.
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    Pensam que aqueles astronautas
    mudaram para sempre
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    por causa desta nova visão,
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    desta nova perspetiva,
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    desta nova verdade visual.
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    Habitualmente, chamamos a este sentimento
    um "efeito de visão geral".
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    Só estiveram no espaço 558 pessoas
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    só 558 pessoas tiveram a oportunidade
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    de contemplarem embevecidos,
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    de se surpreenderem com o nosso planeta
    a flutuar num mar infinito de escuridão.
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    E se esse número fosse maior?
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    Há três anos, parti na minha missão:
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    ver se podia levar esse sentimento
    de incrível magnitude e beleza
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    a muito mais pessoas
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    usando apenas um pequeno computador
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    no meu pequeno apartamento
    da cidade de Nova Iorque.
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    Foi então que, em 2013,
    lancei "Daily Overview".
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    Todos os dias, uso imagens de satélite
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    para criar uma ampla visão geral
    do nosso planeta.
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    Até agora, já foram criadas
    mais de mil destas imagens
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    e mais de 600 mil pessoas sintonizam
    esta dose diária de perspetivas.
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    Crio a imagem selecionando
    fotos do enorme arquivo
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    de uma empresa de satélite
    chamada Digital Globe
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    que manobra uma constelação
    de cinco satélites,
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    cada um com o tamanho aproximado
    de uma ambulância,
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    que estão permanentemente
    a tirar fotos da Terra
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    enquanto orbitam a 28 000 km por hora.
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    O que é que isso significa?
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    Cada um dos satélites está equipado
    com uma câmara
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    com uma distância focal de 16 m,
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    ou seja, cerca de 290 vezes maior
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    do que uma câmara DSLR equipada
    com uma lente vulgar de 55mm.
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    Se pudéssemos fixar um desses satélites
    no telhado dum teatro em Oxford,
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    podíamos tirar uma nítida foto
    de uma bola de futebol,
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    no campo do estádio de Amsterdão.
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    São 450 quilómetros de distância.
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    É uma tecnologia incrivelmente poderosa.
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    Decidi, no início deste projeto,
    que usaria essa tecnologia incrível
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    para me concentrar nos lugares
    em que o homem causou impacto no planeta.
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    Enquanto espécie, cavamos e danificamos
    a superfície da Terra para obter recursos,
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    produzimos energia,
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    criamos animais e cultivamos
    frutas e vegetais para alimentação,
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    construímos cidades, movimentamo-nos
    de um lado para o outro,
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    produzimos lixo.
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    Em consequência de fazer tudo isso,
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    alteramos paisagens terrestres, marinhas
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    e paisagens urbanas, com crescente
    controlo e impunidade.
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    Tendo isso em consideração,
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    gostava de partilhar convosco
    algumas das minhas imagens.
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    Aqui vemos navios cargueiros e petroleiros
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    à espera junto à entrada
    para o porto de Singapura.
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    Este porto é o segundo
    mais movimentado do mundo
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    em termos de tonelagem total,
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    representando um quinto
    dos navios de contentores do mundo
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    e metade do abastecimento anual
    de petróleo bruto.
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    Se olharem atentamente para esta imagem,
    verão muitas pequenas manchas.
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    São vacas numa estação de engorda,
    em Summerfield, no Texas, nos EUA.
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    Quando as vacas
    atingem um peso determinado,
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    de cerca de 300 kg,
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    vêm para aqui e são sujeitas
    a uma dieta especializada.
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    Nos três a quatro meses seguintes,
    as vacas aumentam mais 180 kg
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    antes de serem enviadas para abate.
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    Vocês devem estar a perguntar
    o que é esta piscina brilhante no topo.
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    Tem esta cor por causa duma combinação
    única de estrume, produtos químicos
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    e um tipo especial de algas
    que crescem em águas estagnadas.
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    Esta é a mina de minério
    de ferro em Mount Whaleback,
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    na região de Pilbara
    da Austrália Ocidental,
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    uma cicatriz bonita e assustadora
    na superfície da Terra.
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    De todo o minério de ferro
    extraído no mundo,
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    98% são usados para fabricar aço.
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    É, portanto, um componente
    importante na construção de edifícios,
  • 5:58 - 6:00
    de automóveis ou de eletrodomésticos,
  • 6:00 - 6:03
    como máquinas de lavar louça
    ou frigoríficos.
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    Este é um concentrador solar
    em Sevilha, em Espanha.
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    Esta fábrica contém 2650 espelhos,
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    dispostos em círculos concêntricos
    em volta duma torre
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    com 140 m de altura no centro.
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    No topo da torre,
    há uma cápsula de sal fundido,
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    aquecida pelos feixes de luz
    refletidos pelos espelhos lá em baixo.
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    A partir daí, o sal circula para um tanque
    de armazenamento subterrâneo,
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    onde produz vapor, que faz girar turbinas
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    e gera eletricidade suficiente
    para fornecer energia a 70 mil casas
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    e compensa 30 mil toneladas de emissões
    de dióxido de carbono, por ano.
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    Esta imagem mostra a desflorestação
    em Santa Cruz, na Bolívia,
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    imediatamente adjacente às regiões
    virgens da floresta tropical.
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    A desflorestação no país
    foi motivada principalmente
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    pela expansão da agricultura
    mecanizada e da pecuária.
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    Assim, à medida que o país tenta
    satisfazer as necessidades da população
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    e a alimenta,
  • 7:04 - 7:06
    o sacrifício da destruição
    da floresta tropical
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    tem sido necessário para isso.
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    Calcula-se que o país tenha perdido
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    1,8 milhões de hectares
    de floresta tropical
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    apenas em 10 anos, de 2000 a 2010.
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    Este é o bairro de Eixample
    em Barcelona, em Espanha.
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    A perspetiva geral
    pode ser extremamente útil
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    para perceber como funcionam as cidades
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    e para elaborar melhores soluções
    de planeamento urbano.
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    Isso tornar-se-á ainda mais relevante
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    quando se esperam 4900 milhões de pessoas
    a viver em cidades no mundo inteiro
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    no ano de 2030.
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    Esta área de Barcelona caracteriza-se
    por um rigoroso padrão de grelha,
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    apartamentos com pátios comunitários
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    e interseções octogonais
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    que permitem mais luz solar,
    uma ventilação melhor
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    e estacionamento extra ao nível da rua.
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    Vemos aqui esse padrão de grelha,
    mas em circunstâncias muito diferentes.
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    Este é o acampamento de refugiados
    de Dadaab, no norte do Quénia,
  • 8:02 - 8:05
    o maior acampamento deste tipo do mundo.
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    Para fazer face à entrada de refugiados
    que fogem da Somália,
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    onde há fome e conflitos,
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    a ONU construiu esta área, à esquerda,
    a que se chama a extensão LFO,
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    para abrigar mais refugiados
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    que estão a chegar e a ocupar
    estes pontos brancos,
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    que são tendas,
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    que vão sendo ocupados lentamente,
    ao longo do tempo.
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    Se tivermos uma destas imagens,
    teremos um momento no tempo.
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    Mas se tivermos duas imagens,
  • 8:31 - 8:35
    conseguiremos contar histórias
    sobre as mudanças no tempo.
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    Chamo a esta característica
    do projeto "justaposição",
  • 8:37 - 8:40
    e vou mostrar alguns exemplos.
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    Os campos de tulipas da Holanda
    florescem todos os anos em abril.
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    Selecionamos uma imagem captada
    em março, umas semanas antes,
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    e comparamo-la com outra,
    tirada umas semanas depois.
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    Observamos as flores a florescerem
    nesta magnífica cascata de cores.
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    Calcula-se que os holandeses produzem
    4300 milhões de bolbos de tulipas por ano.
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    Em 2015, duas barragens ruíram
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    numa mina de minério de ferro,
    no sudeste do Brasil,
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    causando um dos piores desastres
    ambientais da história do país.
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    Calcula-se que foram libertados
    62 milhões de metros cúbicos de resíduos
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    quando as barragens ruíram,
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    destruindo muitas aldeias,
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    incluindo a de Bento Rodrigues,
    vista aqui antes...
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    e depois da inundação.
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    No final, morreram 19 pessoas
    nesse desastre.
  • 9:35 - 9:38
    Meio milhão de pessoas
    deixaram de ter acesso a água potável
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    durante um longo período de tempo.
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    Os resíduos entraram no rio Doce,
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    que se prolonga por 650 km,
    a caminho do mar,
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    matando quantidades incontáveis
    de vida vegetal e animal pelo caminho.
  • 9:52 - 9:55
    Por fim — e esta é uma história
    relacionada com a crise da Síria,
  • 9:55 - 9:59
    um conflito que custou a vida
    de centenas de milhares de pessoas
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    e deslocou milhões.
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    Vemos esta área do deserto
    em Mafraq, na Jordânia, em 2011,
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    o ano em que o conflito começou.
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    Quando a comparamos com uma imagem
    captada este ano em 2017,
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    vemos a construção do acampamento
    de refugiados de Zaatari.
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    Tal como os astronautas da Apollo 8
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    observaram a Terra a nascer
    na paisagem lunar, pela primeira vez,
  • 10:24 - 10:27
    vocês não poderiam imaginar
    o aspeto visto do espaço
  • 10:27 - 10:30
    destes locais que acabei de mostrar.
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    Embora talvez desfrutem
    a estética de uma imagem,
  • 10:33 - 10:36
    uma vez que sabem
    exatamente o que estão a ver,
  • 10:36 - 10:39
    podem lutar com o facto
    de que gostam dela.
  • 10:40 - 10:42
    Essa é a tensão que quero criar
    com o meu trabalho,
  • 10:42 - 10:45
    porque acredito que é esta contemplação,
  • 10:45 - 10:47
    este diálogo interno,
  • 10:47 - 10:50
    que levará a um maior interesse
    pelo nosso planeta
  • 10:50 - 10:53
    e maior consciência
    do que lhe estamos a causar.
  • 10:53 - 10:56
    Acredito que ver a Terra
    desta perspetiva geral
  • 10:56 - 10:59
    é mais importante agora do que nunca.
  • 10:59 - 11:03
    Através desta tecnologia incrível
    destas câmaras de alta velocidade,
  • 11:03 - 11:06
    podemos ver, monitorar e denunciar
  • 11:06 - 11:09
    o impacto sem precedentes
    que estamos a ter.
  • 11:09 - 11:11
    Quer sejamos cientistas,
  • 11:11 - 11:14
    engenheiros, políticos,
  • 11:14 - 11:17
    investidores ou artistas,
  • 11:17 - 11:21
    se pudermos adotar
    uma perspetiva mais ampla,
  • 11:21 - 11:24
    abraçar a verdade do que está a acontecer,
  • 11:24 - 11:28
    e contemplar a saúde
    a longo prazo do nosso planeta,
  • 11:28 - 11:35
    criaremos um futuro melhor, mais seguro
    e mais inteligente para o nosso único lar.
  • 11:35 - 11:37
    Obrigado.
  • 11:37 - 11:40
    (Aplausos)
Title:
Como nos sentimos quando vemos a Terra a partir do espaço
Speaker:
Benjamin Grant
Description:

O que os astronautas sentiram quando viram a Terra a partit do espaço mudou-os para sempre. Benjamin Grant, autor e artista, pretende provocar a mesma sensação esmagadora e a beleza em cada um de nós, através duma série de fantásticas fotos por satéçite que mostram os efeitos que os seres humanos sentem no planeta. "Se adotarmos uma perspetiva mais abrangente, se aceitarmos a verdade do que se passa e se contemplarmos a saúde do nosso planeta a longo prazo, criaremos um futuro melhor, mais seguro e mais inteligente para este nosso lar especial", diz Grant.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
12:05

Portuguese subtitles

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