Como nossas histórias se cruzam
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0:01 - 0:03Esta é uma fotografia
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0:03 - 0:05do homem que durante muitos anos
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0:05 - 0:09planejei matar.
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0:09 - 0:12Este é meu pai,
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0:12 - 0:16Clinton George "Bageye" Grant.
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0:16 - 0:18Ele é chamado de Bageye
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0:18 - 0:21porque ele sempre teve olheiras.
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0:22 - 0:25Quando eu tinha 10 anos,
junto com meus irmãos -
0:25 - 0:29sonhava em raspar o veneno
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0:29 - 0:33do papel mata-moscas
e colocar dentro do seu café, -
0:33 - 0:35borrifar vidro moído
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0:35 - 0:38em seu café da manhã,
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0:38 - 0:40afrouxar o tapete da escada
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0:40 - 0:43para ele tropeçar e quebrar o pescoço.
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0:43 - 0:45Mas no dia ele sempre
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0:45 - 0:47pulava aquele degrau,
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0:47 - 0:49saía de casa sem
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0:49 - 0:51tomar um gole de café
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0:51 - 0:54e sem comer nada.
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0:54 - 0:55E por muitos anos
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0:55 - 0:57tive medo que meu pai morresse
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0:57 - 0:59antes que eu tivesse a chance de matá-lo.
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0:59 - 1:03(Risos)
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1:04 - 1:07Até nossa mãe pedir
para ele ir embora -
1:07 - 1:08e não voltar nunca mais,
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1:08 - 1:13Bageye havia sido
um ogro horripilante. -
1:13 - 1:16Ele vivia à beira de um ataque de raiva,
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1:16 - 1:19assim como eu, como vocês podem ver.
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1:20 - 1:23Ele trabalhava durante as noites
no Vauxhall Motors em Luton -
1:23 - 1:26e exigia silêncio total na casa,
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1:26 - 1:29então quando chegávamos da escola em casa
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1:29 - 1:31às 15:30, nós nos amontoávamos
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1:31 - 1:34em frente à TV,
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1:34 - 1:36e controlávamos o botão do volume da TV
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1:36 - 1:40de forma que quase não
se ouvia nada. -
1:40 - 1:42Alguns momentos, quando estávamos assim
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1:42 - 1:44tantos "Shhh", muitos "Shhh"
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1:44 - 1:46rolando na casa
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1:46 - 1:48que eu imaginava
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1:48 - 1:52que éramos a tripulação
de um submarino alemão -
1:52 - 1:54rastejando pela borda do oceano
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1:54 - 1:56enquanto lá em cima, na superfície
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1:56 - 2:00HMS Bageye patrulhava
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2:00 - 2:02pronto para matar
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2:02 - 2:05no primeiro sinal de qualquer distúrbio.
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2:06 - 2:08Então a lição era
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2:08 - 2:10"Não chame atenção para você mesmo
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2:10 - 2:12nem em casa nem fora dela."
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2:12 - 2:15Talvez seja uma lição de imigrantes.
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2:15 - 2:18Fomos tínhamos que ficar sob o radar,
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2:18 - 2:20e não havia
comunicação alguma -
2:20 - 2:23entre nós e o Bageye e entre
o Bageye e a gente, -
2:23 - 2:26e o som que mais ansiávamos ouvir,
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2:26 - 2:27você sabe quando você é criança
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2:27 - 2:30e quer que seu pai chegue em casa
e que tudo será alegre -
2:30 - 2:32e anseia pelo barulho
da porta abrindo? -
2:32 - 2:34O som que nós ansiávamos era
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2:34 - 2:36o barulho da porta fechando,
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2:36 - 2:40que significava que ele tinha saído
e que não voltaria. -
2:40 - 2:44Por três décadas
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2:44 - 2:47eu nunca olhei para meu pai,
nem ele para mim. -
2:47 - 2:49Nunca conversamos. Por três décadas.
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2:49 - 2:50Então dois anos atrás eu decidi
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2:50 - 2:55ligar os holofotes nele.
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2:55 - 2:57"Você está sendo vigiado.
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2:57 - 2:58Na verdade você está.
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2:58 - 3:00Você está sendo vigiado."
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3:00 - 3:03Esse era seu mantra para nós, crianças.
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3:03 - 3:05Ele sempre dizia isso.
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3:05 - 3:08E foi nos anos 70 em Luton,
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3:08 - 3:10quando ele trabalhava na Vauxhall Motors,
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3:10 - 3:11e ele é jamaicano.
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3:11 - 3:12O que ele queria dizer era
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3:12 - 3:15que como filho de um imigrante jamaicano
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3:15 - 3:16você está sendo vigiado
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3:16 - 3:18para ver pra que lado você vai,
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3:18 - 3:22para ver se você se conforma com
o estereótipo -
3:22 - 3:24de ser irresponsável,
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3:24 - 3:25preguiçoso
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3:25 - 3:28destinado para uma vida de crime.
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3:28 - 3:30Você está sendo vigiado,
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3:30 - 3:33por isso não siga as expectativas
que há sobre você. -
3:34 - 3:38Para isso, Bageye e seus amigos
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3:38 - 3:40quase todos jamaicanos,
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3:40 - 3:43exibiam um tipo
de "bella figura" jamaicana. -
3:43 - 3:46Mostre ao mundo seu melhor lado,
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3:46 - 3:48mostre sua melhor cara ao mundo.
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3:48 - 3:51Se vocês já viram essas imagens
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3:51 - 3:52dos caribenhos chegando
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3:52 - 3:54nos anos 40 e 50,
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3:54 - 3:55talvez tenham notado
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3:55 - 3:58que muitos homens usam
chapéus trilbies. -
3:58 - 4:01Agora, não havia tradição alguma
de usar trilbies na Jamaica. -
4:01 - 4:03Eles inventaram isso
para sua chegada aqui. -
4:03 - 4:06Eles queriam se projetar de uma maneira
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4:06 - 4:08que eles queriam ser vistos,
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4:08 - 4:10para que a aparência deles
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4:10 - 4:12e os nomes que eles mesmo se davam
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4:12 - 4:14os definissem.
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4:14 - 4:19Então o Bageye é careca e tem olheiras.
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4:19 - 4:23Tidy Boots é bem exigente
com os seus sapatos. -
4:23 - 4:26Anxious está sempre ansioso.
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4:26 - 4:29Clock tem um braço
mais comprido que o outro. -
4:29 - 4:33(Risos)
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4:33 - 4:36E o meu favorito era o cara que eles
chamavam de Summerwear. -
4:36 - 4:38Quando Summerwear chegou nesse país
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4:38 - 4:40da Jamaica nos anos 60, ele insistia
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4:40 - 4:42em vestir roupas leves de linho,
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4:42 - 4:44independente do clima,
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4:44 - 4:46e enquanto pesquisava suas vidas,
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4:46 - 4:49perguntei para a minha mãe,
"O que aconteceu com Summerwear?" -
4:49 - 4:53Ela me disse, "Ele pegou
uma gripe e morreu." (Risos) -
4:53 - 4:55Mas homens como Summerwear
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4:55 - 4:57nos ensinaram a importância do estilo.
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4:57 - 4:59Talvez eles exageraram o estilo deles
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4:59 - 5:02porque eles achavam que eles
não eram considerados -
5:02 - 5:04muito civilizados,
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5:04 - 5:07e eles transferiram
essa atitude da geração -
5:07 - 5:10ou ansiedade para nós, a geração seguinte,
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5:10 - 5:12tanto que quando eu estava crescendo,
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5:12 - 5:14se eu escutasse no rádio ou na televisão
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5:14 - 5:16alguma notícia sobre uma pessoa negra
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5:16 - 5:17cometendo algum crime
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5:17 - 5:20um assalto, assassinato, roubo
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5:20 - 5:24estremecíamos junto aos nossos pais,
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5:24 - 5:27porque eles estavam deixando
nosso lado mal visto. -
5:27 - 5:28Você não somente se representava.
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5:28 - 5:30Você representava o grupo,
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5:30 - 5:34e era horripilante aceitar que
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5:34 - 5:38de uma maneira, talvez você fosse visto
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5:38 - 5:40sob o mesmo ponto de vista.
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5:40 - 5:45Então isso era
o que precisava ser desafiado. -
5:45 - 5:49Nosso pai, e muitos dos seus colegas
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5:49 - 5:52exibiam um tipo de transmissão,
mas nenhum recebimento. -
5:52 - 5:55Foram feitos para transmitir
mas não receber. -
5:55 - 5:57Nós devíamos ficar quietos.
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5:57 - 5:59E quando nosso pai falava conosco,
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5:59 - 6:02era do púlpito de sua mente.
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6:02 - 6:03Eles se apegavam às certezas
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6:03 - 6:07acreditando que as dúvidas
os enfraqueceriam. -
6:07 - 6:10Mas quando estou trabalhando em casa
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6:10 - 6:14e escrevendo, depois de um dia inteiro
escrevendo, eu desço as escadas correndo -
6:14 - 6:18e fico super animado em falar sobre
Marcus Garvey ou Bob Marley -
6:18 - 6:22e as palavrar saem da minha boca
como borboletas -
6:22 - 6:24e eu estou tão animado que
meus filhos me param, -
6:24 - 6:27e eles dizem: "Pai, ninguém se importa."
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6:27 - 6:31(Risos)
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6:31 - 6:33Mas na verdade eles se importam.
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6:33 - 6:35Eles atravessam.
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6:35 - 6:37De alguma forma eles encontram
o caminho deles até você. -
6:37 - 6:41Eles moldam suas vidas de acordo
com a narrativa da sua vida, -
6:41 - 6:45assim como fiz com o meu pai
e a minha mãe, talvez, -
6:45 - 6:48e talvez Bageye fez isso com seu pai.
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6:48 - 6:49E isso ficou claro para mim
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6:49 - 6:52enquanto observava sua trajetória
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6:52 - 6:55e compreendia, como eles dizem,
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6:55 - 6:56os nativos americanos diziam,
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6:56 - 6:58"Não critique um homem até que você
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6:58 - 7:00consiga andar em seus mocassins."
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7:00 - 7:04Mas ao levar sua vida assim,
estava tudo bem -
7:04 - 7:07e muito simples de retratar
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7:07 - 7:10uma vida caribenha na Inglaterra
nos anos 70 -
7:10 - 7:14com tigelas de frutas de plástico,
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7:14 - 7:17telhas do teto de poliestireno,
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7:17 - 7:20sofás permanentemente cobertos
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7:20 - 7:23com a capa transparente
que veio junto no dia da entrega. -
7:23 - 7:25Mas é mais difícil navegar
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7:25 - 7:26no campo emocional
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7:26 - 7:29entre as gerações,
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7:29 - 7:33e o velho ditado que dizia que
com a idade vem a sabedoria, -
7:33 - 7:35não é verdade.
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7:35 - 7:38Com a idade vem o verniz
de respeitabilidade -
7:38 - 7:42e o verniz de verdades incômodas.
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7:42 - 7:44Mas a verdade é que meus pais,
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7:44 - 7:47minha mãe, e meu pai também
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7:47 - 7:50não confiaram no Estado para me educar.
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7:50 - 7:53Então ouçam a maneira como eu falo.
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7:53 - 7:56Eles estavam determinados em me colocar
em uma escola privada, -
7:56 - 7:59mas meu pai trabalhava na Vauxhall Motors.
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7:59 - 8:03É bem difícil bancar uma escola privada
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8:03 - 8:05e alimentar seu exército de filhos.
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8:05 - 8:07Eu lembro de ir à escola
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8:07 - 8:11para o exame de admissão
e meu pai disse ao padre; -
8:11 - 8:13era uma escola católica;
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8:13 - 8:16que ele queria a melhor "heducação"
para o menino, -
8:17 - 8:20mas também, ele, meu pai
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8:20 - 8:22nunca conseguiu passar vermes,
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8:22 - 8:25quem dirá exames de admissão.
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8:25 - 8:28Mas para conseguir pagar
pela minha educação, -
8:28 - 8:30ele ia ter que fazer algumas coisas
um pouco suspeitas, -
8:30 - 8:33então meu pai financiaria minha educação
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8:33 - 8:36comercializando produtos ilegais
no seu porta-malas. -
8:36 - 8:38E ficou ainda mais complicado
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8:38 - 8:40porque meu pai,
aliás esse não é o carro dele, -
8:40 - 8:42meu pai queria ter um carro como esse,
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8:42 - 8:44mas meu pai tinha um Mini todo batido,
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8:44 - 8:49e ele nunca, como Jamaicano nesse país,
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8:49 - 8:51ele nunca teve carteira de motorista,
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8:51 - 8:55nunca teve seguro ou imposto automóvel.
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8:55 - 8:56Ele pensou: "Sei dirigir
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8:56 - 8:59então por que preciso de
uma validação do Estado?" -
8:59 - 9:01Mas tudo se complicou quando
fomos parados pela polícia, -
9:01 - 9:04e éramos frequentemente parados
pela polícia, -
9:04 - 9:05e eu fiquei impressionado
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9:05 - 9:07com a maneira que meu pai
lidou com a polícia. -
9:07 - 9:10Ele imediatamente promovia
o policial, -
9:10 - 9:13então P.C. Bloggs virava Detetive
Inspetor Bloggs -
9:14 - 9:15no decorrer da conversa
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9:15 - 9:17e acenava para nós alegremente.
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9:17 - 9:20Então meu pai estava mostrando o que
nós na Jamaica -
9:20 - 9:23chamávamos de
"fingindo-se de bobo para pegar o sábio". -
9:23 - 9:25Mas também dava a impressão
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9:25 - 9:28que ele na verdade estava sendo diminuído
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9:28 - 9:30ou menosprezado pelo policial-
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9:30 - 9:32quando tinha 10 anos eu vi isso-
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9:32 - 9:35mas também havia uma ambivalência
em relação à autoridade. -
9:35 - 9:37Então de um lado estava
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9:37 - 9:39uma ridicularização da autoridade,
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9:39 - 9:41e do outro uma deferência
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9:41 - 9:43em relação à autoridade,
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9:43 - 9:45e essa população caribenha
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9:45 - 9:48tinha uma capacidade incrível
de obediência à autoridade, -
9:48 - 9:51o que é muito impressionante,
muito estranho de uma forma, -
9:51 - 9:54porque os imigrantes são muito corajosos.
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9:54 - 9:57Eles deixam suas casas.
Meu pai e minha mãe -
9:57 - 10:00deixaram a Jamaica e viajaram
mais de 6 mil km, -
10:00 - 10:04e ainda assim eles eram infantilizados
pela viagem. -
10:04 - 10:05Eles eram tímidos,
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10:06 - 10:08e em algum momento no percurso,
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10:08 - 10:10a ordem natural foi revertida.
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10:10 - 10:13As crianças viraram os pais dos pais.
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10:14 - 10:17O povo caribenho veio ao país
com um plano de cinco anos: -
10:17 - 10:20Trabalhariam, juntariam dinheiro
e depois voltariam, -
10:20 - 10:22mas os cinco anos viraram 10,
e os 10 viraram 15, -
10:22 - 10:25e quando se dá conta já está
trocando os papéis de parede, -
10:25 - 10:28e nesse ponto você sabe
que veio pra ficar. -
10:28 - 10:31Embora ainda haja uma espécie
de caráter temporário -
10:31 - 10:33para nossos pais, que eles sentiam
estando aqui, -
10:33 - 10:36mas nós crianças sabíamos que
o jogo tinha acabado. -
10:37 - 10:40Acho que havia um sentimento
-
10:40 - 10:46de que eles não poderiam continuar
com os ideais -
10:46 - 10:48de vida que eles esperavam.
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10:48 - 10:49A realidade era muito distinta.
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10:49 - 10:51E também, essa era a verdade da realidade
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10:51 - 10:53de tentar me educar.
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10:53 - 10:55Tendo iniciado o processo,
meu pai não continuou. -
10:56 - 10:59Sobrou para a minha mãe me educar,
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11:00 - 11:02e como George Lamming diria,
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11:02 - 11:06foi a minha mãe que me "apadrinhou".
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11:06 - 11:08Mesmo na ausência dele o mantra continuou:
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11:08 - 11:10Você está sendo vigiado.
-
11:10 - 11:13Mas tanto cuidado pode gerar ansiedade,
-
11:13 - 11:16tanto, que anos depois, quando
eu estava investigando -
11:16 - 11:17por que tantos jovens negros
-
11:17 - 11:19eram diagnosticados com esquizofrenia
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11:19 - 11:21seis vezes mais do que deveriam ser,
-
11:21 - 11:24eu não me surpreendi quando ouvi
o psicólogo dizer, -
11:25 - 11:28"Negros são educados em paranoia."
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11:30 - 11:33E eu imaginava o que o Bageye diria disso.
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11:33 - 11:36Agora eu também tinha um filho de 10 anos,
-
11:36 - 11:38e voltei a minha atenção à Bageye
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11:38 - 11:40e fui procurá-lo.
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11:40 - 11:43Ele estava de volta à Luton, agora com 82,
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11:43 - 11:46e eu não lhe via havia 30 e poucos anos,
-
11:47 - 11:49e quando ele abriu a porta,
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11:49 - 11:53eu vi esse homem pequenino,
sorrindo com os olhos, -
11:53 - 11:55e ele estava sorrindo,
e eu nunca o havia visto sorrir. -
11:55 - 11:58Eu fiquei muito desconsertado .
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11:58 - 12:01Mas quando sentamos, e ele estava
com um amigo caribenho com ele, -
12:01 - 12:04conversando papos antigos,
-
12:04 - 12:06e meu pai me olhava,
-
12:06 - 12:08e ele me olhava como se eu
-
12:08 - 12:11pudesse milagrosamente desaparecer
assim como havia aparecido. -
12:11 - 12:13E ele olhou para seu amigo e disse,
-
12:13 - 12:17"Esse menino e eu temos uma conexão
muito, muito profunda, -
12:17 - 12:19muito, muito profunda."
-
12:19 - 12:21Mas eu nunca senti essa conexão.
-
12:21 - 12:24Se havia pulso, estava muito muito fraco,
-
12:24 - 12:26ou quase inexistente.
-
12:26 - 12:28E eu quase senti no decorrer
daquela reunião -
12:28 - 12:32que eu estava fazendo um teste para ser
filho do meu pai. -
12:33 - 12:34Quando o livro foi publicado,
-
12:34 - 12:37teve boas críticas nos jornais,
-
12:37 - 12:40mas o jornal popular em Luton
não é o The Guardian, -
12:40 - 12:42é o Luton News,
-
12:42 - 12:46e o Luton News publicou uma manchete
sobre o livro, -
12:46 - 12:50"O Livro Que Pode Curar
uma Fratura de 32 anos." -
12:51 - 12:54E eu entendi que aquilo também
podia representar -
12:54 - 12:57a ruptura entre gerações,
-
12:57 - 13:00entre pessoas como eu e
a geração do meu pai. -
13:00 - 13:03Mas não há tradição no Caribe
-
13:03 - 13:05de autobiografias ou memoirs.
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13:05 - 13:08Era tradição você não discutir assuntos
pessoais em público. -
13:08 - 13:14Mas eu acolhi essa manchete, e pensei, sim
-
13:14 - 13:15há uma possibilidade que
-
13:15 - 13:19isso abra espaço para conversas
que nunca tivemos antes. -
13:20 - 13:23Isso fechará o buraco entre
as gerações, talvez. -
13:24 - 13:26Esse pode ser um instrumento de reparo.
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13:26 - 13:29E eu até comecei a sentir que esse livro
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13:29 - 13:32poderia ser percebido por meu pai
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13:32 - 13:34como um ato de devoção filial.
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13:35 - 13:38Pobre, tolo iludido.
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13:39 - 13:43Bageye foi picado por aquilo
que ele percebeu como -
13:43 - 13:46uma exposição pública de seus fracassos.
-
13:46 - 13:49Ele foi picado pela minha traição,
-
13:49 - 13:52e foi para todos os jornais
no dia seguinte -
13:52 - 13:53e exigiu direito à resposta,
-
13:53 - 13:55e ele conseguiu, com a manchete
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13:55 - 13:57"Bageye morde de volta."
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13:58 - 14:01Era uma clara nota sobre minha traição.
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14:01 - 14:04Eu não era filho dele.
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14:04 - 14:06Ele reconheceu em sua cabeça
que suas cores -
14:06 - 14:09haviam sido jogadas na lama,
e ele não podia autorizar isso. -
14:09 - 14:11Ele tinha que restaurar
sua dignidade, e isso ele fez. -
14:11 - 14:13Inicialmente, apesar
de estar decepcionado, -
14:13 - 14:15eu comecei a admirar aquela postura.
-
14:15 - 14:18Havia ainda fogo borbulhando
em suas veias, -
14:18 - 14:21mesmo ele tendo 82 anos de idade.
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14:22 - 14:25E se isso significou que teríamos
-
14:25 - 14:28outros 30 anos de silêncio,
-
14:28 - 14:32meu pai diria: "Se é assim,
que assim seja." -
14:34 - 14:37Jamaicanos vão te falar que
não existem fatos, -
14:37 - 14:39somente versões.
-
14:39 - 14:42Nós nos contamos versões da história
-
14:42 - 14:44com que sejam mais fáceis de conviver.
-
14:44 - 14:47Cada geração constrói um edifício
-
14:47 - 14:49e que eles são relutantes, ou
às vezes incapazes -
14:49 - 14:51de desmontar,
-
14:52 - 14:55mas ao escrever,
a minha versão da história -
14:55 - 14:56começou a mudar,
-
14:57 - 15:01e foi separada de mim.
-
15:01 - 15:04Eu perdi o ódio que sentia por meu pai.
-
15:04 - 15:08Eu não queria mais
que ele morresse, nem matá-lo, -
15:08 - 15:12e me senti livre,
-
15:12 - 15:15muito mais livre do que antes.
-
15:17 - 15:20E eu me pergunto se essa libertação
-
15:20 - 15:22poderia ter sido transferida para ele.
-
15:24 - 15:28Naquela primeira reunião
-
15:29 - 15:31eu fiquei impressionado com a ideia
-
15:31 - 15:34que eu tinha pouquíssimas fotos minhas
-
15:34 - 15:37quando criança.
-
15:37 - 15:39Esta é uma foto minha,
-
15:39 - 15:41com nove meses de idade.
-
15:41 - 15:43Na fotografia original,
-
15:43 - 15:46eu estou sendo carregado
pelo meu pai, Bageye, -
15:46 - 15:48mas quando meus pais se separaram
-
15:48 - 15:51minha mãe tirou ele de todos os aspectos
de nossas vidas. -
15:51 - 15:55Ela pegou uma tesoura e o cortou
de todas as fotografias, -
15:55 - 15:59e por anos eu disse a mim mesmo
que a verdade dessa foto -
15:59 - 16:02é que eu estava sozinho,
-
16:02 - 16:04sem ninguém me carregando.
-
16:05 - 16:07Mas existe outra forma de ver
essa fotografia. -
16:07 - 16:10Essa foto tem o potencial
-
16:10 - 16:12para uma reunião,
-
16:12 - 16:15o potencial de me reunir com meu pai,
-
16:15 - 16:19e no meu desejo de ser carregado
pelo meu pai, -
16:19 - 16:21eu o coloquei no holofote.
-
16:22 - 16:24Naquele primeiro encontro,
-
16:24 - 16:27foi bem constrangedor e
tenso em alguns momentos, -
16:27 - 16:28e para diminuir a tensão,
-
16:28 - 16:30decidimos dar um passeio.
-
16:31 - 16:33E enquanto caminhávamos percebi
-
16:33 - 16:35que eu havia me tornado a criança
-
16:35 - 16:39apesar de ser agora bem mais alto
do que meu pai. -
16:39 - 16:41Eu era quase 30 cm mais alto que meu pai.
-
16:41 - 16:44Ele ainda era um homem grande,
-
16:44 - 16:47e eu tentei acompanhar seus passos.
-
16:48 - 16:50E eu percebi que ele estava andando
-
16:50 - 16:53como se ainda estivesse sendo observado,
-
16:53 - 16:56mas eu admirei aquela
maneira de andar. -
16:56 - 16:58Ele andava como um homem
-
16:58 - 17:01no time que está perdendo
em uma final de Copa do Mundo -
17:01 - 17:05subindo os degraus para receber
sua medalha de condolências. -
17:05 - 17:07Havia dignidade na derrota.
-
17:08 - 17:09Obrigado.
- Title:
- Como nossas histórias se cruzam
- Speaker:
- Colin Grant
- Description:
-
Colin Grant passou sua vida navegando o panorama emocional entre o mundo de seu pai e seu próprio. Nascido na Inglaterra de pais jamaicanos, Grant usa de histórias de experiências compartilhadas dentro de sua comunidade imigrante; e reflete sobre como encontrou perdão para um pai que o havia rejeitado.
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 17:25
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