Como é a vida das pessoas LGBT pelo mundo
-
0:00 - 0:03Jenni Chang: Quando contei
a meus pais que era gay, -
0:03 - 0:05a primeira coisa que me disseram foi:
-
0:05 - 0:07"Vamos levar você de volta para Taiwan".
-
0:07 - 0:09(Risos)
-
0:10 - 0:14Na cabeça deles, minha orientação sexual
era culpa dos Estados Unidos. -
0:14 - 0:17O Ocidente tinha me corrompido
com ideias diferentes -
0:17 - 0:20e, se meus pais nunca
tivessem deixado Taiwan, -
0:20 - 0:23isso nunca teria acontecido
a sua filha única. -
0:23 - 0:26Na verdade, fiquei imaginando
se eles tinham razão. -
0:26 - 0:29É óbvio que há gays na Ásia,
-
0:29 - 0:32assim como há gays
em toda parte do mundo. -
0:32 - 0:35Mas essa ideia de viver uma vida "aberta"
-
0:35 - 0:38tipo: "Eu sou gay, esta é minha esposa,
e temos orgulho de viver juntas" -
0:38 - 0:42é uma coisa só do Ocidente?
-
0:43 - 0:47Se tivesse crescido em Taiwan,
ou outro lugar fora do Ocidente, -
0:47 - 0:52será que teria encontrado modelos
de pessoas LGBT felizes e prósperas? -
0:52 - 0:54Liza Dazols: Tenho noções parecidas.
-
0:54 - 0:58Assistente social de HIV positivos em São
Francisco, conheci muitos imigrantes gays. -
0:58 - 1:01Eles me contaram suas histórias
de perseguição em seus países natal, -
1:01 - 1:03simplesmente por serem gays,
-
1:03 - 1:05e as razões pelas quais fugiram
para os Estados Unidos. -
1:05 - 1:07Vi como isso os tinha massacrado.
-
1:07 - 1:09Após dez anos trabalhando com isso,
-
1:09 - 1:12eu precisava de histórias
melhores para mim mesma. -
1:12 - 1:14Sabia que o mundo
era longe de ser perfeito, -
1:14 - 1:17mas, com certeza, nem toda
história gay era trágica. -
1:17 - 1:21JC: Então, como casal, ambas precisávamos
encontrar histórias de esperança. -
1:21 - 1:24Por isso, partimos nessa missão
de viajar pelo mundo -
1:24 - 1:28e procurar pessoas que decidimos
chamar de "Supergays". -
1:28 - 1:31(Risos)
-
1:32 - 1:34Elas seriam indivíduos LGBT
-
1:34 - 1:38que estivessem fazendo algo
extraordinário no mundo. -
1:38 - 1:40Seriam pessoas corajosas, resilientes
-
1:40 - 1:43e, acima de tudo, orgulhosas
de serem quem eram. -
1:43 - 1:46Elas seriam o tipo de pessoa
que eu desejo ser. -
1:46 - 1:51Nosso plano era compartilhar suas
histórias com o mundo através de um filme. -
1:51 - 1:52LD: Havia apenas um problema.
-
1:52 - 1:55Não tínhamos a menor experiência
em reportagem ou filmagem. -
1:55 - 1:57(Risos)
-
1:57 - 1:59Nem ao menos sabíamos
onde encontrar os Supergays, -
1:59 - 2:02daí, tivemos de acreditar
que descobriríamos isso no caminho. -
2:02 - 2:05Assim, escolhemos 15 países na Ásia,
África e na América do Sul, -
2:05 - 2:09países fora do Ocidente, diferentes
em termos dos direitos LGBT. -
2:09 - 2:10Compramos uma filmadora,
-
2:10 - 2:13encomendamos um livro
sobre como fazer documentários... -
2:13 - 2:14(Risos)
-
2:14 - 2:17dá para aprender muito hoje em dia,
-
2:17 - 2:20e partimos para uma viagem
ao redor do mundo. -
2:20 - 2:24JC: Um dos primeiros países
que visitamos foi o Nepal. -
2:24 - 2:28Apesar da pobreza generalizada,
de uma década de guerra civil -
2:28 - 2:31e de um recente terremoto devastador,
-
2:31 - 2:35o Nepal deu passos importantes
na luta pela desigualdade. -
2:35 - 2:40Uma das figuras chave
do movimento é Bhumika Shrestha. -
2:40 - 2:43Uma mulher transgênero linda, vibrante,
-
2:43 - 2:47Bhumika precisou superar
sua expulsão da escola -
2:47 - 2:51e a prisão por causa da sua aparência.
-
2:51 - 2:56Mas, em 2007, Bhumika e a organização
dos direitos LGBT do Nepal -
2:56 - 2:59apelaram com sucesso
à Suprema Corte do Nepal -
2:59 - 3:02contra a discriminação LGBT.
-
3:02 - 3:03Eis Bhumika:
-
3:03 - 3:05(Vídeo) BS: Do que tenho mais orgulho?
-
3:05 - 3:06Sou uma pessoa transgênero.
-
3:06 - 3:08Tenho muito orgulho da minha vida.
-
3:08 - 3:12Em 21 de dezembro de 2007,
-
3:12 - 3:16a Suprema Corte proferiu uma decisão
determinando que o governo do Nepal -
3:16 - 3:18emitisse carteira de identidade
para os transgêneros -
3:18 - 3:21e permitisse o casamento
entre pessoas do mesmo sexo. -
3:21 - 3:24LD: Admiro a confiança
da Bhumika diariamente. -
3:24 - 3:27Algo tão simples quanto usar
um banheiro público -
3:27 - 3:29pode ser um enorme desafio
quando você não se encaixa -
3:29 - 3:32nas expectativas das pessoas
de gêneros tradicionais. -
3:32 - 3:34Viajando pela Ásia,
-
3:34 - 3:36as mulheres se assustavam comigo
em banheiros públicos. -
3:36 - 3:39Elas não estavam acostumadas
a ver alguém como eu. -
3:39 - 3:42Tive de arrumar uma estratégia,
para poder fazer xixi em paz. -
3:42 - 3:43(Risos)
-
3:43 - 3:45Aí, sempre que entrava num banheiro,
-
3:45 - 3:48eu empinava o peito para exibir
minhas partes femininas -
3:48 - 3:50e tentava ser o menos ameaçadora possível.
-
3:50 - 3:52Mostrava as mãos e dizia: "Olá",
-
3:52 - 3:55para as pessoas poderem ouvir
minha voz feminina. -
3:56 - 3:59Isso é bem cansativo, mas é assim que sou.
-
3:59 - 4:00Não consigo ser outra coisa.
-
4:01 - 4:05JC: Depois do Nepal, fomos para a Índia.
-
4:05 - 4:08De um lado, a Índia é uma sociedade hindu,
-
4:08 - 4:11sem uma tradição de homofobia.
-
4:11 - 4:15Por outro lado, também é uma sociedade
com um sistema patriarcal arraigado, -
4:15 - 4:19que rejeita qualquer coisa
que ameace a ordem homem-mulher. -
4:19 - 4:21Quando conversei com ativistas,
-
4:21 - 4:26eles disseram que o empoderamento começa
com a garantia da igualdade de gênero, -
4:26 - 4:29quando o status das mulheres
é estabelecido na sociedade. -
4:29 - 4:34E, dessa forma, o status das pessoas LGBT
pode ser afirmado da mesma maneira. -
4:34 - 4:37LD: Lá conhecemos o Príncipe Manvendra.
-
4:37 - 4:41Ele é o primeiro príncipe
assumidamente gay. -
4:41 - 4:43O Príncipe Manvendra se assumiu
no "Oprah Winfrey Show", -
4:43 - 4:45bem internacionalmente.
-
4:45 - 4:46Seus pais o deserdaram
-
4:46 - 4:49e o acusaram de cobrir a
família real de vergonha. -
4:49 - 4:51Sentamos para conversar
-
4:51 - 4:55e perguntamos por que ele decidiu
se assumir tão publicamente. -
4:55 - 4:56Vejam o que ele disse:
-
4:56 - 4:59(Vídeo) Príncipe Manvendra:
Senti que havia uma necessidade grande -
4:59 - 5:03de quebrar esse estigma e discriminação
existente em nossa sociedade. -
5:03 - 5:08E isso me instigou me a assumir
abertamente e a falar sobre mim mesmo. -
5:08 - 5:11Se somos gays, lésbicas,
transgêneros, bissexuais, -
5:11 - 5:14ou qualquer outra minoria sexual,
-
5:14 - 5:18temos de nos unir e lutar
pelos nossos direitos. -
5:18 - 5:21Os direitos dos gays não podem
ser conquistados nos tribunais, -
5:21 - 5:23mas no coração e na mente das pessoas.
-
5:24 - 5:26JC: Quando fui cortar meu cabelo,
-
5:26 - 5:28a cabeleireira me perguntou:
-
5:28 - 5:30"Você tem marido?"
-
5:30 - 5:32Bem, era uma pergunta temida,
-
5:32 - 5:35que me perguntaram bastante
nos locais em que passamos. -
5:35 - 5:39Quando expliquei a ela que eu estava
com uma mulher, em vez de um homem, -
5:39 - 5:40ela mal acreditou,
-
5:40 - 5:44e me fez um monte de perguntas
sobre a reação dos meus pais -
5:44 - 5:47e se eu estava triste por nunca
ser capaz de ter filhos. -
5:48 - 5:51Eu disse a ela que não havia
limitações na minha vida -
5:51 - 5:54e que Lisa e eu planejávamos
ter uma família algum dia. -
5:55 - 5:57Bem, esta mulher estava
pronta para me rotular -
5:57 - 5:59como outra ocidental maluca.
-
6:00 - 6:02Ela não conseguia imaginar
que tal fenômeno -
6:02 - 6:04poderia acontecer em seu próprio país,
-
6:04 - 6:07Isto é, até eu mostrar a ela
as fotos dos Supergays -
6:07 - 6:09que entrevistamos na Índia.
-
6:10 - 6:12Ela reconheceu o Príncipe
Manvendra da televisão, -
6:12 - 6:16e logo as outras cabeleireiras
ficaram interessadas em me conhecer. -
6:16 - 6:17(Risos)
-
6:17 - 6:20E, naquela tarde comum,
-
6:20 - 6:23tive a chance de introduzir
a um salão de beleza inteiro -
6:23 - 6:26as mudanças sociais que estavam
acontecendo em seu próprio país. -
6:28 - 6:30LD: Da Índia, fomos
para a África Oriental, -
6:30 - 6:34uma região conhecida pela
intolerância com pessoas LGBT. -
6:34 - 6:38No Quênia, 89% das pessoas
que se assumem para suas famílias -
6:38 - 6:39são deserdadas.
-
6:39 - 6:43Atos homossexuais são considerados
crime e podem levar à prisão. -
6:43 - 6:46No Quênia, conhecemos
David Kuria, de fala mansa. -
6:46 - 6:49David tinha a enorme missão
de querer trabalhar para os pobres -
6:49 - 6:51e melhorar seu próprio governo.
-
6:51 - 6:53Então, decidiu se candidatar ao senado
-
6:53 - 6:58e tornou-se o primeiro candidato político
assumidamente gay do Quênia. -
6:58 - 7:02David queria fazer sua campanha
sem negar quem ele era. -
7:02 - 7:05Mas estávamos preocupadas
com sua segurança, -
7:05 - 7:07pois ele começou a receber
ameaças de morte. -
7:07 - 7:09(Vídeo) David Kuria: Naquela ponto
eu estava com muito medo, -
7:09 - 7:13pois eles na verdade estavam
pedindo para que me matassem. -
7:13 - 7:15E, é ...
-
7:16 - 7:18existem pessoas por aí que fazem isso
-
7:18 - 7:21e sentem que estão cumprindo
um dever religioso. -
7:22 - 7:24JC: David não estava
com vergonha de quem ele era. -
7:24 - 7:26Mesmo diante das ameaças,
-
7:26 - 7:28ele permaneceu autêntico.
-
7:29 - 7:32LD: O oposto disso tudo é a Argentina.
-
7:32 - 7:36A Argentina é um país em que 92%
da população se identifica como católica. -
7:36 - 7:40Ainda assim, a Argentina possui leis LGBT
que são ainda mais progressistas -
7:40 - 7:43do que as dos Estados Unidos.
-
7:43 - 7:47Em 2010, a Argentina se tornou
o primeiro país da América Latina -
7:47 - 7:50e o décimo do mundo a adotar
a igualdade matrimonial. -
7:50 - 7:53Lá, conhecemos María Rachid.
-
7:53 - 7:55María era a força
por trás desse movimento. -
7:55 - 7:58María Rachid (espanhol):
Sempre digo que, na verdade, -
7:58 - 8:01os efeitos da igualdade matrimonial não
são apenas para os casais que se casam. -
8:01 - 8:04São também para muitas pessoas
que, mesmo que nunca se casem, -
8:04 - 8:08serão percebidos de forma
diferente pelos colegas, -
8:08 - 8:11suas famílias e vizinhos,
-
8:11 - 8:15a partir da mensagem de igualdade
que vem do governo. -
8:15 - 8:17Sinto muito orgulho da Argentina,
-
8:17 - 8:21pois a Argentina hoje
é um modelo de igualdade. -
8:21 - 8:23E, felizmente, em breve
-
8:23 - 8:28o mundo todo vai ter os mesmos direitos.
-
8:28 - 8:30JC: Quando visitamos
minhas terras ancestrais, -
8:30 - 8:34gostaria de ter mostrado
aos meus pais o que encontramos lá. -
8:34 - 8:35Porque eis aqui quem encontramos:
-
8:35 - 8:41(Vídeo) Um, dois, três.
Bem-vindo, gays, a Xangai! -
8:41 - 8:43(Risos)
-
8:46 - 8:52Toda uma comunidade de pessoas LGBT
chinesas jovens e bonitas. -
8:52 - 8:56Claro que tinham suas lutas,
mas estavam lutando. -
8:56 - 9:00Em Xangai, tive a chance de falar
para um grupo local de lésbicas -
9:00 - 9:04e contar a elas nossa história
em meu mandarim macarrônico. -
9:04 - 9:06Em Taipei, toda vez
que entrávamos no metrô, -
9:06 - 9:09víamos um outro casal
de lésbicas de mãos dadas. -
9:09 - 9:14E descobrimos que o maior
evento do orgulho LGBT -
9:14 - 9:18acontece a apenas alguns quarteirões
de onde meu avós vivem. -
9:18 - 9:20Se meus pais soubessem.
-
9:21 - 9:25LD: Quando terminamos nossa jornada
"não tão hétero" ao redor do mundo, -
9:25 - 9:26(Risos)
-
9:26 - 9:28tínhamos viajado 80 mil km
-
9:28 - 9:30e registrado 120 horas
de imagens de vídeo. -
9:30 - 9:32Viajamos por 15 países
-
9:32 - 9:34e entrevistamos 50 Supergays.
-
9:34 - 9:37Ocorre que não foi nem
um pouco difícil encontrá-los. -
9:37 - 9:40JC: Sim, ainda ocorrem tragédias
-
9:40 - 9:42na estrada acidentada para a igualdade.
-
9:42 - 9:47E não nos esqueçamos de que 75 países
ainda criminalizam a homossexualidade. -
9:48 - 9:51Mas também há histórias
de esperança e coragem -
9:51 - 9:54em todos os cantos do mundo.
-
9:55 - 9:58O que, no final, aprendemos
com a nossa jornada foi -
9:58 - 10:01que a igualdade não é
uma invenção ocidental. -
10:03 - 10:07LD: Um dos fatores chave desse
movimento da igualdade é a sua força, -
10:07 - 10:11força do movimento quando cada vez
mais pessoas abraçam todo o seu eu -
10:11 - 10:13e usam todas as oportunidades que têm
-
10:13 - 10:15para mudar sua parte do mundo.
-
10:15 - 10:17E força quando cada vez mais países
-
10:17 - 10:20se miram uns nos outros para encontrar
modelos de igualdade. -
10:20 - 10:24Quando o Nepal foi contra
a discriminação LGBT, -
10:24 - 10:26a Índia pressionou.
-
10:26 - 10:29Quando a Argentina abraçou
a igualdade matrimonial, -
10:29 - 10:31Uruguai e Brasil seguiram o exemplo.
-
10:31 - 10:34Quando a Irlanda disse "sim" à igualdade,
-
10:34 - 10:38(Aplausos)
-
10:38 - 10:40o mundo parou para olhar.
-
10:40 - 10:42Quando a Suprema Corte
americana toma uma posição -
10:42 - 10:44da qual todos podemos nos orgulhar.
-
10:44 - 10:46(Aplausos)
-
10:50 - 10:52JC: Enquanto revíamos nossas imagens,
-
10:52 - 10:56percebemos que estávamos
assistindo a uma história de amor. -
10:56 - 10:59Não era uma história de amor
que se esperava de mim, -
10:59 - 11:03mas de alguém cheio de mais
liberdade, aventura e amor -
11:03 - 11:06que eu jamais poderia imaginar.
-
11:06 - 11:09Um ano depois de voltar
para casa da nossa viagem, -
11:09 - 11:12a igualdade matrimonial
chegou à Califórnia. -
11:12 - 11:16E, no fim, acreditamos
que o amor vai vencer. -
11:19 - 11:21(Vídeo) Pelo poder a mim investido,
-
11:21 - 11:24pelas leis da Califórnia
-
11:24 - 11:26e pelo Deus Todo-Poderoso,
-
11:26 - 11:30eu vos declaro esposas por toda a vida.
-
11:30 - 11:31Podem se beijar.
-
11:31 - 11:33(Aplausos)
- Title:
- Como é a vida das pessoas LGBT pelo mundo
- Speaker:
- Jenni Chang e Lisa Dazols
- Description:
-
Sendo um casal gay em São Francisco, Jenni Chang e Lisa Dazols não tiveram muita dificuldade para viver da forma como desejavam. No entanto, fora da bolha da área da Baía de São Francisco, como será que era a vida para as pessoas que ainda não tinham seus direitos básicos respeitados? Elas partiram numa viagem pelo mundo em busca dos "Supergays", pessoas LGBT que estivessem fazendo algo extraordinário nesse aspecto. Em 15 países da África, Ásia e América do Sul — desde a Índia, lar do recente primeiro príncipe abertamente gay, até a Argentina, o primeiro país da América Latina a conceder a igualdade matrimonial — elas descobriram histórias inspiradoras e os Supergays corajosos, resilientes e orgulhosos que estavam procurando.
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 11:50
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