Mike deGruy: Fisgado por um polvo
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0:00 - 0:03Comecei a ficar fascinado por polvos na infância.
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0:03 - 0:05Cresci em Mobile, Alabama.
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0:05 - 0:07Alguém deve ser de Mobile, certo?
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0:07 - 0:10E Mobile fica na confluência de cinco rios,
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0:10 - 0:12formando este bonito delta.
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0:12 - 0:14E o delta tem jacarés rastejando
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0:14 - 0:16para dentro e para fora dos rios recheados de peixe
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0:16 - 0:18e cobras escorrendo dos ciprestes,
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0:18 - 0:20pássaros de todos tipos.
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0:20 - 0:23É um lugar absolutamente maravilhoso e mágico para se viver
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0:23 - 0:26e crescer se você é um garoto interessado em animais.
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0:26 - 0:30E o delta deságua na Baía de Mobile e finalmente no Golfo do México.
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0:30 - 0:33E me lembro que meu primeiro contato com um polvo
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0:33 - 0:35foi provavelmente aos 5 ou 6 anos.
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0:35 - 0:38Eu estava no Golfo, dando umas braçadas, e vi um pequeno polvo no fundo.
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0:38 - 0:41Mergulhei e peguei-o imediatamente
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0:41 - 0:44fiquei fascinado e impressionado por sua velocidade, força e agilidade.
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0:44 - 0:48Ele estava abrindo meus dedos e movendo-se para as costas de minha mão.
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0:48 - 0:50Fiz de tudo para segurar esta incrível criatura.
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0:50 - 0:53Então ele meio que se acalmou nas palmas de minha mãos
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0:53 - 0:55E começou mudar de cor rapidamente,
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0:55 - 0:57pulsando em todas estas cores,
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0:57 - 1:00e enquanto olhava para ele, escondeu seus braços embaixo,
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1:00 - 1:02criando uma forma esférica,
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1:02 - 1:05e ficou marrom-chocolate com duas listras brancas.
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1:05 - 1:08Exclamei: "Minha Nossa!" Eu nunca tinha visto nada assim em minha vida!
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1:08 - 1:11Fiquei extasiado por um momento e então decidi que era hora de soltá-lo,
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1:11 - 1:13então coloquei-o no fundo.
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1:13 - 1:17O polvo saiu de minhas mãos e fez a coisa mais estúpida.
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1:17 - 1:20Foi até o fundo de pedriscos
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1:20 - 1:22e - "fuuush!" desapareceu! -
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1:22 - 1:23bem diante de meus olhos.
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1:23 - 1:25E soube, naquele momento, aos 6 anos,
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1:25 - 1:28que aquele era um animal do qual gostaria de aprender mais. E foi o que fiz.
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1:28 - 1:31Aí fui para a faculdade e me formei em Zoologia Marinha,
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1:31 - 1:33mudei para o Havaí e entrei na pós-graduação
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1:33 - 1:35na Universidade do Havaí.
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1:35 - 1:38E enquanto fui estudante no Havaí, trabalhei no Aquário de Waikiki.
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1:38 - 1:40E o aquário tinha muitos tanques para peixes grandes,
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1:40 - 1:42mas não muitas exibições de invertebrados,
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1:42 - 1:45e sendo eu um amante dos invertebados, pensei, bem,
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1:45 - 1:48basta que eu vá a campo e capture estes animais maravilhosos
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1:48 - 1:51que vinha estudando e os traga aqui,
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1:51 - 1:54e construi estas montagens elaboradas e os coloquei em exposição.
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1:54 - 1:58Bem, os peixes nos tanques eram bonitos de se ver,
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1:58 - 2:01mas não interagiam com as pessoas.
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2:01 - 2:03Mas o polvo sim.
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2:03 - 2:05Se você vem andando para o tanque do polvo
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2:05 - 2:07especialmente de manhã cedo, antes de chegar alguém,
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2:07 - 2:09o polvo se levantará e olhará para você
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2:09 - 2:12e você pensará: "Este cara tá realmente olhando pra mim? Tá olhando pra mim!
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2:12 - 2:14E você anda para a frente do tanque.
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2:14 - 2:18E percebe que estes animais tem diferentes personalidades.
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2:18 - 2:20Alguns deles defendem seus territórios.
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2:20 - 2:24Outros se escondem no fundo do tanque e desaparecem entre as pedras.
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2:24 - 2:26E um, em particular, este animal incrível...
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2:26 - 2:29Fui para a frente do tanque e ele estava só me encarando.
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2:29 - 2:31Ele tem pequenos chifres sobre seus olhos.
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2:31 - 2:33Então eu fui direto para a frente do tanque.
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2:33 - 2:35Estava de 7 a 10 cm do vidro.
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2:35 - 2:38E o polvo estava parado numa pequena pedra,
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2:38 - 2:42e ele então saiu da pedra e veio para perto do vidro.
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2:42 - 2:45Estava encarando o animal a cerca de 15 a 20 cm,
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2:45 - 2:48E naquela época podia enxergar bem;
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2:48 - 2:52hoje quando olho para meus dedos enrugados percebo que aqueles dias há muito se foram.
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2:52 - 2:54De qualquer maneira, lá estávamos, nos entreolhando,
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2:54 - 2:57e ele chega ao fundo e agarra um punhado de pedrisco
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2:57 - 3:00e solta direto no jato de água que entra no tanque
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3:00 - 3:02do sistema de filtração,
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3:02 - 3:05e "tec tec tec tec tec!" - os pedriscos batem no vidro da frente e caem.
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3:05 - 3:08Ele se abaixa, pega um outro punhado de pedriscos, solta...
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3:08 - 3:11"Tec tec tec tec tec!" -- mesma coisa.
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3:11 - 3:14Aí ele levanta um braço. Então eu levanto um braço.
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3:14 - 3:17Depois levanta outro braço. E eu levanto o outro braço.
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3:17 - 3:20E então percebo que o polvo ganhou a queda de braços,
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3:20 - 3:23porque terminei e ele ainda tinha seis sobrando.
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3:23 - 3:27Mas a única maneira que consigo descrever o que estava vendo naquele dia
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3:27 - 3:30era que o polvo estava brincando,
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3:30 - 3:34um comportamento bastante sofisticado para um mero invertebrado.
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3:34 - 3:36Então, mais ou menos no terceiro ano da pós-graduação,
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3:36 - 3:39uma coisa engraçada aconteceu a caminho do escritório,
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3:39 - 3:41que mudou de verdade o curso de minha vida.
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3:41 - 3:44Um homem entrou no aquário. É uma longa estória, mas essencialmente
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3:44 - 3:47fomos enviados, eu e dois amigos, ao Pacífico Sul,
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3:47 - 3:49para coletar animais para ele,
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3:49 - 3:52e quando partimos, ele nos deu duas filmadoras 16mm.
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3:52 - 3:55Disse, "Façam um filme sobre esta expedição."
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3:55 - 3:58...OK, um grupo de biólogos fazendo um filme -
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3:58 - 3:59isto vai ser interessante.
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3:59 - 4:01E então nós fomos, e fizemos, fizemos um filme,
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4:01 - 4:03que viria a ser o pior filme jamais feito
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4:03 - 4:05na história da indústria cinematográfica.
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4:05 - 4:07Mas foi super legal, me diverti muito.
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4:07 - 4:09E lembro-me daquela luz proverbial sussurrando na minha cabeça,
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4:09 - 4:11pensando, "Espera aí,
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4:11 - 4:13talvez possa fazer isto o tempo todo.
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4:13 - 4:15Sim, serei um cinegrafista."
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4:15 - 4:17Então eu, literalmente, voltei daquele trabalho,
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4:17 - 4:19abandonei a escola, abri um negócio de filmagem
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4:19 - 4:22e simplesmente nunca contei a ninguém que não sabia o que estava fazendo.
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4:22 - 4:24Tem sido uma boa caminhada.
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4:24 - 4:26E o que aprendi na escola, contudo, foi realmente útil.
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4:26 - 4:28Se você é um cinegrafista da vida selvagem
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4:28 - 4:30e você vai a campo filmar animais,
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4:30 - 4:32especialmente comportamento,
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4:32 - 4:34ajuda se você tiver uma base teórica
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4:34 - 4:36sobre quem são estes animais,
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4:36 - 4:39como eles trabalham e, claro, um pouco sobre seus comportamentos.
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4:39 - 4:41Mas onde eu realmente aprendi sobre polvos
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4:41 - 4:43foi em campo como cinegrafista,
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4:43 - 4:45fazendo filmes com eles,
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4:45 - 4:48onde se é permitido passar longos períodos
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4:48 - 4:51com os animais, vendo polvos serem polvos
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4:51 - 4:53em seus lares oceânicos.
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4:53 - 4:55Eu me lembro, fiz uma viagem para a Austrália,
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4:55 - 4:58fui para um ilha chamada Ilha de Uma Árvore.
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4:58 - 5:00E, aparentemente, a evolução ocorrera
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5:00 - 5:02num ritmo bem rápido na Ilha de Uma Árvore,
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5:02 - 5:05entre o tempo que deram esse nome e a minha chegada,
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5:05 - 5:07pois tenho certeza que havia pelo menos três árvores
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5:07 - 5:09naquela ilha quando estávamos lá.
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5:09 - 5:11De qualquer modo, a Ilha de Uma Árvore está situada
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5:11 - 5:13num maravilhoso recife de corais.
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5:13 - 5:15De fato, existe uma fenda nas rochas
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5:15 - 5:18onde as marés vão e vêm, duas vezes por dia, bem rapidamente,
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5:18 - 5:19e há um lindo recife
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5:19 - 5:22um recife bem complexo com muitos animais,
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5:22 - 5:24incluindo uma porção de polvos.
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5:24 - 5:26E, não unicamente,
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5:26 - 5:28mas certamente, os polvos australianos
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5:28 - 5:30são mestres na camuflagem.
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5:30 - 5:32Na verdade,
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5:32 - 5:34há um bem aqui
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5:34 - 5:36Então nosso primeiro desafio foi achar estas coisas,
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5:36 - 5:38e foi um desafio mesmo.
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5:38 - 5:40Mas a idéia era: Ficaríamos lá por um mês,
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5:40 - 5:42e eu queria aclimatá-los a nós.
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5:42 - 5:45Assim poderíamos observar seu comportamento sem perturbá-los.
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5:45 - 5:47Assim a primeira semana foi gasta
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5:47 - 5:49só para chegarmos o mais perto possível,
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5:49 - 5:51cada dia mais perto, mais perto, mais perto.
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5:51 - 5:53E sabíamos o limite, eles começam a ficar apreensivos,
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5:53 - 5:56e você se retira, voltando em algumas horas,
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5:56 - 5:59após a primeira semana, ele nos ignoravam.
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5:59 - 6:01Era como: "Não sei o que é essa coisa, mas não é ameaçadora."
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6:01 - 6:03Aí eles seguiam em frente com seus afazeres.
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6:03 - 6:05E a 30 cm de distância, estamos observando o acasalamento
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6:05 - 6:07e a corte e as lutas
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6:07 - 6:10e é uma experiência inacreditável.
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6:10 - 6:12E uma das mais fantásticas demonstrações
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6:12 - 6:14de que me lembro, ou ao menos visualmente,
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6:14 - 6:16foi um comportamento de procura por alimentos.
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6:16 - 6:18E eles têm várias técnicas diferentes
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6:18 - 6:20que usam na procura por alimentos.
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6:20 - 6:22Porém este em particular utilizou a visão.
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6:22 - 6:24E podem enxergar uma cabeça de coral
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6:24 - 6:26talvez a 3 metros de distância
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6:26 - 6:29e começar a mover-se em torno daquela cabeça de coral.
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6:29 - 6:33Não sei se ele realmente viu um caranguejo nela ou imaginou que havia um,
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6:33 - 6:36mas seja qual for o caso, eles saltavam do fundo
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6:36 - 6:39e iriam pela água e pousavam direto no topo da cabeça de coral,
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6:39 - 6:41e assim a rede entre seus braços
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6:41 - 6:43cobriria completamente a cabeça de coral,
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6:43 - 6:45e sairiam para pescar, nadariam por caranguejos.
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6:45 - 6:48No momento que os caranguejos tocaram o braço, as luzes se apagam.
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6:48 - 6:50E eu sempre me perguntei o que teria acontecido sobre aquela rede.
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6:50 - 6:53Então achamos um jeito de descobrir.
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6:53 - 6:56E consegui ver pela primeira vez o famoso bico em ação.
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6:56 - 6:58Foi fantástico.
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6:58 - 7:01Se você vai fazer muitos filmes sobre um grupo específico de animais,
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7:01 - 7:03deve escolher um que seja bastante comum.
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7:03 - 7:05E os polvos são, eles vivem em todos os oceanos.
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7:05 - 7:07Vivem também nas profundezas.
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7:07 - 7:09E não posso dizer que os polvos são responsáveis
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7:09 - 7:11por meu grande interesse
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7:11 - 7:13por entrar em submarinos e descer ao fundo,
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7:13 - 7:15mas de qualquer jeito, eu gosto disso.
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7:15 - 7:17É algo diferente de tudo que você já fez.
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7:17 - 7:19Se você quer realmente fugir de tudo
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7:19 - 7:21e ver algo que nunca viu,
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7:21 - 7:23e ter uma boa chance de ver algo
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7:23 - 7:26que ninguém nunca viu, entre num submarino.
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7:26 - 7:28Você entra, fecha a escotilha, abre um pouco o oxigênio,
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7:28 - 7:30liga o purificador,
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7:30 - 7:33que remove o CO2 do ar que você respira, e é dada a largada.
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7:33 - 7:35Você desce. Não há ligação com a superfície
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7:35 - 7:37a não ser um rádio bastante inusitado.
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7:37 - 7:39E à medida que você desce, a lavadoura de roupas
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7:39 - 7:41da superfície se acalma.
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7:41 - 7:43E se aquieta.
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7:43 - 7:45E começa a ficar realmente agradável.
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7:45 - 7:48E à medida que você desce, aquela adorável água azul que você se lançou
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7:48 - 7:51dá lugar ao azul mais e mais escuro.
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7:51 - 7:53E, finalmente, um roxo intenso,
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7:53 - 7:56e após 700 metros, é tinta preta.
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7:56 - 7:58E agora você entrou no reino
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7:58 - 8:01da comunidade da média profundidade.
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8:01 - 8:03Você poderia dar uma palestra inteira
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8:03 - 8:05sobre as criaturas que vivem na média profundidade.
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8:05 - 8:08Convém dizer entretanto, pelo que sei,
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8:08 - 8:11que, sem dúvida, os designs mais bizarros
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8:11 - 8:14e comportamentos ultrajantes
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8:14 - 8:17estão nos animais que vivem na comunidade da média profundidade.
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8:17 - 8:19Mas vamos passar voando por esta área,
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8:19 - 8:22esta área que inclui 95%
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8:22 - 8:24do espaço de vida em nosso planeta
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8:24 - 8:27e vamos para a Cordilheira Meso-Oceânica, que julgo ainda mais extraordinária.
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8:27 - 8:30A Cordilheira Meso-Oceânica é uma cadeia de montanhas,
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8:30 - 8:3365.000 km de extensão, serpenteando em torno de todo o globo.
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8:33 - 8:35E são montanha enormes, milhares de metros de altura,
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8:35 - 8:37algumas das quais tem dezenas de milhares de metros
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8:37 - 8:39e rompem a superfície,
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8:39 - 8:41criando ilhas como o Havaí.
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8:41 - 8:43E a crista desta cadeia de montanhas
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8:43 - 8:46se divide, criando um desfiladeiro.
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8:46 - 8:49E quando você mergulha neste desfiladeiro, é lá onde a ação acontece
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8:49 - 8:52porque, literalmente, milhares de vulcões ativos
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8:52 - 8:54entram em erupção a qualquer hora,
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8:54 - 8:56por todo os 65.000 km de extensão.
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8:56 - 8:59E enquanto estas placas tectônicas estão se afastando,
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8:59 - 9:02magma, lava, apareçe e preenche estas aberturas.
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9:02 - 9:05E você está olhando para terra, terra nova,
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9:05 - 9:07sendo criada bem diante de seus olhos.
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9:07 - 9:10E sobre seu cumes existem de 3 a 4 mil metros de água,
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9:10 - 9:12criando uma pressão enorme,
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9:12 - 9:15forçando a água por entre as rachaduras em direção ao centro da Terra,
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9:15 - 9:17até atingir a câmara magmática,
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9:17 - 9:19onde se torna superaquecida
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9:19 - 9:21e supersaturada com minerais,
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9:21 - 9:23reverte seu fluxo e começa a jorrar em direção à superfície,
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9:23 - 9:26e é ejetada para fora da Terra como um gêiser em Yellowstone.
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9:26 - 9:28De fato, toda esta área
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9:28 - 9:31é como o Parque Nacional Yellowstone com todas as suas atrações.
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9:31 - 9:34E este fluído que sai da fonte está a cerca de 370° Celsius.
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9:34 - 9:37A água em volta está somente a alguns graus acima do congelamento.
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9:37 - 9:39Assim se resfria imediatamente,
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9:39 - 9:41e não é mais capaz de segurar em suspensão
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9:41 - 9:43todo o material que está dissolvido,
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9:43 - 9:46e se precipita, formando uma fumaça preta.
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9:46 - 9:48E forma estas torres, estas chaminés
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9:48 - 9:50que tem 3, 7, 10 metros de altura.
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9:50 - 9:53E todos os lados destas chaminés
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9:53 - 9:56estão reluzentes de calor e carregados de vida.
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9:56 - 9:58Há fumaça negra por todo o lugar
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9:58 - 10:00e chaminés onde existem vermes tubícolas
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10:00 - 10:03que podem chegar a 3 metros de comprimento.
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10:03 - 10:05E acima destes vermes tubícolas
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10:05 - 10:07estão estas plumas vermelhas.
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10:07 - 10:10E vivendo neste emaranhado de vermes tubícolas
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10:10 - 10:12está uma comunidade inteira de animais,
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10:12 - 10:14camarão, peixe, lagosta, caranguejo,
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10:14 - 10:16mariscos e milhares de crustáceos
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10:16 - 10:18que brincam de um jogo perigoso
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10:18 - 10:21entre o calor escaldante e um frio congelante.
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10:21 - 10:23E todo este ecossistema
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10:23 - 10:25não era sequer conhecido
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10:25 - 10:27até 33 anos atrás.
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10:27 - 10:30E fez a ciência perder a cabeça.
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10:31 - 10:33Fez os cientistas repensarem
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10:33 - 10:35onde a vida na Terra pode realmente ter começado.
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10:35 - 10:38E antes da descoberta destas fontes,
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10:38 - 10:40acreditava-se que toda vida na Terra,
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10:40 - 10:42a chave da vida na Terra era o Sol e a fotossíntese,
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10:42 - 10:44mas lá embaixo, não existe Sol,
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10:44 - 10:46não existe fotossíntese.
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10:46 - 10:49É um ambiente de base quimiossintética,
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10:49 - 10:51e tudo é muito efêmero.
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10:51 - 10:53Você devia filmar esta
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10:53 - 10:55inacreditável fonte hidrotermal,
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10:55 - 10:58que por um instante parece ser outro planeta.
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10:58 - 11:00É incrível imaginar que isto realmente é na Terra.
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11:00 - 11:03Parecem ETs em um ambiente alienígena.
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11:03 - 11:06Mas você volta à mesma fonte oito anos depois,
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11:06 - 11:08e ela pode estar completamente morta.
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11:08 - 11:10Não há água quente.
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11:10 - 11:12Todos os animais desapareceram, estão mortos.
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11:12 - 11:14Mas as chaminés ainda estão lá
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11:14 - 11:16criando uma cidade fantasma bem bacana
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11:16 - 11:18e sinistra, uma cidade fantasma assombrada,
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11:18 - 11:20mas essencialmente desprovida de animais, é claro.
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11:20 - 11:23Mas a 16 km abaixo na cordilheira...
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11:23 - 11:25Psssss! Há outro vulcão ativo.
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11:25 - 11:28E uma nova e completa comunidade da fonte hidrotermal foi formada.
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11:28 - 11:31E este ciclo de vida e morte das comunidades da fonte hidrotermal
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11:31 - 11:33acontece a cada 30 ou 40 anos
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11:33 - 11:35ao longo da cordilheira.
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11:35 - 11:37E aquela natureza efêmera
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11:37 - 11:39das comunidades da fonte hidrotermal
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11:39 - 11:41não é realmente diferente de algumas das
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11:41 - 11:43áreas que tenho visto
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11:43 - 11:46nos 35 anos de viagem, fazendo filmes.
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11:46 - 11:49Aonde você vai e filma uma boa sequência em uma baía?
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11:49 - 11:51E na volta, estou em casa,
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11:51 - 11:53pensando: "OK, o que posso ver?
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11:53 - 11:55Ah, sei aonde posso filmar aquilo.
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11:55 - 11:57Há esta linda baía, cheia de gorgônia e stomatópodas."
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11:57 - 11:59E você aparece lá e está tudo morto.
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12:00 - 12:03Não há coral, só algas e a água está igual a sopa de ervilhas.
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12:03 - 12:05Você pensa: "Bem, o que aconteceu?"
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12:05 - 12:07E você se vira,
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12:07 - 12:09e na colina atrás de você há um condomínio surgindo,
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12:09 - 12:12e tratores empurram montes de terra para frente e para trás.
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12:12 - 12:14E mais à frente
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12:14 - 12:16há um campo de golfe surgindo.
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12:16 - 12:18E assim é nos trópicos.
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12:18 - 12:20Chove muito aqui.
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12:20 - 12:23Assim esta água de chuva desce pela encosta da colina,
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12:23 - 12:25carregando sedimentos do canteiro de obras,
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12:25 - 12:27sufocando e matando os corais.
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12:27 - 12:29E fertilizantes e pesticidas
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12:29 - 12:32são despejados na baía vindos do campo de golfe.
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12:32 - 12:35Os pesticidas mata todas as larvas e os pequenos animais,
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12:35 - 12:37fertilizantes criam este belo canteiro de plâncton.
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12:37 - 12:39E eis a sua sopa de ervilhas.
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12:39 - 12:42Mas, animadoramente, acabei de ver o contrário.
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12:42 - 12:45Estive em um lugar que já foi uma grande baía de lixo.
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12:45 - 12:47E olhei e disse: "Eca",
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12:47 - 12:49fui embora e trabalhei do outro lado da ilha.
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12:49 - 12:51Cinco anos mais tarde, voltei,
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12:51 - 12:54e a mesma baía agora está deslumbrante. Linda.
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12:54 - 12:56Tem corais vivos, peixes por todos os lados,
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12:56 - 12:59água cristalina, e você pensa: "Como aconteceu?"
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12:59 - 13:01Bem, aconteceu que
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13:01 - 13:03a comunidade local se alarmou.
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13:03 - 13:06Eles reconheceram o que estava acontecendo na colina e deram um basta,
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13:06 - 13:08promulgaram leis e exigiram alvarás
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13:08 - 13:10para uma construção responsável
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13:10 - 13:12e a manutenção do campo de golfe
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13:12 - 13:14parou de despejar os sedimento na baía,
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13:14 - 13:16e parou de despejar os materiais químicos na baía,
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13:16 - 13:18e a baía foi recuperada.
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13:18 - 13:20O oceano tem uma incrível capacidade
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13:20 - 13:23de recuperação, basta que nós o deixemos em paz.
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13:23 - 13:25Acho que Margaret Mead
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13:25 - 13:27o disse da melhor maneira.
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13:27 - 13:29Ela disse que um pequeno grupo de pessoas idealizadoras
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13:29 - 13:31poderiam mudar o mundo.
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13:31 - 13:34Na verdade, isto é a única coisa que sempre existiu.
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13:34 - 13:36E um pequeno grupo de idealizadores
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13:36 - 13:38mudou aquela baía.
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13:38 - 13:41Sou um grande fã de organizações de base.
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13:41 - 13:43Estive em uma porção de palestras
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13:43 - 13:45onde, ao final, inevitavelmente,
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13:45 - 13:47uma das primeiras questões que vem à tona é,
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13:47 - 13:49"Mas, mas o que posso fazer?
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13:49 - 13:51Sou um indivíduo, sou uma pessoa.
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13:51 - 13:54E estes problemas são grandes e globais, e isto é simplesmente imenso."
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13:54 - 13:56Pergunta bastante razoável.
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13:56 - 13:58Minha resposta a isto é não olhe
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13:58 - 14:01para as grandes, imensas questões do mundo.
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14:01 - 14:03Olhe em seu próprio quintal.
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14:03 - 14:06Na verdade, olhe em seu coração.
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14:06 - 14:09O que realmente lhe importa que não está certo onde você vive.
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14:09 - 14:11E conserte.
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14:11 - 14:13Crie uma zona de restabelecimento em sua vizinhaça
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14:13 - 14:15e encoraje os outros a fazer o mesmo.
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14:15 - 14:17E quem sabe estas zonas de restabelecimento possam pulverizar
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14:17 - 14:19pequenos pontos em um mapa.
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14:19 - 14:22E de fato, a maneira como nos comunicamos hoje,
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14:22 - 14:25onde o Alasca sabe imediatamente o que acontece na China,
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14:25 - 14:27e os neozelândeses também, e de volta na Inglaterra eles tentam...
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14:27 - 14:29E qualquer um está falando com qualquer um.
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14:29 - 14:31Não são mais pontos isolados no mapa,
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14:31 - 14:33é uma rede que criamos.
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14:33 - 14:35E talvez estas zonas de restabelecimentos possam começar a crescer,
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14:35 - 14:38e possivelmente até sobrepor-se, e coisas boas podem acontecer.
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14:38 - 14:41Assim então e como respondo àquela pergunta.
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14:41 - 14:44Olhem em seu próprio quintal, de fato, olhem no espelho.
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14:44 - 14:46O que você pode fazer que é mais responsável
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14:46 - 14:48do que o que está fazendo agora?
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14:48 - 14:51E faça isto. E espalhe a idéia.
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14:51 - 14:53A comunidade dos animais das fontes
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14:53 - 14:55não podem na verdade fazer muito
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14:55 - 14:57sobre a vida e a morte
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14:57 - 15:00que acontece onde eles vivem, mas aqui em cima podemos.
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15:00 - 15:03Na teoria, nos achamos seres humanos racionais.
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15:03 - 15:06E podemos fazer mudanças em nosso comportamento
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15:06 - 15:09que influenciarão e afetarão o meio-ambiente,
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15:09 - 15:11como aquelas pessoas que melhoraram a saúde da baía.
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15:11 - 15:14Agora, o desejo de Sylvia na entrega do prêmio TED
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15:14 - 15:17era de implorar-nos a fazer o que pudéssemos,
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15:17 - 15:19tudo que pudéssemos,
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15:19 - 15:21para propormos, não migalhas,
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15:21 - 15:23mas áreas significantes
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15:23 - 15:25do oceano para preservação,
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15:25 - 15:27"manchas de esperança", ela os chama.
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15:27 - 15:30E eu aplaudo isso. Aplaudo entusiasticamente.
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15:31 - 15:34E é minha esperança que algumas destas "manchas de esperança"
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15:34 - 15:36possam estar nas profundezas do oceano,
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15:36 - 15:39numa área que vem sendo, historicamente,
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15:39 - 15:42seriamente negligenciada, se não abusada -
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15:42 - 15:44a expressão "afundar" me veio à mente
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15:44 - 15:47Se é muito grande ou muito tóxico para ser aterrado,
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15:47 - 15:49afunde-o.
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15:49 - 15:51Então, eu espero que possamos manter
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15:51 - 15:54algumas dessas "manchas de esperança" no fundo do mar.
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15:54 - 15:57Por hora, eu não farei um pedido,
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15:57 - 16:00mas eu certamente posso dizer
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16:00 - 16:02que farei qualquer coisa que possa
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16:02 - 16:04para apoiar o desejo de Sylvia Earle.
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16:04 - 16:06E isso, eu faço.
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16:06 - 16:08Muito obrigado. (Aplausos)
- Title:
- Mike deGruy: Fisgado por um polvo
- Speaker:
- Mike deGruy
- Description:
-
O cinegrafista subaquático Mike deGruy durante décadas fitou intimamente o oceano. Um contador de estórias, ele sobe ao palco no Mission Blue para compartilhar sua admiração e empolgação - e seus medos - em relação ao coração azul de nosso planeta.
- Video Language:
- English
- Team:
closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 16:09