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O que as crianças podem ensinar-nos quanto a pedir ajuda

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    O que podemos aprender com as crianças
    sobre sermos pessoas melhores?
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    Elas são ferozmente leais aos seus amigos,
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    ligeiras a defender,
    rápidas a desculpar
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    e velozes a perdoar.
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    Mas como antiga professora
    de pré-escolar,
  • 0:12 - 0:15
    sempre professora
    de pré-escolar no coração,
  • 0:15 - 0:16
    quero partilhar com vocês
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    uma surpreendente lição que aprendi
    com elas sobre pedidos de ajuda.
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    Adoro os comportamentos humanos
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    — como agimos de maneiras diferentes
    em diferentes situações e ambientes —
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    e as crianças de cinco anos
    com as suas bochechas adoráveis,
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    uma altura perfeita
    para abraçarmos de manhã
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    e um amor quase competitivo
    por "dá cá mais cinco",
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    eram muito interessantes.
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    A minha primeira turma
    chamava-se turma de Marte.
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    Eu tinha 10 alunos,
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    e todos muito cheios de personalidade.
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    Mas havia uma criança,
    que nunca esquecerei.
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    Vamos chamar-lhe Sam.
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    Sam portava-se como se tivesse esquecido
    que só tinha cinco anos.
  • 0:49 - 0:50
    Era muito independente.
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    Não só sabia atar os atacadores,
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    mas também sabia atar
    os atacadores das outras crianças.
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    Nunca levou um termos
    sujo para casa,
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    porque lavava-o depois do almoço.
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    E se acontecia qualquer coisa
    e precisava de mudar de roupa,
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    fazia-o sozinho, com muito silêncio
    e discrição.
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    Raramente pedia ajuda,
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    mas era com ele que os colegas iam ter
    quando precisavam de ajuda,
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    ajuda em coisas do tipo:
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    "Podes ajudar-me a comer o "kimchi?
    Está muito picante."
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    Não gostava de demonstrar
    afeto pelos professores
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    e era visto como "a criança fixe".
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    Se lhe déssemos
    um abraço de bons dias,
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    ele revirava os olhos
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    e fazia caretas
    para mostrar seu desagrado,
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    mas também ficava ali à espera
    caso não ganhasse o seu abraço da manhã.
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    Era tão esperto e fiável
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    que até eu acabava por me esquecer
    que ele só tinha cinco anos.
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    Como professora novata,
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    passava muito tempo a observar
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    como as professoras mais experientes
    interagiam com os seus alunos.
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    E reparei numa coisa muito peculiar.
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    Geralmente, quando as crianças caem,
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    não começam a chorar de imediato.
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    Levantam-se, perplexas,
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    como se tentassem perceber
    o que foi que aconteceu.
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    "Será que é suficientemente sério
    para eu chorar?
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    "Será que dói? O que se está a passar?"
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    Normalmente, as crianças ficam bem
    até encontrarem um adulto,
  • 2:01 - 2:04
    alguém em quem confiam,
    e sabem que pode fazer algo por elas.
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    Os olhos encontram-se,
    e é então que rebentam em lágrimas.
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    Quando eu percebi isso,
    queria muito que isso me acontecesse,
  • 2:11 - 2:14
    porque, para mim, isso significava
    ter conquistado a confiança da criança
  • 2:14 - 2:17
    e provado que era capaz
    de ajudá-las em qualquer coisa.
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    Seria uma heroína para elas.
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    Passaram-se semanas e eu
    observava os outros professores
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    e as crianças a correrem
    para eles em lágrimas,
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    e observava com inveja.
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    Ah, como eu tinha inveja.
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    Quer dizer, eu não queria
    que as crianças caíssem,
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    mas desejava muito
    aquele momento de validação
  • 2:32 - 2:34
    de que tinha conquistado
    a confiança suficiente da criança
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    para ser eu quem a ajudasse.
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    Então, finalmente aconteceu.
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    Estava um dia lindo.
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    Foi durante o intervalo
    no recreio coberto.
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    As crianças brincavam
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    e eu estava a plastificar alguns materiais
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    — os professores estão sempre
    a plastificar qualquer coisa —
  • 2:48 - 2:50
    na sala dos professores.
  • 2:50 - 2:53
    Então ouvi uma criança gritar:
    "Professora, professora, o Sam caiu."
  • 2:54 - 2:55
    Então, fui espreitar,
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    procurei o Sam,
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    e lá estava ele, com um ar perplexo,
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    como se estive a tentar
    fazer contas de cabeça.
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    Então, ele olhou para mim,
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    Os nossos olhos encontraram-se,
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    e aconteceu.
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    Começou a fazer beicinho,
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    os olhinhos começaram
    a encher-se de lágrimas,
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    ele rebentou em lágrimas,
    e correu para mim.
  • 3:14 - 3:15
    Foi maravilhoso.
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    Nunca me esquecerei daquele momento.
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    Ele deixou-me abraçá-lo
    para o ajudar a acalmar-se.
  • 3:21 - 3:23
    Acontecera que tropeçara
    nos próprios pés,
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    não havia ninguém a repreender
    a não ser o chão.
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    Verificámos para ver
    se ele não se tinha magoado
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    e ele superou aquilo
    sem sequer um arranhão.
  • 3:31 - 3:33
    Estranhamente, naquele momento
  • 3:33 - 3:35
    não senti que estava ali
    para ajudar o Sam,
  • 3:35 - 3:37
    mas como se ele me tivesse dado
    um presente,
  • 3:37 - 3:39
    a oportunidade de o ajudar.
  • 3:40 - 3:43
    E é uma coisa tão estranha,
    que não consigo colocar em palavras.
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    Com a sua vulnerabilidade
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    ao virem ter comigo pedir ajuda,
    como se eu pudesse fazer qualquer coisa,
  • 3:48 - 3:50
    podem pensar que isso me dá poder
  • 3:50 - 3:53
    mas, naquele momento,
    foi exatamente o contrário,
  • 3:53 - 3:55
    o poder ainda pendeu mais para ele.
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    Pedirem-nos ajuda é um privilégio:
  • 3:58 - 4:01
    um presente para fazermos
    algo por alguém
  • 4:01 - 4:04
    especialmente quando estão
    num momento vulnerável.
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    Com tudo o que aprendi no pré-escolar,
  • 4:06 - 4:08
    ou em "ensinar" no pré-escolar,
  • 4:08 - 4:11
    eu consegui conquistar
    outras coisas na vida.
  • 4:11 - 4:12
    Nove anos depois,
  • 4:12 - 4:15
    acabei numa associação
    para gestores de projeto profissionais.
  • 4:15 - 4:18
    num cargo que lida
    extensamente com voluntários.
  • 4:18 - 4:21
    Trabalhar com voluntários
    é uma experiência maravilhosa
  • 4:21 - 4:25
    mas há coisas que eu gostaria
    que me tivessem avisado de antemão,
  • 4:25 - 4:27
    por exemplo, como estabelecer limites.
  • 4:27 - 4:29
    É muito fácil cair no mundo perturbador
  • 4:29 - 4:31
    de "porque eles são voluntários."
  • 4:31 - 4:33
    Chamadas altas horas da noite?
  • 4:33 - 4:36
    Sim, porque eles são voluntários
    e trabalham durante o dia.
  • 4:36 - 4:39
    Viagens de negócios que são
    quase sempre aos fins de semana?
  • 4:39 - 4:42
    Sim, porque eles são voluntários
    e trabalham durante o dia.
  • 4:42 - 4:44
    Não quero elogiar-me a mim mesma,
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    mas tornei-me muito boa
    no meu trabalho.
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    Estava a obter muito sucesso
    com as relações que construía.
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    Podia apreciar se tinha ganhado ou não
    a confiança de alguém
  • 4:53 - 4:55
    se vinham pedir-me ajuda.
  • 4:55 - 4:56
    Eu adorava isso.
  • 4:56 - 4:58
    Sempre que íamos
    em retiro no fim do ano
  • 4:58 - 5:00
    e dizíamos o que queríamos ser
    no ano seguinte,
  • 5:00 - 5:03
    as minhas palavras-chave eram sempre
    "ajuda" ou "prestável".
  • 5:03 - 5:06
    O problema era que eu
    não estava a ser apenas prestável.
  • 5:06 - 5:09
    Com o tempo, exerci cada vez mais
    pressão sobre mim mesma
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    para estar sempre ocupada
  • 5:10 - 5:12
    e para fazer sempre um bom trabalho.
  • 5:12 - 5:16
    O meu amor próprio acabou por se associar
    com o meu desempenho no trabalho,
  • 5:16 - 5:18
    o que é basicamente
    uma receita para o desastre.
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    Mas não se preocupem, porque eu tinha
    o melhor mecanismo de resposta,
  • 5:22 - 5:23
    que era a negação,
  • 5:23 - 5:25
    a distração com mais trabalho ainda,
  • 5:25 - 5:26
    e o álcool,
  • 5:26 - 5:28
    em grande quantidade.
  • 5:28 - 5:30
    Eu estava tão ocupada
    a ser prestável e independente
  • 5:30 - 5:32
    e a ser um Sam crescido
  • 5:32 - 5:34
    que me esqueci de pedir ajuda
    quando precisava de ajuda.
  • 5:35 - 5:36
    Eu só precisava de pedir,
  • 5:36 - 5:39
    e, se eu acreditava que pedir
    ajuda era como dar um presente,
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    então eu devia fazer isso
    mais vezes, não é?
  • 5:42 - 5:44
    Mas nem sempre praticamos
    aquilo que pregamos.
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    Há uns dois anos, fui brutalmente
    chamada à realidade.
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    Dizer que eu estava esgotada
    naquela época, é um eufemismo
  • 5:51 - 5:53
    mas, graças ao meu mecanismo
    de resposta, o álcool,
  • 5:53 - 5:56
    parecia que me estava
    a divertir muito.
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    Mas um dia,
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    tal como Sam no recreio,
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    tropecei nos meus próprios pés.
  • 6:02 - 6:03
    Perdi a consciência
  • 6:03 - 6:07
    e acordei com um enorme corte no pé
    por pedaços de vidro quebrado
  • 6:07 - 6:08
    os olhos inchados de chorar
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    e uma voz muito rouca
    por, provavelmente, ter chorado muito.
  • 6:12 - 6:15
    Não tenho grande lembrança
    do que aconteceu,
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    mas lembro-me de me sentir
    frustrada, triste e com medo.
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    Vocês só me conhecem há uns 10 minutos
  • 6:21 - 6:24
    mas, provavelmente, adivinham
    que isso não combinava comigo.
  • 6:24 - 6:27
    Quando recuperei a consciência
    quanto ao que havia acontecido,
  • 6:27 - 6:28
    fiquei em choque.
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    Não havia outro modo de dizer
    senão que eu precisava de ajuda,
  • 6:31 - 6:34
    tanto no sentido de que eu precisava
    de ajuda terapêutica,
  • 6:34 - 6:37
    mas também ajuda
    para conseguir sair daquela situação.
  • 6:37 - 6:39
    Foi um dos momentos
    mais baixos da minha vida
  • 6:39 - 6:41
    e, mesmo naquele momento,
  • 6:41 - 6:44
    o meu espírito estava a alta velocidade
    no modo de resolução de problemas.
  • 6:44 - 6:46
    O que é que eu faço quanto a isto?
  • 6:46 - 6:49
    Se eu não consertar isto,
    vou ser uma frustração ainda maior.
  • 6:49 - 6:52
    Se eu não resolver isso,
    sou um fracasso ainda maior.
  • 6:52 - 6:55
    Eram essas coisas
    que se agitavam no meu espírito
  • 6:55 - 6:58
    e nem sequer me ocorreu
    que podia pedir ajuda.
  • 6:58 - 7:00
    Eu estava cercada por muitas pessoas
  • 7:00 - 7:02
    que se preocupavam comigo
    e queriam ajudar,
  • 7:02 - 7:04
    só que eu não conseguia vê-las.
  • 7:05 - 7:09
    Até que finalmente, um grande amigo meu
    teve que me segurar pelos ombros
  • 7:10 - 7:12
    e forçar-me a pedir ajuda.
  • 7:12 - 7:14
    "Vais conseguir sozinha?"
  • 7:14 - 7:15
    "Não."
  • 7:15 - 7:16
    "Precisas de ajuda?"
  • 7:17 - 7:18
    "Preciso."
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    "Posso ajudar-te?"
  • 7:20 - 7:21
    "Podes."
  • 7:21 - 7:23
    "Posso chamar mais pessoas
    que também te amam
  • 7:23 - 7:25
    "e se preocupam contigo,
    para te ajudar?"
  • 7:25 - 7:26
    "Podes."
  • 7:26 - 7:29
    Aquela foi a minha versão de adulta
    a encarar o meu professor.
  • 7:29 - 7:31
    Desse modo, logo que eu disse:
  • 7:31 - 7:33
    "Sim, podes ajudar-me",
  • 7:33 - 7:34
    eu senti uma ponta de esperança
  • 7:34 - 7:36
    e recuperei um certo controlo.
  • 7:36 - 7:38
    Se pensarmos nisso,
  • 7:38 - 7:40
    é muito estranho passarmos
    toda a nossa infância
  • 7:40 - 7:42
    a sermos tão bons a pedir ajuda
  • 7:42 - 7:45
    e espera-se que cresçamos e nos tornemos
    seres humanos tão independentes
  • 7:45 - 7:47
    e nos tornamos tão bons nisso
  • 7:47 - 7:50
    que é preciso lembrarem-nos
    que é OK pedir ajuda,
  • 7:50 - 7:53
    Mais tarde, aquele momento ajudou-me
    a perceber muitas coisas.
  • 7:54 - 7:56
    Continuo feliz a ajudar
    outras pessoas e adoro fazer isso.
  • 7:56 - 7:59
    Porque é que as outras pessoas
    não me haviam de ajudar?
  • 7:59 - 8:00
    E mais importante,
  • 8:00 - 8:02
    porque é que eu não havia de querer
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    que os outros sentissem a felicidade
  • 8:04 - 8:06
    que sentimos ao ajudar
    os Sams deste mundo?
  • 8:06 - 8:08
    Todos nós queremos ser
    os melhores Sams na vida:
  • 8:08 - 8:11
    sermos fortes, independentes,
    e autossuficientes,
  • 8:11 - 8:13
    mas nós nem sempre temos de ser assim.
  • 8:13 - 8:16
    Então vamos começar
    a pedir ajuda mais vezes,
  • 8:16 - 8:19
    porque ajudar Sams
    é um privilégio e é um presente.
  • 8:20 - 8:21
    Obrigada.
Title:
O que as crianças podem ensinar-nos quanto a pedir ajuda
Speaker:
YeYoon Kim
Description:

Precisam de ajuda? É OK pedir ajuda, diz YeYoon Kim, antiga professora de pré-escolar que aprendeu com os seus alunos que procurar apoio pode ser um ato de poder e coragem. Ao partilhar a história de um dos períodos mais difíceis da sua vida, Kim explora a felicidade e alegria que podem resultar de nos apoiarmos em quem amamos nos momentos de necessidade — e incentiva-nos a começar a pedir ajuda mais frequentemente.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
08:34

Portuguese subtitles

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