Repensando a infidelidade...uma palestra para quem já amou
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0:01 - 0:03Porque traímos?
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0:04 - 0:07E porque é que pessoas felizes traem?
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0:09 - 0:13Quando dizemos "infidelidade,"
o que queremos realmente dizer? -
0:14 - 0:21É uma relação sexual, uma história de amor,
sexo pago, uma conversa online, -
0:21 - 0:23uma massagem com final feliz?
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0:24 - 0:30Porque é que achamos que os homens traem
por aborrecimento e medo de intimidade, -
0:30 - 0:35mas as mulheres traem devido à solidão
e desejo de intimidade? -
0:36 - 0:40Será uma traição sempre
o fim de uma relação? -
0:41 - 0:44Nos últimos 10 anos,
viajei pelo mundo todo, -
0:44 - 0:48e trabalhei extensivamente
com centenas de casais -
0:48 - 0:50destruídos pela infidelidade.
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0:51 - 0:55Há um simples acto de transgressão
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0:55 - 0:59que consegue destruir a relação,
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0:59 - 1:04a felicidade e a até mesmo a identidade
de um casal: um caso extraconjugal. -
1:04 - 1:10E no entanto, este acto tão comum
é muito mal compreendido. -
1:11 - 1:15Portanto, esta palestra é para
qualquer pessoa que já tenha amado. -
1:18 - 1:22O adultério existe desde que
o casamento foi inventado, -
1:22 - 1:24bem como o tabu contra o mesmo.
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1:25 - 1:31Aliás, a infidelidade tem uma tenacidade
que o casamento só pode invejar, -
1:31 - 1:35a tal ponto, que é o único mandamento
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1:35 - 1:37que é repetido na Bíblia duas vezes:
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1:38 - 1:42uma vez pelo acto, e outra
apenas por pensar nele. -
1:42 - 1:45(Risos)
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1:45 - 1:49Portanto, como é que reconciliamos
o que é universalmente proibido, -
1:49 - 1:52e, no entanto, universalmente praticado?
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1:53 - 1:58Ao longo da História, os homens tiveram
praticamente uma licença para trair -
1:58 - 2:00sem grandes consequências,
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2:00 - 2:05suportada por inúmeras teorias
biológicas e evolucionistas -
2:05 - 2:08que justificavam a sua necessidade
de explorar, -
2:08 - 2:12portanto, a duplicidade de critérios
é tão velha quanto o adultério em si. -
2:12 - 2:18Mas quem é que sabe o que realmente
se passa debaixo dos lençóis? -
2:18 - 2:20Porque é que, no que diz respeito a sexo,
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2:20 - 2:24nos homens há uma pressão
para se gabarem e exagerarem, -
2:24 - 2:30mas as mulheres são pressionadas
a esconder, minimizar e negar, -
2:30 - 2:34o que não é surpreendente,
tendo em conta que ainda há nove países -
2:34 - 2:37onde as mulheres
podem ser mortas por adultério. -
2:38 - 2:43A monogamia costumava ser
estar com uma só pessoa toda a vida. -
2:43 - 2:46Hoje, monogamia é estar com
uma pessoa de cada vez. -
2:46 - 2:48(Risos)
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2:48 - 2:51(Aplausos)
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2:52 - 2:54Muitos aqui já devem ter dito:
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2:54 - 2:57"Sou monógamo
em todas as minhas relações." -
2:57 - 3:00(Risos)
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3:01 - 3:02Nós costumávamos casar,
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3:02 - 3:04e fazer sexo pela primeira vez.
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3:05 - 3:06Mas agora, casamo-nos
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3:06 - 3:09e deixamos de ter sexo com outras pessoas.
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3:09 - 3:14O facto é que a monogamia
não tinha nada a ver com amor. -
3:14 - 3:17Os homens dependiam
da fidelidade das mulheres -
3:17 - 3:20para saber de quem eram os filhos,
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3:20 - 3:23e quem herdaria as vacas,
quando morressem. -
3:24 - 3:27Agora, todos querem saber
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3:27 - 3:29qual é a percentagem de traição.
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3:29 - 3:32Têm-me perguntado isto
desde que cheguei a esta conferência. -
3:32 - 3:34(Risos)
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3:34 - 3:37Isto aplica-se a vocês.
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3:36 - 3:41Mas a definição de infidelidade
continua a expandir-se: -
3:41 - 3:46sexo por SMS, ver pornografia,
ser activo em aplicações de encontros. -
3:46 - 3:51Portanto, por não haver uma
definição universal consensual -
3:51 - 3:54do que constitui uma infidelidade,
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3:54 - 4:00a estimativa varia amplamente,
de 26% a 75%. -
4:01 - 4:04Mas para além disso,
somos contradições ambulantes. -
4:04 - 4:08Por isso, 95% de nós vão dizer
que é horrível -
4:08 - 4:11que o nosso parceiro minta
em relação a ter um caso, -
4:11 - 4:13mas quase a mesma quantidade dirá
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4:13 - 4:17que isso seria exactamente o que fariam
se tivessem um. -
4:18 - 4:19(Risos)
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4:20 - 4:24Bem, eu gosto desta definição
de caso extraconjugal, -
4:24 - 4:27ela junta os três elementos-chave:
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4:27 - 4:33uma relação secreta,
que é o núcleo estrutural de um caso; -
4:33 - 4:38uma ligação emocional
em maior ou menor grau; -
4:38 - 4:40e uma alquimia sexual.
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4:40 - 4:43E alquimia, aqui, é a palavra-chave,
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4:43 - 4:50porque o frisson erótico é tal que
o beijo que apenas imaginam dar, -
4:50 - 4:53pode ser tão poderoso e encantador
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4:53 - 4:57quanto horas de relações sexuais.
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4:58 - 5:00Como Marcel Proust disse,
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5:00 - 5:05é a nossa imaginação que é responsável
pelo amor, não a outra pessoa. -
5:06 - 5:10Portanto, nunca foi tão fácil trair,
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5:10 - 5:13e nunca foi tão difícil
mantê-lo em segredo. -
5:14 - 5:19Nunca a infidelidade exerceu
um efeito psicológico tão marcante. -
5:20 - 5:23Quando o casamento era
um empreendimento económico, -
5:23 - 5:27a infidelidade ameaçava
a nossa segurança económica. -
5:27 - 5:30Mas agora que o casamento
é um acordo romântico, -
5:30 - 5:34a infidelidade ameaça
a nossa segurança emocional. -
5:34 - 5:38Ironicamente, costumávamos
virar-nos para o adultério -
5:38 - 5:41— esse era o espaço onde
procurávamos amor puro. -
5:41 - 5:44Mas agora que procuramos amor
no casamento, -
5:44 - 5:46o adultério destrói-o.
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5:47 - 5:49Penso que, actualmente, há três formas
-
5:49 - 5:52pelas quais a infidelidade,
hoje, magoa de modo diferente. -
5:54 - 6:00Temos um ideal romântico,
no qual contamos com uma pessoa -
6:00 - 6:03para preencher uma lista infindável
de necessidades: -
6:03 - 6:06para ser o melhor amante,
o melhor amigo, -
6:06 - 6:10o melhor pai ou mãe, o confidente fiel,
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6:10 - 6:13o companheiro emocional,
o par intelectual. -
6:14 - 6:18E eu sou isso: sou a escolhida, sou única,
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6:18 - 6:21sou indispensável, sou insubstituível,
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6:21 - 6:23sou a tal.
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6:23 - 6:27A infidelidade diz-me que não sou.
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6:27 - 6:29É a derradeira traição.
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6:30 - 6:34A infidelidade quebra
a grande ambição do amor. -
6:35 - 6:40Mas se ao longo da História,
a infidelidade sempre foi dolorosa, -
6:40 - 6:42hoje é, frequentemente, traumática,
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6:42 - 6:45porque ameaça a nossa própria identidade.
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6:45 - 6:49O meu paciente, Fernando,
vive atormentado e diz: -
6:49 - 6:51"Pensava que conhecia a minha vida.
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6:51 - 6:55"Pensava que sabia quem eras,
quem nós éramos como casal, quem eu era. -
6:55 - 6:57"Agora, questiono tudo."
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6:58 - 7:03A infidelidade — uma quebra de confiança,
uma crise de identidade. -
7:03 - 7:05"Será que consigo voltar a confiar em ti?"
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7:05 - 7:08"Será que voltarei a confiar em alguém?"
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7:09 - 7:12Isto é o mesmo que me diz
a minha paciente Heather, -
7:12 - 7:15quando me fala da sua história com o Nick.
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7:15 - 7:16Casados, dois filhos.
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7:16 - 7:19O Nick acaba de partir
numa viagem de negócios, -
7:19 - 7:22e a Heather está a jogar no iPad dele,
com os filhos, -
7:22 - 7:25quando vê uma mensagem aparecer no ecrã:
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7:25 - 7:27"Sinto imenso a tua falta."
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7:28 - 7:30"Estranho", pensa ela,
"acabámos de nos ver". -
7:31 - 7:33Depois outra mensagem:
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7:33 - 7:35"Mal posso esperar
para te ter nos meus braços." -
7:36 - 7:38A Heather apercebe-se
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7:38 - 7:40que não são para ela.
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7:40 - 7:44Ela também me conta que
o seu pai teve casos extraconjugais, -
7:44 - 7:48mas a mãe dela encontrou
um pequeno recibo no bolso, -
7:48 - 7:51e uma mancha de batom
no colarinho. -
7:51 - 7:55A Heather começa a procurar
-
7:55 - 7:58e encontra centenas de mensagens,
-
7:58 - 8:01e fotos que foram trocadas,
e desejos que foram expressos. -
8:01 - 8:04Detalhes vívidos do caso
que o Nick mantinha há dois anos -
8:04 - 8:08revelados à sua frente, em tempo real.
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8:08 - 8:10Isso fez-me pensar:
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8:10 - 8:14Casos extraconjugais na era digital
são como uma morte por mil golpes. -
8:16 - 8:19Mas depois temos outro paradoxo
com o qual lidamos nos dias de hoje. -
8:19 - 8:21Devido a este ideal romântico,
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8:21 - 8:27confiamos na fidelidade
do nosso companheiro com um fervor único. -
8:27 - 8:31No entanto, nunca estivemos
mais inclinados para trair, -
8:31 - 8:33não por termos, agora, desejos novos,
-
8:33 - 8:35mas por vivermos numa época
-
8:35 - 8:39em que nos sentimos no direito
de ir em busca dos nossos desejos, -
8:39 - 8:43porque esta é a cultura
em que eu mereço ser feliz. -
8:43 - 8:47E se nos costumávamos divorciar
porque éramos infelizes, -
8:47 - 8:50hoje divorciamo-nos porque
podíamos ser mais felizes. -
8:52 - 8:55E se o divórcio estava
embrenhado de vergonha, -
8:55 - 9:00hoje, a nova vergonha é
escolher ficar quando podemos sair. -
9:01 - 9:03A Heather não pode falar com os amigos
-
9:03 - 9:07porque tem medo que eles a critiquem
por ela ainda amar o Nick, -
9:07 - 9:10e para onde quer que se vire,
ela ouve o mesmo conselho: -
9:10 - 9:13"Deixa-o. Larga-o de uma vez por todas".
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9:14 - 9:19Se a situação fosse inversa,
o Nick estaria na mesma posição. -
9:19 - 9:23Ficar é a nova vergonha.
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9:23 - 9:26Portanto, se nos podemos divorciar,
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9:26 - 9:29porque é que continuamos a trair?
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9:30 - 9:35Bem, a suposição comum
é que, se alguém trai, -
9:35 - 9:39ou há algo de errado com a relação,
ou há algo de errado contigo. -
9:39 - 9:43Mas milhões de pessoas não podem
ser todas elas casos patológicos. -
9:44 - 9:48A lógica é a seguinte: Se tens
tudo o que precisas em casa, -
9:48 - 9:52então não há necessidade
de procurar noutro sítio, -
9:52 - 9:55assumindo que existe algo
como um casamento perfeito -
9:55 - 9:58para nos inocular contra estas aventuras.
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9:59 - 10:03Mas e se a paixão tiver
um prazo de validade? -
10:04 - 10:07E se houver coisas que
até uma boa relação -
10:07 - 10:09não consegue proporcionar?
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10:10 - 10:13Se até as pessoas felizes traem,
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10:13 - 10:15de que é que se trata?
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10:17 - 10:20A maioria das pessoas com quem trabalho
-
10:20 - 10:23não são, de todo, alcovistas crónicos.
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10:23 - 10:27São pessoas que são, normalmente,
profundamente monógamas nas suas crenças, -
10:27 - 10:29pelo menos para o seu parceiro.
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10:29 - 10:32Mas encontram-se num conflito
-
10:32 - 10:35entre os seus valores e
o seu comportamento. -
10:36 - 10:40São, normalmente, pessoas
que até foram fiéis durante décadas, -
10:40 - 10:43mas um dia, pisam o risco
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10:43 - 10:45que pensavam nunca vir a pisar,
-
10:45 - 10:48correndo o risco de perder tudo.
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10:49 - 10:51Mas para vislumbrar o quê?
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10:52 - 10:55Casos extraconjugais
são um acto de traição, -
10:55 - 10:58e uma expressão de desejo e perda.
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10:59 - 11:03No centro de um caso extraconjugal,
costumamos encontrar -
11:03 - 11:07um desejo e anseio
por uma ligação emocional, -
11:07 - 11:13por algo novo, liberdade,
autonomia, intensidade sexual, -
11:13 - 11:16um desejo de recapturar
partes perdidas de nós próprios -
11:16 - 11:22ou uma tentativa de restabelecer
a vitalidade face à perda e tragédia. -
11:23 - 11:26Estou a pensar noutra
das minhas pacientes, a Priya, -
11:26 - 11:28que está num casamento feliz,
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11:28 - 11:31ama o marido,
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11:31 - 11:33e nunca quereria magoá-lo.
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11:33 - 11:35Mas ela também me diz
-
11:35 - 11:38que sempre fez o que era esperado dela;
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11:38 - 11:42boa rapariga, boa mulher, boa mãe,
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11:42 - 11:45cuida dos pais, que são imigrantes.
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11:45 - 11:49A Priya apaixonou-se pelo jardineiro
que removeu a árvore do seu jardim -
11:49 - 11:51depois do furacão Sandy.
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11:52 - 11:56Com o seu camião e as suas tatuagens,
ele é o oposto dela. -
11:58 - 12:03Mas aos 47 anos, este caso tem a ver
com a adolescência que a Priya nunca teve. -
12:04 - 12:09A história dela, para mim, realça que
quando procuramos o olhar de outro, -
12:09 - 12:14não é necessariamente do nosso parceiro
que nos estamos a afastar, -
12:14 - 12:17mas da pessoa na qual nos tornámos.
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12:18 - 12:21E não é tanto estarmos à procura
de outra pessoa, -
12:21 - 12:25mas sim estarmos à procura
de outra versão de nós próprios. -
12:27 - 12:29No mundo inteiro,
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12:29 - 12:33há uma palavra que ouço sempre
de quem tem casos extraconjugais. -
12:33 - 12:35Elas sentem-se vivas.
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12:36 - 12:40E elas contam-me, frequentemente,
histórias de perdas recentes -
12:40 - 12:42— a morte de um dos pais,
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12:42 - 12:45um amigo que morreu demasiado cedo,
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12:45 - 12:47e más notícias do médico.
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12:47 - 12:52A morte e a mortalidade vivem, normalmente,
na sombra do caso extraconjugal, -
12:52 - 12:55porque levantam questões.
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12:55 - 12:58É só isto? Haverá mais para além disto?
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12:59 - 13:01Vou passar os próximos 25 anos assim?
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13:02 - 13:05Será que vou sentir aquilo outra vez?
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13:06 - 13:10E leva-me a pensar que, se calhar,
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13:10 - 13:14são estas questões o que levam
as pessoas a passar o risco, -
13:14 - 13:18e que alguns casos são uma tentativa
de passar a perna à mortalidade, -
13:18 - 13:20como que um antídoto para a morte.
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13:22 - 13:25Contrariamente ao que possam pensar,
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13:25 - 13:30ter um caso tem menos a ver
com sexo do que com desejo: -
13:30 - 13:34desejo de atenção,
desejo de nos sentirmos especiais, -
13:34 - 13:36desejo de nos sentirmos importantes.
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13:36 - 13:39A própria estrutura de um caso,
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13:39 - 13:42o facto de nunca se poder ter o amante,
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13:42 - 13:43mantém essa necessidade.
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13:43 - 13:47Acaba por ser uma máquina de desejo,
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13:47 - 13:49porque a incompletude, a ambiguidade,
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13:49 - 13:52faz-nos querer o que não podemos ter.
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13:54 - 13:55Alguns de vocês devem pensar
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13:55 - 13:59que casos extraconjugais
não acontecem em relações abertas, -
13:59 - 14:00mas acontecem.
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14:00 - 14:04Primeiro que tudo, a conversa
sobre monogamia não é a mesma -
14:04 - 14:06que a conversa sobre infidelidade.
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14:06 - 14:10Mas a verdade é que,
mesmo quando temos -
14:10 - 14:13liberdade para ter outro parceiro sexual,
-
14:13 - 14:17parece que continuamos a ser atraídos
pelo poder do que é proibido, -
14:17 - 14:20que se fizermos o que não devíamos,
-
14:20 - 14:24acabamos por sentir que
estamos a fazer o que queremos. -
14:25 - 14:29Eu também já disse a muitos
dos meus pacientes -
14:29 - 14:34que, se pudessem trazer
para as suas relações -
14:34 - 14:37um décimo da ousadia,
imaginação e entusiasmo -
14:37 - 14:39que colocam nas suas aventuras,
-
14:39 - 14:42provavelmente não precisavam
da minha ajuda. -
14:42 - 14:43(Risos)
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14:44 - 14:48Então como é que nos curamos
de uma traição? -
14:48 - 14:51O desejo é profundo.
-
14:51 - 14:53A traição é profunda.
-
14:53 - 14:55Mas pode ser curada.
-
14:56 - 14:59Alguns casos extraconjugais
são uma sentença de morte -
14:59 - 15:03para relações que já estavam a morrer.
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15:03 - 15:06Mas outros despertam novas possibilidades.
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15:06 - 15:08A verdade é que a maioria dos casais
-
15:08 - 15:11que vivenciaram traições continuam juntos.
-
15:11 - 15:13Mas alguns irão apenas sobreviver,
-
15:13 - 15:18e outros conseguirão transformar
essa crise numa oportunidade. -
15:19 - 15:23Conseguirão transformá-la
numa experiência geradora. -
15:23 - 15:26Penso que, principalmente
para o parceiro traído, -
15:26 - 15:28que normalmente dirá:
-
15:28 - 15:30"Achas que eu não queria mais?
-
15:30 - 15:32"No entanto, não fui eu quem o fez."
-
15:32 - 15:34Mas agora que a traição está exposta,
-
15:34 - 15:36eles também podem exigir mais,
-
15:36 - 15:39e já não têm de manter o status quo
-
15:39 - 15:42que podia nem estar a funcionar
assim tão bem para eles. -
15:44 - 15:47Reparei que muitos casais,
-
15:47 - 15:50no rescaldo de um caso extraconjugal,
-
15:50 - 15:54devido à nova desordem que
pode levar a uma nova ordem, -
15:54 - 15:57vão conseguir conversar
de forma honesta e aberta -
15:57 - 15:59como não faziam há décadas.
-
16:00 - 16:03E parceiros que estavam
sexualmente indiferentes -
16:03 - 16:05de repente sentem-se
tão vorazes de luxúria, -
16:05 - 16:08mas não sabem de onde isso vem.
-
16:09 - 16:13Algo sobre o medo da perda
reacende o desejo, -
16:13 - 16:16e abre caminho para
todo um novo tipo de verdade. -
16:18 - 16:21Portanto, quando uma traição é exposta,
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16:21 - 16:25quais são algumas das coisas que
os casais podem fazer? -
16:26 - 16:31Sabemos que a cura começa,
depois do trauma, -
16:31 - 16:35quando o infrator reconhece os seus erros.
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16:35 - 16:39Então, para o parceiro que teve o caso,
-
16:39 - 16:41para o Nick,
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16:41 - 16:43uma coisa é acabar com o caso,
-
16:43 - 16:49mas outra é o ato essencial
de expressar culpa e remorsos -
16:49 - 16:51por magoar a sua mulher.
-
16:51 - 16:53Mas a verdade é que reparei
-
16:53 - 16:55que muitas das pessoas que traem
-
16:55 - 16:59podem até sentir-se muito culpadas
por magoarem os seus parceiros, -
16:59 - 17:02no entanto, não se sentem culpadas
pelo caso extraconjugal em si. -
17:02 - 17:05Essa distinção é importante.
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17:05 - 17:09O Nick, precisa de ser
o vigilante da relação. -
17:09 - 17:12Precisa de ser, durante uns tempos,
o protector dos limites. -
17:12 - 17:15É da sua responsabilidade falar,
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17:15 - 17:17porque, se ele pensar no assunto,
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17:17 - 17:20pode aliviar a Heather dessa obsessão,
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17:20 - 17:23e assegurar que o caso não foi esquecido.
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17:23 - 17:27Isso por si só
começa a restaurar a confiança. -
17:28 - 17:29Mas para a Heather,
-
17:29 - 17:31ou para o parceiro traído,
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17:31 - 17:37é essencial fazer coisas
que restituam a sua autoestima, -
17:37 - 17:41rodear-se de amor, amigos e actividades
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17:41 - 17:44que lhe devolvam a alegria,
o sentido e a identidade. -
17:44 - 17:47Mas ainda mais importante,
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17:47 - 17:51é controlar a curiosidade
de procurar detalhes sórdidos. -
17:51 - 17:53"Onde estiveste? Onde é que o fizeste?
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17:53 - 17:56"Com que frequência?
Ela é melhor que eu na cama?" -
17:56 - 17:59São perguntas que apenas causam mais dor,
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17:59 - 18:01e nos mantêm acordados à noite.
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18:01 - 18:05Em vez disso, mudem para o que chamo
"perguntas de investigação", -
18:05 - 18:09as que exploram o significado e motivos
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18:09 - 18:11"O que é que este caso significou para ti?"
-
18:11 - 18:14"Foste capaz de expressar
ou de experienciar nele -
18:14 - 18:16"o que já não conseguias comigo?"
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18:16 - 18:19"O que sentias quando chegavas a casa?"
-
18:19 - 18:23"O que é que valorizas na nossa relação?"
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18:23 - 18:25"Agrada-te que isto tenha acabado?"
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18:26 - 18:31Qualquer traição vai redefinir a relação,
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18:31 - 18:34e cada casal vai determinar
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18:34 - 18:37qual vai ser o legado dessa traição.
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18:38 - 18:42Mas as traições chegaram para ficar,
e não vão desaparecer. -
18:42 - 18:45Os dilemas do amor e desejo,
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18:45 - 18:51não produzem respostas simples
de preto e branco, de bom e mau, -
18:51 - 18:53de vítima e infractor.
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18:54 - 18:58A traição numa relação
aparece de muitas formas. -
18:58 - 19:01Há muitas maneiras de trair um parceiro:
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19:01 - 19:03com desprezo, negligência,
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19:03 - 19:06indiferença, violência.
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19:06 - 19:10Traição sexual é apenas uma das maneiras
de magoar um parceiro. -
19:10 - 19:12Por outras palavras, a vítima de um caso
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19:12 - 19:16nem sempre é a vítima do casamento.
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19:18 - 19:20Agora, vocês já me ouviram,
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19:20 - 19:23e sei o que devem estar a pensar:
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19:23 - 19:27Ela tem um sotaque francês,
deve ser a favor de se ter um caso. -
19:27 - 19:30(Risos)
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19:32 - 19:33Bem, estão errados.
-
19:34 - 19:36Não sou francesa.
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19:36 - 19:38(Risos)
-
19:38 - 19:41(Aplausos)
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19:42 - 19:44Nem sou a favor de se ter um caso.
-
19:45 - 19:49Mas, como acho que algo bom
pode surgir de um caso extraconjugal, -
19:49 - 19:52fazem-me, muitas vezes,
esta pergunta estranha: -
19:53 - 19:55Eu recomendá-lo-ia?
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19:56 - 19:59Bem, eu não recomendaria
ter um caso extraconjugal -
19:59 - 20:01tal como não recomendaria ter cancro.
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20:01 - 20:05No entanto, sabemos que pessoas
que estiveram doentes -
20:05 - 20:08muitas vezes contam como a sua doença
lhes deu uma nova perspectiva. -
20:09 - 20:12A principal pergunta que me têm feito
desde que cheguei a esta conferência -
20:12 - 20:16e disse que ia falar de infidelidade é:
a favor ou contra? -
20:16 - 20:19Eu digo: "Sim."
-
20:18 - 20:21(Risos)
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20:22 - 20:26Eu vejo casos extraconjugais
de uma perspectiva dupla: -
20:26 - 20:29por um lado, mágoa e traição,
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20:29 - 20:32por outro, crescimento e autodescoberta
-
20:32 - 20:36— o que te fez a ti,
e o que significou para mim. -
20:37 - 20:41Então, quando um casal vem tem comigo
no rescaldo de um caso extraconjugal -
20:41 - 20:43que foi revelado,
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20:43 - 20:45costumo dizer-lhes:
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20:45 - 20:49Nos tempos que correm, no Ocidente,
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20:49 - 20:53a maioria de nós vai ter
duas ou três relações -
20:53 - 20:55ou casamentos,
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20:55 - 20:58e, para alguns, serão com a mesma pessoa.
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20:59 - 21:01O vosso primeiro casamento acabou.
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21:02 - 21:05Gostariam de criar um segundo, juntos?
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21:05 - 21:07Obrigada.
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21:07 - 21:10(Aplausos)
- Title:
- Repensando a infidelidade...uma palestra para quem já amou
- Speaker:
- Esther Perel
- Description:
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A infidelidade é a derradeira traição. Mas terá mesmo que ser? A terapeuta Esther Perel, especialista em relações conjugais, examina o porquê de as pessoas traírem, e revela porque é que um caso extraconjugal é tão traumático: por ameaçar a nossa segurança emocional. Ela encontra na infidelidade algo inesperado — uma expressão de desejo e perda. Uma comunicação obrigatória para quem já traiu ou foi traído, ou para quem simplesmente quer um novo enquadramento para compreender relações.
- Video Language:
- English
- Team:
closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 21:31