Determinação do sexo: mais complicado do que você pensa

De algo tão pequeno e complexo como um cromossomo até algo aparentemente simples como o clima, sistemas de determinação do sexo variam significativamente no reino animal. O biólogo e professor Aaron Reedy nos mostra as espantosas diferenças entre as espécies quando se trata da determinação dos gêneros.

Aula por Aaron Reedy, animação por BuzzCo (http://buzzzco.com).

(Música)

Minha mulher está grávida de nosso primeiro filho,

e quando as pessoas a veem com sua grande barriga,

a primeira pergunta é, quase invariavelmente, é

"É menino ou menina?"

Agora, há algumas premissas por trás da questão

que ignoramos porque não somos familiarizados
com nossa biologia humana.

Para bebês humanos, assumimos que há uma chance de 50/50

de ser tanto menino ou menina.

Mas por que é assim?

Bem, a resposta depende do sistema
de determinação do sexo

que envolve a nossa espécie.

Veja, para a maioria dos mamíferos,

o sexo do bebê é determinado geneticamente

com os cromossomos XY.

Mamíferos têm um par de cromossomos sexuais,

um herdado da mãe, e outro do pai.

Um par de X resulta em menina,

e um X e Y juntos resulta em menino.

Já que fêmeas só têm óvulos com X para
passar adiante,

e machos podem ter espermatozoides tanto com X ou Y,

o sexo é determinado pelo pai

e a chance de produzir um macho ou uma fêmea é 50/50.

Esse sistema tem funcionado bem em mamíferos,

mas através da árvore da vida, podemos ver outros sistemas

que funcionaram tão bem quanto
para outros animais.

Há outros grupos de animais que também possuem
determinação genética do sexo,

mas seus sistemas podem ser bem diferentes do nosso.

Aves e alguns répteis têm seu sexo geneticamente determinado

mas ao invés do sexo ser determinado pelo pai,

o sexo é determinado pela mãe.

Nesses grupos, um par de cromossomos sexuais Z

produz machos, então eles apenas transmitem Z's.

No entanto, nesses animais,

um cromossomo Z e um W juntos,

como um par, produz uma fêmea.

Nesse sistema, a chance de macho ou fêmea continua 50/50,

dependendo se a mãe doa um Z ou um W

em seus óvulos.

Certos grupos tomaram a determinação genética do sexo

em direções completamente opostas.

Formigas, por exemplo, têm um dos mais interessantes sistemas

para determinação do sexo, e por causa disso, se você é uma formiga macho,

você não tem um pai.

Em um formigueiro, há divisões dramáticas de trabalho.

Há soldados que defendem a colônia,

há trabalhadores que coletam comida, limpam o ninho e tomam conta dos jovens,

e há a rainha e um pequeno grupo de machos reprodutivos.

Agora, a rainha irá acasalar e armazenará esperma dos machos.

E é aí que o sistema fica realmente interessante.

Se a rainha usa o esperma armazenado para fertilizar um óvulo,

então o ovo irá desenvolver-se em uma fêmea.

No entanto, se ela depositar um ovo sem fertilizá-lo,

então este ovo irá se desenvolver em uma formiga,

mas sempre será um macho.

Então veja, é impossível que formigas machos tenham pais.

E formigas machos vivem suas vidas assim,

com uma única cópia de cada gene,

como um gameta ambulante.

Esse sistema é chamado de sistema haplodiplobionte

e é encontrado não só em formigas,

mas também em outros insetos sociais como abelhas e vespas.

Já que nosso sexo é determinado por genes,

e nós sabemos desses outros animais que têm seus sexos determinados por genes,

é fácil deduzir que para todos os animais

o sexo dos bebês é determinado geneticamente.

No entanto, para alguns animais, a questão de se será um menino ou uma menina

não tem nada a ver com genes,

e pode depender de algo como o clima.

São animais como os jacarés e tartarugas.

Nesses animais, o sexo do embrião em um ovo em desenvolvimento

é determinado pela temperatura.

Nessas espécies, o sexo do bebê não está determinado quando o ovo é posto,

e ele permanece indeterminado até algum tempo durante

o período total de desenvolvimento, quando um momento crucial é atingido.

E durante este tempo, o sexo é completamente determinado

pela temperatura do ninho.

Em tartarugas pintadas, por exemplo,

temperaturas mais quentes do que a temperatura crítica

produzirão fêmeas nos ovos,

e temperaturas frias produzirão um macho.

Eu não estou muito certo de quem inventou essa mnemônica,

mas você pode lembrar que em se tratando de tartarugas pintadas,

elas são todas gatas quentes e caras legais.

Para alguns peixes tropicais, a questão se será um menino ou uma menina

não está definida até muito mais tarde na vida.

Veja, peixes-palhaço começam a vida como machos.

No entanto, conforme amadurecem, eles se tornam fêmeas.

Eles também passam a vida em pequenos grupos com uma hierarquia dominante restrita

onde apenas os machos e fêmeas dominantes se reproduzem.

E espantosamente, se a fêmea dominante no grupo morre,

o maior e mais dominante macho rapidamente se transforma em fêmea

e toma o lugar, e todos os outros machos irão se organizar dentro da hierarquia.

Em outro animal oceânico bem diferente,

o verme Bonellia viridis,

o sexo dos bebês é determinado por um aspecto completamente diferente do ambiente.

Para essa espécie, é simplesmente uma questão de onde a larva

ocasionalmente cai no fundo do mar.

Se a larva cair no fundo do mar aberto,

então ela se desenvolve em uma fêmea.

Mas se ela cair sobre uma fêmea,

então ela se tornará um macho.

Então para algumas espécies, a questão de menino ou menina

é respondida geneticamente. Para outros, é respondida pelo ambiente.

E para outros, ainda, não se importam o mínimo com a questão.

Tome os lagartos do gênero Cnemidophorus, como exemplo.

Para esses lagartos do deserto, a resposta é simples.

É uma menina. É sempre uma menina.

Eles são quase uma espécie totalmente feminina,

e apesar de ainda botarem ovos, esses ovos eclodem como clones fêmeas.

Então será uma menina ou um menino?

Por todo o reino animal,

isso realmente depende do sistema de determinação do sexo.

Para humanos, é o sistema genético XY.

E pra mim e para minha esposa, descobrimos

que será um bebê macho.