-
O meu pai faz-me sofrer muito.
Já lhe dei várias hipóteses de mudar,
-
agora não quero vê-lo mais. Tenho de
continuar a tentar mudá-lo e a estar com ele?
-
Caro Thay, cara Sangha,
-
Sofro muito com o meu pai...
-
Ele é...
-
É difícil para mim...
-
estar com ele... e...
-
tornou-se quase perigoso.
-
Não quero vê-lo mais
-
dei-lhe várias hipóteses de mudar
-
tenho-me obrigado a estar com ele
-
mas já não consigo.
-
E a minha pergunta é:
-
Mesmo assim, tenho de continuar a tentar
e mudá-lo,
-
e tentar ir ter com ele
-
por mais cansado que eu esteja?
-
Caro Thay, o nosso amigo diz que
-
tem muitas dificuldades com o pai.
-
Tem sido muito difícil
para ele estar com o pai
-
e acha que agora chega a ser perigoso
-
e tem-se obrigado a ir ter com o pai
-
a dar ao pai muitas hipóteses de mudar,
-
de se transformar,
-
mas acha que não tem tido êxito.
-
Ele acha que já não consegue
forçar-se a estar com o pai,
-
mas pergunta a Thay
se deve continuar a tentar
-
levar o pai a transformar-se, a mudar
-
forçar-se a tentar
ajudar o pai a mudar.
-
Para encontrar a resposta certa,
-
temos de observar primeiro,
-
observar mais profundamente,
-
para vermos a relação entre nós
e a outra pessoa,
-
quer sejamos filho e pai,
-
ou filha e mãe,
-
ou parceiro e parceira.
-
E se tivermos dificuldades
com a outra pessoa,
-
e se quisermos mudá-la,
-
a primeira coisa a fazer
é observarmo-nos profundamente
-
e observarmos essa pessoa
-
para entendermos....
-
para vermos a relação, a ligação.
-
Habitualmente, achamos que...
-
a outra pessoa está fora de nós.
-
E essa não é a perspectiva correcta.
-
Neste caso,
-
achamos que o pai é exterior a nós
-
e que precisamos de mudar
apenas o exterior e não o interior.
-
Precisamos de ver
que o nosso pai está em nós.
-
O nosso pai está presente
em cada célula do nosso corpo.
-
Temos o nosso pai em nós.
-
Nós somos a continuação
do nosso pai.
-
E pode ser mais fácil para nós mudar
primeiro o nosso pai dentro de nós.
-
E podemos fazer isso 24 horas por dia.
-
Não precisamos de ir ter com ele,
-
de falar com ele para o mudar.
-
A forma como respiramos,
a forma como caminhamos,
-
pode mudá-lo dentro de nós.
-
Convidemo-lo a caminhar connosco,
-
a sentar-se connosco,
-
a sorrir connosco.
-
E então o pai dentro de nós mudará.
-
Senão, quando crescermos,
vamos comportar-nos como ele agora.
-
Há muitas crianças que odeiam o pai,
-
que prometem que quando crescerem,
-
não agirão nem falarão como o pai.
-
Mas quando crescem,
-
agem exactamente como o pai.
-
E falam exactamente como o pai.
-
Isso tem acontecido muitas vezes, sempre.
-
Odeiam aquilo,
-
não querem fazer assim,
-
não querem falar assim,
-
e, contudo, acabam por proceder
exactamente assim,
-
e por falar exactamente assim.
-
É a isto que no budismo chamamos
"Samsara", andar em círculos.
-
Damos continuidade
ao nosso pai
-
não só fisicamente,
-
mas também com o nosso modo de viver.
-
É por isso que, quando encontramos
o Buddhadharma,
-
temos uma oportunidade.
-
Temos de mudar primeiro
o nosso pai dentro de nós.
-
E quando conseguimos
-
mudar o pai dentro de nós,
-
ele não passará novamente ao Samsara.
-
Não transmitiremos
esse tipo de hábito aos nossos filhos.
-
Pomos um fim à roda do Samsara,
sempre a girar....
-
reciclar...
-
reciclando...
-
E quando o pai dentro de nós
se transforma,
-
a transformação do pai
exterior será muito mais fácil.
-
Esta é a minha experiência.
-
Conheço monges que são difíceis.
-
.
-
São altos dignitários na igreja,
na igreja budista.
-
São muito conservadores...
-
... conservadores...
-
Não permitem que
aconteça transformação na...
-
na comunidade.
-
Como sabem, para servir a sociedade,
-
há que renovar a nossa comunidade.
-
Quer a nossa comunidade seja a cristã
-
ou a budista ou a islâmica
ou a judaica, certo?
-
E há enorme vontade em muitos de nós
de renovar a nossa tradição,
-
de melhor servir a nossa sociedade
e os seres humanos, certo?
-
Mas há muitos
elementos conservadores na igreja.
-
Isto também se aplica ao meu caso.
-
Mas apercebi-me disto muito cedo.
E disse:
-
Temos...
-
Eles estão em nós.
-
Temos de nos mudar a nós mesmos antes.
-
Portanto, se for um parceiro,
-
com uma parceira que não muda,
-
não pense que a sua parceira
é apenas uma pessoa exterior a si.
-
A sua parceira está dentro de si.
-
Mesmo que se tenha divorciado dela.
-
Ontem colocaram-me uma pergunta:
-
"Podemos reconciliar-nos, começar de novo
com a pessoa de quem nos divorciamos?"
-
E é exactamente a esta pergunta
que temos de responder.
-
Porque mesmo...
-
Começamos por acreditar
que depois do divórcio,
-
podemos passar a ser nós mesmo de novo,
-
e tirar a outra pessoa
de dentro de nós completamente.
-
Isso é um erro.
-
.
-
É impossível retirá-la de dentro de vocês.
-
É impossível retirá-lo de dentro de vocês.
-
Totalmente impossível!
-
Por isso, antes de tentarem fazer
algo com a pessoa exterior,
-
tentem ajudá-la a transformar-se
no vosso interior.
-
Tentem ajudá-lo a transformar-se
no vosso interior.
-
E...
-
com esta prática,
-
podemos ter êxito
na nossa própria transformação
-
e tornarmo-nos num modelo.
-
Surgimos renovados.
-
O nosso modo de ser é exactamente
o modo que queremos ver nele.
-
Ao falar, ao agir, ao viver
-
começamos a mudá-lo.
-
Não o mudamos com palavras
-
o mais certo é as palavras não
conseguirem mudá-lo.
-
Mas o nosso modo de reagir,
o nosso modo de agir, reagir,
-
o nosso modo de responder,
-
ajudarão a mudar essa pessoa.
-
Porque ele também tem inteligência,
-
e consegue aperceber-se disso.
-
E...
-
Sabem que...
-
para ter êxito no trabalho
de nos mudarmos,
-
e de mudar a outra pessoa,
-
também precisamos de uma Sangha,
precisamos de amigos para nos apoiarem.
-
É por isso que temos de
tomar refúgio na Sangha.
-
Temos de saber como usar sabiamente
a energia colectiva da Sangha
-
para apoiar a nossa transformação e cura
-
e para nos ajudar
a transformar a outra pessoa.
-
Não tenham pressa de
transformar rapidamente o outro.
-
Primeiro, temos de o aceitar tal como é.
-
Primeiro, temos de a aceitar tal como é.
-
Depois desta aceitação,
começam logo a sentir-se muito melhor.
-
E começam a mudá-lo dentro de vocês.
-
Esta é uma prática muito profunda.
-
E como o nosso amigo tem vindo
a Plum Village todos os anos
-
e tem praticado connosco
desde que era pequenino,
-
acredito que vai conseguir.
-
E vamos tentar ajudá-lo a conseguir.
-
Nunca percamos a esperança.
-
E...
-
a maneira de nunca perdermos a esperança,
-
é progredirmos todos os dias,
pela prática, pela prática diária.
-
Obrigado por esta pergunta.
-
É uma boa pergunta.
-
ligue-se, inspire-se, nutra-se