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O que realmente importa no fim da vida

  • 0:02 - 0:05
    Bem, todos precisamos
    de uma razão para acordar.
  • 0:07 - 0:09
    Para mim, bastaram 11 mil volts.
  • 0:11 - 0:13
    Como são educados demais para perguntar,
  • 0:13 - 0:15
    então eu mesmo conto.
  • 0:15 - 0:18
    Uma noite, no segundo ano da faculdade,
  • 0:18 - 0:21
    após o feriado de Ação de Graças,
  • 0:21 - 0:24
    eu e alguns amigos
    estávamos farreando
  • 0:24 - 0:28
    e decidimos subir no topo
    de um trem elétrico parado.
  • 0:28 - 0:31
    A ideia era só sentar lá com os fios
    passando sobre nossa cabeça.
  • 0:31 - 0:35
    Não sei por que, mas aquilo
    pareceu uma ótima ideia à época.
  • 0:35 - 0:37
    Já tínhamos feito coisas
    mais estúpidas antes.
  • 0:38 - 0:41
    Subi correndo a escada de trás
  • 0:41 - 0:43
    e, quando fiquei de pé,
  • 0:43 - 0:47
    a corrente elétrica entrou pelo meu braço,
  • 0:47 - 0:49
    arrancou meus pés, e foi isto.
  • 0:52 - 0:54
    Vocês acreditam que aquele
    relógio ainda funciona?
  • 0:56 - 0:57
    Duro na queda!
  • 0:57 - 0:59
    (Risos)
  • 0:59 - 1:01
    Agora, meu pai o usa em solidariedade.
  • 1:03 - 1:09
    Naquela noite começou meu relacionamento
    formal com a morte, com minha morte,
  • 1:09 - 1:13
    e também começou minha
    via-crúcis como paciente.
  • 1:13 - 1:14
    É uma boa palavra.
  • 1:14 - 1:16
    Significa alguém que padece.
  • 1:17 - 1:19
    Então somos todos pacientes.
  • 1:19 - 1:22
    Bem, o sistema de saúde americano
  • 1:22 - 1:25
    tem lá sua parcela de problemas,
  • 1:25 - 1:28
    mas de excelência também, certamente.
  • 1:28 - 1:32
    Sou um médico agora que atua
    num asilo e medicina paliativa,
  • 1:32 - 1:35
    então, pude ver o atendimento
    pelos dois lados.
  • 1:35 - 1:39
    E, acreditem, quase todos
    que entram no sistema de saúde
  • 1:39 - 1:43
    são bem-intencionados, de verdade.
  • 1:43 - 1:47
    Mas nós que trabalhamos com isso
    também somos agentes involuntários
  • 1:47 - 1:52
    de um sistema que, normalmente,
    não sabe servir.
  • 1:52 - 1:53
    Por quê?
  • 1:54 - 1:57
    Bem, existe uma resposta
    bem simples para essa pergunta,
  • 1:57 - 1:59
    e ela explica muito
  • 1:59 - 2:05
    porque o cerne do sistema de saúde
    são as doenças, e não as pessoas.
  • 2:06 - 2:09
    O que significa dizer, é claro,
    que foi mal projetado.
  • 2:10 - 2:16
    E não há situação em que os efeitos desse
    design ruim sejam mais devastadores,
  • 2:16 - 2:20
    ou que seja mais imperiosa
    a necessidade de um bom design,
  • 2:20 - 2:22
    do que no fim da vida,
  • 2:22 - 2:26
    no qual as coisas estão bem
    destiladas e concentradas.
  • 2:26 - 2:29
    Não há segundas chances.
  • 2:30 - 2:35
    Meu objetivo hoje em dia
    é interagir com outras disciplinas
  • 2:35 - 2:39
    e convidar o "design thinking"
    a dar sua contribuição.
  • 2:39 - 2:45
    Isto é, trazer intenção e criatividade
  • 2:45 - 2:49
    para a experiência do morrer.
  • 2:49 - 2:53
    Temos uma oportunidade
    monumental à nossa frente,
  • 2:53 - 2:58
    em face de uma das poucas
    questões universais
  • 2:58 - 3:01
    tanto aos indivíduos
    quanto à sociedade civil:
  • 3:01 - 3:05
    repensar e redesenhar o morrer.
  • 3:07 - 3:10
    Então, vamos começar pelo fim.
  • 3:12 - 3:16
    Para a maioria das pessoas, a coisa mais
    assustadora da morte não é estar morto.
  • 3:16 - 3:18
    É o morrer, sofrer.
  • 3:18 - 3:20
    É uma distinção chave.
  • 3:21 - 3:23
    Para nos aprofundarmos, é importante
  • 3:23 - 3:27
    distinguir o sofrimento
    que é necessário, do jeito que é,
  • 3:27 - 3:30
    do sofrimento que podemos mudar.
  • 3:30 - 3:36
    O primeiro é uma coisa natural,
    essencial da vida, faz parte,
  • 3:36 - 3:41
    e, para este, somos chamados
    a abrir espaço, nos ajustar, crescer.
  • 3:43 - 3:48
    É muito bom perceber forças
    maiores que nós mesmos.
  • 3:49 - 3:52
    Elas nos dão um senso de proporção,
  • 3:52 - 3:55
    como um ajustamento cósmico.
  • 3:57 - 3:59
    Depois que perdi meus membros,
  • 3:59 - 4:04
    essa perda, por exemplo,
    se tornou um fato consumado,
  • 4:04 - 4:07
    parte inerente da minha vida,
  • 4:07 - 4:13
    e aprendi que não podia rejeitar
    esse fato sem rejeitar a mim mesmo.
  • 4:15 - 4:18
    Levou um tempo, mas acabei aprendendo.
  • 4:19 - 4:21
    Um outro aspecto do sofrimento necessário
  • 4:21 - 4:25
    é que ele é exatamente aquilo
  • 4:25 - 4:30
    que une o cuidador
    e quem recebe os cuidados,
  • 4:30 - 4:32
    seres humanos.
  • 4:33 - 4:37
    É aí, finalmente estamos percebendo,
    que a cura acontece.
  • 4:38 - 4:42
    Sim, compaixão, literalmente,
    como aprendemos ontem,
  • 4:42 - 4:43
    sofrer juntos.
  • 4:45 - 4:48
    Por outro lado,
    do ponto de vista do sistema,
  • 4:48 - 4:52
    muito do sofrimento
    é desnecessário, inventado.
  • 4:52 - 4:55
    Não tem qualquer propósito.
  • 4:55 - 4:59
    Mas, o lado bom é que, já que esse
    tipo de sofrimento é inventado,
  • 4:59 - 5:01
    então temos como mudá-lo.
  • 5:02 - 5:05
    Como morremos é, de fato,
    algo que podemos mudar.
  • 5:06 - 5:10
    Fazer o sistema mais sensível
    a essa distinção fundamental,
  • 5:10 - 5:14
    entre o sofrimento necessário
    e o desnecessário,
  • 5:14 - 5:18
    nos dá nossas três diretrizes do design.
  • 5:18 - 5:23
    Afinal, nosso papel como cuidadores,
    como pessoas que se importam,
  • 5:23 - 5:28
    é aliviar o sofrimento,
    e não aumentá-lo mais ainda.
  • 5:30 - 5:32
    Fiel aos princípios
    dos cuidados paliativos,
  • 5:32 - 5:36
    atuo tanto como um pensador da causa,
  • 5:36 - 5:39
    quanto um médico que prescreve receitas.
  • 5:39 - 5:45
    Parênteses: cuidados paliativos, um campo
    muito importante, mas pouco entendido,
  • 5:45 - 5:48
    inclui os cuidados no fim da vida,
    mas não se limita a eles.
  • 5:48 - 5:51
    Não se limita ao asilo.
  • 5:51 - 5:54
    É simplesmente sobre conforto
    e bem-estar em qualquer estágio.
  • 5:55 - 5:58
    Fiquem sabendo que não precisam
    estar à beira da morte
  • 5:58 - 6:01
    para se beneficiar desses cuidados.
  • 6:01 - 6:04
    Agora, queria lhes falar do Frank.
  • 6:06 - 6:07
    Ele ilustra isso.
  • 6:07 - 6:09
    Atendo o Frank há anos.
  • 6:09 - 6:13
    Ele tem câncer de próstata avançado,
    além de um HIV de longa data.
  • 6:14 - 6:16
    Cuidamos da sua dor nos ossos e da fadiga,
  • 6:16 - 6:20
    mas, a maior parte do tempo, pensamos
    em voz alta sobre a sua vida
  • 6:21 - 6:23
    na verdade, sobre nossas vidas.
  • 6:23 - 6:25
    E, dessa forma, Frank desabafa.
  • 6:25 - 6:29
    Dessa forma, ele lida com suas perdas
    à medida que elas acontecem,
  • 6:29 - 6:33
    de modo a estar pronto
    para aceitar o próximo momento.
  • 6:34 - 6:38
    Perda é uma coisa, mas arrependimento,
    outra bem diferente.
  • 6:39 - 6:41
    Frank sempre foi aventureiro,
  • 6:41 - 6:44
    ele se parece com algo saído
    de uma pintura de Norman Rockwell,
  • 6:44 - 6:47
    e não é fã do arrependimento.
  • 6:47 - 6:49
    Assim, não foi surpresa quando,
    um dia, chegou à clínica
  • 6:49 - 6:52
    dizendo que queria descer o Rio Colorado.
  • 6:53 - 6:55
    Será que era uma boa ideia?
  • 6:55 - 6:59
    Com todos os riscos à sua segurança
    e sua saúde, alguns diriam não.
  • 6:59 - 7:04
    Muitos disseram, mas ele foi
    assim mesmo, enquanto podia.
  • 7:04 - 7:08
    E foi uma viagem gloriosa, maravilhosa:
  • 7:09 - 7:14
    água congelante, calor seco
    intenso, escorpiões, cobras,
  • 7:14 - 7:20
    vida selvagem uivando dos muros
    flamejantes do Grand Canyon;
  • 7:20 - 7:24
    todo o lado glorioso do mundo
    fora do nosso controle.
  • 7:24 - 7:26
    A decisão de Frank, um pouco dramática,
  • 7:26 - 7:29
    é exatamente aquela
    que muitos de nós faríamos
  • 7:29 - 7:35
    se tivéssemos apoio ao longo da vida
    para descobrir o melhor para nós.
  • 7:37 - 7:41
    Muito do que estamos falando aqui
    hoje é uma mudança de perspectiva.
  • 7:43 - 7:45
    Após o acidente, quando voltei
    para a faculdade,
  • 7:45 - 7:48
    mudei meu curso para História da Arte.
  • 7:48 - 7:52
    Estudando artes visuais,
    achei que iria aprender a ver:
  • 7:54 - 7:57
    uma lição realmente poderosa para
    um rapaz que não conseguia mudar
  • 7:57 - 8:00
    muito daquilo que estava vendo.
  • 8:01 - 8:04
    Perspectiva, esse tipo de alquimia
    com que nós humanos brincamos,
  • 8:04 - 8:07
    transformando a angústia numa flor.
  • 8:10 - 8:14
    Avançando no tempo, agora trabalho
    num lugar incrível em São Francisco
  • 8:14 - 8:16
    chamado Zen Hospice Project,
  • 8:16 - 8:20
    onde temos um pequeno ritual
    que ajuda nessa mudança de perspectiva.
  • 8:20 - 8:23
    Quando um dos nossos internos morre,
  • 8:23 - 8:28
    os agentes funerários vêm e, enquanto
    passamos com o corpo pelo jardim,
  • 8:28 - 8:30
    em direção ao portão, paramos.
  • 8:30 - 8:32
    Quem quiser,
  • 8:32 - 8:35
    colegas, familiares,
    enfermeiros, voluntários,
  • 8:35 - 8:37
    o motorista da funerária também agora,
  • 8:37 - 8:42
    compartilha uma história
    ou uma música ou o silêncio,
  • 8:42 - 8:45
    enquanto jogamos pétalas no corpo.
  • 8:45 - 8:48
    Leva poucos minutos;
  • 8:48 - 8:53
    é uma imagem doce e simples da partida
    para entrar na dor com aconchego,
  • 8:53 - 8:55
    em vez de repugnância.
  • 8:56 - 9:01
    Comparem isso com a experiência
    típica em um hospital,
  • 9:01 - 9:06
    parecido com isto aqui: quarto iluminado,
    cheio de tubos e máquinas com bipes
  • 9:06 - 9:11
    e luzes que piscam sem parar,
    mesmo quando a vida do paciente já parou.
  • 9:11 - 9:15
    O pessoal da limpeza entra,
    o corpo é levado às pressas,
  • 9:15 - 9:20
    e é como se aquela pessoa
    nunca tivesse existido.
  • 9:21 - 9:24
    Tudo bem-intencionado, é claro,
    em nome da esterilidade,
  • 9:24 - 9:27
    mas os hospitais tendem
    a agredir nossos sentidos,
  • 9:27 - 9:33
    e o máximo que podemos esperar
    dentro dessas paredes é entorpecimento,
  • 9:33 - 9:37
    anestésico, literalmente
    o contrário de estético.
  • 9:38 - 9:44
    Respeito os hospitais pelo que conseguem
    fazer; estou vivo por causa deles.
  • 9:44 - 9:47
    Mas exigimos demais de nossos hospitais.
  • 9:47 - 9:51
    Eles são lugares para traumas agudos
    e doenças tratáveis.
  • 9:51 - 9:55
    Não são lugares para morrer e viver;
    não foram projetados para isso.
  • 9:58 - 10:00
    Mas atenção, não estou
    desistindo da noção
  • 10:00 - 10:04
    de que nossas instituições
    podem ser mais humanas.
  • 10:04 - 10:07
    A beleza pode ser encontrada
    em todos os lugares.
  • 10:09 - 10:11
    Passei alguns meses
    numa unidade de queimados
  • 10:11 - 10:14
    no Hospital St. Barnabas,
    em Livingston, Nova Jérsei,
  • 10:14 - 10:18
    onde tive cuidados realmente
    excelentes o tempo todo,
  • 10:18 - 10:21
    incluindo bons cuidados
    paliativos para minha dor.
  • 10:21 - 10:25
    Uma noite, começou a nevar.
  • 10:25 - 10:29
    Lembro-me das enfermeiras
    reclamando de dirigir na neve.
  • 10:30 - 10:32
    E não havia janelas no meu quarto,
  • 10:32 - 10:36
    mas foi ótimo apenas imaginar
    a neve descendo toda pegajosa.
  • 10:37 - 10:41
    No dia seguinte, uma das enfermeiras
    camuflou para mim uma bola de neve.
  • 10:41 - 10:44
    Ela a trouxe para dentro do prédio.
  • 10:45 - 10:50
    Nem consigo contar o arrebatamento
    que senti segurando aquilo nas mãos
  • 10:50 - 10:53
    e o frio pingando
    em minha pele queimada;
  • 10:53 - 10:56
    o milagre disso tudo,
  • 10:56 - 10:59
    o fascínio enquanto via
    a bola derreter, virando água.
  • 11:03 - 11:05
    Naquele momento,
  • 11:05 - 11:10
    simplesmente fazer parte deste planeta,
    deste universo, importava mais para mim
  • 11:10 - 11:12
    do que viver ou morrer.
  • 11:12 - 11:15
    Aquela bolinha de neve traduzia
    toda a inspiração que precisava
  • 11:15 - 11:19
    tanto para tentar viver quanto
    para ficar bem, caso não conseguisse.
  • 11:19 - 11:23
    Num hospital, esse é um momento furtivo.
  • 11:24 - 11:28
    Ao longo dos meus anos de trabalho,
    conheci muitas pessoas
  • 11:28 - 11:30
    prontas para ir, prontas para morrer.
  • 11:31 - 11:36
    Não por terem encontrado alguma
    paz final ou transcendência,
  • 11:36 - 11:41
    mas porque tinham tanta repulsa
    pelo que suas vidas tinham se tornado...
  • 11:43 - 11:48
    numa palavra, liquidada, ou feia.
  • 11:51 - 11:56
    Já existe um número recorde de nós
  • 11:56 - 12:00
    vivendo com doenças crônicas e terminais,
    com idades cada vez mais avançadas.
  • 12:00 - 12:05
    E estamos longe de estarmos prontos
    ou preparados para este tsunami prateado.
  • 12:07 - 12:11
    Precisamos de uma infraestrutura
    dinâmica o suficiente para lidar
  • 12:11 - 12:15
    com essas mudanças sísmicas
    em nossa população.
  • 12:16 - 12:19
    Agora é a hora de criarmos
    algo novo, algo vital.
  • 12:19 - 12:21
    Sei que podemos, porque precisamos.
  • 12:21 - 12:24
    A alternativa é simplesmente inaceitável.
  • 12:24 - 12:26
    E os ingredientes chave são conhecidos:
  • 12:26 - 12:29
    política, educação e treinamento,
  • 12:29 - 12:32
    sistemas, tijolos e argamassa.
  • 12:33 - 12:36
    Temos toneladas de dados para todos
    os tipos de designers trabalharem.
  • 12:37 - 12:39
    Sabemos, por exemplo, pelas pesquisas,
  • 12:39 - 12:43
    o que é mais importante para quem
    está perto da morte: conforto.
  • 12:43 - 12:49
    Sentir-se aliviado e não ser um peso
    para os entes queridos;
  • 12:49 - 12:55
    paz existencial; e um senso
    de maravilhamento e espiritualidade.
  • 12:57 - 13:01
    Trabalhando no Zen Hospice quase 30 anos,
  • 13:01 - 13:04
    aprendemos muito mais de nossos
    residentes com detalhes sutis.
  • 13:06 - 13:09
    Pequenas coisas não são tão pequenas.
  • 13:09 - 13:11
    Observemos a Janette.
  • 13:11 - 13:14
    Ela acha difícil respirar
    no dia a dia por causa da ELA.
  • 13:14 - 13:16
    Mas adivinhem!
  • 13:16 - 13:19
    Ela quer começar a fumar de novo,
  • 13:20 - 13:22
    e cigarros franceses, faz favor.
  • 13:25 - 13:27
    Não como autodestruição,
  • 13:27 - 13:31
    mas para sentir os pulmões cheios
    enquanto ainda os tem.
  • 13:33 - 13:35
    As prioridades mudam.
  • 13:36 - 13:38
    Ou Kate – ela só quer saber
  • 13:38 - 13:42
    de seu cachorro Austin
    deitado aos pés de sua cama,
  • 13:42 - 13:46
    seu focinho frio contra sua pele seca,
  • 13:46 - 13:49
    em vez de mais quimioterapia
    correndo em suas veias;
  • 13:49 - 13:50
    ela já fez isso.
  • 13:51 - 13:56
    Gratificação sensual, estética,
    em que, num momento, num instante,
  • 13:56 - 13:59
    somos recompensados por apenas existirmos.
  • 14:03 - 14:08
    Muito disso vem de amar
    nosso tempo por meio dos sentidos,
  • 14:08 - 14:13
    por meio do corpo, precisamente
    aquilo que faz o viver e o morrer.
  • 14:14 - 14:18
    Provavelmente o cômodo mais tocante
    no Zen Hospice é nossa cozinha,
  • 14:18 - 14:20
    o que é um pouco estranho
    quando se percebe
  • 14:20 - 14:24
    que muitos dos nossos residentes conseguem
    comer bem pouco, quando conseguem.
  • 14:24 - 14:30
    Mas percebemos que estamos oferecendo
    sustento em diversos níveis:
  • 14:30 - 14:33
    cheiro, um plano simbólico.
  • 14:34 - 14:39
    Sério, com tanta coisa pesada
    acontecendo debaixo do nosso teto,
  • 14:39 - 14:43
    uma das intervenções mais eficazes
    e verdadeiras que conhecemos
  • 14:43 - 14:47
    é assar biscoitos.
  • 14:58 - 15:02
    Enquanto tivermos nossos sentidos,
    mesmo apenas um,
  • 15:02 - 15:05
    temos pelo menos a possiblidade de acessar
  • 15:05 - 15:09
    o que nos faz sentir humanos, conectados.
  • 15:11 - 15:14
    Imaginem a repercussão dessa noção
  • 15:14 - 15:17
    para milhões de pessoas vivendo
    e morrendo com demência.
  • 15:17 - 15:22
    Os prazeres dos sentidos primários,
    para os quais não temos mais palavras,
  • 15:22 - 15:25
    impulsos que nos fazem estar presentes,
  • 15:25 - 15:28
    sem necessidade de um passado
    ou de um futuro.
  • 15:30 - 15:36
    Assim, se a primeira diretriz do design é
    tirar o sofrimento necessário do sistema,
  • 15:39 - 15:41
    então zelar pela dignidade
    por meio dos sentidos,
  • 15:41 - 15:44
    por meio do corpo,
  • 15:44 - 15:47
    o reino estético, é a diretriz
    número dois do design.
  • 15:48 - 15:52
    Isso nos leva rápido para a terceira
    e última diretriz hoje;
  • 15:52 - 15:59
    a saber, precisamos mudar
    nosso foco para o bem-estar,
  • 15:59 - 16:02
    de modo que a vida,
    a saúde e o sistema de saúde
  • 16:02 - 16:04
    se transformem em fazer
    a vida mais maravilhosa,
  • 16:04 - 16:08
    em vez de apenas menos horrível.
  • 16:08 - 16:10
    Beneficência.
  • 16:11 - 16:13
    Isso está diretamente ligado à distinção
  • 16:13 - 16:18
    entre um modelo de cuidado centrado
    no paciente ou no ser humano,
  • 16:18 - 16:24
    e é aqui que o cuidado se torna
    um ato criativo, gerador e até brincalhão.
  • 16:24 - 16:27
    "Brincar" pode soar
    um pouco estranho aqui.
  • 16:27 - 16:31
    Mas é também uma das nossas
    melhores formas de adaptação.
  • 16:31 - 16:35
    Pensem em todos os esforços
    necessários para sermos humanos.
  • 16:35 - 16:38
    A necessidade de comida
    originou a culinária.
  • 16:38 - 16:40
    A necessidade de abrigo
    deu origem à arquitetura.
  • 16:40 - 16:43
    A necessidade de se cobrir, a moda.
  • 16:43 - 16:46
    E, por estarmos sujeitos ao relógio,
  • 16:46 - 16:49
    bem, inventamos a música.
  • 16:52 - 16:55
    Assim, já que morrer é
    uma parte necessária da vida,
  • 16:55 - 16:58
    o que podemos criar com esse fato?
  • 17:00 - 17:03
    Por "brincar" não estou sugerindo
    uma abordagem leve do morrer,
  • 17:03 - 17:06
    ou que exijamos qualquer
    modo particular de morrer.
  • 17:06 - 17:09
    Existem montanhas de tristeza
    que não podem ser movidas
  • 17:09 - 17:13
    e, de um jeito ou de outro,
    todos vamos fraquejar ali.
  • 17:13 - 17:17
    Em vez disso, estou pedindo
    que abramos espaço físico,
  • 17:17 - 17:22
    espaço psíquico, para permitir
    à vida ser ela mesma na saída,
  • 17:22 - 17:26
    de modo que, em vez
    de simplesmente sair do caminho,
  • 17:26 - 17:31
    envelhecer e morrer possa vir
    num crescendo até o fim.
  • 17:33 - 17:37
    Não temos solução para a morte.
  • 17:38 - 17:41
    Sei que alguns aqui
    estão trabalhando nisso.
  • 17:41 - 17:43
    (Risos)
  • 17:45 - 17:47
    Enquanto isso, podemos...
  • 17:47 - 17:49
    (Risos)
  • 17:49 - 17:51
    podemos ser criativos nessa direção.
  • 17:52 - 17:54
    Partes de mim morreram cedo,
  • 17:54 - 17:57
    e é algo que todos podemos dizer
    de um jeito ou de outro.
  • 17:57 - 17:59
    Tive de redesenhar minha vida
    ao redor desse fato,
  • 17:59 - 18:03
    e digo a vocês que é libertador
  • 18:03 - 18:06
    saber que é possível se surpreender
    com a beleza ou o significado
  • 18:06 - 18:08
    na vida que lhe resta,
  • 18:08 - 18:11
    como aquela bola de neve
    durando um instante perfeito
  • 18:11 - 18:14
    enquanto ia derretendo.
  • 18:15 - 18:21
    Se amarmos tais momentos intensamente,
  • 18:21 - 18:23
    então talvez possamos
    aprender a viver bem,
  • 18:23 - 18:25
    não apesar da morte,
  • 18:25 - 18:28
    mas por causa dela.
  • 18:31 - 18:33
    Deixe a morte ser o que nos leva,
  • 18:33 - 18:36
    não a falta de imaginação.
  • 18:37 - 18:38
    Obrigado.
  • 18:38 - 18:41
    (Aplausos)
Title:
O que realmente importa no fim da vida
Speaker:
BJ Miller
Description:

O que mais desejamos no fim de nossas vidas? Para muitos, é simplesmente conforto, respeito, amor. BJ Miller é um médico de doentes terminais que pensa seriamente sobre como criar um final de vida criativo, digno e aprazível para seus pacientes. Saboreie devagar essa tocante palestra, que levanta importantes questões sobre como pensamos na morte e reverenciamos a vida.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
19:07

Portuguese, Brazilian subtitles

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