A arquitetura a serviço do meio ambiente | Alice Stadler | TEDxUniversitedeTours
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0:11 - 0:14Vou contar-lhes uma história,
mas não sei se acabará bem. -
0:17 - 0:19Mas sei que mudou
e que mudará a minha vida. -
0:20 - 0:24Primeiramente, para contextualizar,
sou arquiteta e designer. -
0:24 - 0:27Dedico meu tempo a buscar
e a encontrar soluções -
0:27 - 0:30estéticas, funcionais e econômicas.
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0:33 - 0:35Tudo começou com uma conscientização.
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0:35 - 0:37Não foi de um momento a outro.
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0:37 - 0:40Não acordei em uma manhã
dizendo: "Eureka!". -
0:40 - 0:42Não, não, aconteceu aos poucos.
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0:44 - 0:46Foi um evento que nos abriu os olhos.
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0:46 - 0:50Eu e Nico, meu marido e sócio,
que está entre vocês na plateia, -
0:51 - 0:55fomos a um lugar
que mescla arte e urbanismo. -
0:56 - 0:58Esse lugar se chama POLAU,
o centro de artes urbanas. -
1:00 - 1:04Fomos convidados a participar
de uma exposição, cujo tema era: -
1:04 - 1:07"Como fazer com que a arquitetura
seja mais ecológica?" -
1:08 - 1:12O objetivo era interagir com o público
para que refletisse sobre a questão. -
1:12 - 1:15Lembro-me muito bem
de quando entramos. -
1:15 - 1:18Havia muitos painéis
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1:18 - 1:23que forneciam algumas informações
sobre o fim dos recursos do planeta, -
1:23 - 1:26como zinco, cobre e ferro.
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1:27 - 1:30Eles mostravam que tais recursos
estão fadados a desaparecer -
1:30 - 1:32em pouquíssimo tempo.
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1:32 - 1:35Muito bem, sabemos que desaparecerão
em "pouquíssimo tempo", -
1:35 - 1:38mas não sabemos
que isso significa "amanhã". -
1:39 - 1:41Tomemos o exemplo do zinco.
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1:41 - 1:43Sabemos que é o material
que cobre todos os telhados de Paris, -
1:44 - 1:47e os balcões de bar,
que são os usos mais conhecidos. -
1:47 - 1:49Bem, esse material,
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1:49 - 1:53em âmbito mundial, em 2025,
ou seja, em seis anos, -
1:53 - 1:54não existirá mais.
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1:55 - 1:56Portanto, significa "amanhã".
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2:02 - 2:03E sabem
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2:03 - 2:09que, do mesmo modo,
a utilização incessante do concreto -
2:10 - 2:12ameaça cerca de 90%
das praias do mundo? -
2:14 - 2:17De fato, o uso do concreto...
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2:18 - 2:22para utilizar o concreto, é necessária
uma certa quantidade de areia. -
2:22 - 2:25Por exemplo, para a construção
de 1 km de rodovia, -
2:25 - 2:27são necessárias 30 mil
toneladas de concreto. -
2:28 - 2:30Isso corresponde a cerca
de 10 mil toneladas de areia, -
2:30 - 2:32em um pequeno quilômetro de rodovia.
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2:33 - 2:36Em uma usina nuclear, são utilizadas
12 milhões de toneladas de concreto -
2:37 - 2:39e 4 milhões de toneladas de areia.
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2:40 - 2:41No mundo todo,
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2:41 - 2:43extraímos de nossas praias
e do fundo do mar -
2:43 - 2:44(Risos)
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2:44 - 2:4615 bilhões de toneladas de areia.
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2:47 - 2:50Pensem bem a respeito:
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2:51 - 2:56a areia é o segundo recurso natural
mais consumido no mundo depois da água. -
2:56 - 2:58A água e a areia.
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3:00 - 3:04Nesse sentido, as paredes de blocos
de cimento que conhecem bem -
3:04 - 3:06não poderão mais ser construídas
dentro de 20 anos. -
3:06 - 3:11O edifício no qual nos encontramos
não poderá mais ser fabricado como hoje. -
3:12 - 3:14Sem dúvida, há o impacto.
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3:14 - 3:17A exploração de areia tem um impacto
não somente sobre o concreto. -
3:18 - 3:19Trata-se também de nossas ilhas.
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3:20 - 3:23De fato, muitas ilhas
estão condenadas a desaparecerem. -
3:23 - 3:26São ilhas onde vivem pessoas e animais.
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3:26 - 3:29Já desapareceram 25 ilhas da Indonésia.
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3:32 - 3:36As famílias são forçadas a saírem
da casa delas, a emigrarem. -
3:36 - 3:41É a modificação drástica de ecossistemas,
causada pelo aquecimento global. -
3:41 - 3:42Tudo está conectado.
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3:43 - 3:45Como chegamos a esse ponto?
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3:45 - 3:47Por que os recursos naturais
desaparecem tão rápido? -
3:48 - 3:50Tenho uma resposta para essas questões:
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3:50 - 3:55o setor da construção civil é o maior
gerador de rejeitos em termos de volume. -
3:56 - 3:57Tomemos o exemplo do ferro.
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3:57 - 4:03Ele é um elemento essencial
às construções atuais. -
4:04 - 4:10A cada ano, desperdiçamos
ferro equivalente a 500 torres Eiffel. -
4:10 - 4:14Eu disse "500 torres Eiffel por ano"?
Eu me enganei: por dia! -
4:14 - 4:18São 200 mil torres Eiffel
jogadas no lixo a cada ano. -
4:18 - 4:21Em outras palavras,
é como se cobríssemos a cada ano -
4:21 - 4:24a superfície de Paris 28 vezes
e jogássemos tudo no lixo. -
4:24 - 4:25Conseguem imaginar?
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4:28 - 4:29Voltemos ao que interessa.
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4:29 - 4:32No saguão do POLAU,
vi todos aqueles painéis -
4:32 - 4:35que me fizeram refletir sobre a extinção
de todas essas matérias-primas -
4:35 - 4:37e, principalmente,
sobre a minha profissão. -
4:40 - 4:42Tenho um papel a desempenhar
dentro de tudo isso. -
4:42 - 4:44Não tenho somente um conselho.
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4:44 - 4:47Minha missão como arquiteta,
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4:47 - 4:49como designer e como projetista,
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4:49 - 4:55é participar da anulação
e da inversão dessa tendência. -
4:56 - 4:58Tudo se deu como um choque,
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4:58 - 5:00foi o renascimento do meu trabalho.
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5:01 - 5:03Então, eu tinha duas alternativas.
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5:03 - 5:04A primeira era ignorar a situação,
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5:04 - 5:07esperar que alguém agisse
e buscasse a mudança. -
5:07 - 5:11A segunda era que eu agisse,
fizesse algo e encontrasse soluções. -
5:12 - 5:15E saibam que escolhi
a segunda alternativa. -
5:15 - 5:19Procurei soluções;
há muitas no campo da arquitetura. -
5:20 - 5:22Então, por que não são valorizadas?
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5:23 - 5:28Proponho o estudo de três tendências,
que são possíveis opções e direções -
5:28 - 5:30para tentar comprovar essas soluções.
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5:31 - 5:34Primeiramente, há o bom senso.
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5:34 - 5:36Sim, o bom senso!
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5:36 - 5:38Por exemplo, os blocos
de concreto que conhecemos -
5:39 - 5:42podem ser substituídos
por um material simples e funcional: -
5:43 - 5:46os tijolos de argila.
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5:47 - 5:49A argila é um material local
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5:49 - 5:53que pode ser triturado, reutilizado
e transformado em tijolo outra vez. -
5:54 - 5:56É um material durável.
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5:59 - 6:03Pode-se também analisar o terreno
e o meio em que se encontra. -
6:04 - 6:05De fato,
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6:05 - 6:08não se constrói na direção
do oeste em certas áreas -
6:08 - 6:11devido ao risco de rajadas
de vento e de infiltrações. -
6:12 - 6:14Não se coloca uma grande
janela de vidro para o sul -
6:14 - 6:17se você mora em Nice. Que inferno!
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6:17 - 6:19Sempre temos que lembrar
como fazíamos antes. -
6:20 - 6:23Os antigos sabiam observar
seu meio com inteligência -
6:24 - 6:28e dedicavam tempo para entender
o vento, o sol e os materiais. -
6:33 - 6:35Em seguida, como segunda alternativa,
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6:36 - 6:38há certamente a inovação.
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6:38 - 6:44Por exemplo, temos a madeira, um material
de grande importância na construção. -
6:45 - 6:46Hoje, a inovação nos permite
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6:46 - 6:49construir edifícios muito
mais altos que antes. -
6:50 - 6:53A madeira foi substituída pelo ferro
e pelo concreto no século 19, -
6:53 - 6:55constituindo uma inovação.
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6:55 - 6:59Desde então, a questão dos recursos
naturais tem nos permitido reerguer, -
6:59 - 7:01e hoje, graças às novas tecnologias,
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7:02 - 7:05os fornecedores de madeira
e os artesãos têm à disposição -
7:05 - 7:07uma gama de produtos.
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7:07 - 7:12Há as vigas "L", os painéis "sandwich",
a madeira compensada e os laminados, -
7:12 - 7:14que permitem ampla utilização.
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7:16 - 7:19Devem estar pensando
que a madeira não é sólida, -
7:19 - 7:21pois pode queimar e apodrecer.
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7:21 - 7:23Mas nas catedrais que conhecemos bem,
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7:23 - 7:27as pedras são substituídas
antes das vigas de madeira. -
7:27 - 7:29Se ocorrer um incêndio,
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7:29 - 7:31os bombeiros darão prioridade
para as vigas de madeira, -
7:31 - 7:33em detrimento das de ferro,
que derreterão. -
7:35 - 7:39Por fim, a madeira é um material
preferido para uma casa, -
7:39 - 7:41uma construção ecológica.
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7:41 - 7:45De fato, a madeira vem da árvore,
que pode ser replantada. -
7:46 - 7:49É um material durável,
contanto que seja cuidado. -
7:49 - 7:52O desmatamento não está relacionado
ao uso de madeira na construção, -
7:52 - 7:55mas com a expansão
de terras para a agricultura. -
7:55 - 7:58Ainda plantamos milho e soja
para alimentar o gado, -
7:58 - 8:01e palmeira, para a extração
de óleo mais barato. -
8:02 - 8:04Mas fiquem tranquilos, porque a França
-
8:05 - 8:09tem um formidável patrimônio florestal
para a construção com madeira. -
8:12 - 8:16A terceira solução que lhes proponho
trata-se do biomimetismo. -
8:17 - 8:20Idriss Aberkane, ensaísta
e grande frequentador de palestras TEDx, -
8:21 - 8:25exaltava os benefícios que podemos
encontrar a nossa volta. -
8:25 - 8:28Tudo esta à nossa disposição,
basta observar. -
8:29 - 8:31Gunter Pauli, economista da ecologia,
-
8:32 - 8:35e que escreveu um livro entitulado
"A Economia Azul", -
8:35 - 8:37relata em sua obra
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8:37 - 8:40que a tecnologia atual deve
deve ser substituída pela física. -
8:41 - 8:44A lógica deve voltar a ser
o centro de nossas construções. -
8:45 - 8:46De fato,
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8:46 - 8:49nossas casas estão
cada vez mais herméticas -
8:49 - 8:54em função do isolamento.
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8:58 - 9:01Uma casa hermética acumula umidade.
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9:01 - 9:03Consequentemente,
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9:03 - 9:06instalamos sistemas de ventilação
superpotentes em nossa casa. -
9:06 - 9:09Resolvemos um problema
que não existia antigamente. -
9:10 - 9:12Além disso, essas casas herméticas
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9:12 - 9:14geram a acumulação de poeira,
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9:14 - 9:18com a proliferação de ácaros
que aumentam as doenças respiratórias, -
9:18 - 9:22como a asma ou a bronquite,
cada vez mais presentes entre os bebês. -
9:23 - 9:26Voltando a Gunter Pauli,
a seu estudo e análise da natureza, -
9:26 - 9:29podemos tomar como exemplo os cupins,
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9:29 - 9:32que habitam a Terra
há mais de 100 milhões de anos. -
9:33 - 9:37Dentro de seu habitat, os cupins
são capazes de controlar a umidade, -
9:37 - 9:40a temperatura e a pressão atmosférica,
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9:40 - 9:43apenas com a constituição de seu meio.
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9:44 - 9:46Também são capazes de escolher as áreas
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9:47 - 9:51que precisam de umidade para produzir
seu alimento principal, o fungo. -
9:51 - 9:55Poderíamos aprender com os cupins
a climatizar sem poluir. -
9:56 - 9:57Agora, analisemos as zebras.
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9:57 - 10:00Como sabemos, elas têm as listras
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10:00 - 10:05que possibilitam reduzir a temperatura
corporal em dez graus. -
10:06 - 10:11O ar é fresco sobre as listras brancas,
e é mais quente abaixo das listras pretas. -
10:11 - 10:15Isso cria microssistemas de correntes
de ar que ventilam a pele delas. -
10:15 - 10:16É inacreditável!
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10:16 - 10:19E uma boa solução leva a outra:
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10:19 - 10:23os mosquitos não as picam,
pois são impedidos pelas correntes de ar. -
10:24 - 10:27A respeito desse exemplo,
em Harare, no Zimbabwe, -
10:27 - 10:31um edifício foi construído inspirado
no sistema de ventilação dos cupinzeiros -
10:31 - 10:34e no sistema de resfriamento das zebras.
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10:34 - 10:36O teto foi todo riscado.
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10:36 - 10:39E criaram uma fachada
com um desenho gráfico -
10:39 - 10:42que simula as listras da zebra.
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10:43 - 10:46Portanto, trata-se de observar, analisar,
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10:46 - 10:50inovar e adaptar-se ao ambiente.
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10:51 - 10:55Evidentemente, tentei integrar
esses elementos ao meu trabalho diário. -
10:55 - 10:56Nem sempre é fácil.
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10:56 - 11:00Somos limitados pelo orçamento,
por restrições de seguros, -
11:00 - 11:02até mesmo um cliente
que não está preparado -
11:02 - 11:05para ser o primeiro
a implementar um método. -
11:06 - 11:08Os bancos nem sempre facilitam o trabalho:
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11:08 - 11:12financiar um projeto alternativo
às vezes não é prioridade. -
11:12 - 11:15Também conhecemos
nossa sociedade, os desvios, -
11:15 - 11:18os limites e, sobretudo,
o curto tempo que nos resta. -
11:19 - 11:21É nesse contexto
que minha história continua, -
11:22 - 11:25pois foi o motivo que me fez
decidir ser artista. -
11:29 - 11:31Em 2017, Nico e eu
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11:32 - 11:35nos inscrevemos no "Festival de Jardins
de Chaumont-sur-Loire", -
11:35 - 11:38não muito longe daqui,
um festival dedicado aos jardins. -
11:38 - 11:41Não fazíamos parte desse meio.
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11:41 - 11:42Nunca tínhamos feito paisagens,
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11:42 - 11:45mas era o momento de nos expressarmos.
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11:45 - 11:47Bem, imaginem que fomos selecionados.
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11:48 - 11:51Estávamos felizes por criar um projeto
no qual destacamos a flor -
11:51 - 11:53no centro de uma caixa de espelhos.
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11:53 - 11:59A ideia era que a flor, tão bela
e frágil, não deveria ser amanhã -
11:59 - 12:01o jardim privilegiado de uma elite.
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12:03 - 12:05E ganhamos o prêmio de criação!
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12:06 - 12:08Mais felizes que nunca,
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12:08 - 12:09(Risos)
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12:09 - 12:12dissemos: "De acordo! Vamos fazer arte".
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12:13 - 12:16Foi assim que decidi me tornar artista,
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12:16 - 12:18apenas para não continuar inerte.
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12:19 - 12:23Desde então, fizemos vários projetos
para mostrar como o mundo é belo -
12:23 - 12:25e como é necessário preservá-lo.
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12:25 - 12:30Por mais ingênuo que possa parecer,
nunca vou parar de repetir. -
12:34 - 12:36Foi assim que me tornei artista,
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12:36 - 12:38para não continuar inerte
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12:39 - 12:40De causa e efeito,
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12:40 - 12:42tornei-me artista.
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12:42 - 12:43Obrigada.
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12:43 - 12:45(Aplausos)
- Title:
- A arquitetura a serviço do meio ambiente | Alice Stadler | TEDxUniversitedeTours
- Description:
-
Alice Stadler é designer e atua em várias áreas: arquitetura, mobiliário, produtos, etc. Associou-se a seu marido Nicolas Stadler, em 2013. Da reforma de bens particulares à criação de um hotel, seus projetos evoluem e se tornam cada vez mais ambiciosos. Os anos passaram e cresceu a vontade de se expressarem acerca de questões ecológicas e sociais. Eles se empenham em aplicar esse engajamento na profissão.
Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais, visite http://ted.com/tedx
- Video Language:
- French
- Team:
closed TED
- Project:
- TEDxTalks
- Duration:
- 12:58