< Return to Video

Caspar David Friedrich, A Abadia na Floresta de Carvalho, 1808-10

  • 0:05 - 0:07
    Estamos na Antiga Galeria Nacional
    em Berlim,
  • 0:07 - 0:09
    olhando um quadro de
    Caspar David Friedrich.
  • 0:09 - 0:10
    A Abadia na Floresta de Carvalho.
  • 0:10 - 0:13
    É uma pintura grande, e é parte de um par
  • 0:13 - 0:15
    que incluiu "O Monge à Beira Mar".
  • 0:15 - 0:19
    Essa é uma imagem muito sombria,
    e realmente é
  • 0:19 - 0:21
    um exemplo perfeito da forma como
    Friedrich usava a paisagem
  • 0:21 - 0:25
    de modo a representar temas
    da vida humana.
  • 0:25 - 0:27
    e do Divino.
  • 0:27 - 0:29
    Correto, e nesta pintura vemos
  • 0:29 - 0:32
    as ruínas de uma abadia,
    uma velha abadia,
  • 0:32 - 0:37
    e uma procissão de figuras que entram
    nesta abadia em ruínas,
  • 0:37 - 0:38
    carregando um caixão.
  • 0:38 - 0:41
    Imediatamente temos a sensação da
    passagem do tempo,
  • 0:41 - 0:44
    da transitoriedade da existência humana...
  • 0:44 - 0:47
    Também estamos olhando, ao que
    parece, o pico do inverno,
  • 0:47 - 0:49
    e talvez seja o pôr do sol.
  • 0:49 - 0:52
    Se você olhar para o que reata da
    arquitetura
  • 0:52 - 0:55
    você tem, em primeiro lugar,
    essa sensação desesperada
  • 0:55 - 0:57
    das próprias ruínas.
  • 0:57 - 1:01
    Você vê esta velha janela alta e estreita
    que está degradada.
  • 1:01 - 1:02
    Nenhum vidro sobrou.
  • 1:02 - 1:05
    E você tem uma sensação real da grandeza
  • 1:05 - 1:08
    do espaço original, mas agora
    tudo que resta é apenas
  • 1:08 - 1:12
    a futilidade da experiência humana,
    a futilidade do esforço humano.
  • 1:12 - 1:17
    E vemos que a natureza é eterna,
  • 1:17 - 1:19
    mas o que o homem cria é passageiro.
  • 1:19 - 1:22
    Você tem os monges em pessoa em seu
  • 1:22 - 1:24
    milenar ritual do enterro.
  • 1:24 - 1:26
    Mas você vê que o cemitério
    que os circunda na neve
  • 1:26 - 1:31
    não é bem cuidado, está abandonado,
    e parece estar ele próprio
  • 1:31 - 1:32
    caindo em degradação.
  • 1:32 - 1:36
    A abadia remete à tradição medieval,
  • 1:36 - 1:37
    mas agora está decaída.
  • 1:37 - 1:40
    Mais velhos do que isso são os carvalhos,
  • 1:40 - 1:42
    que poderiam ter representado,
    para Friedrich,
  • 1:42 - 1:45
    as tradições druidas, as tradições
    pré-cristãs,
  • 1:45 - 1:49
    esses carvalhos verdadeiramente antigos,
    nodosos, e terrificantes
  • 1:49 - 1:52
    em suas silhuetas, mas que falam
    de uma tradição,
  • 1:52 - 1:55
    como testemunhas de que são ainda
    mais antigos que o Cristianismo.
  • 1:55 - 1:59
    E acima disso, a lua crescente, e o céu;
  • 1:59 - 2:01
    quando você estava falando, essa é a
    natureza para onde eu estava
  • 2:01 - 2:03
    olhando, que é permanente,
  • 2:03 - 2:06
    que é transhistórica, que
    vai além até mesmo
  • 2:06 - 2:09
    do crescimento e da morte das árvores.
  • 2:09 - 2:11
    Certamente além da arquitetura,
    do empenho do homem.
  • 2:11 - 2:15
    A lua não tendo a sensação do cosmos,
  • 2:15 - 2:17
    mesmo estando acima das estações da Terra.
  • 2:17 - 2:20
    Correto, e por isso você tem essa
    sensação da dimensão humana,
  • 2:20 - 2:22
    você tem essa sensação da
    dimensão da natureza,
  • 2:22 - 2:25
    e então você tem essa sensação da dimensão
    do espaço de Deus.
  • 2:25 - 2:28
    E, de fato, se há algum otimismo
    nesta imagem,
  • 2:28 - 2:29
    é aquela lua.
  • 2:29 - 2:33
    É a meia lua crescente, e pode
    minguar ainda mais
  • 2:33 - 2:35
    e se tornar uma Lua Nova,
    mas então irá se regenerar
  • 2:35 - 2:37
    e há essa possibilidade de renascer.
  • 2:37 - 2:39
    Você mencionou que é o pico do inverno,
  • 2:39 - 2:41
    mas a primaverá virá.
  • 2:41 - 2:44
    E mesmo que ela pareca bem longe agora,
    nessa espécie de
  • 2:44 - 2:48
    crepúsculo sombrio, há essa sensação de
    que haverá renovação,
  • 2:48 - 2:51
    Assim, podemos ter uma indicação da
    ressurreição
  • 2:51 - 2:55
    nos ciclos da lua, temos as cruzes que são
  • 2:55 - 3:00
    uma parte do cemitério,
    temos a cruz que é parte da
  • 3:00 - 3:04
    ruína da abadia, e essa indicação
    da ressurreição.
  • 3:04 - 3:07
    Acho que o mais interessante sobre
    Friedrich é que
  • 3:07 - 3:11
    ele está impondo uma paisagem com um
  • 3:11 - 3:15
    significado muito, muito sério,
    quase como se, no passado,
  • 3:15 - 3:18
    as pessoas olhassem para a iconografia das
  • 3:18 - 3:23
    pinturas cristãs, e Friedrich está à
    procura de uma linguagem moderna
  • 3:23 - 3:28
    com a qual expressar esses sentimentos
    humanos transhistóricos,
  • 3:28 - 3:31
    considerando o nosso papel no universo,
    e tentando dar um sentido,
  • 3:31 - 3:35
    a todas essas camadas do tempo
    às quais você se referiu antes.
  • 3:35 - 3:38
    Exatamente! Friedrich está buscando
    uma nova
  • 3:38 - 3:41
    maneira de representar essas questões
    eternas, e faz sentido que
  • 3:41 - 3:44
    o faça assim, porque estamos no início
  • 3:44 - 3:47
    do século XIX. Friedrich vive agora em uma
    cultura racional,
  • 3:47 - 3:50
    e a ideia de usar a iconografia
    da Renascença,
  • 3:50 - 3:52
    ou mesmo do Barroco, seria impensável.
  • 3:52 - 3:53
    Não faria sentido
  • 3:53 - 3:56
    E assim Friedrich, o artista que foi
    treinado em Copenhague,
  • 3:56 - 3:59
    que tiha crescido em Greifswald,
    que era então parte da Suécia,
  • 3:59 - 4:01
    na costa sul do mar Báltico,
  • 4:01 - 4:03
    está olhando para a muito extrema, gelada,
  • 4:03 - 4:06
    paisagem do norte, como uma forma
    de expressar
  • 4:06 - 4:09
    essas ideias do eterno
  • 4:09 - 4:11
    [legendado por Tiago Lemes Palhano Bordin]
Title:
Caspar David Friedrich, A Abadia na Floresta de Carvalho, 1808-10
Description:

Caspar David Friedrich, A Abadia na Floresta de Carvalho, 1809 ou 1810, óleo sobre tela, 110.4 x 171 cm (Antiga Galeria Nacional, Berlim)

more » « less
Video Language:
English
Duration:
04:22

Portuguese, Brazilian subtitles

Revisions