Uma pequena história sobre sexo e sensualidade
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0:01 - 0:03Quando estive em Marrocos,
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0:03 - 0:06em Casablanca, ainda não há muito tempo,
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0:06 - 0:10conheci uma jovem mãe solteira chamada Faiza.
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0:10 - 0:14Faiza mostrou-me fotos do seu filho pequeno
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0:14 - 0:20e contou-me a história da sua
conceção, gravidez e parto. -
0:20 - 0:22Foi uma história notável,
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0:22 - 0:25mas Faiza guardou o melhor para o fim.
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0:25 - 0:29"Sabe, eu sou virgem." — contou-me ela.
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0:29 - 0:33— "Tenho dois certificados médicos para o provar".
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0:33 - 0:36Este é o Médio Oriente hoje em dia,
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0:36 - 0:39onde, dois milénios após a vinda de Cristo,
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0:39 - 0:43nascimentos virginais ainda são um facto da vida.
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0:43 - 0:48A história de Faiza é apenas uma em centenas que
ouvi ao longo dos anos em viagem pela região árabe, -
0:48 - 0:52falando com as pessoas sobre sexo.
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0:52 - 0:55Sei que isto pode parecer um trabalho de sonho,
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0:55 - 0:58ou possivelmente uma ocupação
altamente controversa, -
0:58 - 1:02mas para mim é algo completamente diferente.
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1:02 - 1:04Sou meia egípcia e sou muçulmana,
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1:04 - 1:08mas cresci no Canadá,
longe das minhas raízes árabes. -
1:08 - 1:11Como muitos dos que vivem entre
o Oriente e o Ocidente, -
1:11 - 1:15eu fui levada, ao longo dos anos,
a tentar entender melhor as minhas origens. -
1:15 - 1:20Ter escolhido o tema do sexo tem a ver
com minha experiência em HIV/Sida -
1:20 - 1:24enquanto escritora, investigadora e ativista.
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1:24 - 1:29O sexo encontra-se no centro de uma epidemia
emergente no Médio Oriente e no Norte da África, -
1:29 - 1:35que são duas regiões no mundo
onde o HIV/Sida ainda continua a aumentar. -
1:35 - 1:38A sexualidade é uma lente incrivelmente potente
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1:38 - 1:41para estudar qualquer sociedade,
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1:41 - 1:44porque o que acontece na nossa vida íntima
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1:44 - 1:48é refletido por forças num cenário mais geral:
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1:48 - 1:54na política e na economia, na religião e
nas tradições, no género e nas gerações. -
1:54 - 1:57Como descobri, se quisermos conhecer
realmente um povo, -
1:57 - 2:02começamos por espreitar dentro dos seus quartos.
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2:02 - 2:06Sem dúvida, o mundo árabe é vasto e variado.
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2:06 - 2:09Mas ao percorrê-lo,
existem três sinais vermelhos. -
2:09 - 2:14Tópicos que não devemos
questionar com palavras ou atos. -
2:14 - 2:16O primeiro é a política.
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2:16 - 2:19Mas a Primavera Árabe veio mudar isso,
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2:19 - 2:24com revoltas que floresceram
pela região desde 2011. -
2:24 - 2:26Agora, enquanto os que estão no poder,
novos e velhos, -
2:26 - 2:29continuam como se estivesse tudo na mesma,
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2:29 - 2:32milhões continuam a recuar
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2:32 - 2:37e a avançar para aquilo
que esperam ser uma vida melhor. -
2:37 - 2:40O segundo sinal vermelho é a religião.
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2:40 - 2:43Mas agora religião e política estão ligadas,
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2:43 - 2:46com o aparecimento de grupos
como a Irmandade Islâmica. -
2:46 - 2:50E, pelo menos, algumas pessoas
começam a fazer perguntas -
2:50 - 2:55sobre o papel do Islão, na vida pública e privada.
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2:55 - 2:58Quanto ao terceiro sinal vermelho,
aquele assunto interdito, -
2:58 - 3:00o que vos parece que seja?
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3:00 - 3:01Público: Sexo.
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3:01 - 3:03Shereen El Feki: Mais alto, não vos ouço.
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3:03 - 3:03Público: Sexo.
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3:03 - 3:05Shereen El Feki: Outra vez. Não sejam tímidos.
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3:05 - 3:06Público: Sexo.
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3:06 - 3:13Shereen El Feki: Sem dúvida, é verdade, é o sexo.
(Risos) -
3:13 - 3:19Na região árabe, o único contexto aceite
para o sexo é o casamento, -
3:19 - 3:23aprovado pelos pais,
sancionado pela religião -
3:23 - 3:26e registado pelo estado.
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3:26 - 3:29O casamento é o passaporte para a idade adulta.
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3:29 - 3:32Se não derem o nó,
não podem sair de casa dos vossos pais, -
3:32 - 3:35e não é suposto terem sexo,
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3:35 - 3:38e, definitivamente, não é suposto terem filhos.
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3:38 - 3:41É uma cidadela social.
É uma fortaleza impenetrável -
3:41 - 3:46que resiste a qualquer ataque,
a qualquer alternativa. -
3:46 - 3:50E à volta da fortaleza
há um campo vasto de tabus -
3:50 - 3:55contra o sexo antes do casamento,
contra os preservativos, -
3:55 - 3:58contra o aborto, contra a homossexualidade,
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3:58 - 4:00contra isto e aquilo.
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4:00 - 4:03A Faiza era a prova viva disto.
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4:03 - 4:07A sua declaração de virgindade
não era uma ilusão. -
4:07 - 4:13Apesar das grandes religiões da região
exaltarem a castidade pré-marital, -
4:13 - 4:16numa sociedade patriarcal,
homens são homens. -
4:16 - 4:18Os homens têm sexo antes do casamento,
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4:18 - 4:22e as pessoas fazem de conta que não veem.
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4:22 - 4:24O mesmo não se passa com as mulheres,
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4:24 - 4:27de quem se espera que sejam virgens
até à noite de núpcias. -
4:27 - 4:31Ou seja, aparecerem com o seu hímen intacto.
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4:31 - 4:35Isto não é uma questão pessoal.
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4:35 - 4:40É uma questão de honra da família
e, em particular, de honra dos homens. -
4:40 - 4:42Portanto, as mulheres e seus familiares
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4:42 - 4:46fazem enormes esforços
para conservar este pedacinho da anatomia. -
4:46 - 4:48Desde a mutilação genital feminina
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4:48 - 4:53aos testes de virgindade
e cirurgia reparadora do hímen. -
4:53 - 4:56A Faiza escolheu um caminho diferente:
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4:56 - 4:58sexo não vaginal.
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4:58 - 5:01O problema é que ainda assim ela engravidou.
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5:01 - 5:03Mas a Faiza não se apercebeu disso,
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5:03 - 5:07pois há tão pouca educação sexual nas escolas
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5:07 - 5:11e tão pouca comunicação dentro da família.
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5:11 - 5:14Quando a condição dela
se tornou difícil de esconder -
5:14 - 5:18a mãe da Faiza ajudou-a a fugir do pai e irmãos.
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5:18 - 5:21Isto porque os crimes de honra
são uma ameaça real -
5:21 - 5:25para inúmeras mulheres nas regiões árabes.
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5:25 - 5:30Portanto, quando a Faiza finalmente
foi parar a um hospital em Casablanca, -
5:30 - 5:33o homem que se ofereceu para a ajudar,
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5:33 - 5:36em vez disso, tentou violá-la.
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5:38 - 5:41Infelizmente, a Faiza não está sozinha.
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5:41 - 5:43No Egito, onde se centra a minha investigação,
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5:43 - 5:49vi muitos problemas
dentro e fora da cidadela. -
5:49 - 5:52Há legiões de homens jovens
-
5:52 - 5:54que não têm dinheiro para se casar,
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5:54 - 5:58porque o casamento
tornou-se numa proposta muito cara. -
5:58 - 6:01Espera-se que eles
assumam os custos da vida do casal, -
6:01 - 6:04mas eles não arranjam trabalho.
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6:04 - 6:07Este é um dos principais fatores
das recentes revoltas -
6:07 - 6:10e é uma das razões
porque a idade do casamento aumentou -
6:10 - 6:13em grande parte da região árabe.
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6:13 - 6:16Há mulheres com carreira
que se querem casar, -
6:16 - 6:17mas não conseguem arranjar marido,
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6:17 - 6:21porque elas desafiam as expetativas do seu género
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6:21 - 6:24ou como uma jovem médica na Tunísia me disse:
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6:24 - 6:27"As mulheres estão
a tornar-se cada vez mais abertas, -
6:27 - 6:33"mas os homens ainda estão na pré-História."
(Risos) -
6:33 - 6:37E depois há homens e mulheres
que ultrapassam a linha da heterossexualidade, -
6:37 - 6:39que têm sexo com o seu próprio sexo
-
6:39 - 6:42ou que têm uma identidade de género diferente.
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6:42 - 6:46Eles são alvo de leis
que punem as suas atividades, -
6:46 - 6:48até a sua aparência.
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6:48 - 6:51E enfrentam uma luta diária
contra o estigma social, -
6:51 - 6:53contra o desespero familiar
-
6:53 - 6:57e contra o fogo e enxofre religiosos.
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6:57 - 7:01Na cama conjugal também não são só rosas.
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7:01 - 7:04Há casais que procuram uma maior felicidade,
-
7:04 - 7:07uma maior felicidade sexual
nas suas vidas de casados, -
7:07 - 7:09mas não sabem como lá chegar,
-
7:09 - 7:13especialmente as esposas, que têm medo
de ser vistas como devassas, -
7:13 - 7:17se mostrarem alguma faísca no quarto.
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7:17 - 7:19E depois há aqueles cujos casamentos
-
7:19 - 7:22são na verdade um véu para a prostituição.
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7:22 - 7:24Foram vendidas pelas suas famílias,
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7:24 - 7:27frequentemente a turistas árabes abastados.
-
7:27 - 7:32Isto é apenas uma face de um negócio sexual
crescente na região árabe. -
7:32 - 7:37Levantem a mão se isto vos soa familiar,
-
7:37 - 7:41do vosso lado do mundo.
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7:41 - 7:47Sim. Não é como se o mundo árabe
tivesse o monopólio dos problemas sexuais. -
7:47 - 7:50E embora ainda não tenhamos
um relatório Kinsey árabe [sobre o sexo] -
7:50 - 7:54que nos diga, exatamente, o que se passa
dentro dos quartos na região árabe, -
7:54 - 7:58é bastante óbvio
que algo não bate certo. -
7:58 - 8:01Dois pesos e duas medidas
para homens e mulheres, -
8:01 - 8:04sexo enquanto fonte de vergonha,
-
8:04 - 8:08controlo familiar a limitar as escolhas individuais,
-
8:08 - 8:12e um enorme abismo entre
a aparência e a realidade: -
8:12 - 8:13o que as pessoas andam a fazer
-
8:13 - 8:16e o que estão dispostas a admitir
-
8:16 - 8:20e uma relutância geral
para passar dos sussurros privados -
8:20 - 8:24para uma discussão pública séria e sustentada.
-
8:24 - 8:27Como um médico no Cairo mo resumiu:
-
8:27 - 8:31"O sexo é o oposto do desporto.
-
8:31 - 8:33"Todos falam sobre futebol,
-
8:33 - 8:35"mas quase ninguém joga.
-
8:35 - 8:37"Mas o sexo, todos o fazem,
-
8:37 - 8:41"mas ninguém quer falar sobre isso."
(Risos) -
8:41 - 8:51(Música) (Em árabe)
-
8:51 - 8:54SEF: "Quero dar-vos um conselho,
-
8:54 - 8:58"e se o seguirem
serão felizes a vida inteira. -
8:58 - 9:00"Quando o vosso marido
se aproximar de vocês, -
9:00 - 9:03"quando ele agarrar uma parte do vosso corpo,
-
9:03 - 9:07"suspirem profundamente
e olhem para ele com luxúria. -
9:07 - 9:09"Quando ele vos penetrar com o seu pénis,
-
9:09 - 9:14"tentem falar sensualmente
e mexam-se em harmonia com ele." -
9:14 - 9:16Isto é potente!
-
9:16 - 9:18E até pode parecer que estas dicas úteis
-
9:18 - 9:21vêm de um manual sobre sexo
ou de um site porno. -
9:21 - 9:25Mas, na verdade,
vêm de um livro árabe do séc. X -
9:25 - 9:27chamado "A enciclopédia do prazer",
-
9:27 - 9:31que fala sobre sexo,
desde afrodisíacos a zoofilia, -
9:31 - 9:34e tudo o que está pelo meio.
-
9:34 - 9:38Esta enciclopédia é apenas um
numa longa fila de livros eróticos árabes, -
9:38 - 9:42muitos dos quais escritos por
estudiosos religiosos. -
9:42 - 9:44Remontando ao Profeta Maomé,
-
9:44 - 9:47existe uma tradição no Islão
-
9:47 - 9:49de falar com franqueza sobre sexo:
-
9:49 - 9:52não apenas sobre os problemas,
mas também sobre os prazeres, -
9:52 - 9:57e não apenas para os homens,
mas também para as mulheres. -
9:57 - 10:03Há mil anos, tínhamos dicionários inteiros
sobre sexo, em árabe. -
10:03 - 10:07Palavras para descrever
todas as características sexuais imagináveis, -
10:07 - 10:11as posições e preferências,
uma linguagem corporal -
10:11 - 10:17suficientemente rica para inventar
o corpo da mulher que veem nesta página. -
10:17 - 10:21Hoje em dia, esta história
é amplamente desconhecida na região árabe, -
10:21 - 10:26até por pessoas educadas, que se sentem
mais confortáveis a falar sobre sexo, -
10:26 - 10:30numa língua estrangeira
do que na sua própria língua. -
10:30 - 10:34A paisagem sexual da atualidade
parece-se muito com a Europa e a América -
10:34 - 10:37à beira da revolução sexual.
-
10:37 - 10:40Mas enquanto o Ocidente se abriu sobre o sexo,
-
10:40 - 10:47as sociedades árabes parecem
estar a dirigir-se na direção oposta. -
10:47 - 10:49No Egito e em muitos dos países vizinhos,
-
10:49 - 10:52este fechamento faz parte
de um fechamento mais vasto -
10:52 - 10:55no pensamento político, social e cultural.
-
10:55 - 10:59E é o produto de um processo histórico complexo,
-
10:59 - 11:03que ganhou terreno com a ascensão
do conservadorismo islâmico -
11:03 - 11:06desde o final dos anos 70.
-
11:06 - 11:10"Simplesmente diz não"
é o que os conservadores pelo mundo -
11:10 - 11:14dizem a qualquer desafio ao "status quo" sexual.
-
11:14 - 11:19Na região árabe, estigmatizam estas tentativas
enquanto conspiração ocidental -
11:19 - 11:23para minar a tradição árabe
e os valores islâmicos. -
11:23 - 11:25Mas o que está realmente em causa
-
11:25 - 11:29é um dos seus instrumentos
mais poderosos de controlo: -
11:29 - 11:33o sexo "embrulhado" em religião.
-
11:33 - 11:36Mas a história mostra-nos que,
até recentemente, -
11:36 - 11:39na altura dos nossos pais e avós,
-
11:39 - 11:42houve alturas de maior pragmatismo,
-
11:42 - 11:47tolerância e boa vontade
para considerar outras interpretações: -
11:47 - 11:54seja o aborto, a masturbação ou até
o tópico incendiário da homossexualidade. -
11:54 - 11:59Não é preto e branco, como os conservadores
querem que acreditemos. -
11:59 - 12:02Nestes, como em tantos outros assuntos,
-
12:02 - 12:06o Islão oferece-nos pelo menos
50 sombras de cinzento ("grey"/Gray). -
12:06 - 12:08(Risos)
-
12:08 - 12:09Nas minhas viagens,
-
12:09 - 12:12conheci homens e mulheres,
pela região árabe, -
12:12 - 12:15que exploravam esse espectro.
-
12:15 - 12:18Sexólogos que tentam ajudar casais
-
12:18 - 12:22a encontrar maior felicidade
nos seus casamentos, -
12:22 - 12:27inovadores que estão a conseguir
levar a educação sexual às escolas, -
12:27 - 12:30pequenos grupos de homens e mulheres,
-
12:30 - 12:32lésbicas, gays, transgéneros, transexuais,
-
12:32 - 12:34que estão a aproximar-se dos seus pares
-
12:34 - 12:39com iniciativas "online" e apoio no mundo real.
-
12:39 - 12:43Mulheres, e cada vez mais homens,
que começam a fazer-se ouvir -
12:43 - 12:46e que rejeitam a violência sexual
-
12:46 - 12:49nas ruas e em casa.
-
12:49 - 12:54Grupos que tentam ajudar os trabalhadores
do sexo a protegerem-se contra o VIH -
12:54 - 12:57e outros riscos profissionais.
-
12:57 - 13:01ONGs que estão a ajudar mães solteiras,
como a Faiza, -
13:01 - 13:07a encontrar um lugar na sociedade
e a ficarem com os seus filhos. -
13:07 - 13:10Mas estes esforços são pequenos,
frequentemente pouco financiados -
13:10 - 13:13e enfrentam uma enorme oposição.
-
13:13 - 13:17Mas estou otimista que a longo prazo
-
13:17 - 13:20os tempos mudem,
e que eles e as suas ideias -
13:20 - 13:22ganhem terreno.
-
13:22 - 13:28A mudança social não acontece na região árabe
através de um confronto dramático, -
13:28 - 13:31com violência e demonstrações de poder,
-
13:31 - 13:34mas sim através da negociação.
-
13:34 - 13:37Não estamos a falar de uma revolução sexual,
-
13:37 - 13:42mas de uma evolução sexual,
aprendendo com outras partes do mundo, -
13:42 - 13:44adaptando-nos às condições locais,
-
13:44 - 13:50forjando o nosso caminho,
e não seguindo um aberto por outro. -
13:50 - 13:57Esse caminho, espero, irá levar-nos um dia
ao direito de mandarmos no nosso corpo -
13:57 - 14:00e a aceder à informação
e aos serviços de que precisamos -
14:00 - 14:04para termos vidas sexuais
satisfatórias e seguras. -
14:04 - 14:07O direito a expressarmos
as nossas ideias livremente, -
14:07 - 14:11a casarmos com quem escolhermos,
a escolhermos os nossos companheiros, -
14:11 - 14:16a sermos ou não sexualmente ativos,
a decidirmos se queremos ter filhos e quando, -
14:16 - 14:23tudo isto sem violência, força ou discriminação.
-
14:23 - 14:26Estamos longe disso, na região árabe,
-
14:26 - 14:29e há muita coisa que precisa de mudar:
-
14:29 - 14:33a lei, a educação, os "media", a economia...
-
14:33 - 14:36A lista é interminável
-
14:36 - 14:40e é trabalho para, pelo menos, uma geração.
-
14:40 - 14:43Mas começa com uma viagem
que eu própria fiz, -
14:43 - 14:46formulando perguntas difíceis
sobre conhecimentos recebidos -
14:46 - 14:48sobre a vida sexual.
-
14:48 - 14:53E é uma viagem que só serviu
para fortalecer a minha fé -
14:53 - 14:56e a minha apreciação
pelas histórias e culturas locais, -
14:56 - 15:02ao mostrar-me possibilidades
onde antes só via absolutos. -
15:02 - 15:05Agora, devido ao tumulto
em muitos países da região árabe, -
15:05 - 15:08falar sobre sexo,
desafiar os tabus, -
15:08 - 15:14procurar alternativas
pode parecer um luxo. -
15:14 - 15:17Mas neste momento crítico da História,
-
15:17 - 15:21se não ancorarmos a liberdade e a justiça,
-
15:21 - 15:23a dignidade e a igualdade,
-
15:23 - 15:28a privacidade e a autonomia
nas nossas vidas pessoais e sexuais, -
15:28 - 15:32será muito difícil alcançá-las na vida pública.
-
15:32 - 15:39A política e o sexo são companheiros íntimos
de cama, e isso aplica-se a todos nós, -
15:39 - 15:42independentemente de onde vivemos ou amamos.
-
15:42 - 15:44Obrigada.
-
15:44 - 15:48(Aplausos)
- Title:
- Uma pequena história sobre sexo e sensualidade
- Speaker:
- Shereen El Feki
- Description:
-
"Se quisermos conhecer realmente um povo, começamos por espreitar dentro dos seus quartos," diz Shereen El Feki, que viajou pelo Médio Oriente, durante cinco anos, onde falou com as pessoas sobre sexo. Apesar dessas conversas refletirem normas rígidas e uma profunda repressão, El Feki também descobriu que o conservadorismo sexual no mundo árabe é uma coisa relativamente recente. Ela questiona-se: será que o ressurgimento de um diálogo público poderia levar a vidas sexuais mais satisfatórias e seguras?
- Video Language:
- English
- Team:
closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 16:10
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Isabel Vaz Belchior approved Portuguese subtitles for A little-told tale of sex and sensuality | |
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Isabel Vaz Belchior edited Portuguese subtitles for A little-told tale of sex and sensuality | |
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Ana Cavaleiro accepted Portuguese subtitles for A little-told tale of sex and sensuality | |
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Ana Cavaleiro commented on Portuguese subtitles for A little-told tale of sex and sensuality | |
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Ana Cavaleiro edited Portuguese subtitles for A little-told tale of sex and sensuality | |
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Ivan Bechara edited Portuguese subtitles for A little-told tale of sex and sensuality |
Ana Cavaleiro
I found your translation pretty good apart from some ponctuation that I added and one or other word that would be better instead of the previous. Other than that, pretty awesome! Great work!