Stephanie Syjuco: Fazer Tempo | Art21 "Extended Play"

Episódio 268: A trabalhar no seu estúdio de Berkeley, Stephanie Syjuco navega pelos tropos visuais, profundamente enraizados da história americana, aplicados na sua atividade. Descrevendo a mudança de prioridades associadas ao progresso numa carreira enquanto artista, Syjuco assinala uma correlação no tempo gasto entre a gestão do projeto e a criação artística. "A minha realidade", diz ela, "é muito mais papelada do que eu desejava". Para se concentrar, Syjuco passa tempo no seu jardim, colhendo vegetais e "culturas do império", como o tabaco, o milho, o algodão e o anil, fazendo parte da sua investigação sobre o colonialismo e a escrita da história americana.
Preparando uma instalação para a Renwick Invitational no Museu Americano de Arte Smiyhsonian, Syjuco idealiza moldes de vestuário para criar trajes ao estilo da pradaria americana e anteriores à Guerra Civi. Embora reconheça que não são historicamente rigorosos, os trajes servem para agir como indicadores, conjurando imagens de épocas específicas da história americana, assim como os tropos da feminilidade, da expanão para o Oeste e do puritanismo, que os visitantes podem associar com esses trajes. Os trajes são feitos com um tecido de tom cinzento esverdeado, uma cor usada habitualmente como cenário temporário para fotos e vídeos — substituídos na pós-produção e destinados a não serem vistos. "A ideia é que a história americana está tão enraizada na nossa psique que é quase invisível", diz Syjuco. "São como fantasmas que se manifestam, arrastando-se por toda esta história americana".
Stephanie Syjuco nasceu em Manila, nas Filipinas, em 1974. Syjuco trabalha em fotografia, escultura e instalações, passando dos meios artesanais para a edição digital. O trabalho dela explora a tensão entre o autêntico e a imitação, desafiando pressuposições enraizadas sobre história, raça e trabalho.
Saibam mais sobre a artista em: https://art21.org/artist/stephanie-syjuco/

[Stephanie Syjuco: Fazer Tempo

Felizmente, tenho uma casa

que tem uma área ajardinada muito bonita.

Tenho feito muita jardinagem,

que foi provocada pela investigação
que fiz sobre as culturas do império.

Cultivando amostras de plantas de tabaco,

de milho, de algodão e de anil,

todo o tipo de plantas diferentes
com grandes implicações no colonialismo.

O jardim acabou por ser
um processo de investigação

que me ajudou a aprender

e também a concentrar mais um pouco.

Muitas pessoas, quando se interessam
por serem artistas,

têm a ideia de que estamos
sempre dentro do estúdio.

Penso que a ironia está em que,
quanto mais investimos nesta profissão,

a proporção do tempo gasto
na gestão dos projetos

em relação ao tempo de estúdio,

muda drasticamente.

Ou seja, talvez haja momentos mágicos
em que isso muda

e eu tenha assistentes
a tempo inteiro, a ajudar-me,

mas acho que a minha realidade

é que há muito mais papelada
do que eu desejava.

Estes são os moldes padrão
para o vestido da pradaria americana.

São o mais fáceis possível, para vocês.

Vocês cortam os moldes,

prendem-nos ao tecido com alfinetes

e cosem nos sítios assinalados.

Esta é a touca,

um avental,

a gola à Peter Pan,
mais ou menos,

e depois, estas mangas tufadas.

Também vai haver
um traje de antes da Guerra Civil.

Faz parte duma exposição
no Museu Smithsonian

para a Renwick Invitational.

A Renwick está nas galerias americanas,

por isso estou muito entusiasmada.

Vamos juntar este trabalho
a outros projetos

relacionados com a criação
de imagens, de têxteis, e de cultura,

mas observando-o numa perspetiva crítica.

[O Visível Invisível (2018)]

Os fatos podem não ser
historicamente rigoros.

Exprimem a imaginação americana.

Têm todas as marcas dessa época
na história americana,

mas são mais uma ficção.

São naquele tom verde
que as pessoas usam para vídeos

e cenários fotográficos.

É uma cor que, supostamente, não vemos.

Esta ideia de história americana está
tão enraizada na nossa psique nacional

que é quase invisível.

Quer haja tropos de feminilidade

ou mesmo de expansão para Oeste

ou de religiosidade puritana,

tudo isso está nestes trajes.

São como fantasmas que se manifestam,

arrastando-se por toda
a história americana.

Tenho a liberdade de apresentar
as ideias mais estranhas

e nem toda a gente concorda.

Mas, quando dizem que sim,

posso fazer uma coisa que,
para mim, é quase inacreditável.

Nada é realmente uma perda de tempo.

Tradução de Margarida Ferreira