Chris Ware: Alguém que Não Sou | Art21 "Extended Play"

Episódio #251: De sua casa e estúdio em Oak Park, Illinois, o artista Chris Ware compartilha motivações e desafios de contar histórias na perspectiva de outros em seu trabalho. "Eu lembro muito bem de um dos meus professores dizendo, se você desenhar mulheres, estará colonizando-as com seus olhos," Ware recorda da escola de artes. "Você não desenha mulheres e então mantém uma aliança com alguma espécie de experiência que apenas você teve? Ou você tenta expandir seu conhecimento e sua empatia por outros seres humanos?"

Apesar de poder ser desconfortável, Ware esforça-se para escrever a partir da empatia, expandindo suas histórias a personagens destacados cujas experiências diferem de suas próprias. Entre estes personagens está a Afro-Americana professora Joanne Cole, que aparece na série cômica em andamento Rusty Brown, de Ware. "Tenho que tentar, de alguma maneira, forçar meus limites e minha compreensão de como eu sinto através de outra pessoa no que eu estou fazendo," diz o artista.

[Art21 "Extended Play"]

Eu sou obviamente um cara nervoso
e estava criando uma personagem feminina,

através de sua memória
e de suas histórias.

Era meio que um experimento

de escrever do ponto de vista
de alguém que eu não sou,

o que é um perigo, com certeza.
[RISADAS]

["Chris Ware: Alguém que Não Sou"]

Quando estava na escola de artes,

disseram-me que eu não
poderia desenhar mulheres.

Isso exclui metade da humanidade.

Eu lembro muito bem de um dos
meus professores dizendo,

"Se você desenhar mulheres, estará
colonizando-as com seus olhos."

Você não desenha mulheres e então

mantém uma aliança com alguma espécie de
experiência que apenas você teve?

Ou você tenta expandir seu conhecimento
e sua empatia por outros seres humanos?

Como um escritor branco, como ousava
começar a pensar

que eu poderia mesmo escrever do
ponto de vista de outra pessoa.

O que estou tentando fazer aqui é desenhar
o gesto de uma mulher

afastando levemente o
cabelo de seus olhos,

mas agora parece mais que
ela está com exaqueca.

Joanne Cole age de maneira estranha
com mulheres mais jovens,

e isto porque ela acha que é possível

que ela esteja relacionada
com as mulheres mais jovens

porque ela está imersa em
suas próprias memórias e pensamentos--

mas isto não está claro
para o leitor ainda.

Então estou tentando balancear
algumas emoções aqui.

Estou tentando fazer
com que pareça autêntico

e não apenas um monte de bobagens--
ou mal feito.

Esta personagem em especial é uma Afro-
Americana professora de ensino fundamental

que está dando aula numa escola
particular nos anos 60 e 70.

Espero que eu esteja atento a algumas
complexidades

que uma situação incomum pode
ter trazido à tona.

Sinto muita dificuldade em
escrever uma história assim.

Estou fazendo a coisa certa?
Estou fazendo a coisa errada?

Trata-se de empatia?

Estou falando de coisas que desconheço?

Etc.

É uma pergunta complicada
para um escritor.

[WARE]
--Obrigado por servir a janta.

[MARNIE WARE]
--De nada.

[RISADAS]

[CLARA WARE]
--Plaf!

[CHRIS WARE]
--Plaf!

Muitos de meus professores estavam
tentando fazer com que eu e meus colegas

encontrássemos aquilo que
nos interessa

e então escrever sobre isso.

Eu nunca quis fazer aquilo.

Eu queria poder escrever sobre tudo--

e nada--
porque isso é o que a vida é.

[RISADAS]

--Não faço ideia do que pareço
quando mastigo

--mas aposto que eu não quero saber.

Cabe a mim como artista tentar decidir

o quanto eu posso tentar sentir
através de outra pessoa

e ainda fazer com que isso não seja

uma sentimentalização ou falsidade.

Tenho que tentar, de alguma maneira,
forçar meus limites e minha compreensão de

como eu sinto através de outra pessoa
no que eu estou fazendo.

E você arrisca errar miseravelmente
fazendo isto,

mas esse é um risco que você
deve correr.

Arte significa tentar descobrir

se os sentimentos que você está tendo
são os mesmo que eu estou.