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(piano ao fundo)
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Steven: Normalmente, ao ver
um autorretrato,
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você vê um artista encarando a si mesmo
diretamente no espelho,
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mas em Autorretrato com a Morte
de Böcklin,
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ele parece não estar vendo
e sim escutando.
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Beth: A figura ameaçadora da morte
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está, não só, tocando o violino,
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mas parece estar sussurrando
algo em seu ouvido.
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Steven: Ele parece estático,
você pode ver claramente
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o crânio, com todos os dentes
parece estar sorrindo diabolicamente.
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Beth: Um sorriso largo, eu diria.
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Steven: Sim, ansioso e animado.
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Vemos as mão de ossos como garras
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que seguram o arco,
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e o violino está sendo tocado,
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mas apenas em uma única
corda remanscente,
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como se Böcklin estivesse
a um fio da morte.
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Parece tão..final.
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Beth: A Morte sabe que venceu aqui.
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Steven: A arte dura mais que
a vida do artista
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portanto existe algo
muito consciente sobre
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o ato de fazer uma obra de arte
e especialmente sobre
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fazer um autorretrato.
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Beth: A morte está presente em retratos,
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no geral, não apenas em autorretratos.
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Retratos podem fazer dos mortos, vivos.
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por isso, muitas vezes,
ao vermos retratos,
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temos a sensação de voltar ao tempo
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e ver alguém que viveu.
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Mas você está certo, é algo mais forte
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em autorretratos, especialmente
na maneira com que Böcklin
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desmoronou o espaço aqui.
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Steven: A personificação da morte,
o esqueleto,
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é tão íntima, tão próxima.
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Você disse "sussurrando na orelha dele",
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é quase como se Böcklin
onseguisse sentir seu hálito,
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se existisse tal coisa.
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Beth: O próprio artista está
próximo de nós.
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Sua palheta está metade no nosso espaço.
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Steven: Você vê a tinta bruta,
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uma representação de que
a tinta fez a si mesma,
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que fala sobre a mentira da pintura.
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Os materiais crus que criam essa pintura,
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se tornam presentes.
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Beth: Feitos honestos.
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Steven: Feitos honestos. Exatamente.
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Removendo os véus da vida,
véus da sociedade.
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A palheta e a retratação bruta da tinta
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é uma espécie de lembrança do essencial.
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Böcklin está nos mostrando
tanto a representação
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de carne e osso do artista,
do homem
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trajando as vestes de seu tempo,
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mas também nos mostra seu esqueleto,
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de certo modo, a essência
de quem ele se tornará.
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A pintura como um todo
é belamente manipulada
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para mostrar-nos a ilusão dessas figuras,
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mas também sobre o que está
sendo revelado.
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Beth: A ideia do homem retornando ao pó,
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da onde ele foi criado.
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É isso que me vem quando você
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falou sobre a materialidade da tinta.
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Steven: Ele está segurando
um pano sob seu dedão.
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Beth: Para limpar seu pincel.
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Steven: Para limpar seu pincel,
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mas da maneira com que vida no remove.
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Existe uma maneira maravilhosa em que
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o ato da pintura é ecoada
pela maneira com que
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a morte nos transforma.
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(piano ao fundo)
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Legendado por: Larissa Enohata