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"Tudo acontece por um motivo" e outras mentiras que eu adorava

  • 0:01 - 0:05
    Há alguns diagnósticos médicos
    que absolutamente ninguém
  • 0:05 - 0:06
    está preparado para ouvir.
  • 0:07 - 0:08
    Eu, com certeza, não estava.
  • 0:09 - 0:12
    Foi há três anos que recebi
    um telefonema em meu escritório
  • 0:12 - 0:15
    com os resultados de um exame.
  • 0:15 - 0:19
    Eu tinha 35 anos e vivia
    finalmente a vida que queria.
  • 0:20 - 0:22
    Eu me casei com meu namorado da escola
  • 0:22 - 0:26
    e havia finalmente ficado grávida
    após anos de infertilidade.
  • 0:26 - 0:29
    Então, de repente, tivemos Zach,
  • 0:29 - 0:33
    um perfeito menino/dinossauro
    de um ano de idade,
  • 0:33 - 0:35
    dependendo do humor dele.
  • 0:35 - 0:38
    Ter Zach foi perfeito.
  • 0:39 - 0:41
    Eu havia conseguido o primeiro emprego
  • 0:41 - 0:43
    para o qual me candidatei
    no mundo acadêmico,
  • 0:43 - 0:46
    terra de mil sonhos destruídos.
  • 0:47 - 0:48
    Lá estava eu,
  • 0:48 - 0:50
    trabalhando no emprego dos meus sonhos,
  • 0:50 - 0:51
    com meu bebezinho
  • 0:51 - 0:54
    e o homem que eu havia
    importado do Canadá.
  • 0:54 - 0:56
    (Risos)
  • 0:56 - 0:59
    Mas, alguns meses antes,
    comecei a sentir uma dor no estômago
  • 0:59 - 1:02
    e passei em todos os especialistas
    para descobrir o motivo.
  • 1:02 - 1:03
    Ninguém sabia me dizer.
  • 1:03 - 1:06
    Então, do nada,
  • 1:06 - 1:10
    o assistente de um médico
    me ligou no trabalho
  • 1:10 - 1:12
    para me dizer que eu estava
    no estágio quatro de um câncer
  • 1:12 - 1:15
    e que eu precisava ir
    ao hospital imediatamente.
  • 1:16 - 1:19
    Tudo o que eu conseguia
    pensar em dizer era:
  • 1:19 - 1:21
    "Mas eu tenho um filho.
  • 1:22 - 1:24
    Não posso morrer.
  • 1:24 - 1:26
    Este mundo não pode acabar.
  • 1:26 - 1:28
    Acabou de começar".
  • 1:29 - 1:32
    Liguei para meu marido,
    que correu para me encontrar,
  • 1:32 - 1:35
    e eu disse a ele todas as minhas verdades.
  • 1:35 - 1:38
    Falei: "Eu sempre te amei.
  • 1:38 - 1:40
    Sempre te amei.
  • 1:40 - 1:42
    Sinto muito.
  • 1:42 - 1:44
    Por favor, cuide de nosso filho".
  • 1:45 - 1:48
    Enquanto eu começava
    a andar para o hospital,
  • 1:48 - 1:50
    passou pela minha cabeça
    pela primeira vez:
  • 1:51 - 1:53
    "Que ironia!"
  • 1:53 - 1:57
    Eu havia acabado de escrever
    um livro chamado "Abençoada".
  • 1:57 - 1:59
    (Risos)
  • 2:00 - 2:01
    Sou historiadora
  • 2:01 - 2:05
    e especialista na ideia de que coisas boas
    acontecem a pessoas boas.
  • 2:05 - 2:10
    Pesquiso uma forma de cristianismo
    apelidada de "teologia da prosperidade",
  • 2:10 - 2:14
    pela promessa muito ousada
    de que Deus quer que você prospere.
  • 2:14 - 2:18
    Nunca me considerei seguidora
    da teologia da prosperidade.
  • 2:18 - 2:20
    Eu era simplesmente uma observadora.
  • 2:20 - 2:24
    A teologia da prosperidade
    acredita que Deus recompensa
  • 2:24 - 2:26
    quem tiver o tipo certo de fé.
  • 2:26 - 2:28
    Se você for bom e fiel,
  • 2:28 - 2:31
    Deus lhe dará saúde e riqueza
  • 2:31 - 2:32
    e felicidade sem fim.
  • 2:33 - 2:34
    A vida é como um bumerangue:
  • 2:34 - 2:36
    se você for bom,
  • 2:36 - 2:38
    sempre vai receber de volta coisas boas.
  • 2:38 - 2:42
    Pense e fale de maneira positiva.
  • 2:42 - 2:45
    Nada é impossível se você acreditar.
  • 2:46 - 2:50
    Fiquei interessada nessa teologia
    muito norte-americana
  • 2:50 - 2:51
    quando eu tinha uns 18 anos,
  • 2:51 - 2:56
    e, aos 25, eu estava viajando o país
    entrevistando suas celebridades.
  • 2:56 - 3:00
    Passei uma década conversando
    com pastores televisivos
  • 3:00 - 3:03
    cheios de promessas espirituais
    ao dinheiro divino.
  • 3:04 - 3:06
    Entrevistei inúmeros
    pastores de megaigrejas,
  • 3:06 - 3:08
    com penteados espetaculosos,
  • 3:08 - 3:11
    sobre como eles estavam vivendo
    o "melhor da vida" então.
  • 3:12 - 3:14
    Visitei pessoas em salas
    de espera de hospitais
  • 3:14 - 3:16
    e escritórios luxuosos.
  • 3:16 - 3:19
    Segurei as mãos de cadeirantes,
  • 3:19 - 3:20
    rezando para que fossem curados.
  • 3:21 - 3:26
    Ganhei minha reputação
    de destruidora de férias familiares
  • 3:26 - 3:30
    por sempre insistir em passar
    na megaigreja mais luxuosa da cidade.
  • 3:31 - 3:34
    Se houvesse um rio
    correndo pelo santuário,
  • 3:34 - 3:37
    uma águia voando
    livremente pelo auditório,
  • 3:37 - 3:40
    ou um enorme globo de ouro girando,
  • 3:40 - 3:41
    eu estava lá.
  • 3:42 - 3:46
    A primeira vez que comecei a estudar isso,
    a ideia toda de ser "abençoada"
  • 3:46 - 3:48
    não era como hoje.
  • 3:48 - 3:50
    Não era como agora,
  • 3:50 - 3:53
    uma linha completa
    de artigos do lar "#abençoados".
  • 3:54 - 3:59
    Ainda não era uma enxurrada de placas
    de carro personalizadas, camisetas
  • 3:59 - 4:01
    e murais de neon #abençoados".
  • 4:01 - 4:02
    Eu não fazia ideia
  • 4:02 - 4:06
    de que "abençoado" se tornaria
    um dos clichês culturais mais comuns,
  • 4:07 - 4:10
    uma das hashtags mais usadas no Instagram,
  • 4:10 - 4:12
    para celebrar apenas fotos de biquíni,
  • 4:12 - 4:15
    como se dissessem: "Sou tão abençoada.
  • 4:15 - 4:17
    Obrigada, Jesus, por este corpo".
  • 4:17 - 4:19
    (Risos)
  • 4:20 - 4:22
    Eu ainda não havia compreendido totalmente
  • 4:22 - 4:27
    como a teologia da prosperidade
    havia se tornado a grande religião civil,
  • 4:27 - 4:30
    oferecendo outro relato transcendente
  • 4:30 - 4:32
    da essência do sonho norte-americano.
  • 4:32 - 4:36
    Em vez de adorar os próprios
    fundamentos dos Estados Unidos,
  • 4:36 - 4:39
    a teologia da prosperidade
    adorava os norte-americanos.
  • 4:39 - 4:42
    Ela idolatra e ritualiza os desejos,
  • 4:42 - 4:45
    o trabalho árduo e a fibra moral deles.
  • 4:46 - 4:49
    Os norte-americanos acreditam
    em um evangelho de otimismo
  • 4:49 - 4:52
    e são sua própria prova viva.
  • 4:52 - 4:54
    Mas, apesar de dizer a mim mesma:
  • 4:54 - 4:57
    "Só estou estudando essas coisas,
    não sou nada parecida com eles",
  • 4:57 - 4:59
    quando recebi meu diagnóstico,
  • 4:59 - 5:03
    de repente, entendi o quanto
    eu estava investida profundamente
  • 5:03 - 5:06
    em minha própria teologia
    de Horatio Alger.
  • 5:07 - 5:10
    Se você vive nesta cultura,
    seja religioso ou não,
  • 5:10 - 5:14
    é extremamente difícil
    evitar cair na armadilha
  • 5:14 - 5:19
    de acreditar que a virtude e o sucesso
    andam de mãos dadas.
  • 5:19 - 5:22
    Quanto mais eu olhava
    para meu diagnóstico,
  • 5:22 - 5:25
    mais eu reconhecia que tinha
    minha própria versão silenciosa
  • 5:25 - 5:29
    da ideia de que coisas boas
    acontecem a pessoas boas.
  • 5:29 - 5:30
    Não sou boa?
  • 5:31 - 5:33
    Não sou especial de alguma forma?
  • 5:33 - 5:36
    Cometi zero homicídio
  • 5:36 - 5:37
    até hoje.
  • 5:37 - 5:40
    (Risos)
  • 5:40 - 5:42
    (Aplausos)
  • 5:42 - 5:44
    Então, por que isso
    está acontecendo comigo?
  • 5:45 - 5:48
    Eu queria que Deus me tornasse boa
    e recompensasse minha fé
  • 5:48 - 5:51
    com alguns prêmios reluzentes
    ao longo do caminho.
  • 5:51 - 5:54
    Tudo bem, muitos prêmios reluzentes.
  • 5:54 - 5:55
    (Risos)
  • 5:55 - 5:57
    Eu acreditava que as dificuldades
    eram apenas desvios
  • 5:58 - 6:01
    sobre o que eu tinha certeza
    de que seria minha vida muito longa.
  • 6:02 - 6:06
    Como este é o caso com muitos de nós,
    é uma mentalidade que me serviu bem.
  • 6:07 - 6:10
    O evangelho do sucesso
    me levou a conquistar,
  • 6:10 - 6:12
    a sonhar alto,
  • 6:12 - 6:13
    a abandonar o medo.
  • 6:14 - 6:17
    Foi uma mentalidade que me serviu bem
  • 6:17 - 6:18
    até que não me serviu mais,
  • 6:18 - 6:22
    até que fui confrontada com algo
    que eu não conseguia resolver;
  • 6:23 - 6:26
    até que me vi dizendo ao telefone:
  • 6:26 - 6:27
    "Mas tenho um filho",
  • 6:28 - 6:31
    porque era tudo o que eu
    conseguia pensar em dizer.
  • 6:33 - 6:36
    Esse foi o momento
    mais difícil de aceitar:
  • 6:37 - 6:40
    o telefonema, a caminhada até o hospital,
  • 6:40 - 6:44
    quando percebi que minha própria
    teologia de prosperidade pessoal
  • 6:44 - 6:45
    havia falhado comigo.
  • 6:46 - 6:51
    Qualquer coisa que eu achasse boa
    ou especial em mim não poderia me salvar:
  • 6:51 - 6:53
    meu trabalho árduo, minha personalidade,
  • 6:53 - 6:56
    meu humor, minha perspectiva.
  • 6:57 - 7:00
    Tive que encarar o fato de que minha vida
    é construída com paredes de papel,
  • 7:01 - 7:03
    assim como a de todo mundo.
  • 7:05 - 7:09
    É um pensamento difícil aceitar que
    estamos todos a um sopro de distância
  • 7:09 - 7:13
    de um problema que pode
    destruir algo insubstituível
  • 7:13 - 7:15
    ou alterar completamente nossa vida.
  • 7:16 - 7:19
    Sabemos que, na vida,
    existem antes e depois.
  • 7:20 - 7:24
    Sempre me pedem para dizer
    que eu nunca retornaria,
  • 7:24 - 7:27
    ou que ganhei tanto em perspectiva.
  • 7:27 - 7:29
    E eu lhes digo que não,
  • 7:29 - 7:31
    antes era melhor.
  • 7:34 - 7:36
    Alguns meses após ficar doente,
    escrevi sobre isso
  • 7:36 - 7:39
    e enviei para um editor
    do "New York Times".
  • 7:40 - 7:44
    Em retrospecto, pegar um dos momentos
    mais vulneráveis de sua vida
  • 7:44 - 7:45
    e transformá-lo em um editorial
  • 7:46 - 7:48
    não é uma maneira incrível
    de se sentir menos vulnerável?
  • 7:48 - 7:50
    (Risos)
  • 7:50 - 7:53
    Recebi milhares de cartas e e-mails.
  • 7:53 - 7:55
    Ainda os recebo todos os dias.
  • 7:55 - 7:58
    Acho que é por causa
    das perguntas que fiz.
  • 7:58 - 8:03
    Perguntei: "Como você vive
    sem tantos motivos
  • 8:03 - 8:05
    para as coisas ruins que acontecem?"
  • 8:05 - 8:10
    Perguntei: "Seria melhor viver
    sem fórmulas ultrajantes
  • 8:10 - 8:13
    para por que as pessoas
    merecem o que recebem?"
  • 8:14 - 8:17
    Era tão engraçado e terrível, claro,
  • 8:17 - 8:20
    que pensei em pedir às pessoas
    para se acalmarem
  • 8:20 - 8:23
    sobre a necessidade de uma explicação
    para coisas ruins que acontecem.
  • 8:23 - 8:25
    E o que milhares de leitores fizeram?
  • 8:25 - 8:29
    Sim, escreveram para defender a ideia
    de que deveria haver um motivo
  • 8:29 - 8:31
    para o que aconteceu comigo.
  • 8:31 - 8:34
    Querem realmente que eu entenda o motivo.
  • 8:34 - 8:39
    As pessoas querem que eu as tranquilize
    de que meu câncer faz parte de um plano.
  • 8:40 - 8:43
    Algumas cartas até sugeriam que era
    o plano de Deus que eu tivesse câncer
  • 8:43 - 8:46
    para que eu pudesse ajudar
    as pessoas escrevendo a respeito.
  • 8:47 - 8:50
    As pessoas têm certeza
    de que é um teste para meu caráter
  • 8:50 - 8:52
    ou prova de algo terrível que fiz.
  • 8:53 - 8:56
    Querem que eu saiba, sem sombra de dúvida,
  • 8:56 - 9:00
    que existe uma lógica oculta
    para esse caos aparente.
  • 9:00 - 9:02
    Dizem a meu marido,
  • 9:02 - 9:04
    enquanto ainda estou no hospital,
  • 9:04 - 9:06
    que tudo acontece por um motivo,
  • 9:06 - 9:09
    e depois gaguejam sem jeito
    quando ele diz:
  • 9:09 - 9:11
    "Eu adoraria ouvir isso.
  • 9:11 - 9:14
    Adoraria ouvir o motivo pelo qual
    minha esposa está morrendo".
  • 9:16 - 9:17
    Eu entendo.
  • 9:17 - 9:19
    Todos nós queremos motivos.
  • 9:19 - 9:21
    Queremos fórmulas
  • 9:21 - 9:24
    para prever se nosso trabalho
    será recompensado,
  • 9:24 - 9:29
    se nosso amor e apoio sempre farão
    nossos parceiros felizes
  • 9:29 - 9:30
    e nossos filhos nos amarem.
  • 9:31 - 9:34
    Queremos viver em um mundo
    no qual nem mesmo um ínfimo
  • 9:34 - 9:39
    de nosso trabalho árduo, nossa dor
    nem de nossas mais profundas esperanças
  • 9:39 - 9:40
    seja em vão.
  • 9:41 - 9:45
    Queremos viver em um mundo
    em que nada está perdido.
  • 9:47 - 9:51
    Mas o que aprendi ao viver
    com câncer de estágio quatro
  • 9:51 - 9:54
    é que não há correlação fácil
  • 9:54 - 9:56
    entre minha tenacidade
  • 9:56 - 9:58
    e a duração de minha vida.
  • 9:59 - 10:03
    Nos últimos três anos,
    senti mais dor e trauma
  • 10:03 - 10:06
    do que jamais imaginei
    que pudesse sobreviver.
  • 10:06 - 10:09
    Percebi, no outro dia, que tive
    tantas cirurgias abdominais
  • 10:09 - 10:12
    que estou em minha quinta
    cicatriz no umbigo,
  • 10:12 - 10:14
    e esta última é a que menos gosto.
  • 10:14 - 10:16
    (Risos)
  • 10:17 - 10:21
    Mas, ao mesmo tempo, senti amor,
  • 10:21 - 10:23
    tanto amor,
  • 10:23 - 10:25
    amor que acho difícil de explicar.
  • 10:26 - 10:29
    Outro dia, eu estava lendo as descobertas
  • 10:29 - 10:32
    da Near Death Experience
    Research Foundation...
  • 10:32 - 10:34
    e, sim, existe uma coisa dessas...
  • 10:34 - 10:37
    com entrevistas sobre a experiência
    das pessoas com a morte
  • 10:37 - 10:38
    em todo tipo de circunstâncias:
  • 10:38 - 10:41
    acidentes de carro, trabalho de parto,
  • 10:41 - 10:42
    suicídios.
  • 10:42 - 10:45
    Muitos relataram a mesma coisa estranha:
  • 10:45 - 10:46
    amor.
  • 10:47 - 10:50
    Estou certa de que eu teria ignorado
    se não tivesse me lembrado
  • 10:50 - 10:51
    de algo que senti,
  • 10:51 - 10:54
    algo que me incomodava contar a alguém:
  • 10:55 - 10:58
    que, quando tive certeza
    de que iria morrer,
  • 10:58 - 10:59
    não me senti zangada.
  • 11:01 - 11:02
    Eu me senti amada.
  • 11:03 - 11:07
    Foi uma das coisas mais surreais
    pelas quais passei.
  • 11:07 - 11:11
    Num momento em que eu deveria ter
    me sentido abandonada por Deus,
  • 11:11 - 11:13
    não fui reduzida a cinzas.
  • 11:14 - 11:16
    Senti como se estivesse flutuando,
  • 11:16 - 11:18
    flutuando no amor e nas orações
  • 11:18 - 11:21
    de todos aqueles que murmuravam
    ao meu redor como abelhas-operárias,
  • 11:21 - 11:24
    trazendo bilhetes, meias, flores
  • 11:24 - 11:27
    e colchas bordadas
    com palavras de incentivo para mim.
  • 11:28 - 11:30
    Mas, quando eles se sentaram ao meu lado,
  • 11:30 - 11:32
    minha mão nas mãos deles,
  • 11:32 - 11:35
    meu próprio sofrimento começou a parecer
    que havia revelado para mim
  • 11:35 - 11:37
    o sofrimento dos outros.
  • 11:38 - 11:41
    Eu estava entrando em um mundo
    de pessoas exatamente como eu,
  • 11:42 - 11:44
    pessoas que tropeçavam nos escombros
  • 11:44 - 11:47
    dos sonhos a que achavam
    que tinham direito
  • 11:47 - 11:49
    e planos que não percebiam
    que haviam feito.
  • 11:50 - 11:54
    Foi uma sensação de estar mais conectada,
    de alguma forma, com outras pessoas,
  • 11:54 - 11:57
    vivendo a mesma situação.
  • 11:57 - 12:00
    Essa sensação ficou comigo por meses.
  • 12:00 - 12:02
    De fato, eu estava tão acostumada a ela
  • 12:02 - 12:06
    que comecei a entrar em pânico
    com a perspectiva de perdê-la.
  • 12:06 - 12:12
    Comecei a perguntar a amigos, teólogos,
    historiadores, freiras de quem eu gostava:
  • 12:12 - 12:16
    "O que vou fazer quando
    essa sensação de carinho acabar?"
  • 12:16 - 12:18
    Eles sabiam exatamente
    do que eu estava falando,
  • 12:18 - 12:21
    porque eles mesmos
    também haviam sentido isso
  • 12:21 - 12:24
    ou haviam lido sobre isso
    em grandes obras da teologia cristã.
  • 12:24 - 12:25
    Eles disseram:
  • 12:25 - 12:27
    "Sim, acabará.
  • 12:28 - 12:30
    Os sentimentos deixarão de existir.
  • 12:30 - 12:33
    E não haverá nenhuma fórmula
    para como recuperá-los".
  • 12:34 - 12:36
    Mas me ofereceram essa pequena garantia,
  • 12:36 - 12:38
    e me agarrei a ela.
  • 12:38 - 12:39
    Eles disseram:
  • 12:39 - 12:42
    "Quando os sentimentos
    recuarem como as marés,
  • 12:43 - 12:45
    eles deixarão uma marca".
  • 12:46 - 12:47
    E eles deixam.
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    E isso não é prova de nada,
  • 12:52 - 12:54
    e não é nada para se gabar.
  • 12:54 - 12:55
    Foi apenas uma bênção.
  • 12:55 - 12:58
    Então, não posso responder
    aos milhares de e-mails que recebo
  • 12:58 - 13:01
    com um plano de cinco passos
    para alcançar a saúde divina
  • 13:01 - 13:03
    e as sensações flutuantes mágicas.
  • 13:04 - 13:10
    Vejo que o mundo é sacudido por eventos
    que são maravilhosos e terríveis,
  • 13:10 - 13:13
    lindos e trágicos.
  • 13:13 - 13:16
    Não posso reconciliar a contradição,
  • 13:17 - 13:20
    exceto que estou começando
    a acreditar que esses opostos
  • 13:20 - 13:22
    não se anulam mutuamente.
  • 13:23 - 13:25
    A vida é tão bonita,
  • 13:26 - 13:28
    e a vida é tão difícil.
  • 13:30 - 13:33
    Hoje estou indo muito bem.
  • 13:34 - 13:37
    Os medicamentos de imunoterapia
    parecem estar funcionando,
  • 13:37 - 13:40
    e estamos observando
    e esperando com exames.
  • 13:41 - 13:43
    Espero viver muito tempo.
  • 13:44 - 13:48
    Espero viver o suficiente
    para envergonhar meu filho
  • 13:48 - 13:51
    e ver meu marido perder
    seus lindos cabelos.
  • 13:52 - 13:54
    E acho que vou viver.
  • 13:54 - 13:56
    Mas estou aprendendo a viver
  • 13:56 - 13:58
    e a amar
  • 13:58 - 14:00
    sem contar o custo,
  • 14:00 - 14:05
    sem motivos e garantias
    de que nada será perdido.
  • 14:05 - 14:07
    A vida vai partir seu coração,
  • 14:08 - 14:11
    e a vida pode levar tudo o que você tem
  • 14:11 - 14:13
    e tudo o que você espera.
  • 14:13 - 14:17
    Mas há um tipo de teologia
    da prosperidade em que acredito.
  • 14:18 - 14:20
    Acredito que, na escuridão,
  • 14:20 - 14:22
    mesmo lá,
  • 14:22 - 14:24
    haverá beleza,
  • 14:24 - 14:25
    e haverá amor.
  • 14:25 - 14:28
    E, de vez em quando,
  • 14:28 - 14:31
    vai parecer mais do que suficiente.
  • 14:32 - 14:33
    Obrigada.
  • 14:33 - 14:35
    (Aplausos)
Title:
"Tudo acontece por um motivo" e outras mentiras que eu adorava
Speaker:
Kate Bowler
Description:

Nos momentos mais difíceis da vida, como continuar vivendo? Kate Bowler vem explorando essa questão desde que foi diagnosticada com câncer em estágio quatro, aos 35 anos. Em uma palestra profunda, comovente e inesperadamente engraçada, ela oferece algumas respostas, desafiando a ideia de que "tudo acontece por um motivo" e compartilhando a sabedoria adquirida pelo esforço sobre como dar sentido ao mundo depois que sua vida é, de repente, mudada completamente. "Acredito que, na escuridão, mesmo lá, haverá beleza e haverá amor", diz ela.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
14:49

Portuguese, Brazilian subtitles

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