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Mark Bittman fala sobre o que está errado com o que comemos

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    Eu escrevo sobre comida. Eu escrevo sobre cozinhar.
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    Levo isso bastante a sério,
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    mas estou aqui para falar sobre algo
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    que se tornou muito importante para mim nos últimos um ou dois anos.
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    É sobre comida, mas não sobre cozinhar propriamente.
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    Vou começar com esta foto de uma linda vaca.
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    Não sou vegetariano -- esta é a antiga linha de Nixon, correto?
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    Mas ainda acho que isto --
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    (Risadas)
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    -- talvez a versão deste ano sobre isso.
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    Agora isto é apenas um pouco hiperbólico.
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    E por que digo isso?
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    Porque apenas uma vez antes o destino dos indivíduos
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    e o futuro de toda a humanidade
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    estiveram tão intrinsicamente ligados.
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    Lá estava a bomba, e aqui está agora.
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    E para onde vamos daqui irá determinar
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    não apenas a qualidade e a longevidade de nossas vidas individualmente,
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    mas também, se pudessemos ver a terra daqui a um século,
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    nós reconheceríamos.
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    É um diferente tipo de holocausto,
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    e nos escondermos debaixo de nossas mesas não vai ajudar.
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    Comece com a noção de que o aquecimento global
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    não é apenas real, mas perigoso.
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    Já que todo cientista no mundo agora acredita nisso,
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    e até o presidente Bush parece que viu a luz, ou finge que viu,
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    podemos concordar que isso é uma dádiva.
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    Então escutem isso, por favor.
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    Depois da produção de energia, a criação de animais é o segundo maior emissor
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    de gases que alteram a atmosfera.
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    Cerca de um quinto de todos os gases do efeito estufa
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    é gerado pela produção de animais --
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    mais do que pelo transporte.
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    Agora, vocês podem fazer todas as piadas que quiserem sobre peidos de vaca,
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    mas o metano é 20 vezes mais tóxico que o CO2,
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    e não é apenas o metano.
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    A criação de animais é também um dos maiores responsáveis pela degradação da terra,
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    poluição do ar e da água, secas e perda da biodiversidade.
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    Tem mais.
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    Metade dos antibióticos deste país
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    não são administrados para as pessoas, mas para os animais.
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    Mas listas deste tipo perdem seu efeito, então deixe-me dizer apenas isto,
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    se você é progressista,
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    se você está dirigindo um Prius, ou se você faz compras ecológicas,
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    ou se você está procurando por alimentos orgânicos,
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    você provavelmente deveria ser semi-vegetariano.
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    Agora, eu não sou mais anti-vaca do que sou anti-átomos,
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    mas está tudo no modo como usamos essas coisas.
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    Tem outra peça do quebra-cabeça
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    da qual Ann Cooper falou muito bem ontem,
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    e uma que vocês já conhecem.
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    Não há dúvidas -- nenhuma -- de que as chamadas doenças de estilo de vida --
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    diabetes, doenças cardíacas, infarto, alguns cânceres --
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    são doenças que prevalecem muito mais aqui
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    do que em qualquer outro lugar do mundo.
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    E essa é uma consequência direta de se comer uma dieta Ocidental.
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    Nossa demanda por carne, laticínios e carboidratos refinados --
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    o mundo consome um bilhão de latas ou garrafas de Coca-Cola por dia --
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    nossa demanda por tais coisas, não nossa necessidade, nosso desejo --
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    nos leva a consumir muito mais calorias do que é bom para nós.
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    E essas calorias estão em alimentos que causam, não previnem, doenças.
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    Agora, o aquecimento global foi imprevisível.
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    Não sabíamos que a poluição faria mais do que causar má visibilidade.
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    Talvez algumas doenças pulmonares aqui e ali,
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    mas você sabe, nada tão relevante.
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    A atual crise da saúde, no entanto,
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    é um pouco mais do trabalho do império do mal.
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    Nos disseram, nos deram certeza,
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    de que quanto mais carne, laticínios e aves nós comêssemos,
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    mais saudáveis nós seríamos.
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    Não. O consumo exagerado de animais, e é claro, de junk food,
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    é o maior problema, juntamente com o escasso consumo de vegetais.
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    Agora, não temos tempo de falar aqui sobre os benefícios de se comer vegetais,
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    mas a evidência é que os vegetais -- e quero deixar isso claro --
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    não são os componentes do vegetal, é o vegetal.
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    Não é o betacaroteno, é a cenoura.
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    As evidências apontam claramente que o consumo de vegetais promove saúde.
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    Esta evidência é muito animadora neste ponto.
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    Você come mais vegetais, você come menos das outras coisas, você vive mais.
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    Nada mal.
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    Mas de volta aos animais e a junk food.
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    O que eles têm em comum?
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    Um: não precisamos de nenhum dos dois para ter saúde.
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    Não precisamos de produtos animais,
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    e certamente não precisamos de pão branco ou Coca-cola.
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    Dois: ambos têm marketing pesado,
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    criando uma demanda artificial.
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    Não nascemos com desejo de chocolate ou balas.
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    Três: a produção deles tem sido subsidiada por agências do governo,
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    às custas de uma dieta mais saudável e ecologicamente correta.
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    Agora, imaginemos um paralelo.
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    Vamos fazer de conta que nosso governo apoia uma economia baseada em petróleo,
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    enquanto desencoraja formas de energia mais sustentáveis,
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    sabendo todo o tempo que o resultado seria
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    poluição, guerra e custos mais altos.
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    Incrível, não é?
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    Ainda assim é o que fazem.
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    E eles fazem isso aqui. É a mesma coisa.
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    O mais triste é que, em relação à dieta,
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    isso acontece mesmo quando federais bem intencionados
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    tentam fazer a coisa certa, eles falham.
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    Ou são vencidos pelos manipuladores do agronegócio,
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    ou eles são os manipuladores do agronegócio.
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    Então quando o Departamento de Agricultura (USDA) finalmente reconheceu
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    que eram as verduras, e não os animais, que faziam as pessoas saudáveis,
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    eles nos incentivaram, através de sua pirâmide alimentar simplista,
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    a comer cinco porções de frutas e verduras por dia,
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    juntamente com mais carboidratos.
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    O que eles não nos disseram foi que alguns carboidratos são melhores que outros,
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    e que vegetais e grãos integrais
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    devem substituir o consumo de junk food.
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    Mas os lobistas da indústria nunca deixariam isso acontecer.
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    E adivinhem?
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    Metade das pessoas que desenvolveram a pirâmide alimentar
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    tem ligações com o agronegócio.
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    Então em vez de substituir vegetais por animais,
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    nosso inchado apetite simplesmente aumentou,
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    e os aspectos mais perigosos da dieta permaneceram inalterados.
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    As chamadas dietas de baixa gordura, as chamadas dietas de poucos carboidratos
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    não são a solução.
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    Mas com tanta gente inteligente
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    prestando atenção se a comida é orgânica ou local,
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    ou se estamos sendo bonzinhos com os animais,
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    as questões mais importantes não estão sendo resolvidas.
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    Agora, não me entenda mal.
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    Eu gosto de animais,
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    e não acho que está tudo bem em industrializar sua produção
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    e tratá-los como se eles fossem ferramentas.
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    Mas não há como tratar bem os animais
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    quando se está matando 10 bilhões deles por ano.
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    Este é o nosso número. Dez bilhões.
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    Se você enfileirar todos eles --
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    frangos, bois, porcos e carneiros -- até a lua,
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    eles iriam até lá e voltariam cinco vezes -- ida e volta.
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    Agora, minha matemática está um pouco enferrujada, mas isso é impressionante,
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    e depende um pouco se um porco mede 1,2 ou 1,5 metros,
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    mas já dá para se ter uma idéia.
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    Isto é apenas nos Estados Unidos.
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    E com nosso consumo exagerado destes animais
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    produzindo gases de efeito estufa e doenças cardíacas,
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    bondade seria apenas um tipo de distração.
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    Vamos chegar aos números de animais que abatemos para consumo,
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    e então podemos nos preocupar em tratar melhor os que restarem.
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    Outra distração pode ser exemplificada pela palavra "locavore"
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    que acaba de ser nomeada a Palavra do Ano pelo novo dicionário Oxford.
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    Sério.
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    Um "locavore", para aqueles de vocês que não sabem,
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    é alguém que consome apenas alimentos produzidos localmente.
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    O que é bom se você mora na Califórnia,
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    mas para o restante de nós é uma espécie de piada triste.
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    Entre a história oficial -- a pirâmide alimentar --
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    e a bem informada visão "locavore",
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    vocês têm duas versões de como melhorar sua alimentação.
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    (Risadas)
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    As duas estão erradas, no entanto.
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    A primeira, ao menos é populista, e a segunda é elitista.
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    Como chegamos a este ponto é a história da comida nos Estados Unidos.
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    E vou falar um pouco sobre isso,
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    pelo menos dos últimos cem anos, bem rapidamente agora.
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    Cem anos atrás, adivinhem o quê?
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    Todo mundo era "locavore", até Nova York tinha criações de porcos nas redondezas
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    e transportar comida por todo lado era uma idéia ridícula.
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    Toda família tinha um cozinheiro, normalmente a mãe.
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    E essas mães compravam e preparavam a comida.
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    Era como sua visão romântica da Europa.
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    Margarina não existia.
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    Na verdade, quando inventaram a margarina,
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    diversos estados decretaram leis declarando que ela devia ser tingida de rosa,
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    para que todos soubessémos que era falsa.
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    Não existiam lanchinhos, e até a década de 20,
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    antes de Clarence Birdseye aparecer, não havia comida congelada.
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    Não existiam cadeias de restaurantes.
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    Havia restaurantes locais, administrados por moradores locais,
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    mas nenhum deles pensaria em abrir um outro.
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    Comer comida étnica era impensável a não ser que você fosse de outra etnia.
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    E comida chique era inteiramente francesa.
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    Pondo isso de lado, para os que se lembram
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    de Dan Aykroyd nos anos 1970 imitando a Julia Child
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    podem ver de onde ele tirou a idéia de esfaquear-se neste excelente slide.
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    (Risos)
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    Naquele tempo, antes mesmo da Julia,
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    naquele tempo não havia uma filosofia alimentar.
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    Você simplesmente comia.
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    Você não alegava ser nada.
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    Não havia marketing. Não havia marcas nacionais.
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    As vitaminas ainda não haviam sido inventadas.
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    Os produtos não alegavam ser saudáveis, ao menos não através de sanções do governo.
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    Gorduras, carboidratos, proteínas -- eles não eram bons ou ruins, eram comida.
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    Você comia comida.
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    Quase nada continha mais que um ingrediente,
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    porque era ele próprio um ingrediente.
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    Flocos de milho ainda não haviam sido inventados.
  • 9:04 - 9:05
    (Risadas)
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    Tortas fabricadas, Pringles, Cheetos, nada dessas coisas.
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    Peixinhos dourados nadavam.
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    (Risadas)
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    É difícil imaginar. As pessoas plantavam comida, e comiam comida.
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    E de novo, todo mundo comia produtos locais.
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    Em Nova York, laranjas eram um presente de Natal comum,
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    porque elas vinham da Flórida.
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    A partir dos anos 30, o sistema rodoviário expandiu,
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    caminhões substituíram os trens,
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    alimentos frescos começaram a viajar mais.
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    Laranjas tornaram-se comuns em Nova York.
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    O Sul e o Oeste tornaram-se centros de produção agrícola,
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    e em outras partes do país os subúrbios ocuparam as fazendas.
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    Os efeitos disso são bem conhecidos, eles estão em todo lugar.
  • 9:42 - 9:45
    E a morte da fazenda familiar é parte desse quebra-cabeça,
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    assim como quase todo o resto
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    do falecimento das reais comunidades
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    ao desafio de encontrar um bom tomate, mesmo no verão.
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    Eventualmente a California produziu comida demais para enviá-la fresca,
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    então tornou-se crucial comercializar comida enlatada e congelada.
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    Eis que chega a conveniência.
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    Eles eram vendidos a donas de casa pseudo-feministas
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    como uma forma de diminuir o trabalho doméstico.
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    Agora, sei que todos com mais de, talvez 45 anos --
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    estão com água na boca agora.
  • 10:11 - 10:12
    (Risadas)
  • 10:12 - 10:13
    (Aplausos)
  • 10:13 - 10:17
    Se tivéssemos um slide de um bife Salisbury, ainda mais, certo?
  • 10:17 - 10:18
    (Risadas)
  • 10:19 - 10:21
    Mas isso pode ter diminuido o trabalho doméstico,
  • 10:21 - 10:24
    mas também diminuiu a variedade de alimentos que nós comíamos.
  • 10:24 - 10:28
    Muitos de nós cresceu sem nunca ter comido uma verdura fresca,
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    com exceção de uma ocasional cenoura crua e talvez uma salada de alface.
  • 10:32 - 10:34
    Eu, no meu caso -- e não estou brincando --
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    não havia comido espinafre ou brócolis de verdade até os 19 anos.
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    Mas quem precisava então? Carne estava por toda parte.
  • 10:40 - 10:43
    O que poderia ser mais fácil, mais satisfatório ou saudável para sua família
  • 10:43 - 10:45
    do que grelhar a carne?
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    Mas nesta época o gado já era criado de forma não natural.
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    Ao invés de passarem sua vida comendo grama,
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    para o qual seus estômagos foram feitos,
  • 10:54 - 10:56
    eles foram forçados a comer soja e milho.
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    Eles têm problemas para digerir esses grãos, é claro,
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    mas isso não era um problema para os produtores.
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    Novas drogas os mantinham saudáveis.
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    Bem, elas os mantinham vivos.
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    Saudáveis era uma outra história.
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    Graças aos subsídios às fazendas,
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    a boa colaboração entre o agronegócio e o Congresso,
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    soja, milho e gado tornaram-se reis.
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    E frango logo se juntou a eles no trono.
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    Foi durante este período que o ciclo de
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    dietas e a destruição planetária começaram,
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    algo que nós apenas percebemos agora.
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    Escutem isso,
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    entre 1950 e 2000, a população mundial dobrou.
  • 11:33 - 11:36
    O consumo de carne aumentou cinco vezes.
  • 11:36 - 11:42
    Agora, alguém teria que comer tudo isso, então apareceram os fast-food.
  • 11:43 - 11:46
    E isto resolveu a situação retumbantemente.
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    Cozinhar em casa permaneceu uma norma, mas a qualidade caiu imensamente.
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    Havia menos refeições com pães, sobremesas e sopas caseiras,
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    porque todos eles poderiam ser comprados em qualquer loja.
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    Não que fossem bons, mas eles estavam ali.
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    A maioria das mães cozinhava como a minha --
  • 12:01 - 12:05
    um pedaço de carne grelhada, uma rápida salada com molho engarrafado,
  • 12:05 - 12:07
    sopa enlatada, salada de fruta enlatada.
  • 12:07 - 12:10
    Talvez batatas cozidas ou purê de batatas
  • 12:10 - 12:13
    ou talvez a comida mais estúpida de todas -- Arroz Minuto.
  • 12:13 - 12:17
    Para sobremesa, sorvete e biscoitos comprados na loja.
  • 12:17 - 12:21
    Minha mãe não está aqui, então posso dizer isso agora.
  • 12:21 - 12:25
    Esse tipo de comida me levou a aprender a cozinhar para mim mesmo.
  • 12:25 - 12:26
    (Risadas)
  • 12:26 - 12:28
    Não era de todo ruim.
  • 12:28 - 12:30
    Lá pelos anos 70, pessoas avançadas
  • 12:30 - 12:33
    começaram a reconhecer o valor dos ingredientes locais.
  • 12:33 - 12:36
    Nós criamos jardins, nós nos tornamos interessados em comida orgânica,
  • 12:36 - 12:38
    nós conhecíamos ou éramos vegetarianos.
  • 12:38 - 12:40
    Nós tampouco éramos todos hippies.
  • 12:40 - 12:43
    Alguns de nós estavam comendo em bons restaurantes e aprendendo como cozinhar melhor.
  • 12:43 - 12:48
    Enquanto isso, a produção de comida tornou-se industrial. Industrial.
  • 12:48 - 12:51
    Talvez porque estivesse sendo produzida racionalmente
  • 12:51 - 12:53
    como se fosse plástico,
  • 12:53 - 12:57
    comida ganhou poderes mágicos ou venenosos, ou os dois.
  • 12:57 - 12:59
    Muitas pessoas passaram a ter fobia de gordura.
  • 12:59 - 13:03
    Outras adoravam brócolis como se fosse um Deus.
  • 13:03 - 13:05
    Mas na maioria eles não comiam brócolis.
  • 13:05 - 13:07
    Ao invés disso, eles eram vendidos em iogurtes,
  • 13:07 - 13:09
    sendo iogurte quase tão bom quanto brócolis.
  • 13:09 - 13:12
    Exceto que, na realidade, a forma como a indústria vendia iogurte
  • 13:12 - 13:15
    era para convertê-lo em algo muito mais próximo do sorvete.
  • 13:15 - 13:18
    Similarmente, vamos olhar para a barra de granola.
  • 13:18 - 13:20
    Você pensa que deve ser uma comida saudável,
  • 13:20 - 13:22
    mas na verdade, se você olhar para a lista de ingredientes,
  • 13:22 - 13:26
    está mais perto de ser uma bala do que de ser um cereal.
  • 13:27 - 13:30
    Infelizmente, foi nessa época que o jantar familiar foi colocado em coma,
  • 13:30 - 13:32
    se não foi realmente morto.
  • 13:33 - 13:36
    O começo do auge da comida com valores nutricionais adicionados,
  • 13:36 - 13:38
    que continham o máximo de produtos com soja e milho
  • 13:38 - 13:40
    que podiam ser adicionados neles.
  • 13:40 - 13:42
    Pensem no nugget de frango congelado.
  • 13:42 - 13:45
    O frango é alimentado com milho, e então sua carne é moída
  • 13:45 - 13:49
    e misturada com mais produtos do milho para ganhar massa e sustância,
  • 13:49 - 13:52
    e então é frito em óleo de milho.
  • 13:53 - 13:55
    Tudo que você faz é devorá-lo. O que poderia ser melhor?
  • 13:56 - 13:58
    E atacá-lo horrivelmente, pateticamente.
  • 13:59 - 14:03
    Nos anos 70, cozinhar em casa estava em um estado tão triste
  • 14:03 - 14:06
    que as comidas com alto teor de gordura e tempero
  • 14:06 - 14:08
    como McNuggets e Hot Pockets --
  • 14:08 - 14:11
    na verdade, todos nós temos nossos favoritos --
  • 14:11 - 14:13
    tornou essas coisas mais atraentes do que as de sabor mais leve
  • 14:13 - 14:15
    que as pessoas estavam servindo em casa.
  • 14:15 - 14:19
    Ao mesmo tempo, muitas mulheres estavam entrando no mercado de trabalho,
  • 14:19 - 14:21
    e cozinhar simplesmente não era importante o suficiente
  • 14:21 - 14:23
    para os homens dividirem o fardo.
  • 14:23 - 14:26
    Então agora você tem suas noites de pizza, você tem suas noites de microondas,
  • 14:26 - 14:28
    você tem sua noite de derivados de animais,
  • 14:28 - 14:30
    você tem suas noites faça-você-mesmo e assim vai.
  • 14:31 - 14:34
    Liderando o caminho -- O que está liderando o caminho?
  • 14:34 - 14:36
    Carne, junk food, queijo.
  • 14:36 - 14:38
    A mesma coisa que vai matar você.
  • 14:38 - 14:40
    Então agora nós clamamos por comida orgânica.
  • 14:40 - 14:42
    Isso é bom.
  • 14:42 - 14:44
    E como uma evidência de que as coisas realmente podem mudar,
  • 14:44 - 14:46
    você agora encontra comida orgânica em supermercados,
  • 14:46 - 14:48
    e até em algumas redes de fast-food.
  • 14:48 - 14:50
    Mas comida orgânica também não é a resposta,
  • 14:50 - 14:53
    pelo menos não da forma como tem sido definida.
  • 14:53 - 14:55
    Deixem-me fazer uma pergunta a vocês.
  • 14:55 - 14:57
    Pode um salmão criado na fazenda ser orgânico
  • 14:57 - 15:02
    quando sua alimentação não tem nada a ver com sua dieta natural,
  • 15:02 - 15:06
    mesmo que ele supostamente se alimente de orgânicos, e os próprios peixes
  • 15:06 - 15:11
    são colocados apertados em seus viveiros, nadando em sua própria sujeira?
  • 15:11 - 15:15
    E se este salmão for do Chile e ele é morto por lá
  • 15:15 - 15:18
    e então voa 5.000 milhas, que seja,
  • 15:18 - 15:21
    jogando quanto de carbono na atmosfera?
  • 15:21 - 15:23
    Eu não sei.
  • 15:23 - 15:25
    Embalado com isopor, é claro,
  • 15:25 - 15:28
    antes de aterrisar em algum lugar dos Estados Unidos
  • 15:28 - 15:30
    e então ser levado de caminhão por mais algumas milhas.
  • 15:30 - 15:35
    Isso pode ser orgânico no papel, mas com certeza não é orgânico no espírito.
  • 15:36 - 15:38
    Então é aqui que todos nos encontramos.
  • 15:38 - 15:41
    Os locavores, os organivores, os vegetarianos,
  • 15:41 - 15:43
    os vegans, os gourmets
  • 15:43 - 15:47
    e aqueles de nós que estão apenas interessados na boa comida.
  • 15:47 - 15:50
    Mesmo que tenhamos chegado aqui a partir de diferentes pontos,
  • 15:50 - 15:52
    nós todos temos que agir com nosso conhecimento
  • 15:52 - 15:56
    para mudar a forma que todos pensam sobre comida.
  • 15:56 - 15:58
    Precisamos começar a agir.
  • 15:58 - 16:02
    E isto não é apenas uma questão de justiça social, como Ann Cooper disse --
  • 16:02 - 16:04
    e é claro que ela está completamente certa --
  • 16:04 - 16:06
    mas também é questão de sobrevivência global.
  • 16:06 - 16:11
    O que me traz para a roda e aponta direto para o centro da questão,
  • 16:11 - 16:15
    a superprodução e o superconsumo de carne e junk food.
  • 16:15 - 16:18
    Como eu disse, 18% dos gases do efeito estufa
  • 16:18 - 16:21
    são atribuídos à criação de animais.
  • 16:21 - 16:24
    Quantas criações de animais são necessárias para se produzir isto?
  • 16:24 - 16:27
    70% da terra para agricultura do planeta.
  • 16:27 - 16:33
    30% da superfície terrestre é direta ou indiretamente dedicada
  • 16:33 - 16:36
    à criação de animais que comemos.
  • 16:36 - 16:39
    E esta quantidade está prevista para dobrar nos próximos 40 anos ou mais.
  • 16:39 - 16:41
    E se os números vindos da China
  • 16:41 - 16:44
    forem algo parecido com o que aparentam ser agora,
  • 16:44 - 16:46
    não serão 40 anos.
  • 16:46 - 16:50
    Não existe nenhum bom motivo para comermos tanta carne como nós fazemos.
  • 16:50 - 16:55
    E eu digo isso como um homem que já comeu uma grande porção de carne em sua vida.
  • 16:55 - 16:58
    O argumento mais comum é que precisamos de nutrientes --
  • 16:58 - 17:01
    mesmo que comamos, em média, duas vezes mais proteína
  • 17:01 - 17:06
    do que a obsessiva indústria da USDA recomenda.
  • 17:06 - 17:10
    Mas escutem -- experts que são sérios sobre a redução de doenças
  • 17:10 - 17:16
    recomendam que adultos comam apenas cerca de 225 gramas de carne por semana.
  • 17:16 - 17:20
    O que vocês acham que comemos por dia? 225 gramas.
  • 17:20 - 17:23
    Mas nós não precisamos de carne para ser grande e forte?
  • 17:23 - 17:26
    Comer carne não é essencial para a saúde?
  • 17:26 - 17:28
    Uma dieta rica em frutas e vegetais
  • 17:28 - 17:31
    não vai nos transformar em ateus, fracotes, liberais?
  • 17:31 - 17:32
    (Risadas)
  • 17:32 - 17:35
    Alguns de nós podem pensar que isso pode ser uma coisa boa.
  • 17:35 - 17:40
    Mas não, mesmo se fossemos todos jogadores de futebol cheios de esteróides,
  • 17:40 - 17:42
    a resposta é não.
  • 17:42 - 17:46
    Na verdade, não existe dieta no planeta que possua
  • 17:46 - 17:50
    elementos nutricionais básicos que não promovam o crescimento,
  • 17:50 - 17:53
    e muitas vão torná-lo mais saudável do que a nossa dieta atual.
  • 17:53 - 17:56
    Nós não comemos produtos animais para ter nutrição suficiente,
  • 17:56 - 18:02
    nós os comemos para ter uma estranha forma de má nutrição, e ela está nos matando.
  • 18:02 - 18:05
    Para sugerir que nos interesses de saúde pessoal e humana
  • 18:05 - 18:08
    os americanos comem 50% menos carne --
  • 18:08 - 18:11
    não é um corte suficiente, mas é um começo.
  • 18:11 - 18:16
    Pode parecer absurdo, mas isto é exatamente o que deve acontecer,
  • 18:16 - 18:19
    e o que progressistas, pessoas antenadas
  • 18:19 - 18:22
    deveriam estar fazendo e defendendo,
  • 18:22 - 18:25
    juntamente com o correspondente aumento do consumo de vegetais.
  • 18:26 - 18:29
    Eu tenho escrito sobre comida mais ou menos de maneira indiscriminada
  • 18:29 - 18:32
    alguém pode dizer indiscriminadamente -- por cerca de 30 anos.
  • 18:32 - 18:34
    Durante esse período eu comi
  • 18:34 - 18:37
    e recomendei que comessem praticamente de tudo.
  • 18:38 - 18:40
    Eu nunca vou parar de comer animais, tenho certeza,
  • 18:41 - 18:43
    mas eu penso que para o benefício de todos,
  • 18:43 - 18:46
    chegou a hora de parar de produzi-los industrialmente
  • 18:46 - 18:48
    e de parar de comê-los negligentemente.
  • 18:48 - 18:50
    Ann Cooper está certa.
  • 18:50 - 18:55
    O USDA não é nosso aliado aqui.
  • 18:55 - 18:57
    Nós temos que assumir responsabilidade em nossas próprias mãos,
  • 18:57 - 19:00
    não apenas defendendo uma dieta melhor para todos --
  • 19:00 - 19:04
    e aí está a parte difícil -- mas melhorando a sua própria.
  • 19:04 - 19:06
    E isto pode ser muito fácil.
  • 19:06 - 19:09
    Menos carne, menos junk food, mais vegetais.
  • 19:09 - 19:11
    É uma fórmula simples -- coma comida.
  • 19:11 - 19:13
    Coma comida de verdade.
  • 19:13 - 19:17
    Podemos continuar apreciando nossa comida, e continuamos a comer bem,
  • 19:17 - 19:19
    e podemos comer ainda melhor.
  • 19:19 - 19:22
    Podemos continuar a busca pelos ingredientes que amamos,
  • 19:22 - 19:27
    e podemos continuar a contar histórias sobre nossas refeições favoritas.
  • 19:27 - 19:31
    Reduziremos não apenas calorias, mas também nossa pegada de carbono.
  • 19:31 - 19:34
    Podemos fazer a comida mais importante, não menos,
  • 19:34 - 19:36
    e salvar nós mesmos ao fazer isso.
  • 19:36 - 19:39
    Temos que escolher esse caminho.
  • 19:39 - 19:41
    Obrigada.
Title:
Mark Bittman fala sobre o que está errado com o que comemos
Speaker:
Mark Bittman
Description:

Nesta intensa e divertida palestra, o escritor da seção de comida do New York Times Mark Bittman levanta o que está errado na forma como comemos atualmente (muita carne, poucos vegetais; muito fast food, pouca comida feita em casa) e porque isso está colocando todo o planeta em risco.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
19:43
Christine Veras added a translation

Portuguese, Brazilian subtitles

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