Como transformar água suja em água potável

Demasiadas pessoas no mundo não têm acesso a água potável. O Engenheiro Michael Pritchard fez algo para combater isso -- inventou a garrafa de filtragem "Salva-vidas", que pode transformar a mais repugnante água em água potável em segundos. Veja a demonstração espantosa realizada para o TEDGlobal 2009.

Bom dia a todos.

Eu gostaria de falar sobre algumas coisas hoje.

A primeira é sobre água.

Vejo que têm saboreado a água

que vos foi dada aqui na conferência,

durante os últimos dias.

E tenho a certeza que todos sentem que vem de uma fonte segura.

Mas, e se não fosse?

E se essa água viesse de uma fonte como esta?

Se assim fosse, as estatísticas diriam na verdade

que metade de vocês estaria agora doente

com diarreia.

Eu falei muito no passado sobre estatística,

e no fornecimento de água potável para todos.

Mas a mensagem parece não estar a passar.

E eu acho que percebi o porquê.

É porque, usando o modo de pensar actual,

a escala do problema

parece ser demasiadamente grande para ter solução.

Por isso, nós desligamos do tema.

Nós, governos e agências de apoio.

Bem, hoje, eu gostaria de mostrar-vos

que através de pensar de forma diferente,

o problema foi resolvido.

Por falar nisso, desde que eu estou a falar,

mais 13.000 pessoas em todo o mundo

estão doentes com diarreia.

E quatro crianças acabaram de morrer.

Eu inventei a garrafa Lifesaver ("Salva-vidas")

porque fichei chateado.

Eu, como a maioria de vocês, estava sentado, no dia depois do Natal em 2004,

quando estava a ver as notícias devastadoras

do tsunami asiático a desenvolver-se,

que estava a dar na TV.

Nos dias e semanas que se seguiram,

as pessoas fugiram para as montanhas,

e foram forçadas a beber água contaminada,

ou a encarar a morte.

E isso chocou-me.

Depois, uns meses mais tarde,

o furacão Katrina assolou a América.

"Ok", pensei, "este é um país de Primeiro Mundo, vamos ver o que eles conseguem fazer".

Dia um: nada.

Dia dois: nada.

Sabiam que demorou 5 dias a fazer chegar água ao Superdome?

As pessoas estavam a disparar umas contra as outras nas ruas,

por causa de sistemas de televisão e por água.

E foi aí quando eu decidi que tinha que fazer alguma coisa.

Gastei imenso tempo na minha garagem, durante as semanas e meses seguintes.

E também na minha cozinha, o que causou muito receio à minha mulher.

No entanto, depois de alguns protótipos falhados,

consegui chegar a isto, a garrafa Lifesaver ("Salva-vidas").

Ok, agora é tempo de um pouco de ciência.

Antes da "Salva-vidas", os melhores filtros manuais eram apenas capazes

de filtrar até 200 nanómetros.

A bactéria mais pequena tem cerca de 200 nanómetros.

Significa que uma bactéria de 200 nanómetros de diâmetro

vai passar pelo orifício de 200 nanómetros.

O vírus mais pequeno, por outro lado,

tem cerca de 25 nanómetros de diâmetro.

Por isso vai de certeza passar pelo orifício de 200 nanómetros.

Os poros da "Salva-vidas" têm 15 nanómetros de diâmetro.

Por isso nada vai passar.

Ok, vou dar-vos uma pequena demonstração.

Gostariam de ver?

Eu dediquei todo o meu tempo a prepará-la. Por isso acho que devia fazê-la.

Estamos na agradável cidade de Oxford.

Por isso -- alguém preparou isto.

Estando em Oxford, o que eu fiz foi ir

buscar um pouco de água ao rio Cherwell,

e ao rio Tamisa,

que correm aqui. E esta é a água.

Mas eu comecei a pensar,

se nós estivéssemos no meio de uma área inundada

no Bangladesh, a água não teria este aspecto.

Então eu fui buscar algumas coisas para adicionar à água.

E isto é água do meu lago.

(tosse) Sinta o cheiro disto, Sr. câmara man.

Ok. (risos) Certo.

Vamos deitar isto aqui para dentro.

Audiência: Ugh!

Ok. Temos também águas residuais

de um esgoto de uma quinta.

Vou também acrescentar isso aqui para dentro.

(risos)

Pôr isto aqui dentro. Ora aqui está.

(risos)

E mais uns pós e pedaços aqui para dentro também.

E tenho também aqui um presente de um coelho de um amigo meu.

Por isso vamos pô-lo aqui dentro também.

(risos)

Ok. (risos) Agora.

A garrafa "Salva-vidas" funciona de forma muito simples.

É só enchê-la com água.

Hoje vou utilizar um jarro

para vos mostrar. Vou pôr um pouco daquelas fezes no jarro.

A água não está suja o suficiente. Vou misturá-la um pouco.

Ok, então vou pegar nesta água mesmo suja,

e vou pô-la na garrafa. Querem uma bebida para já?

(risos)

Ok. Cá vai.

Encaixa-se o topo.

Dá-se umas bombeadas. Ok?

É tudo o que é necessário.

E assim que eu desprender a ponta,

água estéril vai sair da garrafa.

Tenho que ser rápido. Ok, prontos?

Aqui vai. Cuidado com o material eléctrico.

Isto é água limpa, estéril e potável.

(aplausos)

À vossa.

(aplausos)

Esta é para ti Chris.

(aplausos)

Como é o sabor?

Chris Anderson: É delicioso.

Michael Pritchard: Ok.

Vamos ver como é que o Chris reage durante o resto do evento. Ok?

(risos)

Ok. A garrafa "Salva-vidas" é utilizada por milhares de pessoas em todo o mundo.

E dura cerca de 6.000 litros.

E quando expira, como usa tecnologia segura em caso de falha,

o sistema desliga-se, protegendo o utilizador.

Remove-se o cartucho. Insere-se outro novo.

E está pronta para mais 6.000 litros.

Vamos agora ver as aplicações possíveis.

Tradicionalmente, numa crise, o que fazemos?

Enviamos carregamentos de água.

A seguir, depois de algumas semanas, montamos acampamentos.

E as pessoas são forçadas a ir para esses acampamentos para receberem água potável.

O que acontece quando 20.000 pessoas se juntam num acampamento?

As doenças espalham-se. São necessários mais recursos.

O problema auto-perpetua-se.

Mas se pensarmos de forma diferente,

e enviarmos estas garrafas,

as pessoas podem ficar onde estão.

Elas podem esterilizar a sua própria água,

e começar a reconstruir as suas casas e as suas vidas.

Agora, não é necessário um desastre natural

para que isto funcione.

Usando, como antigamente, a infra-estrutura nacional

e tubagens, é demasiado caro.

Quando se fazem as contas aos números,

não há zeros que cheguem.

Por isso aqui está a parte de "pensar diferente".

Em vez que enviar água,

e de utilizar processos artificiais para o fazer,

usemos a Mãe Natureza. Ela tem um sistema fantástico.

Ela pega na água daqui,

dessaliniza-a de graça, trasporta-a para ali,

e despeja-a nas montanhas, rios e correntes.

E onde é que as pessoas vivem? Perto da água.

Tudo o que temos que fazer

é tornar a água estéril. Como é que o fazemos?

Bem, podíamos usar a garrafa "Salva-vidas".

Ou podíamos usar uma destas.

A mesma tecnologia, mas num jerricã.

Isto vai processar 25.000 litros de água.

É mais que suficiente para uma família de quadro,

durante três anos.

E quando é que custa?

Cerca de menos de um cêntimo por dia.

Obrigado.

(aplausos)

Portanto, ao pensar de forma diferente, e processando a água

no local de consumo,

as mães e as crianças não têm mais que andar quatro horas por dia

para armazenar a sua água.

Elas podem armazená-la de uma fonte nas redondezas.

Portanto, com apenas oito mil milhões de dólares,

podemos atingir o objectivo do milénio

de baixar para metade o número de pessoas

sem acesso a água potável.

Pondo isso em contexto,

o governo do Reino Unido gasta cerca de 12 mil milhões de libras

por ano em ajuda externa.

Mas porquê parar aí?

Com 20 mil milhões de dólares, todas as pessoas podem ter acesso a água potável.

Portanto, os três mil milhões e meio de pessoas

que sofrem todos os anos, como consequência,

e os dois milhões de crianças que morrem todos os anos,

vão sobreviver.

Obrigado.

(aplausos)