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Poesia e música para aliviar o isolamento social imposto pelo COVID-19 | Gisele Lobato | TEDxLaçador

  • 0:06 - 0:08
    Eu quero dividir com vocês
  • 0:08 - 0:11
    uma experiência [e os resultados]
    que nós estamos obtendo
  • 0:11 - 0:15
    com pacientes internados
    em quarentena por COVID-19.
  • 0:16 - 0:21
    Pra começar, nós somos alguns
    colegas do Hospital Moinhos de Vento
  • 0:21 - 0:23
    que estamos trabalhando num projeto
  • 0:23 - 0:29
    pra tentar entender os aspectos emocionais
    que acontecem com a gente.
  • 0:29 - 0:33
    O que é uma quarentena?
    O que é um isolamento?
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    A quarentena não são 40 dias, lógico.
  • 0:37 - 0:40
    A quarentena surgiu no século 13,
  • 0:42 - 0:45
    a propósito da Peste Negra;
  • 0:45 - 0:47
    o aparecimento dela foi em Veneza.
  • 0:47 - 0:49
    E desde então se viu
  • 0:49 - 0:54
    que a separação de pessoas doentes
    de pessoas saudáveis
  • 0:55 - 0:58
    trazia, de alguma forma, uma melhora
  • 0:59 - 1:01
    sob o ponto de vista epidemiológico.
  • 1:01 - 1:05
    Lógico que na época não se tinha isso,
    mas se sabe cada vez mais isso hoje.
  • 1:05 - 1:07
    E é por isso que a quarentena existe,
  • 1:07 - 1:12
    e é por isso que hoje as pessoas
    que sofrem de alguma doença
  • 1:12 - 1:14
    potencialmente contaminante
  • 1:14 - 1:17
    devem ficar separadas dos outros.
  • 1:17 - 1:20
    O que que a gente entende disso?
  • 1:20 - 1:24
    O que é ficar separado?
    O que é ficar longe?
  • 1:24 - 1:26
    Como a Morena comentou,
  • 1:26 - 1:29
    a vulnerabilidade
    em que nós nos encontramos -
  • 1:29 - 1:33
    não agora, mas sempre,
    nós somos vulneráveis sempre.
  • 1:33 - 1:35
    Então, vocês imaginem:
  • 1:36 - 1:37
    eu estou muito bem,
  • 1:37 - 1:41
    estou trabalhando, estou conversando,
  • 1:41 - 1:44
    faço as coisas que gosto de fazer,
  • 1:44 - 1:47
    e aí começo a ficar um pouco mais cansada.
  • 1:47 - 1:51
    Fico um pouco mais cansada,
    mas cansada a gente está sempre,
  • 1:51 - 1:53
    se trabalha muito, enfim...
  • 1:53 - 1:58
    Aparece uma dor de cabeça,
    toma Tylenol, toma dipirona e vai.
  • 1:58 - 2:00
    No outro dia, um pouco pior,
  • 2:00 - 2:03
    mas também, dor de cabeça, enfim,
  • 2:03 - 2:07
    nunca se valoriza muito esses sintomas.
  • 2:07 - 2:12
    No terceiro dia, quando a coisa
    fica um pouco mais grave,
  • 2:12 - 2:15
    quando aparece dor no corpo,
  • 2:15 - 2:17
    aparece febre,
  • 2:18 - 2:20
    tu te vês obrigada a procurar uma ajuda.
  • 2:21 - 2:24
    Só essa vulnerabilidade,
    como diz a Morena,
  • 2:24 - 2:28
    só esse sentimento de vulnerabilidade
    frente a algo desconhecido,
  • 2:29 - 2:32
    que se manifesta em nós
    através de sintomas físicos,
  • 2:32 - 2:35
    dá um impacto emocional em nós.
  • 2:35 - 2:37
    O que nós vamos fazer com isso?
  • 2:37 - 2:39
    Vamos a uma emergência.
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    Uma emergência de um hospital,
  • 2:41 - 2:44
    que hoje as emergências
    são diferenciadas, vocês sabem,
  • 2:44 - 2:48
    existem emergências só pra pessoas
    com sintomas respiratórios.
  • 2:48 - 2:52
    Chegamos a essa emergência,
    não conhecemos ninguém,
  • 2:52 - 2:57
    somos atendidos por pessoas
    totalmente protegidas:
  • 2:57 - 3:03
    luva, máscara,
    acrílico no rosto, aventais.
  • 3:03 - 3:07
    O contato conosco é mínimo,
  • 3:07 - 3:09
    simplesmente pra poder ver a pressão,
  • 3:09 - 3:12
    ver se temos temperatura.
  • 3:12 - 3:17
    Aí nos passam pra que façamos
    exames de sangue,
  • 3:17 - 3:18
    e vamos pra uma tomografia.
  • 3:18 - 3:22
    Bom, aí o mundo acaba.
  • 3:22 - 3:25
    O mundo desconhecido de um hospital -
  • 3:25 - 3:28
    ninguém gosta de hospital,
  • 3:28 - 3:30
    a gente gosta de hospital
    pra ver nenezinho nascer,
  • 3:30 - 3:33
    vai, visita e vai embora.
  • 3:33 - 3:35
    Essa é a parte boa do hospital.
  • 3:35 - 3:39
    Mas enfim, esse paciente, que pode ser eu,
  • 3:39 - 3:40
    não evoluo muito bem,
  • 3:40 - 3:44
    então sou obrigada a ficar no hospital
    por uma medida de segurança.
  • 3:44 - 3:48
    Vou pra um quarto numa unidade
    também diferenciada,
  • 3:48 - 3:53
    e lá nesse quarto, estou
    completamente isolada.
  • 3:53 - 3:58
    Ninguém chega até minha porta,
    entra no meu quarto,
  • 3:58 - 4:00
    a não ser totalmente protegido.
  • 4:00 - 4:03
    Eu não consigo falar com a minha família,
    a não ser pelo celular.
  • 4:03 - 4:07
    Eu não tenho carinho,
    não tenho abraço de ninguém.
  • 4:07 - 4:12
    Eu estou completamente
    sem controle sobre a minha vida.
  • 4:12 - 4:13
    Não tenho.
  • 4:13 - 4:16
    Isso gera uma série de emoções,
  • 4:16 - 4:18
    eu fico deprimida,
  • 4:18 - 4:22
    eu fico extremamente ansiosa
    porque eu não sei o que está acontecendo,
  • 4:23 - 4:25
    e o pior, eu não sei o que vai acontecer.
  • 4:25 - 4:27
    Será que eu vou ficar bem?
  • 4:27 - 4:31
    Será que eu não vou evoluir?
    Eu não vou pra uma UTI?
  • 4:31 - 4:36
    Pra uma Unidade de Terapia Intensiva
    em que eu tenho que ser sedada
  • 4:36 - 4:39
    pra poder suportar
    uma ventilação mecânica,
  • 4:39 - 4:42
    poder estar ligada a um ventilador,
  • 4:42 - 4:45
    que é um aparelho que coloca ar
    pra dentro da gente,
  • 4:45 - 4:48
    porque a gente não está
    conseguindo fazer isso.
  • 4:48 - 4:50
    Será que eu vou evoluir desse jeito?
  • 4:50 - 4:52
    E a minha família?
  • 4:52 - 4:56
    E o dinheiro pra pagar as contas?
  • 4:56 - 5:00
    Enfim, tudo isso gera
  • 5:00 - 5:06
    uma série desproporcional, muitas vezes,
    de emoções dentro da gente.
  • 5:06 - 5:10
    A gente começa a se ver encurralado.
  • 5:10 - 5:14
    A se ver frente a essas circunstâncias
  • 5:14 - 5:17
    em que nós não temos nenhum controle.
  • 5:17 - 5:19
    E não tendo nenhum controle -
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    a gente parece que tem
    controle sobre as coisas,
  • 5:22 - 5:26
    e essa sensação que "parece"
    nos dá uma segurança,
  • 5:26 - 5:29
    mas nesse momento a gente
    não tem segurança com nada.
  • 5:29 - 5:31
    Vocês sabem que tem
    trabalhos interessantes
  • 5:31 - 5:36
    fazendo uma comparação
    com os prisioneiros numa cadeia,
  • 5:36 - 5:39
    claro que existe talvez um viés nisso,
  • 5:39 - 5:42
    mas prisioneiros numa cadeia
    com pacientes que estão,
  • 5:42 - 5:46
    não no caso do corona, porque isso
    é anterior ao corona, lógico.
  • 5:46 - 5:51
    Mas assim, as sensações
    que as pessoas muitas vezes enfrentam
  • 5:51 - 5:54
    de sofrimento,
  • 5:55 - 5:58
    essa sensação de confinamento, de raiva,
  • 5:58 - 6:00
    se assemelham muito.
  • 6:00 - 6:02
    O que nós pensamos, então?
  • 6:02 - 6:05
    Nós pensamos em tentar proporcionar,
  • 6:05 - 6:08
    tentar usar alguns recursos
    que nós conhecemos,
  • 6:08 - 6:10
    que são extremamente fáceis,
  • 6:10 - 6:14
    pra diminuir, pra minimizar um pouco
  • 6:14 - 6:16
    essa sensação de sofrimento,
  • 6:17 - 6:18
    essa sensação de abandono.
  • 6:19 - 6:21
    Nós entendemos a medicina -
  • 6:21 - 6:23
    todos hoje entendem
    a medicina dessa forma,
  • 6:23 - 6:27
    não somos diferentes de nenhum outro -
  • 6:27 - 6:30
    nós entendemos a medicina
    de uma forma mais holística.
  • 6:30 - 6:33
    Quando eu digo holística, eu quero dizer
  • 6:33 - 6:36
    a medicina em que eu não estou interessada
  • 6:36 - 6:40
    ou não estou preocupada
    só com sintomas físicos.
  • 6:40 - 6:44
    Os sintomas físicos
    acontecem em uma pessoa.
  • 6:44 - 6:46
    Cada pessoa é uma pessoa,
  • 6:46 - 6:48
    com as suas particularidades,
  • 6:48 - 6:50
    com seus legados,
  • 6:50 - 6:52
    com as suas emoções.
  • 6:52 - 6:56
    Então é muito importante
    a gente poder entender
  • 6:56 - 7:00
    que, neste momento, nós temos
    que diferenciar cada um.
  • 7:00 - 7:05
    Nós não podemos só ficar pensando
    se o COVID vai ser positivo,
  • 7:05 - 7:07
    se vai reagir o PCR, não vai.
  • 7:07 - 7:10
    Não. Isso também é importante, lógico.
  • 7:10 - 7:13
    Existem protocolos
    a todo momento surgindo,
  • 7:13 - 7:14
    quais são os melhores remédios,
  • 7:14 - 7:19
    qual é a melhor estratégia pra diminuir
    o impacto da doença nas pessoas.
  • 7:19 - 7:22
    Mas nós entendemos de uma outra forma.
  • 7:22 - 7:25
    O que nós procuramos e estamos fazendo
  • 7:25 - 7:28
    é introduzir música e poesia
  • 7:28 - 7:31
    pros pacientes que estão
    internados em quarentena.
  • 7:31 - 7:34
    Nós fizemos isso, estamos fazendo isso,
  • 7:34 - 7:36
    é um trabalho em andamento,
  • 7:36 - 7:41
    e é extremamente bom,
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    é muito bacana
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    o que a gente tem tido de retorno.
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    Embora nós tenhamos iniciado
    o trabalho há pouco tempo,
  • 7:49 - 7:52
    mas o feedback, a resposta
    que as pessoas têm dado,
  • 7:52 - 7:55
    cada vez que eu mando uma música pra eles,
  • 7:55 - 7:59
    e eles, tendo o meu telefone,
    eles me mandam pelo WhatsApp a resposta.
  • 7:59 - 8:01
    Ou uma poesia.
  • 8:02 - 8:05
    É extremamente gratificante
  • 8:05 - 8:07
    e é uma coisa simples.
  • 8:07 - 8:09
    É uma coisa tão simples...
  • 8:09 - 8:13
    Nós escolhemos cinco autores,
  • 8:13 - 8:15
    cinco poetas,
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    infelizmente não me lembrei
    do Thiago de Mello,
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    ele é um brilhante poeta, mas, enfim,
  • 8:20 - 8:24
    poesias que façam com que as pessoas
    tenham vontade de viver,
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    poesias que façam com que as pessoas
    entendam o otimismo da vida,
  • 8:28 - 8:32
    compreendam que isso é passageiro,
  • 8:32 - 8:33
    que, muitas vezes,
  • 8:33 - 8:37
    o que parece que vai ficar pra sempre
    não vai ficar pra sempre.
  • 8:37 - 8:41
    E essa situação, dessa pandemia, é assim.
  • 8:41 - 8:46
    Claro, está demorando um pouco,
    mas vai acontecer, nós teremos vacina,
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    muitas pessoas estão se curando,
  • 8:47 - 8:51
    felizmente, a [maioria] hoje,
    pelo menos no Brasil,
  • 8:51 - 8:53
    que é a amostra que a gente tem,
  • 8:53 - 8:55
    é de que as pessoas estão ficando melhor.
  • 8:55 - 8:57
    Da mesma forma a música.
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    Nós temos usado a música -
  • 9:00 - 9:01
    Música clássica,
  • 9:01 - 9:04
    não é rock pauleira, não é nada disso,
  • 9:04 - 9:10
    mas assim, músicas que possam
    contaminar a gente, dentro da gente.
  • 9:10 - 9:15
    E pensar: "Olha que coisa mais bonita,
    ouvir uma música nesse momento.
  • 9:15 - 9:17
    Isso significa que eu vou sair daqui.
  • 9:17 - 9:20
    Isso significa que eu vou
    viver dias melhores.
  • 9:20 - 9:24
    Isso significa que eu vou aprender
    com tudo que está me acontecendo".
  • 9:24 - 9:26
    Não é pensamento mágico,
  • 9:26 - 9:28
    não é isso que nós queremos
    transmitir pra ninguém.
  • 9:28 - 9:33
    O que nós queremos é fazer
    com que haja uma integração
  • 9:33 - 9:38
    dos sintomas das pessoas
    que são acometidas nesse caso,
  • 9:38 - 9:41
    por essa situação grave, dessa gripe,
  • 9:41 - 9:43
    com todas as suas particularidades,
  • 9:43 - 9:49
    ajudando-as a quem sabe fazer
    com que isso seja menos sofrido;
  • 9:50 - 9:54
    que seja uma forma de ultrapassar isso
  • 9:54 - 9:58
    como uma correnteza
    de um rio que vai passando
  • 9:58 - 10:00
    e aquilo vai passando.
  • 10:00 - 10:01
    Enfim.
  • 10:01 - 10:03
    Era isso que eu queria dividir com vocês.
Title:
Poesia e música para aliviar o isolamento social imposto pelo COVID-19 | Gisele Lobato | TEDxLaçador
Description:

A médica Gisele Lobato compartilha a experiência dela e demais colegas do serviço de medicina interna de um hospital particular de Porto Alegre, responsáveis por pacientes infectados pelo COVID-19, ao ajudar esses pacientes a passarem pelo isolamento social que essa pandemia exige. Gisele nos fala sobre os aspectos emocionais negativos ocasionados pelo isolamento, como ansiedade, tristeza, medo; e como a arte, através da poesia e da música, pode auxiliar a aliviar esse sofrimento.

Médica, internista, mestra e doutora em Ciências Médicas. Coordenadora da Educação Científica da Residência de Medicina Interna do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais, visite http://ted.com/tedx

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Video Language:
Portuguese, Brazilian
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
10:09

Portuguese, Brazilian subtitles

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