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Minha história | Elizabeth Smart | TEDxUniversityofNevada

  • 0:17 - 0:22
    Eu não conheço uma pessoa
    que tenha a vida perfeita.
  • 0:22 - 0:23
    Ninguém.
  • 0:23 - 0:30
    E eu sei que cada um de nós
    tem seus próprios desafios e provações
  • 0:30 - 0:34
    e tem dias que desejamos
    não precisar sair da cama.
  • 0:34 - 0:38
    Tem dias que desejamos poder
    puxar as cobertas e hibernar.
  • 0:39 - 0:41
    Mas temos uma escolha a fazer.
  • 0:41 - 0:45
    Temos a escolha de ficar na cama
    e deixar a coberta puxada sobre nós
  • 0:45 - 0:48
    ou temos a escolha de seguir em frente.
  • 0:48 - 0:52
    Quando eu tinha 14 anos,
    nada em mim se destacava.
  • 0:52 - 0:54
    Eu era uma garota comum de 14 anos
  • 0:54 - 0:58
    preparando-se para terminar
    o ensino fundamental, bem animada.
  • 0:59 - 1:01
    Eu me lembro de ir me deitar uma noite
  • 1:01 - 1:06
    em um quarto que dividia com a minha irmã,
    em uma cama que dividia com ela.
  • 1:06 - 1:10
    Eu me lembro de acordar
    com uma voz desconhecida dizendo:
  • 1:10 - 1:13
    "Eu tenho uma faca no seu pescoço;
    não faça barulho.
  • 1:13 - 1:15
    Levante-se e venha comigo".
  • 1:16 - 1:19
    Aquilo deu início
    a um pesadelo de nove meses.
  • 1:19 - 1:21
    Eu me lembro deste homem estranho
  • 1:21 - 1:24
    levando-me para o alto da montanha
    atrás da minha casa,
  • 1:24 - 1:26
    o tempo inteiro com a faca no pescoço.
  • 1:26 - 1:30
    Eu me lembro de ser levada
    tão longe na montanha
  • 1:30 - 1:34
    que atravessamos o seu pico
    e começamos a descer do outro lado.
  • 1:34 - 1:37
    Estávamos a cerca de um quarto da descida
  • 1:37 - 1:40
    quando chegamos em um bosque
    e nada era estranho sobre ele,
  • 1:40 - 1:43
    nada parecia especial.
  • 1:44 - 1:46
    Mas ele me direcionou
    para dentro desse bosque,
  • 1:46 - 1:48
    e eu me lembro de entrar
  • 1:48 - 1:51
    e eu vi que parte da montanha
    tinha sido nivelada.
  • 1:51 - 1:53
    Havia uma barraca montada.
  • 1:53 - 1:57
    Tinha lonas pelo chão,
    penduradas nas árvores.
  • 1:57 - 2:01
    Eu lembro de ver um enorme
    buraco no chão, atrás da barraca,
  • 2:01 - 2:05
    que cobriram com toras
    e jogaram terra por cima.
  • 2:06 - 2:10
    Mas a parte mais assustadora
    de toda essa cena
  • 2:11 - 2:13
    foi a mulher que saiu da barraca.
  • 2:13 - 2:16
    Ela me levou para dentro
    e me sentou em um balde
  • 2:16 - 2:18
    onde ela tentou me limpar com uma esponja,
  • 2:18 - 2:22
    e trocou meus pijamas
    por um roupão estranho.
  • 2:23 - 2:28
    Eu cresci sendo muito tímida
    e muito constrangida
  • 2:28 - 2:33
    e aquela foi a coisa mais traumatizante
    que já tinha acontecido comigo.
  • 2:33 - 2:38
    Lembro de implorar e suplicar a ela
    para deixar que eu me limpasse sozinha,
  • 2:38 - 2:41
    que não estava suja,
    que havia tomado banho na noite anterior,
  • 2:41 - 2:45
    e que eu podia me trocar sozinha
    e não precisava da ajuda dela.
  • 2:46 - 2:51
    Finalmente, depois de 15 minutos,
    provavelmente, de súplica e choro,
  • 2:51 - 2:54
    ela finalmente me passou o roupão.
  • 2:54 - 2:57
    Cobri-me com ele, ela pegou meu pijama,
  • 2:57 - 3:00
    e me deixou sozinha na barraca,
    sentada em um balde virado.
  • 3:00 - 3:04
    Eu lembro de sentar lá e chorar,
  • 3:04 - 3:06
    e pensar no que havia acontecido comigo.
  • 3:06 - 3:10
    Como ontem mesmo eu estava
    na escola com meus amigos.
  • 3:10 - 3:13
    Como ontem mesmo estava em casa,
  • 3:13 - 3:18
    ansiosa para a formatura,
    pronta para ir para o ensino médio.
  • 3:18 - 3:20
    Como isso aconteceu?
  • 3:20 - 3:23
    Como meu mundo virou do dia para a noite?
  • 3:23 - 3:26
    E o que aconteceu com a minha família?
  • 3:26 - 3:30
    Aquele homem já tinha percorrido
    minha casa e matado minha família?
  • 3:30 - 3:32
    O que iria acontecer comigo?
  • 3:32 - 3:36
    Os únicos pensamentos que eu tinha
    sobre o que iria acontecer comigo eram:
  • 3:36 - 3:39
    ele iria me estuprar e depois me matar,
  • 3:39 - 3:42
    porque ninguém sobrevive ao ser raptado,
  • 3:42 - 3:43
    ninguém nunca volta para casa.
  • 3:43 - 3:48
    Eu nunca vi um final feliz
    em uma história de rapto.
  • 3:48 - 3:51
    Cada história que os jornais repetem
    são sempre as mesmas.
  • 3:51 - 3:56
    Talvez dias depois, semanas depois,
    anos depois, um corpo é encontrado,
  • 3:56 - 3:57
    mas é isso que acontece.
  • 3:58 - 4:01
    Enquanto estava sentava lá
    chorando, apavorada,
  • 4:01 - 4:05
    me lembro da barraca sendo aberta
    e aquele homem entrando,
  • 4:05 - 4:08
    e ele havia trocado das roupas escuras
    em que havia me raptado,
  • 4:08 - 4:10
    para um roupão,
    como aquele que eu estava usando,
  • 4:10 - 4:13
    e ele se ajoelhou ao meu lado
    e começou a falar.
  • 4:13 - 4:17
    De início eu estava tão envolvida
  • 4:17 - 4:21
    em minhas próprias preocupações e medos,
  • 4:21 - 4:24
    e no que havia acontecido,
    no que iria acontecer,
  • 4:24 - 4:29
    que não podia nem imaginar
    escutar o que ele estava dizendo.
  • 4:30 - 4:34
    Finalmente, alguma parte de mim
    se recompôs por tempo suficiente
  • 4:34 - 4:37
    para ouvi-lo dizer que agora
    eu era a esposa dele,
  • 4:38 - 4:40
    que tinha um compromisso com ele,
  • 4:40 - 4:43
    e devia exercer
    todas as funções de esposa,
  • 4:43 - 4:46
    e que era o momento
    de consumarmos o nosso casamento.
  • 4:46 - 4:49
    Eu cresci em um lar muito tradicional.
  • 4:49 - 4:53
    Minha família é muito religiosa.
  • 4:53 - 4:57
    Eu fui criada para acreditar
  • 4:57 - 5:03
    que relações sexuais devem
    acontecer dentro do casamento.
  • 5:04 - 5:07
    E foi nisso que sempre acreditei.
  • 5:07 - 5:10
    Era isso que eu sempre pretendi fazer.
  • 5:11 - 5:13
    Então, aqui estava este homem
  • 5:13 - 5:15
    me dizendo que eu devia
    consumar o nosso casamento.
  • 5:15 - 5:18
    E eu posso ter crescido
    um pouco em uma bolha,
  • 5:18 - 5:24
    e talvez não fosse a garota de 14 anos
    mais avançada do mundo na época.
  • 5:26 - 5:30
    Parte de mim nem sabia direito
    o que significava "consumar o casamento".
  • 5:30 - 5:35
    A outra parte estava rezando e esperando
    que não fosse o que eu pensava que seria.
  • 5:36 - 5:39
    Eu logo descobri exatamente o que era.
  • 5:39 - 5:43
    Lembro-me de implorar, suplicar, chorar
  • 5:43 - 5:48
    e tentar encontrar qualquer razão possível
  • 5:48 - 5:52
    para convencer aquele homem
    de me largar, de não me machucar,
  • 5:52 - 5:57
    de deixar que eu voltasse
    para a minha família.
  • 5:57 - 6:00
    Mas nada do que eu fiz
    ou disse fez diferença.
  • 6:00 - 6:03
    Eu nunca vou esquecer.
  • 6:03 - 6:06
    Ele me puxou do banco
    onde eu estava sentada, para o chão,
  • 6:06 - 6:09
    arrancou o roupão
    que fui forçada a colocar,
  • 6:09 - 6:11
    e ele me estuprou no chão da barraca.
  • 6:12 - 6:16
    E quando ele terminou,
    ele se levantou e me deixou sozinha.
  • 6:16 - 6:20
    Eu nunca vou esquecer como me senti.
  • 6:20 - 6:24
    Como me senti quebrada,
  • 6:24 - 6:28
    além de qualquer ajuda ou esperança,
  • 6:28 - 6:33
    que, mesmo que alguém
    me encontrasse, de que serviria?
  • 6:33 - 6:38
    Eu era inútil, eu era nojenta,
  • 6:38 - 6:42
    não era digna de ser salva
    naquele momento.
  • 6:43 - 6:45
    Eu adormeci com aqueles pensamentos
  • 6:45 - 6:48
    e quando acordei, lá estava aquele homem
    ajoelhado em cima mim, de novo,
  • 6:48 - 6:51
    e dessa vez ele havia trazido
    um cabo grosso de metal,
  • 6:51 - 6:54
    o amarrou em meu tornozelo
    e parafusou no lugar
  • 6:54 - 6:55
    para que eu não pudesse fugir.
  • 6:55 - 6:57
    E nesse momento eu comecei a pensar
  • 6:57 - 7:00
    em todas as crianças
    que eu havia visto nos noticiários
  • 7:00 - 7:04
    cujas histórias sempre pareciam
    terminar muito trágicas.
  • 7:04 - 7:08
    E não pude evitar de pensar:
    "Elas tiveram sorte".
  • 7:09 - 7:10
    Elas têm tanta sorte!
  • 7:10 - 7:16
    Eu queria ser uma daquelas crianças,
    porque ninguém vai feri-las novamente.
  • 7:16 - 7:20
    Ninguém fará com que elas sintam
    que não tem valor,
  • 7:20 - 7:23
    ou que não são amadas.
  • 7:23 - 7:27
    Ninguém poderá fazem isso a elas
    de novo; eu queria que fosse eu.
  • 7:27 - 7:31
    E este foi um breve resumo
    do que seriam os próximos nove meses.
  • 7:31 - 7:34
    Bem cedo, eu tomei a decisão
  • 7:34 - 7:37
    de que não deixaria
    os dois raptadores vencerem.
  • 7:37 - 7:41
    Não deixaria que roubassem minha vida.
  • 7:41 - 7:45
    Eu faria todo o possível para sobreviver,
  • 7:45 - 7:47
    mesmo que significasse
    esperar que eles morressem
  • 7:47 - 7:50
    mesmo que significasse
    sobreviver por uns 30 anos,
  • 7:50 - 7:53
    passando por esse tipo de abuso todo dia.
  • 7:54 - 7:59
    Graças aos céus, não foram 30 anos;
    foram apenas nove meses.
  • 7:59 - 8:05
    Nunca esquecerei quando vi meu pai
    depois que a polícia parou e me buscou.
  • 8:05 - 8:10
    Nunca esquecerei sentir que não importa
    o que está na minha frente,
  • 8:10 - 8:15
    eu ficaria bem e ninguém jamais
    poderia me machucar
  • 8:15 - 8:19
    da forma como aquelas duas pessoas
    me machucaram nos últimos nove meses.
  • 8:20 - 8:24
    O melhor sentimento do mundo,
    saber que alguém ama você.
  • 8:24 - 8:26
    No dia seguinte,
  • 8:26 - 8:29
    minha mãe me deu um conselho
    que eu gostaria de dividir com vocês,
  • 8:29 - 8:32
    porque como eu disse,
    todos temos provações na vida,
  • 8:32 - 8:35
    todos temos aqueles momentos
    em que não queremos sair da cama.
  • 8:36 - 8:37
    Minha mãe me disse:
  • 8:37 - 8:43
    "Elizabeth, o que esse homem
    fez com você foi terrível,
  • 8:43 - 8:45
    E não há palavras fortes o suficiente
  • 8:45 - 8:49
    para descrever
    o quão perverso e cruel ele é.
  • 8:49 - 8:54
    Ele roubou nove meses da sua vida,
    que você nunca terá de volta.
  • 8:55 - 8:59
    A melhor punição que você
    poderia dar a ele é ser feliz,
  • 9:00 - 9:01
    é seguir com a sua vida,
  • 9:01 - 9:05
    porque sentir pena de si mesma,
    se agarrar ao passado
  • 9:05 - 9:08
    e ficar pensando no que aconteceu com você
  • 9:08 - 9:13
    só dará a ele mais controle, mais poder,
  • 9:13 - 9:15
    e roubará ainda mais da sua vida.
  • 9:15 - 9:16
    Então não deixe isso acontecer.
  • 9:16 - 9:22
    Justiça pode ou não acontecer,
    reparação pode ou não ser feita,
  • 9:22 - 9:26
    mas não ouse dar a eles
    mais um segundo sequer da sua vida".
  • 9:26 - 9:30
    Tenho tentado seguir esse conselho
    todos os dias desde então.
  • 9:30 - 9:34
    Estou longe de segui-lo perfeitamente,
  • 9:34 - 9:38
    mas veja bem, qual filha é perfeita
    em seguir os conselhos de sua mãe?
  • 9:38 - 9:40
    (Risos)
  • 9:40 - 9:43
    Mas sei que todos temos uma escolha.
  • 9:43 - 9:47
    Eu sei que quando enfrentamos provações,
    nós temos uma escolha.
  • 9:48 - 9:52
    Podemos desistir e nos entregar
    ou podemos lutar e seguir em frente.
  • 9:52 - 9:55
    E conforme tenho conseguido sair
    e compartilhar minha história,
  • 9:55 - 9:57
    e conversar com diferentes pessoas,
  • 9:58 - 10:00
    eu aprendi muito.
  • 10:00 - 10:03
    Cheguei em um ponto na minha vida
    em que posso dizer,
  • 10:03 - 10:06
    que apesar de nunca desejar
    que isso acontecesse comigo,
  • 10:06 - 10:10
    e certamente nunca desejar que acontecesse
    com qualquer outra pessoa,
  • 10:11 - 10:14
    eu sou grata pelo que me aconteceu,
  • 10:14 - 10:18
    por conta do que aquilo me ensinou
    e da perspectiva que me deu,
  • 10:18 - 10:20
    e pela empatia que senti
    por outros sobreviventes.
  • 10:20 - 10:23
    Sou grata por poder fazer a diferença.
  • 10:23 - 10:25
    Sou grata por poder falar,
  • 10:26 - 10:30
    especialmente por vítimas de abuso sexual
  • 10:30 - 10:32
    que ainda não conseguiram
    falar por si mesmas.
  • 10:32 - 10:38
    É tão traumático,
    tão assustador se abrir e dizer:
  • 10:38 - 10:41
    "Eu fui abusada sexualmente;
    eu fui machucada.
  • 10:41 - 10:44
    Alguém roubou algo de mim
    que eu nunca terei de volta".
  • 10:44 - 10:48
    Mas devo dizer que é muito importante
  • 10:48 - 10:51
    se abrir e compartilhar sua história,
    falar sobre isso,
  • 10:51 - 10:55
    mesmo que não seja para a sua comunidade,
    mesmo que não seja em grande escala,
  • 10:55 - 10:57
    mas ao menos para agentes legais,
  • 10:57 - 10:59
    para que possamos impedir
    aquelas pessoas que estão lá fora
  • 10:59 - 11:01
    tirando vantagem de outras pessoas.
  • 11:01 - 11:03
    É muito importante.
  • 11:03 - 11:07
    Então, preciso encorajar cada um de vocês.
  • 11:07 - 11:13
    Quando enfrentar uma provação,
    não desista, não se entregue.
  • 11:13 - 11:18
    Siga em frente, pois você nunca sabe
    o que será capaz de fazer com isso.
  • 11:18 - 11:21
    Nunca sabe as vidas que poderá tocar.
  • 11:21 - 11:23
    Estou muito grata
    por estar aqui com vocês hoje.
  • 11:23 - 11:25
    Muito obrigada.
  • 11:25 - 11:27
    (Aplausos)
Title:
Minha história | Elizabeth Smart | TEDxUniversityofNevada
Description:

O rapto de Elizabeth Smart foi um dos casos de rapto de crianças mais acompanhados do nosso tempo. Nessa palestra fascinante, ela expõe o seu rapto e incentiva você a não desistir, não se render e seguir em frente quando se deparar com uma provação, pois nunca se sabe as vidas que você vai poder tocar.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
11:37

Portuguese, Brazilian subtitles

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