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O verdadeiro perigo que espreita na água

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    Quero que ponham de lado
    os vossos preconceitos,
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    os vossos medos e ideias
    pré-concebidas sobre répteis,
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    porque é a única forma de eu conseguir
    transmitir a minha história.
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    A propósito, se vos pareço
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    uma espécie de conservacionista
    "hippie" fanático,
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    isso é pura imaginação vossa.
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    (Risos)
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    Ok. Nós somos
    a primeira espécie do planeta
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    a ser tão prolífica que até ameaça
    a sua própria sobrevivência.
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    Sei que já todos vimos
    tantas imagens destas
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    que ficamos insensíveis às tragédias
    que perpetramos no planeta.
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    Somos uma espécie de miúdos gananciosos,
    que usam tudo duma só vez.
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    Hoje venho falar-vos da água.
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    Não é só porque gostamos
    de beber muita água
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    e os seus maravilhosos derivativos,
    a cerveja, o vinho, etc.
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    E, claro, vê-la cair do céu
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    e alimentar os nossos maravilhosos rios,
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    mas também por outras diversas razões.
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    Quando eu era miúdo
    — cresci em Nova Iorque —
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    sentia-me fascinado por cobras,
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    como quase todos os miúdos
    se sentem fascinados
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    por piões, berlindes, carros,
    comboios, bolas de críquete.
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    A minha mãe, uma mulher corajosa,
    foi, em parte, responsável por isso,
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    porque levava-me ao Museu
    de História Natural de Nova Iorque,
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    e comprava-me livros sobre cobras.
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    Comecei este meu famigerado destino
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    que culminou, obviamente,
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    na minha chegada à Índia, há 60 anos,
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    levado pela minha mãe, Doris Norden,
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    e pelo meu padrasto,
    Rama Chattopadhyaya
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    Tem sido um percurso de montanha russa.
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    Dois animais, dois répteis icónicos
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    cativaram-me desde muito cedo.
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    Um deles foi o espantoso gavial.
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    Este crocodilo, que atinge
    quase 6 metros de comprimento,
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    nos rios do norte,
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    e esta cobra carismática, a cobra-real.
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    O objetivo da minha palestra de hoje
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    é deixar uma marca indelével
    no vosso espírito
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    com estas criaturas
    carismáticas e majestosas.
  • 2:03 - 2:06
    Porque é isso que vão levar hoje daqui,
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    uma nova ligação com a Natureza,
    segundo espero.
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    A cobra-real é muito notável
    por diversas razões.
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    Estas imagens que estão a ver
    são fotos muito recentes,
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    numa floresta aqui perto,
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    de uma cobra-real fêmea
    a fazer o seu ninho.
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    Este é um animal sem membros,
    capaz de reunir um enorme monte de folhas
  • 2:25 - 2:28
    e de pôr os ovos lá dentro
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    para resistir a 5 ou 10 metros de chuva
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    a fim de os ovos poderem incubar
    durante os 90 dias seguintes
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    e eclodirem em pequenas
    cobras-reais bebés.
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    Portanto, ela protege os ovos
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    e, ao fim de três meses,
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    os bebés acabam por eclodir.
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    Claro que a maioria vai morrer.
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    Há uma alta mortalidade de répteis bebés
    que só têm 25 a 30 cm de comprimento.
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    A minha primeira experiência
    com cobras-reais foi em 1972,
  • 2:54 - 2:56
    num local mágico, chamado Agumbe,
  • 2:56 - 2:59
    em Karnataka, neste estado.
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    É uma floresta tropical maravilhosa.
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    Este primeiro encontro
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    foi quase como a de um rapaz Maasai
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    que mata um leão,
    para ser um guerreiro.
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    Mudou totalmente a minha vida.
  • 3:12 - 3:15
    E levou-me direitinho
    para o combate pela conservação.
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    Acabei por iniciar este centro
    de investigação e formação em Agumbe.
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    e convido-vos a todos que o visitem
  • 3:22 - 3:24
    É basicamente uma base
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    onde tentamos reunir e estudar
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    praticamente tudo sobre a biodiversidade
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    deste sistema florestal
    extremamente complexo
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    e tentamos preservar o que ali existe,
  • 3:33 - 3:36
    garantir que as nascentes
    estão protegidas e mantê-las limpas
  • 3:36 - 3:39
    e, claro, passar uns bons bocados também.
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    Quase podemos ouvir o som dos tambores
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    naquela casinha onde ficámos
    quando lá estivemos.
  • 3:47 - 3:50
    Para nós, era muito importante
    comunicar com a população.
  • 3:50 - 3:53
    A melhor forma, habitualmente,
    é através das crianças.
  • 3:53 - 3:55
    Elas sentem fascínio pelas cobras.
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    Ainda não têm aquela repulsa
    que vocês têm
  • 3:58 - 4:02
    quer com medo, ódio ou desprezo
    ou mesmo aversão.
  • 4:02 - 4:04
    Sentem-se interessadas.
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    E funciona mesmo começar com elas.
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    Isto dá-vos uma ideia do tamanho
    de algumas dessas cobras.
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    Esta cobra-real de tamanho médio
    com uns 4 m de comprimento
  • 4:12 - 4:14
    entrou na casa de banho
    de uma pessoa
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    e ficou ali durante dois ou três dias.
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    As pessoas nesta zona da Índia
    veneram a cobra-real.
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    Não a mataram,
    Chamaram-nos para a apanharmos.
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    Já apanhámos mais de cem cobras-reais
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    nos últimos três anos
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    e voltamos a pô-las
    nas florestas vizinhas.
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    Mas, para descobrir os segredos
    destas criaturas
  • 4:32 - 4:37
    inserimos um pequeno
    radiotransmissor em cada cobra.
  • 4:37 - 4:41
    Assim, conseguimos segui-las
    e descobrir os seus segredos,
  • 4:41 - 4:44
    onde os bebés vão, depois de eclodirem,
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    e coisas espantosas como as que vão ver.
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    Isto foi há poucos dias, em Agumbe.
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    Tive o prazer de estar perto
    desta grande cobra-real
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    que apanhou uma víbora crotalina venenosa.
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    Fá-lo duma forma
    que não é mordida por ela.
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    As cobras-reais só se alimentam de cobras.
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    Esta pequena cobra, para ela,
    era como um aperitivo,
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    a que chamaríamos "vadai"
    ou um dónute, qualquer coisa assim.
  • 5:10 - 5:11
    (Risos)
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    Normalmente, comem uma coisa maior.
  • 5:13 - 5:17
    Neste caso, aconteceu
    uma atividade estranha e inexplicável
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    na última estação de procriação
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    em que uma grande cobra-real macho
    agarrou numa cobra-real fêmea,
  • 5:24 - 5:27
    não acasalou com ela, matou-a e engoliu-a.
  • 5:27 - 5:29
    Ainda estamos a tentar explicar e perceber
  • 5:29 - 5:33
    qual a vantagem evolutiva disto.
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    Mas também fazem muitas
    outras coisas fantásticas.
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    Isto é uma coisa que conseguimos ver
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    graças ao rádio transmissor
    numa das cobras.
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    Esta cobra macho, com 4 m de comprimento,
    encontrou outra cobra-real macho.
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    Fizeram esta incrível
    dança-combate ritual.
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    É muito parecida com o cio dos mamíferos,
    incluindo os seres humanos,
  • 5:52 - 5:55
    salvo as nossas diferenças,
    mas mais gentis, sem mordidelas.
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    É uma luta livre,
  • 5:57 - 5:59
    mas é uma atividade notável.
  • 6:00 - 6:02
    O que é que fazemos
    com todas estas informações?
  • 6:02 - 6:04
    Para que serve tudo isto?
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    A cobra-real é, literalmente,
  • 6:06 - 6:08
    uma espécie basilar
    nestas florestas tropicais.
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    A nossa função é convencer as autoridades
  • 6:12 - 6:14
    que estas florestas
    têm que ser protegidas.
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    Esta é uma das formas como o fazemos,
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    aprendendo o mais que podemos
  • 6:18 - 6:22
    sobre uma coisa tão notável
    e tão icónica nas florestas tropicais,
  • 6:22 - 6:25
    a fim de ajudar a proteger
    as árvores, os animais
  • 6:25 - 6:27
    e, claro, as nascentes de água.
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    Talvez tenham ouvido falar
    do Projeto Tigre
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    que começou no início dos anos 70.
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    Foi uma época muito dinâmica
    para a conservação.
  • 6:36 - 6:39
    Éramos pilotados, posso dizê-lo,
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    por uma estadista
    extremamente autocrática
  • 6:42 - 6:45
    mas que também tinha
    uma enorme paixão pelo ambiente.
  • 6:45 - 6:48
    Foi nessa época
    que surgiu o Projeto Tigre.
  • 6:48 - 6:50
    Tal como o Projeto Tigre,
  • 6:51 - 6:53
    a nossa atividade com a cobra-real
  • 6:53 - 6:55
    é observar uma espécie de animal
  • 6:55 - 6:58
    para proteger o seu "habitat"
    e tudo o que ele contém.
  • 6:58 - 7:00
    O tigre é o ícone.
  • 7:00 - 7:03
    E agora a cobra-real é outro ícone.
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    Todos os grandes rios
    no sul da Índia
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    têm a sua nascente nos Gates Ocidentais,
  • 7:08 - 7:12
    a cordilheira ao longo
    da costa oeste da Índia.
  • 7:12 - 7:15
    Despeja 36 000 metros cúbicos
    de água por hora,
  • 7:15 - 7:19
    fornecendo água potável
    a 300 milhões de habitantes, ou mais,
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    na qual muitos bebés tomam banho
  • 7:22 - 7:25
    e que mata a sede a imensos animais,
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    tanto os domésticos como os selvagens.
  • 7:27 - 7:30
    Permite a produção
    de milhares de toneladas de arroz.
  • 7:30 - 7:31
    E o que fazemos?
    Como reagimos a isto?
  • 7:31 - 7:34
    Basicamente, construímos diques,
    poluímo-la,
  • 7:34 - 7:36
    deitamos-lhe pesticidas,
    herbicidas, fungicidas.
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    Bebemo-la, com perigo da vida.
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    Não é só a grande indústria.
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    Não são os engenheiros desorientados
    que fazem isto tudo.
  • 7:45 - 7:46
    Somos nós.
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    Parece que os nossos concidadãos
    acham que a melhor forma
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    de deitar fora o lixo
    é nas correntes de água.
  • 7:53 - 7:55
    Ok. Agora vamos para o norte,
    para o extremo norte.
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    É no centro do norte da Índia,
    no Rio Chambal
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    que temos a nossa base.
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    É aqui o lar do garial,
    um crocodilo incrível.
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    É um animal que existe na Terra
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    há cerca de 100 milhões de anos.
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    Sobreviveu à época em que
    os dinossauros desapareceram.
  • 8:13 - 8:15
    Tem características notáveis.
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    Apesar de atingir
    seis metros de comprimento,
  • 8:18 - 8:20
    como só come peixe,
    não é perigoso para os seres humanos.
  • 8:20 - 8:22
    Mas tem uns dentes enormes
  • 8:22 - 8:24
    e é difícil convencer as pessoas
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    que um animal com dentes tão grandes,
    é uma criatura inofensiva.
  • 8:28 - 8:30
    Nos anos 70,
  • 8:31 - 8:32
    fizemos estudos
  • 8:33 - 8:37
    e descobrimos que o garial
    é extremamente raro.
  • 8:37 - 8:39
    Com efeito, vemos neste mapa
  • 8:39 - 8:42
    que a extensão do seu "habitat" original
  • 8:42 - 8:44
    era desde o Indo, no Paquistão,
  • 8:44 - 8:46
    até Irrawaddy, em Burma.
  • 8:46 - 8:48
    E, atualmente, está limitado
    a meia dúzia de locais,
  • 8:48 - 8:50
    no Nepal e na Índia.
  • 8:52 - 8:53
    Nesta altura,
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    só há 200 garial reprodutores
    em todo o mundo.
  • 8:58 - 8:59
    A partir dos anos 70,
  • 9:00 - 9:02
    quando a conservação estava no auge
  • 9:02 - 9:04
    conseguimos iniciar projetos
  • 9:05 - 9:07
    que eram apoiados pelo governo
  • 9:07 - 9:10
    para recolher ovos dos poucos
    ninhos que restavam
  • 9:10 - 9:13
    e devolver 5000 gariais bebés
    à vida selvagem.
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    Pouco depois, víamos cenas como esta.
  • 9:17 - 9:20
    É incrível ver grupos de gariais
  • 9:20 - 9:22
    descontraídos no rio, de novo.
  • 9:22 - 9:26
    Mas a complacência tem a tendência
    de alimentar a indiferença.
  • 9:27 - 9:29
    Com todas as outras pressões sobre o rio,
  • 9:29 - 9:32
    como a extração de areia, por exemplo,
  • 9:33 - 9:36
    cultivos intensivos ao longo
    das margens do rio
  • 9:36 - 9:38
    que impedem os animais
    de procriarem,
  • 9:39 - 9:41
    estamos a observar
  • 9:41 - 9:44
    cada vez mais problemas
    que o garial tem que enfrentar,
  • 9:44 - 9:47
    apesar das iniciais boas intenções.
  • 9:48 - 9:52
    Os ninhos ao longo das margens do rio
    produzem centenas de crias,
  • 9:52 - 9:53
    É uma visão espetacular.
  • 9:53 - 9:55
    Esta foi tirada no ano passado.
  • 9:55 - 9:59
    Mas depois chegam as monções
  • 9:59 - 10:02
    e, infelizmente, rio abaixo
    há sempre uma barragem
  • 10:02 - 10:04
    ou há sempre uma barreira.
  • 10:04 - 10:07
    E eles são arrastados
    para a sua perdição.
  • 10:07 - 10:09
    Felizmente, ainda há muito interesse.
  • 10:09 - 10:12
    Os meus colegas no Grupo de Especialistas
    do Crocodilo, da IUCN,
  • 10:12 - 10:14
    o Banco de Crocodilos de Mandras,
  • 10:14 - 10:16
    uma ONG, a World Wildlife Fund,
  • 10:16 - 10:19
    o Instituto de Vida Selvagem, da Índia,
    os Departamentos da Floresta,
  • 10:19 - 10:22
    e o Ministério do Ambiente,
    trabalhamos todos em conjunto.
  • 10:22 - 10:26
    Mas é possível,
    embora não seja suficiente.
  • 10:27 - 10:31
    Por exemplo, nos invernos de 2007 e 2008,
  • 10:31 - 10:35
    houve uma morte enorme de gariais,
    no Rio Chambal.
  • 10:35 - 10:38
    De súbito, apareceram dezenas
    de gariais mortos no rio.
  • 10:38 - 10:39
    Porquê? O que teria acontecido?
  • 10:39 - 10:41
    É um rio relativamente limpo.
  • 10:41 - 10:44
    Se olharmos para o Chambal,
    a água é limpa.
  • 10:44 - 10:47
    As pessoas vão buscar água
    ao Chambal e bebem-na,
  • 10:47 - 10:49
    uma coisa que não faríamos
    em muitos rios no norte da Índia.
  • 10:49 - 10:52
    Assim, para encontrarmos uma resposta,
  • 10:52 - 10:54
    chamámos veterinários
    de todo o mundo
  • 10:54 - 10:56
    para trabalharem
    com os veterinários indianos
  • 10:56 - 10:58
    e perceberem o que se passava.
  • 10:58 - 11:01
    Estive presente em muitas autópsias
    nas margens do rio.
  • 11:01 - 11:04
    Procurámos em todos os órgãos
  • 11:04 - 11:06
    e tentámos perceber
    o que se estava a passar.
  • 11:06 - 11:09
    Chegámos à conclusão que era gota,
  • 11:09 - 11:12
    que, em consequência da falência renal,
  • 11:12 - 11:15
    são cristais de ácido úrico
    pelo corpo todo,
  • 11:15 - 11:18
    sobretudo nas articulações,
  • 11:18 - 11:21
    que impedem o garial de nadar.
  • 11:21 - 11:23
    É uma morte muito dolorosa.
  • 11:23 - 11:25
    Pelo rio abaixo do Chambal
  • 11:25 - 11:28
    está o rio Yamuna, imundo,
    o sagrado rio Yamuna.
  • 11:29 - 11:33
    Detesto ser tão irónico e sarcástico
    em relação a ele, mas é a verdade.
  • 11:33 - 11:35
    É um dos esgotos mais imundos
    que possam imaginar.
  • 11:35 - 11:39
    Passa por Deli, Mathura, Agra
  • 11:39 - 11:42
    e recebe todo o tipo de efluentes
    que possam imaginar.
  • 11:43 - 11:46
    Parecia que a toxina
    que estava a matar o garial
  • 11:46 - 11:48
    era qualquer coisa na cadeia alimentar,
  • 11:48 - 11:50
    qualquer coisa nos peixes
    que eles comiam.
  • 11:50 - 11:52
    Quando uma toxina
    entra na cadeia alimentar,
  • 11:52 - 11:55
    tudo é afetado, incluindo nós.
  • 11:55 - 11:59
    Porque estes rios são o sangue da vida
    das populações ao longo do seu curso.
  • 11:59 - 12:01
    Para tentar responder a estas questões,
  • 12:01 - 12:03
    voltámo-nos novamente para a tecnologia,
  • 12:03 - 12:06
    para a tecnologia biológica, neste caso.
  • 12:06 - 12:10
    De novo, a telemetria, colocando
    rádios em 10 gariais
  • 12:10 - 12:12
    e seguindo os seus movimentos.
  • 12:12 - 12:14
    Estão a ser vigiados todos os dias,
  • 12:14 - 12:17
    para tentar descobrir o que é
    essa toxina misteriosa.
  • 12:18 - 12:21
    O rio Chambal é um local fantástico.
  • 12:21 - 12:24
    É um local que é famoso
    para muita gente
  • 12:24 - 12:28
    que conhece os "dacoits", os bandidos,
    que costumavam trabalhar aqui.
  • 12:28 - 12:30
    E ainda há bastantes por ali.
  • 12:30 - 12:34
    Poolan Devi foi uma deles e Shekhar Kapur
    fez um filme fantástico sobre ela,
  • 12:34 - 12:36
    "A Bandida Rainha",
    que recomendo que vejam.
  • 12:36 - 12:39
    Poderão ver também a incrível
    paisagem do Chambal.
  • 12:39 - 12:43
    Mas depois, as pressões da pesca intensiva.
  • 12:43 - 12:46
    Este é um dos últimos repositórios
  • 12:46 - 12:48
    do golfinho do tio Ganges,
  • 12:48 - 12:50
    de diversas espécies de tartarugas,
  • 12:50 - 12:52
    de milhares de aves migratórias,
  • 12:52 - 12:55
    e a pesca está a causar
    problemas como este.
  • 12:55 - 13:00
    Agora, estes novos elementos
    da intolerância humana
  • 13:01 - 13:03
    pelas criaturas do rio, como o garial,
  • 13:03 - 13:07
    significa que, se eles não
    se afogam nas redes,
  • 13:07 - 13:08
    cortam-lhe os focinhos.
  • 13:09 - 13:10
    Animais como o golfinho do rio Ganges
  • 13:10 - 13:12
    estão reduzidos a uns poucos exemplares,
  • 13:12 - 13:14
    e em sério perigo de extinção.
  • 13:14 - 13:16
    Então, o que se segue? Nós?
  • 13:16 - 13:19
    Porque estamos todos dependentes
    destas águas.
  • 13:19 - 13:21
    Todos conhecemos o rio Narmada,
  • 13:21 - 13:24
    as tragédias das barragens,
    as tragédias dos enormes projetos
  • 13:24 - 13:27
    que deslocam as pessoas
    e dão cabo dos sistemas do rio,
  • 13:27 - 13:29
    sem proporcionar forma de vida.
  • 13:30 - 13:32
    O desenvolvimento que enlouquece
  • 13:32 - 13:35
    por um índice de crescimento
    de dois dígitos.
  • 13:37 - 13:40
    Não sabemos como esta história
    irá acabar,
  • 13:40 - 13:42
    se irá ter um fim feliz ou triste.
  • 13:42 - 13:44
    A alteração climática certamente
  • 13:44 - 13:47
    vai meter nas suas cabeças
    as nossas teorias e previsões.
  • 13:48 - 13:50
    Continuamos a trabalhar nisso.
  • 13:50 - 13:52
    Temos uma boa equipa de pessoas
    a trabalhar.
  • 13:53 - 13:55
    Acontece que quem toma as decisões,
  • 13:55 - 13:57
    as pessoas que estão no poder,
  • 13:57 - 14:00
    estão instaladas nos seus "bungalows"
    em Deli, e noutras cidades.
  • 14:00 - 14:03
    Todos dispõem de água abundante
    é ótimo.
  • 14:03 - 14:05
    Mas nos rios ainda há
    milhões de pessoas
  • 14:05 - 14:08
    que estão numa situação muito má.
  • 14:08 - 14:10
    E o futuro para eles é negro.
  • 14:10 - 14:13
    Temos um projeto de limpeza
    do Ganges e do Yamuna.
  • 14:13 - 14:15
    Temos gasto centenas
    de milhões de dólares nele
  • 14:15 - 14:18
    e nada há para mostrar.
  • 14:18 - 14:19
    É incrível.
  • 14:19 - 14:21
    As pessoas falam de vontade política.
  • 14:21 - 14:24
    Por altura da morte dos gariais
    galvanizámos muita ação.
  • 14:24 - 14:26
    O governo cortou todas as linhas vermelhas
  • 14:26 - 14:29
    arranjámos veterinários estrangeiros,
    Foi ótimo.
  • 14:29 - 14:30
    Portanto, podemos fazê-lo.
  • 14:30 - 14:32
    Mas, se descerem o rio Yamuna
  • 14:32 - 14:34
    ou o rio Gomati, em Lucknow,
  • 14:34 - 14:37
    ou o rio Adyar, em Chennal,
  • 14:37 - 14:40
    ou o rio Mula-Mutha, em Pune,
  • 14:40 - 14:44
    vejam o que somos capazes
    de fazer a um rio. É triste.
  • 14:44 - 14:47
    Mas penso que a nota final
  • 14:47 - 14:50
    é que podemos fazê-lo.
  • 14:50 - 14:53
    As empresas, os artistas,
    os fanáticos da vida selvagem,
  • 14:53 - 14:56
    as pessoas dos bons velhos tempos
  • 14:56 - 14:58
    podem recuperar estes rios.
  • 14:58 - 15:00
    E a palavra final
  • 15:00 - 15:04
    é que há uma cobra-real
    a olhar-nos por cima do ombro
  • 15:04 - 15:07
    e há um garial no rio a olhar para nós.
  • 15:07 - 15:09
    Estes são poderosos tótens da água
  • 15:09 - 15:13
    e vão importunar os nossos sonhos
    até fazermos o que está certo.
  • 15:13 - 15:15
    "Namaste".
  • 15:15 - 15:17
    (Aplausos)
  • 15:21 - 15:24
    Chris Anderson: Obrigado, Ron.
    Muito obrigado.
  • 15:24 - 15:27
    A maior parte das pessoas
    tem pavor das cobras.
  • 15:27 - 15:30
    Pode haver aqui algumas pessoas
    que se sentiriam felizes
  • 15:30 - 15:32
    de ver a última cobra-real
    a morder o pó.
  • 15:32 - 15:35
    Costumas falar disso com as pessoas?
  • 15:35 - 15:37
    Como é que as convences a ficarem preocupadas?
  • 15:37 - 15:42
    Romulus Whitaker:
    Adoto uma abordagem humilde.
  • 15:42 - 15:46
    Não digo que as cobras
    sejam propriamente amigáveis.
  • 15:46 - 15:48
    Não são um ursinho de peluche.
  • 15:49 - 15:53
    Mas há uma certa inocência
    nestes animais.
  • 15:53 - 15:55
    Quando uma pessoa comum
    olha para uma cobra
  • 15:55 - 15:57
    que silva , dizem:
  • 15:57 - 16:00
    "Meu Deus, vejam aquela
    criatura irritada, perigosa".
  • 16:00 - 16:03
    Eu olho para ela como uma criatura
    que está muito assustada
  • 16:03 - 16:05
    com uma coisa tão perigosa
    como um ser humano.
  • 16:05 - 16:08
    É essa a verdade.
    E é isso que tento comunicar.
  • 16:09 - 16:12
    (Aplausos)
  • 16:12 - 16:15
    CA: Mostraste uma sequência fantástica
    da víbora a ser morta.
  • 16:15 - 16:17
    Disseste que nunca se tinha
    filmado uma coisa assim.
  • 16:17 - 16:20
    RW: Sim, isto foi a primeira vez
    que alguém viu isto, por uma razão.
  • 16:20 - 16:23
    Como eu disse,
    é como um aperitivo para ela.
  • 16:23 - 16:27
    Normalmente, comem cobras maiores,
    como as cobras rateiras ou até cobras.
  • 16:27 - 16:30
    Mas esta que continuamos a seguir
    vive na selva profunda
  • 16:30 - 16:32
    enquanto as outras cobras-reais
  • 16:32 - 16:35
    entram muitas vezes
    em contacto com as pessoas,
  • 16:35 - 16:37
    nas plantações, para encontrar
    cobras rateiras.
  • 16:38 - 16:40
    Esta está especializada
    em víboras crotalinas.
  • 16:40 - 16:44
    O tipo que está a trabalhar com elas
    é de Maharashtra, e disse:
  • 16:44 - 16:46
    "Penso que ela anda atrás da "nusha".
  • 16:46 - 16:47
    (Risos)
  • 16:47 - 16:49
    "Nusha" significa estar pedrado.
  • 16:49 - 16:52
    Quando ela come uma víbora crotalina
    obtém um pouco de droga.
  • 16:52 - 16:54
    (Risos)
  • 16:54 - 16:56
    CA: Obrigado, Rom. Obrigado.
  • 16:56 - 16:58
    (Aplausos)
Title:
O verdadeiro perigo que espreita na água
Speaker:
Romulus Whitaker
Description:

O garial e a cobra-real são dois dos répteis mais icónicos da Índia e estão em perigo por causa das águas poluídas. Romulus Whitaker, conservacionista, mostra cenas raras destes magníficos animais e apela a que salvemos os rios que sustentam a vida, tanto a deles como a nossa.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
16:58

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