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Como quebrar o ciclo da masculinidade tóxica

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    Homem não chora.
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    Seja homem.
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    Cale a boca e continue.
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    Pare de chorar antes que eu
    lhe dê motivos para isso.
  • 0:14 - 0:16
    Essas são apenas algumas das frases
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    que contribuem para uma doença
    em nossa sociedade,
  • 0:19 - 0:22
    e mais especificamente, nos homens.
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    É uma doença que passou a ser
    conhecida como "masculinidade tóxica".
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    É uma da qual sofri um caso crônico,
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    tanto que passei 24 anos na prisão
    cumprindo perpétua
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    por sequestro, roubo
    e tentativa de homicídio.
  • 0:40 - 0:45
    Mas estou aqui para dizer a vocês hoje
    que há uma solução para essa epidemia.
  • 0:45 - 0:50
    Sei de fato que a solução funciona,
    porque eu fazia parte dos julgamentos.
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    A solução é uma mistura de elementos.
  • 0:54 - 0:58
    Começa com a vontade de analisar
    seu sistema de crenças
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    e ver como ele está fora de alinhamento
  • 1:00 - 1:04
    e como suas ações impactam
    negativamente não apenas você mesmo,
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    mas as pessoas ao seu redor.
  • 1:06 - 1:11
    O próximo ingrediente é a disposição
    de ser vulnerável com as pessoas
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    que não apenas apoiariam você,
    mas que o responsabilizariam.
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    Mas antes de falar sobre isso,
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    preciso que saibam
    que, para compartilhar isso,
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    tenho que expor completamente minha alma.
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    Enquanto estou aqui,
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    com tantos olhos fixos em mim,
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    sinto-me nu e cru.
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    Quando esse sentimento está presente,
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    tenho confiança de que a próxima
    fase de cura está no horizonte,
  • 1:43 - 1:46
    e isso me permite compartilhar
    minha história na íntegra.
  • 1:47 - 1:53
    Por todas as aparências, nasci
    na dinâmica de família ideal:
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    mãe, pai, irmã, irmão.
  • 1:56 - 2:01
    Bertha, Eldra Jr., Taydama e Eldra III,
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    que sou eu.
  • 2:03 - 2:06
    Meu pai foi veterano do Vietnã e recebeu
    uma condecoração Coração Púrpuro,
  • 2:06 - 2:10
    e voltou para casa para encontrar amor,
    casar e começar a própria linhagem dele.
  • 2:11 - 2:15
    Então, como acabei cumprindo perpétua
    no sistema prisional da Califórnia?
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    Guardando segredos,
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    acreditando no mantra
    de que "homem não chora",
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    não sabendo como exibir qualquer emoção
    com confiança além da raiva,
  • 2:29 - 2:31
    participando em atletismo
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    e aprendendo que, quanto maior
    o desempenho no campo,
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    menor a necessidade de se preocupar
    com as regras dele.
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    É difícil definir qualquer
    ingrediente específico
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    dos muitos sintomas que me afligiam.
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    Crescendo como um jovem negro
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    em Sacramento, na Califórnia,
    na década de 1980,
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    havia dois grupos que eu identificava
    como sendo respeitados:
  • 2:52 - 2:54
    atletas e gângsters.
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    Eu me destacava nos esportes,
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    até que um amigo e eu
  • 3:00 - 3:03
    decidimos dar um passeio no carro
    da mãe dele e o destruímos.
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    Com meus pais tendo que dividir
    a perda total de um veículo,
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    fui relegado a um verão
    de tarefas domésticas
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    e sem esportes.
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    Nenhum esporte significava
    nenhum respeito.
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    Nenhum respeito era igual a nenhum poder.
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    O poder era vital
    para alimentar minha doença.
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    Naquele momento, a decisão
    de transição de atleta para gângster
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    foi feita, muito facilmente.
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    As primeiras experiências de vida
    criaram o palco pra me sentir bem adaptado
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    para tratar os outros como objetos,
  • 3:46 - 3:48
    agir de uma maneira socialmente imparcial,
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    e, acima de tudo, procurar ser visto
    em uma posição de poder.
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    Uma sensação de poder...
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    (Suspiro)
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    igualava à força em meu ambiente,
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    mas, o mais importante,
    acontecia em minha mente.
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    Minha mente ditava minhas escolhas.
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    Minhas escolhas posteriores
  • 4:09 - 4:12
    colocaram-me no caminho mais rápido
    para a vida na prisão.
  • 4:13 - 4:18
    Mesmo na prisão, continuei minha história
    de atropelar os direitos dos outros,
  • 4:20 - 4:24
    mesmo sabendo que aquele
    era o lugar onde eu morreria.
  • 4:24 - 4:27
    Mais uma vez, acabei
    em confinamento solitário
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    por esfaquear outro prisioneiro
    quase 30 vezes.
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    Cheguei a um ponto em que não me importava
    como eu vivia ou se eu morresse.
  • 4:38 - 4:40
    Mas então, as coisas mudaram.
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    Uma das melhores coisas que me aconteceram
    foi ser mandado para a prisão New Folsom.
  • 4:46 - 4:51
    Uma vez lá, fui abordado para participar
    de um grupo chamado Inside Circle.
  • 4:52 - 4:54
    No início, eu tinha dúvidas
    em participar de um grupo
  • 4:54 - 4:57
    conhecido no pátio
    como "abrace um bandido".
  • 4:57 - 4:59
    (Risos)
  • 5:01 - 5:02
    No começo,
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    isso foi um pouco demais
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    mas, por fim, superei minha hesitação.
  • 5:09 - 5:15
    Como se viu, o círculo era a visão
    de um homem chamado Patrick Nolan,
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    que também cumpria prisão perpétua
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    e que acabou ficando de saco cheio
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    de tanto se sentir cansado
    de nos ver matar um ao outro
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    pela cor da pele,
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    a cor do nosso traje,
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    por ser do norte ou do sul da Califórnia,
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    ou simplesmente por respirar
    na direção errada em um dia de vento.
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    A hora do círculo tem a ver
    com homens sentados com homens
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    e evitando as bobagens,
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    desafiando maneiras estruturais de pensar.
  • 5:46 - 5:48
    Penso da maneira que penso
  • 5:48 - 5:50
    e ajo da maneira que ajo,
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    porque eu não havia questionado isso.
  • 5:54 - 5:57
    Tipo, quem disse que eu deveria ver
    uma mulher andando pela rua,
  • 5:59 - 6:01
    virar e olhar para o traseiro dela?
  • 6:02 - 6:03
    De onde veio isso?
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    Se eu não questionar isso,
    estarei apenas seguindo a multidão.
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    A conversa no vestiário.
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    No círculo, nós nos sentamos
    e questionamos essas coisas:
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    "Por que penso da maneira que penso?
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    Por que ajo da maneira que ajo?"
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    Porque, quando me concentro nisso,
    não estou pensando.
  • 6:22 - 6:24
    Não estou sendo um indivíduo.
  • 6:24 - 6:27
    Não estou assumindo
    a responsabilidade por quem sou
  • 6:27 - 6:29
    e o que coloco neste mundo.
  • 6:30 - 6:33
    Foi numa sessão no círculo
    que minha vida deu uma guinada.
  • 6:33 - 6:37
    Lembro-me de perguntarem quem eu era
    e eu não ter uma resposta,
  • 6:38 - 6:40
    não com a qual eu me sentisse honesto
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    em uma sala cheia de homens
    que buscavam a verdade.
  • 6:43 - 6:45
    Teria sido fácil dizer:
  • 6:45 - 6:46
    "Pertenço aos Bloods",
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    ou: "Meu nome é Vegas",
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    ou qualquer das inúmeras fachadas
  • 6:51 - 6:53
    que tenha construído
    para me esconder atrás delas.
  • 6:54 - 6:58
    Foi naquele momento
    e naquele local que a casa caiu.
  • 6:59 - 7:04
    Percebi que eu acreditava ser inteligente,
    mas nem mesmo sabia "quem" eu era
  • 7:04 - 7:07
    ou por que eu agia da maneira que agia.
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    Eu não conseguia ficar
    em uma sala cheia de homens
  • 7:11 - 7:16
    que estavam procurando servir,
    apoiar e apresentar um autêntico eu.
  • 7:18 - 7:21
    Foi naquele momento que percebi
    um lugar dentro de mim
  • 7:21 - 7:24
    no qual eu estava pronto
    para a transformação.
  • 7:24 - 7:26
    Durante décadas,
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    mantive segredo sobre o fato de ser vítima
    de abuso sexual nas mãos de uma babá.
  • 7:31 - 7:35
    Sujeitei-me a isso sob a ameaça
    de minha irmã mais nova ser prejudicada.
  • 7:35 - 7:37
    Eu tinha sete; ela, três.
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    Eu acreditava que era minha
    responsabilidade mantê-la segura.
  • 7:45 - 7:47
    Naquele instante,
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    foi semeada em mim uma longa jornada
    de ferir os outros,
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    seja de maneira física,
    mental ou emocional.
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    Desenvolvi, naquele instante,
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    aos sete anos de idade,
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    a crença de que seguir em frente na vida,
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    se uma situação em que alguém
    se machucasse fosse apresentada,
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    eu seria o único a ferir.
  • 8:11 - 8:15
    Também formulei a crença
    de que amar me colocava em perigo.
  • 8:16 - 8:20
    Também aprendi que me importar
    com outra pessoa tornava-me fraco.
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    Então, não se importar
    deve ser igual a ser forte.
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    O melhor modo de mascarar
    um senso instável de personalidade
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    é se esconder atrás
    de um falso ar de respeito.
  • 8:32 - 8:35
    Sentar-se no círculo assemelha-se
    a sentar-se numa fogueira.
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    É uma prova severa que pode
    destruir e destrói de fato.
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    Destruiu meu velho senso de personalidade,
  • 8:44 - 8:47
    meu sistema doente de valor
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    e meu modo de olhar para os outros.
  • 8:50 - 8:55
    Meus modos antigos de pensar
    tornaram-se públicos
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    para ver se esse é quem
    eu queria ser na vida.
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    Fui acompanhado
    por facilitadores qualificados
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    a uma jornada nas profundezas de mim mesmo
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    para encontrar as partes feridas,
    que não só infeccionaram,
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    mas se infiltraram para criar
    um lugar inseguro para os outros.
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    Às vezes, parecia um exorcismo
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    e, na essência, era.
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    Havia uma extração de modos
    antigos e doentes de pensar,
  • 9:23 - 9:25
    ser
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    e reagir
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    e uma injeção de propósito.
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    Sentar-me naqueles círculos
    salvou minha vida.
  • 9:33 - 9:38
    Estou aqui hoje como testemunho
    do poder do trabalho.
  • 9:41 - 9:44
    Recebi liberdade condicional
    em junho de 2014,
  • 9:44 - 9:48
    após minha terceira audiência
    perante um júri de ex-oficiais de polícia
  • 9:48 - 9:52
    encarregados de determinar
    meu atual nível de ameaça à sociedade.
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    Estou aqui hoje, pela primeira vez
    desde os 14 anos de idade,
  • 9:58 - 10:01
    sob nenhuma forma de supervisão do Estado.
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    Sou casado com uma mulher
    incrível chamada Holly,
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    e juntos criamos dois filhos,
  • 10:06 - 10:07
    que incentivo
  • 10:08 - 10:11
    a vivenciar emoções de maneira segura.
  • 10:12 - 10:15
    Deixo que me abracem quando choro.
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    Eles são testemunhas
    de que não tenho todas as respostas.
  • 10:18 - 10:20
    Meu desejo é que eles entendam
  • 10:20 - 10:24
    que ser homem não é
    uma caricatura de machismo
  • 10:25 - 10:29
    e que as características definidas
    geralmente como pontos fracos
  • 10:29 - 10:32
    são partes do homem íntegro e saudável.
  • 10:32 - 10:35
    Hoje continuo trabalhando
    não apenas comigo,
  • 10:35 - 10:38
    mas apoiando rapazes jovens
    da minha comunidade.
  • 10:39 - 10:43
    O desafio é erradicar esse ciclo
  • 10:45 - 10:48
    de analfabetismo emocional
    e pensamento grupal
  • 10:48 - 10:49
    que permite aos homens
  • 10:49 - 10:53
    continuarem a vitimizar os outros,
    assim como a eles mesmos.
  • 10:53 - 10:56
    Como resultado,
  • 10:56 - 11:00
    desenvolvem novas maneiras
    de como querem se apresentar ao mundo
  • 11:00 - 11:03
    e como esperam que este mundo
    se apresente em favor deles.
  • 11:03 - 11:04
    Obrigado.
  • 11:04 - 11:06
    (Aplausos) (Vivas)
Title:
Como quebrar o ciclo da masculinidade tóxica
Speaker:
Eldra Jackson
Description:

Em uma palestra poderosa, o educador Eldra Jackson III compartilha como ele desaprendeu lições perigosas sobre a masculinidade por meio do Inside Circle, uma organização que lidera a terapia de grupo para homens encarcerados. Agora ele está ajudando os outros a se curarem criando uma nova imagem do que significa ser um homem íntegro e saudável. "O desafio é erradicar este ciclo de analfabetismo emocional e pensamento grupal", diz ele.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
11:21

Portuguese, Brazilian subtitles

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