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Casas criativas feitas de material recuperado

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    Muito obrigado.
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    Tenho algumas fotografias,
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    e vou falar um pouco
    sobre como sou capaz
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    de fazer aquilo que faço.
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    Todas estas casas foram construídas
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    com cerca de 70 a 80%
    de material reciclado,
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    coisas que estavam destinadas
    à trituradora, ao aterro, à fogueira.
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    Estava tudo perdido.
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    Esta foi a primeira casa que construí.
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    Esta porta da frente dupla envidraçada
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    estava destinada ao aterro.
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    Tem ali um pequeno torreão.
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    E aqueles botões nas mísulas ali,
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    mesmo ali,
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    são cascas de noz.
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    Estes botões aqui,
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    são ovos de galinha.
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    É claro que primeiro,
    tomamos o pequeno-almoço,
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    depois enchemos a casca com betume,
    pintamos e aplicamos,
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    e temos um botão arquitetónico
    em pouquíssimo tempo.
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    Isto é o aspeto do interior.
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    Vemos ali a porta envidraçada
    com as vidraças em arco
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    certamente uma antiguidade arquitetónica,
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    destinada ao aterro.
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    Até a fechadura pode valer
    cerca de 200 dólares.
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    Tudo o que está na cozinha foi recuperado.
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    Temos um fogão O'Keefe & Merritt de 1952,
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    se gostam de cozinhar — é um fogão fixe.
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    Isto é a subida para o torreão.
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    Arranjei aquela escada por 20 dólares,
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    incluindo a entrega no terreno.
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    (Risos)
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    Ao olharmos para cima, dentro do torreão,
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    vemos que há saliências, protuberâncias
    e rugosidades, etc.
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    Se isso vos estraga a vida,
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    é melhor não viverem ali.
  • 1:34 - 1:36
    (Risos)
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    Esta é a conduta para a roupa suja,
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    e isto aqui é uma forma para sapatos.
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    É uma daquelas coisas de ferro fundido
    que há em lojas de antiguidades.
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    Eu tinha uma coisa daquelas.
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    Fiz aqui uma engenhoca low-tech.
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    Basta pressionar a forma de sapatos,
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    a tampa abre-se e atiramos
    a roupa lá para dentro.
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    Se forem espertos, a roupa cai num cesto
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    em cima da máquina de lavar.
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    Caso contrário, cai na sanita.
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    (Risos)
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    Esta é uma banheira que fiz,
  • 2:02 - 2:05
    com sucata, 2 por 4.
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    Comecei pelo rebordo
    depois colei e fixei-o na parte lisa,
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    fiz a parte curvada e virei,
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    e depois fiz os dois perfis deste lado.
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    É uma banheira para dois.
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    Afinal, não é só uma questão de higiene,
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    também há a possibilidade de lazer.
  • 2:20 - 2:22
    (Risos)
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    Esta torneira aqui
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    é um bocado de madeira Osage Orange.
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    Tem um aspeto um pouco fálico,
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    mas afinal de contas, é uma casa-de-banho.
  • 2:32 - 2:34
    (Risos)
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    Esta casa é inspirada
    na lata da Budweiser.
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    Não parece uma lata de cerveja,
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    mas os pormenores de design
    são absolutamente inconfundíveis.
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    O padrão "barley hops" vai até ao beiral,
  • 2:43 - 2:45
    o trabalho denticulado vem diretamente
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    do vermelho, branco,
    azul e prateado das latas.
  • 2:47 - 2:49
    E estas mísulas por baixo do beiral
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    são as pequenas tampas
    que se tiram da lata.
  • 2:52 - 2:53
    Coloquei uma lata na copiadora
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    e aumentei até obter o tamanho que queria.
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    Na lata diz,
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    "Esta é a famosa cerveja Budweiser,
    não há outra cerveja, blá, blá, blá,"
  • 3:02 - 3:05
    Então mudámos isso e escrevemos
    " Esta é a famosa casa Budweiser.
  • 3:05 - 3:08
    "Não há outra casa," etc.
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    Isto é um lingueta de um torno de 1930,
  • 3:11 - 3:14
    que é uma máquina muito agressiva,
    de trabalhar a madeira.
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    Deram-me a lingueta,
    mas não me deram o torno,
  • 3:16 - 3:18
    por isso fizemos dela uma fechadura.
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    Garanto que não deixa entrar elefantes.
  • 3:21 - 3:23
    Claro que nunca tivemos problemas
    com elefantes.
  • 3:23 - 3:25
    (Risos)
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    O chuveiro foi feito de maneira
    a imitar um copo de cerveja.
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    Temos bolhas a subir e no topo
    camadas salientes de azulejos irregulares.
  • 3:32 - 3:34
    Onde é que há azulejos irregulares?
    Não existem, claro.
  • 3:34 - 3:38
    Mas arranjo muitas sanitas
    e depois é só parti-las com um martelo.
  • 3:38 - 3:40
    Fico com azulejos irregulares.
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    Esta torneira
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    é uma torneira de cerveja.
  • 3:44 - 3:46
    (Risos)
  • 3:46 - 3:50
    E este painel de vidro
    é o mesmo painel de vidro
  • 3:50 - 3:54
    que existe em todas as portas da frente
    da classe média nos EUA.
  • 3:54 - 3:56
    Estamos a ficar fartos disso,
    tornou-se um cliché.
  • 3:56 - 3:59
    Então se o colocamos
    na porta da frente, o design falha.
  • 3:59 - 4:02
    Então coloquem-no noutro sítio qualquer.
  • 4:02 - 4:03
    É um painel de vidro bonito.
  • 4:03 - 4:06
    Mas se o puserem na porta,
    as pessoas dizem:
  • 4:06 - 4:09
    "Estás a tentar ser como aqueles indivíduos
    e não conseguiste".
  • 4:09 - 4:11
    Então não o ponham ali.
  • 4:11 - 4:13
    Aqui, outra casa de banho no piso de cima.
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    Esta luz aqui em cima é a mesma
    que há em qualquer hall de entrada
  • 4:17 - 4:18
    da classe média norte-americana.
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    Então não a coloquem no hall de entrada.
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    Ponham-na no chuveiro, ou no roupeiro,
  • 4:23 - 4:25
    mas não no hall de entrada.
  • 4:25 - 4:29
    Houve alguém que me deu um bidé,
    por isso fiquei com um bidé.
  • 4:29 - 4:31
    (Risos)
  • 4:32 - 4:33
    Nesta casinha aqui,
  • 4:33 - 4:37
    os ramos são feitos de madeira
    Bois D'Arc ou Osage Orange,
  • 4:37 - 4:39
    e estas imagens vão continuar a passar
  • 4:39 - 4:40
    enquanto eu falo um pouco.
  • 4:40 - 4:43
    Para fazer o que eu faço,
  • 4:43 - 4:46
    vocês tem de perceber o que é que causa
    desperdício na indústria da construção
  • 4:46 - 4:49
    A habitação tornou-se uma mercadoria,
  • 4:49 - 4:51
    e vou falar um pouco sobre isso.
  • 4:51 - 4:54
    Mas a primeira causa do desperdício
    está talvez enraizada no nosso ADN.
  • 4:54 - 4:58
    Os seres humanos têm necessidade
    de manter consistência da massa percetiva.
  • 4:58 - 5:00
    O que é que isso significa?
  • 5:00 - 5:02
    Significa que cada perceção que temos,
  • 5:02 - 5:05
    tem que coincidir com uma anterior
    que fosse parecida
  • 5:05 - 5:08
    ou não temos continuidade
    e ficamos um pouco desorientados.
  • 5:08 - 5:11
    Posso mostrar-vos um objeto
    que nunca viram antes.
  • 5:11 - 5:13
    Oh, é um telemóvel.
  • 5:13 - 5:15
    Mas nunca viram este.
  • 5:16 - 5:18
    O que estão a fazer aqui
  • 5:18 - 5:21
    é redimensionar o padrão
    das caraterísticas estruturais,
  • 5:21 - 5:24
    e depois vão à vossa base de dados
    — brrr, telemóvel.
  • 5:24 - 5:26
    Oh, é um telemóvel.
  • 5:26 - 5:28
    Se eu retirar um bocado à dentada
    vocês diriam:
  • 5:28 - 5:32
    "Espera aí, isso não é um telemóvel.
  • 5:32 - 5:35
    "É um daqueles novos
    telemóveis de chocolate".
  • 5:35 - 5:36
    (Risos)
  • 5:36 - 5:38
    E teriam de criar uma nova categoria,
  • 5:38 - 5:40
    entre telemóveis e chocolate.
  • 5:41 - 5:44
    É assim que processamos as informações.
  • 5:44 - 5:46
    Traduzindo isso
    para a indústria da construção,
  • 5:46 - 5:49
    se tivermos uma parede de painéis
    de vidro e um estiver rachado, ficamos:
  • 5:49 - 5:51
    "Oh. Está rachado. Vamos repará-lo.
  • 5:51 - 5:54
    "Vamos deitá-lo fora e colocar um novo".
  • 5:54 - 5:56
    Porque é isso que se faz
    com um painel rachado.
  • 5:56 - 6:00
    Não se preocupem, isso não afeta
    em nada a nossa vida,
  • 6:00 - 6:02
    apenas desconcerta o padrão esperado
  • 6:02 - 6:05
    e a unidade
    das características estruturais.
  • 6:05 - 6:07
    Contudo, se pegarmos num martelo,
  • 6:07 - 6:10
    e acrescentarmos pequenas rachadelas
    em todas as janelas,
  • 6:10 - 6:12
    ficamos com um padrão.
  • 6:12 - 6:16
    Porque a Psicologia Gestalt enfatiza
    o reconhecimento do padrão
  • 6:16 - 6:18
    em detrimento das partes
    que incluem o padrão.
  • 6:18 - 6:20
    E nós dizemos: "Oh, é giro".
  • 6:20 - 6:22
    Então, isso serve-me todos os dias.
  • 6:22 - 6:24
    A repetição cria o padrão.
  • 6:24 - 6:26
    Se eu tiver cem destes, cem daqueles,
  • 6:26 - 6:28
    tanto faz estes como aqueles.
  • 6:28 - 6:31
    Se posso repetir qualquer coisa,
    tenho a possibilidade de um padrão,
  • 6:31 - 6:35
    desde cascas de noz e ovos de galinha,
    pedaços de vidro, ramos.
  • 6:35 - 6:36
    Não faz qualquer diferença.
  • 6:36 - 6:39
    Isso causa muito desperdício
    na indústria da construção.
  • 6:39 - 6:41
    Friedrich Nietzsche, por volta de 1885
  • 6:41 - 6:44
    escreveu um livro intitulado
    "O Nascimento da Tragédia".
  • 6:44 - 6:48
    E nele dizia que as culturas tendem
    a oscilar entre duas perspetivas.
  • 6:48 - 6:52
    Por um lado, temos a perspetiva apoloniana,
  • 6:52 - 6:55
    que é muito bem definida,
    premeditada, intelectualizada
  • 6:56 - 6:58
    e perfeita.
  • 6:58 - 7:02
    Por outro lado,
    temos a perspetiva dionisíaca,
  • 7:02 - 7:04
    que é mais dada às paixões e à intuição,
  • 7:04 - 7:07
    tolerante à textura orgânica
    e ao gesto humano.
  • 7:07 - 7:11
    Então, a maneira como a personalidade
    apoloniana tira uma fotografia,
  • 7:11 - 7:13
    ou pendura uma fotografia,
  • 7:13 - 7:17
    é que vai utilizar um nível a laser
    e um micrómetro.
  • 7:17 - 7:20
    "Ok, querido. Um milésimo
    de centímetro para a esquerda.
  • 7:20 - 7:22
    "É aí que quero a fotografia. Perfeito!"
  • 7:22 - 7:25
    Assente em fio-de-prumo,
    enquadrada e centrada.
  • 7:25 - 7:29
    A personalidade dionisíaca
    tira uma fotografia e...
  • 7:30 - 7:32
    (Risos)
  • 7:34 - 7:36
    A diferença é essa.
  • 7:36 - 7:38
    Eu coloco o defeito em destaque.
  • 7:38 - 7:41
    Eu coloco em destaque o processo orgânico.
  • 7:41 - 7:43
    O ponto fulcral de John Dewey.
  • 7:43 - 7:46
    O modo de pensar apoloniano
    gera montanhas de desperdício.
  • 7:46 - 7:48
    Se algo não é perfeito,
  • 7:48 - 7:51
    se não está alinhado
    com o tal modelo premeditado... lixeira.
  • 7:51 - 7:52
    "Ops, está riscado? Lixeira.
  • 7:52 - 7:55
    "Ops" isto, "ops" aquilo.
    Aterro. Aterro. Aterro."
  • 7:55 - 7:59
    A terceira coisa é discutível.
  • 7:59 - 8:01
    A Revolução Industrial começou
    durante o Renascimento
  • 8:01 - 8:03
    com a ascensão do Humanismo,
  • 8:03 - 8:06
    teve um pequeno desenvolvimento
    durante a Revolução Francesa.
  • 8:06 - 8:08
    Por volta do século XIX,
    estava no auge.
  • 8:08 - 8:11
    Temos aparelhos e engenhocas
  • 8:11 - 8:14
    que fazem tudo aquilo
  • 8:14 - 8:16
    que nós, até essa altura,
  • 8:16 - 8:17
    tínhamos de fazer à mão.
  • 8:17 - 8:21
    Então agora nós estandardizámos
    os materiais.
  • 8:21 - 8:23
    As árvores não crescem
    em peças de 2 cm x 4 cm
  • 8:23 - 8:25
    até oito, dez e doze metros de altura.
  • 8:25 - 8:27
    Nós criamos montanhas de desperdício.
  • 8:27 - 8:31
    E eles estão a fazer
    um bom trabalho na floresta,
  • 8:31 - 8:33
    a trabalhar com o subproduto da indústria,
  • 8:33 - 8:36
    com madeira prensada
    e contraplacado, etc.
  • 8:36 - 8:38
    Mas não vale a pena
  • 8:38 - 8:41
    ser responsável na altura
    da colheita na floresta
  • 8:41 - 8:44
    se os consumidores desperdiçam
    a colheita na altura de consumir,
  • 8:44 - 8:46
    e é isso que está a acontecer.
  • 8:46 - 8:48
    Se alguma coisa não está estandardizada,
  • 8:48 - 8:50
    "Ops, lixeira." "Ops" isto. "Ops, torto."
  • 8:50 - 8:54
    Se comprarem um taco 2x4
    e não estiver direito, podem devolvê-lo.
  • 8:54 - 8:57
    "Ah, desculpe.
    Vamos arranjar-lhe um direito."
  • 8:57 - 9:00
    Eu coloco em destaque
    todas essas coisas tortas,
  • 9:00 - 9:02
    porque a repetição cria um padrão,
  • 9:02 - 9:04
    e é de uma perspetiva dionisíaca.
  • 9:04 - 9:06
    A quarta coisa é que o trabalho
  • 9:06 - 9:09
    é desproporcionalmente mais caro
    do que os materiais.
  • 9:09 - 9:10
    Isso é só um mito.
  • 9:10 - 9:14
    Mais uma história: eu disse
    a Jim Tulles, um dos homens que ensinei:
  • 9:14 - 9:15
    "Jim, está na altura.
  • 9:15 - 9:18
    Tenho um trabalho para ti como capataz
    de uma equipa de madeiramento"
  • 9:18 - 9:21
    "Dan, eu acho que ainda não estou pronto."
  • 9:21 - 9:23
    "Jim, está na altura. És o homem certo."
  • 9:23 - 9:25
    Então, ele foi contratado.
  • 9:25 - 9:27
    E lá estava ele, com a sua fita métrica
  • 9:27 - 9:29
    a remexer no monte de lixo,
    à procura de material
  • 9:29 - 9:33
    para a placa por cima da porta,
    a pensar que ia impressionar o chefe.
  • 9:33 - 9:34
    Era o que lhe tínhamos ensinado.
  • 9:34 - 9:37
    O empreiteiro disse:
    "O que é que estás a fazer?"
  • 9:37 - 9:39
    "Estou só à procura de algum material."
  • 9:39 - 9:41
    à espera daquele momento de glória.
  • 9:41 - 9:44
    E ele: "Não te pago para andares
    a remexer no lixo. Volta ao trabalho."
  • 9:44 - 9:46
    E ele teve a coragem para dizer:
  • 9:46 - 9:49
    "Sabe, se me estivesse a pagar
    300 dólares à hora
  • 9:49 - 9:51
    "até compreendia que dissesse isso,
  • 9:51 - 9:54
    "mas neste momento,
    estou a poupar-lhe 5 dólares por minuto.
  • 9:54 - 9:56
    "Faça as contas."
  • 9:56 - 9:58
    (Risos)
  • 9:58 - 10:02
    "Bem visto, Tulles. A partir de agora,
    vocês verificam este monte primeiro."
  • 10:02 - 10:05
    A ironia é que ele nem era
    muito bom em matemática.
  • 10:05 - 10:07
    (Risos)
  • 10:07 - 10:10
    Mas, de vez em quando
    temos acesso à sala de controlo,
  • 10:10 - 10:13
    e nessa altura podemos
    armar confusão nos mostradores.
  • 10:13 - 10:14
    Foi o que aconteceu.
  • 10:14 - 10:17
    A quinta coisa é que
    talvez ao fim de 2500 anos,
  • 10:17 - 10:20
    Platão ainda nos leva a melhor
    com a sua ideia de formas perfeitas.
  • 10:20 - 10:22
    Ele disse que temos na nossa mente
  • 10:22 - 10:24
    a ideia perfeita daquilo que queremos,
  • 10:24 - 10:27
    e forçamos os recursos naturais
    a corresponder a isso.
  • 10:27 - 10:30
    Então, todos temos na nossa cabeça
    a casa perfeita,
  • 10:30 - 10:32
    o "sonho americano", que é uma casa,
  • 10:32 - 10:34
    uma casa de sonho.
  • 10:34 - 10:35
    O problema é que não podemos pagá-la.
  • 10:35 - 10:38
    Então temos algo parecido
    com o "sonho americano",
  • 10:38 - 10:39
    que é uma casa móvel.
  • 10:39 - 10:42
    Agora há um flagelo no nosso planeta.
  • 10:43 - 10:44
    É a hipoteca,
  • 10:44 - 10:46
    tal como a mobília, tal como um carro.
  • 10:46 - 10:50
    Vocês assinam o cheque, e imediatamente
    a casa desvaloriza 30%.
  • 10:50 - 10:53
    Um ano depois, só conseguem fazer
    um seguro a 70% do que têm lá dentro,
  • 10:54 - 10:56
    Normalmente, com cabos de bitola 14.
  • 10:56 - 10:57
    Não há nada de errado nisso,
  • 10:57 - 11:00
    a menos que queiram que ele
    faça o mesmo que um de bitola 12.
  • 11:01 - 11:03
    Liberta tanto formaldeído
  • 11:03 - 11:07
    que há uma lei federal em vigor
  • 11:07 - 11:09
    para avisar novos compradores
    de casas móveis
  • 11:09 - 11:11
    do perigo da atmosfera de formaldeído.
  • 11:11 - 11:13
    Estamos a ser puramente estúpidos?
  • 11:13 - 11:15
    As paredes são desta espessura.
  • 11:15 - 11:18
    A casa toda tem
    o valor estrutural do milho.
  • 11:18 - 11:20
    (Risos)
  • 11:20 - 11:23
    "Pensava que a aldeia
    de Palm Harbor era ali."
  • 11:23 - 11:25
    "Não, não. Houve vento a noite passada.
  • 11:25 - 11:26
    "Desapareceu."
  • 11:27 - 11:29
    (Risos)
  • 11:29 - 11:32
    E quando se degradam,
    o que é que fazemos com elas?
  • 11:32 - 11:34
    Agora, tudo isso,
  • 11:34 - 11:37
    é nesse modelo apoloniano, platónico,
  • 11:37 - 11:40
    que a indústria da construção
    está assente,
  • 11:40 - 11:43
    e há certas coisas que a tornam pior.
  • 11:43 - 11:45
    Uma é que todos os profissionais,
  • 11:45 - 11:47
    todos os comerciantes, vendedores,
  • 11:47 - 11:49
    inspetores, engenheiros, arquitetos
  • 11:49 - 11:51
    todos pensam assim.
  • 11:51 - 11:54
    E depois isso chega até ao consumidor,
  • 11:54 - 11:55
    que exige o mesmo modelo.
  • 11:55 - 11:58
    É uma profecia que se autoconcretiza.
    Não podemos escapar-lhe.
  • 11:58 - 12:01
    Depois aparecem os técnicos
    de marketing e os publicitários.
  • 12:01 - 12:03
    "Huh. Huh."
  • 12:03 - 12:06
    Compramos coisas
    que não sabíamos que precisávamos.
  • 12:06 - 12:09
    Basta olharmos para o que uma empresa fez
  • 12:09 - 12:11
    com sumo de ameixa gaseificado.
  • 12:11 - 12:13
    Que nojento!
  • 12:13 - 12:14
    (Risos)
  • 12:14 - 12:16
    Sabem o que é que eles fizeram?
  • 12:16 - 12:19
    Acrescentaram uma metáfora
    e disseram: "Eu bebo Dr. Pepper..."
  • 12:19 - 12:21
    Pouco tempo depois,
    estávamos a encher-nos disso,
  • 12:21 - 12:24
    aos milhões de litros.
  • 12:24 - 12:27
    Nem sequer leva ameixas verdadeiras.
    Nem sequer o mantêm normal.
  • 12:27 - 12:28
    (Risos)
  • 12:28 - 12:30
    Oh, oh, isso torna-o pior.
  • 12:30 - 12:33
    Ficamos apanhados nisso
    mais depressa do que esperávamos.
  • 12:33 - 12:36
    Jean-Paul Sartre
    escreveu um livro
  • 12:36 - 12:38
    intitulado "O Ser e o Nada"
  • 12:38 - 12:39
    É de leitura rápida.
  • 12:39 - 12:42
    Podemos terminá-lo talvez em dois anos,
  • 12:42 - 12:45
    se lermos oito horas por dia.
  • 12:45 - 12:47
    Nesse livro falou sobre o ser dividido.
  • 12:47 - 12:50
    Disse que o ser humano,
    quando está sozinho,
  • 12:50 - 12:53
    age de modo diferente do que
    quando sabe que há alguém por perto.
  • 12:53 - 12:55
    Se estou a comer esparguete
    e sei que estou sozinho,
  • 12:55 - 12:57
    posso comer como uma escavadora,
  • 12:57 - 13:00
    posso limpar a mão à manga,
  • 13:00 - 13:03
    mastigar com a boca aberta,
    fazer pequenos barulhos,
  • 13:03 - 13:06
    coçar onde me apetecer.
  • 13:06 - 13:07
    (Risos)
  • 13:07 - 13:09
    Mas assim que vocês entram, eu fico:
  • 13:09 - 13:11
    "Oh. Tenho aqui molho de esparguete."
  • 13:11 - 13:13
    Guardanapo no colo, pequenas dentadas,
  • 13:13 - 13:15
    mastigo com a boca fechada,
    nada de me coçar.
  • 13:15 - 13:18
    O que estou a fazer neste momento
  • 13:18 - 13:20
    é corresponder às vossas expetativas
  • 13:20 - 13:23
    de como devo viver a minha vida.
  • 13:23 - 13:27
    Sinto essa expetativa,
    e acomodo-me a ela,
  • 13:27 - 13:30
    e vivo a minha vida de acordo
    com o que esperam que eu faça.
  • 13:30 - 13:33
    Isto também acontece
    na indústria da construção.
  • 13:33 - 13:36
    É por isso que as nossas divisões
    parecem todas iguais.
  • 13:36 - 13:40
    Às vezes, ainda temos as tais expetativas
    culturais formalizadas.
  • 13:40 - 13:42
    Aposto que todos
    os vossos sapatos combinam.
  • 13:42 - 13:44
    De certeza, todos caímos nisso,
  • 13:44 - 13:47
    e em comunidades fechadas,
  • 13:47 - 13:50
    temos uma expetativa formalizada
  • 13:50 - 13:52
    de uma associação de donos de casas.
  • 13:52 - 13:54
    Às vezes esses tipos são nazis,
  • 13:54 - 13:55
    Oh! oh!
  • 13:56 - 13:59
    Isso estimula e continua este modelo.
  • 14:00 - 14:02
    A última coisa é a socialização.
  • 14:02 - 14:04
    Os seres humanos são uma espécie social.
  • 14:04 - 14:06
    Gostamos de andar em grupos,
  • 14:06 - 14:09
    como os gnus, como os leões.
  • 14:09 - 14:12
    Os gnus não andam com leões
    porque os leões comem gnus.
  • 14:12 - 14:14
    Os seres humanos são assim.
  • 14:14 - 14:16
    Fazemos o que faz o grupo
  • 14:16 - 14:19
    com quem estamos
    a tentar identificarmo-nos.
  • 14:19 - 14:21
    Vemos muito isso na escola preparatória.
  • 14:21 - 14:25
    Aqueles miúdos trabalham o verão todo,
  • 14:25 - 14:26
    matam-se,
  • 14:26 - 14:30
    para conseguirem comprar
    um par de calças de ganga de marca.
  • 14:30 - 14:32
    Para que, em setembro,
  • 14:32 - 14:34
    possam entrar e dizer:
  • 14:34 - 14:36
    "Hoje sou importante.
  • 14:36 - 14:39
    "Vês? Olha, não toques
    nos meus jeans de marca.
  • 14:39 - 14:41
    "Estou a ver que não tens jeans de marca.
  • 14:41 - 14:43
    "Não és um dos bonitos.
  • 14:43 - 14:46
    "Vês? Eu sou dos bonitos.
    Vês os meus jeans?"
  • 14:46 - 14:49
    Logo aí, já é razão suficiente
    para haver uniformes.
  • 14:49 - 14:52
    E isso também acontece
    na indústria da construção.
  • 14:52 - 14:55
    Confundimos um pouco
  • 14:55 - 14:58
    a pirâmide das necessidades de Maslow.
  • 14:58 - 15:00
    Na camada de baixo
  • 15:00 - 15:02
    temos as necessidades básicas
  • 15:02 - 15:05
    — abrigo, roupa, comida, água,
    acasalamento etc.
  • 15:05 - 15:08
    Em segundo lugar, a segurança.
    Em terceiro, as relações.
  • 15:08 - 15:11
    Em quarto, o estatuto, a autoestima
    — ou seja, a vaidade.
  • 15:11 - 15:14
    E estamos a pegar na vaidade
    e a colocá-la aqui em baixo.
  • 15:15 - 15:19
    E assim acabamos
    por tomar decisões vãs
  • 15:19 - 15:22
    e nem sequer conseguimos pagar a hipoteca.
  • 15:22 - 15:25
    Só temos dinheiro para comer feijões.
  • 15:25 - 15:28
    Isto é, as nossas casas
    tornaram-se uma mercadoria.
  • 15:29 - 15:32
    É preciso ter um pouco de coragem
  • 15:32 - 15:37
    para chegar ao fundo dessa parte
    primária e assustadora de nós mesmos
  • 15:37 - 15:40
    e tomar as nossas próprias decisões.
  • 15:40 - 15:43
    Não transformar a casa numa mercadoria,
  • 15:43 - 15:46
    mas fazê-lo a partir de algo
    que vem de dentro, das fontes seminais.
  • 15:46 - 15:48
    Para isso é preciso coragem,
  • 15:48 - 15:50
    e, caramba, de vez em quando falhamos.
  • 15:51 - 15:52
    Mas não faz mal.
  • 15:52 - 15:54
    Se o falhanço vos destrói,
  • 15:54 - 15:56
    não podem fazer isto.
  • 15:56 - 15:59
    Eu falho a toda a hora, todos os dias.
  • 15:59 - 16:02
    Já tive alguns falhanços enormes, juro,
  • 16:02 - 16:04
    foram falhanços grandes, em público,
  • 16:04 - 16:06
    humilhantes e embaraçosos.
  • 16:06 - 16:08
    Toda a gente aponta e ri e diz:
  • 16:08 - 16:10
    "Ele tentou pela quinta vez
    e mesmo assim não resultou.
  • 16:10 - 16:11
    "Que idiota!"
  • 16:11 - 16:14
    Logo de início, os empreiteiros disseram:
  • 16:14 - 16:15
    "Dan, és um coelhinho bonito,
  • 16:15 - 16:18
    "mas sabes, isto não vai resultar.
  • 16:18 - 16:21
    "Porque é que não fazes isto,
    porque é que não fazes aquilo?"
  • 16:21 - 16:22
    O nosso instinto é dizer:
  • 16:22 - 16:25
    "Vai pregar a outra freguesia".
  • 16:25 - 16:27
    Mas não o dizemos,
  • 16:27 - 16:30
    porque eles são os tipos
    a quem queremos chegar.
  • 16:30 - 16:32
    Então, o que fizemos?
  • 16:33 - 16:35
    Isto não acontece só com as casas.
  • 16:35 - 16:37
    Acontece com a roupa, a comida
  • 16:37 - 16:40
    e as nossas necessidades
    de transporte, de energia.
  • 16:40 - 16:42
    Espalhamo-nos só um pouco.
  • 16:42 - 16:46
    Quando recebo um pouco
    de atenção da imprensa,
  • 16:46 - 16:48
    sou contactado
    por pessoas de todo o mundo.
  • 16:48 - 16:51
    Nós podemos ter inventado o excesso,
  • 16:51 - 16:54
    mas o problema do desperdício é mundial.
  • 16:56 - 16:58
    Estamos em apuros.
  • 16:58 - 17:01
    E não estou a usar
    cintos cruzados no peito
  • 17:01 - 17:03
    nem um lenço vermelho,
  • 17:03 - 17:06
    mas estamos claramente em apuros.
  • 17:06 - 17:09
    Precisamos de voltar a ligar-nos
  • 17:09 - 17:12
    com aquelas partes realmente primárias
  • 17:12 - 17:15
    e tomar algumas decisões e dizer:
  • 17:15 - 17:20
    "Sabes que mais? Gostava de pôr CDs
    naquela parede ali.
  • 17:20 - 17:22
    "O que é que te parece, querida?"
  • 17:22 - 17:24
    "Se não funcionar, tirem-nos."
  • 17:25 - 17:28
    Temos de voltar a ligar-nos
    com quem realmente somos,
  • 17:28 - 17:31
    e isso é de facto emocionante.
  • 17:31 - 17:33
    Muito obrigado.
  • 17:33 - 17:36
    (Aplausos)
Title:
Casas criativas feitas de material recuperado
Speaker:
Dan Phillips
Description:

Neste vídeo engraçado e esclarecedor da TEDxHouston, o construtor Dan Phillips mostra-nos uma dúzia de casas que construiu no Texas, utilizando materiais reciclados e recuperados de formas surpreendentemente criativas. Pormenores de design incríveis e tecnologicamente simples que vão refrescar a vossa veia criativa.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
17:37
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Creative houses from reclaimed stuff
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Creative houses from reclaimed stuff
Lúcia Antunes added a translation

Portuguese subtitles

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