Guan Xiao: Libertação |Art21 "Extended Play"

Episódio 275: No seu estúdio em Pequim, Guan Xiao resiste às distrações de expetativas da era moderna. A escultora descreve a experiência meditativa de trabalhar no estúdio, onde é obrigada a pôr de parte o telemóvel e o computador. "Mesmo que o corpo sinta o cansaço, o espírito está totalmente descontraído", explica a artista.

Guan também reflete sobre a importância de se afastar das expetativas impostas a artistas chineses para produzir as suas obras com significados políticos e sociais evidentes. Embora a geração anterior à dela sentisse maior pressão para abordar a política no seu trabalho, Guan encara isso como uma oportunidade para ela e os seus colegas subverterem essas expetativas. A artista transmite a sua esperança de ver maior variedade no tipo de trabalho que os artistas chineses são capazes de fazer, de expor e de vender. "Tudo o que um artista faz é exprimir o seu sentido de liberdade", diz Guan. "libertar as ideias das molduras que as prendem. Na verdade, é isso que é político."

Nas suas esculturas e trabalhos em vídeo, Guan Xiao justapõe imagens discordantes, diversos artefactos culturais e tecnologia moderna para criar objetos futuristas, de referência, inquietantes e humorísticos. Trabalhando com as tradicionais raízes de árvores esculpidas chinesas, criações 3D e objetos industriais acabados, Guan Xiao representa a nova geração de artistas da China, enraizados na cultura transnacional e imersos no presente, alimentado pela tecnologia. As obras de vídeo refletem as experiências dos espetadores e na Internet e nas memórias pessoais, onde imagens aparentemente não relacionadas encontram uma ligação inexplicável, mas ressonante.

Saibam mais sobre esta artista em: https://art21.org/artist/guan-xiao/

Todos nós contraímos este mau hábito:

sempre que temos um telemóvel
ou um computador por perto,

ficamos entretidos com ele.

Se tivermos a hipótese de usar
o telemóvel ou o computador,

optamos sempre por usar
o telemóvel ou o computador.

Uma grande parte das minhas obras
é sempre feita em computador

Mas o acabamento das minhas obras
tem de ser feito num estúdio.

No nosso estúdio,
não temos ligação à Internet.

Usamos os fones para tocar música
e é tudo.

Nem sempre podemos segurar no telemóvel
porque temos as mãos sujas do trabalho.

Para mim, é uma sensação muito agradável,
uma espécie de meditação.

Mesmo que o corpo sinta o cansaço,
o espírito está totalmente descontraído.

Ninguém pode fugir da época em que vive.

Especialmente na China,
as pessoas interessam-se

por obras ligadas a assuntos sociais
e à política.

Adoram discutir política.

As pessoas gostam de observar obras
que tenham um significado social.

Sentem que essas obras são mais profundas.

Mas esquecem-se que a arte política
é apenas uma categoria entre muitas.

Não falo das galerias ocidentais
ou dos artistas ocidentais

mas dos artistas locais
e das galerias e colecionadores na China.

É difícil para os artistas da nova geração

criar uma coisa sem discussão
de problemas políticos ou sociais.

Não podem dizer:

"Só quero ser um artista tranquilo
e fazer o que me apetece."

É mesmo difícil
para esta geração de artistas

fazer este tipo de trabalho
e ganhar a vida com isso.

Penso que os artistas como eu
que nasceram nos anos 80,

começamos a ter a possibilidade de dizer:

"OK, podes ser um artista visual

"e podes ganhar a vida dessa forma."

Acho que é ótimo.

- Aguenta firme. Levanta.

- Devagar. Tira a mão. Ótimo.

Espero que, na China,

possa haver mais arte diferente.

Tudo o que um artista faz é exprimir
o seu sentido de liberdade,

libertar as ideias das molduras
que as prendem.

Na verdade, é isso que é político.

Tradução de Margarida Mariz