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O que os cidadãos comuns podem fazer para reclamar poder na Internet

  • 0:01 - 0:04
    Bryn Freedman:
    Disseste que, no século XX,
  • 0:04 - 0:07
    o poder global estava
    nas mãos do governo.
  • 0:07 - 0:09
    No início deste século digital,
  • 0:09 - 0:11
    isso passou para as empresas
  • 0:11 - 0:15
    e, no futuro, irá passar
    para os indivíduos.
  • 0:15 - 0:17
    Tenho entrevistado muitas pessoas,
  • 0:17 - 0:19
    e elas dizem que estás errado.
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    Elas apostam nas empresas.
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    Então, porque é que tens razão
  • 0:23 - 0:25
    e porque é que os indivíduos vão vencer?
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    Fadi Chehadé: Porque as empresas
    servem os indivíduos,
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    e nós, como população,
  • 0:30 - 0:34
    temos de começar a entender
    que desempenhamos um grande papel
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    em modelar como o mundo
    será governado, e avançará.
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    Sim, de facto, a guerra atualmente
    é entre governos,
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    que perderam muito do seu poder
    para as empresas
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    porque a Internet não está construída
    em torno do sistema nação-estado
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    sobre o qual o governo tem poder.
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    A Internet é transnacional.
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    Não é internacional, e não é nacional.
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    Por isso as empresas
    tornaram-se muito poderosas.
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    Elas modelam a nossa economia.
  • 1:02 - 1:04
    Elas modelam a nossa sociedade.
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    Os governos não sabem o que fazer.
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    Neste momento, estão a reagir.
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    E eu temo que, se nós,
    enquanto população
  • 1:11 - 1:16
    — que, na minha opinião,
    é a peça mais importante desta máquina —
  • 1:16 - 1:17
    não assumirmos o nosso papel,
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    então tu estás certa.
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    Os críticos, ou os que te dizem que
    os negócios irão prevalecer, estão certos.
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    Acontecerá isso.
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    BF: Portanto, estás a dizer
    que os indivíduos vão forçar os negócios
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    ou os negócios vão ser forçados
    a ser responsivos,
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    ou há o receio de que não vão ser?
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    FC: Eu penso que vão ser.
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    Repara, há duas semanas
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    uma pequena companhia chamada Skip
    venceu a Uber, a Lyft e todos
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    para obter a licença para
    o negócio de "scooters" em São Francisco.
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    Se leres porque é que a Skip venceu,
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    venceu porque a Skip
    ouviu as pessoas de São Francisco,
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    que estavam cansadas de "scooters"
    espalhadas por todo o lado.
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    Foram à cidade e disseram:
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    "Nós vamos implementar o serviço,
  • 2:00 - 2:03
    "mas vamos satisfazer
    os requisitos das pessoas
  • 2:03 - 2:06
    "para nos organizarmos
    segundo um conjunto de regras."
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    Eles autogovernaram o seu comportamento,
    e ganharam o contrato
  • 2:10 - 2:12
    a companhias muito poderosas.
  • 2:12 - 2:15
    BF: Então, falando de diretrizes
    e de autogovernação,
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    passaste a vida inteira
    a criar diretrizes e normas
  • 2:19 - 2:21
    para a Internet.
  • 2:21 - 2:23
    Pensas que esses dias terminaram?
  • 2:23 - 2:26
    Quem irá orientar, quem irá controlar,
  • 2:26 - 2:28
    e quem irá criar essas normas?
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    FC: As regras que governam
    as camadas de tecnologia da Internet
  • 2:33 - 2:36
    estão agora bem sedimentadas,
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    e eu estive muito ocupado durante
    alguns anos a configurar essas regras
  • 2:39 - 2:43
    sobre a parte da Internet
    que faz da Internet uma rede.
  • 2:44 - 2:46
    O sistema de nomes de domínio,
    os números de IP,
  • 2:46 - 2:48
    tudo isso está configurado.
  • 2:48 - 2:52
    Contudo, à medida que chegamos
    às camadas superiores da Internet,
  • 2:52 - 2:55
    os problemas que me afetam a mim
    e a ti todos os dias
  • 2:55 - 2:58
    — a privacidade, a segurança, etc. —
  • 2:58 - 3:05
    o sistema para criar normas para isso
    infelizmente não está configurado.
  • 3:05 - 3:07
    Por isso, nós temos um problema.
  • 3:07 - 3:10
    Temos um sistema de cooperação
    e de governação
  • 3:10 - 3:13
    que precisa de ser criado agora
  • 3:13 - 3:18
    para as empresas, os governos
    e a população poderem acordar
  • 3:18 - 3:20
    em como este novo mundo digital
    irá avançar.
  • 3:21 - 3:24
    BF: Então o que é que dá incentivo
    a uma empresa digital?
  • 3:24 - 3:26
    Digamos — estou a pensar no Facebook —
  • 3:26 - 3:29
    eles dirão que prezam muito
    os interesses dos utilizadores,
  • 3:29 - 3:31
    mas eu penso que muitas pessoas
    discordariam disso.
  • 3:31 - 3:37
    FC: Tem sido muito difícil ver
    como as empresas de tecnologia têm reagido
  • 3:37 - 3:40
    à resposta da população
    às suas tecnologias.
  • 3:41 - 3:44
    Algumas delas, há dois ou três anos,
    praticamente ignoraram-nas.
  • 3:44 - 3:50
    A palavra que oiço em muitos gabinetes é:
    "Somos apenas uma plataforma tecnológica.
  • 3:50 - 3:53
    "O problema não é meu,
    se a minha plataforma tecnológica
  • 3:53 - 3:56
    "faz com que famílias matem
    raparigas no Paquistão.
  • 3:56 - 3:58
    "O problema não é meu.
    O problema é deles.
  • 3:58 - 4:00
    "Eu só tenho
    uma plataforma tecnológica."
  • 4:00 - 4:03
    Eu penso que estamos a entrar numa fase
  • 4:03 - 4:08
    em que as empresas estão a começar
    a aperceber-se que isso é insustentável,
  • 4:09 - 4:11
    e estão a começar a ver
    a reação negativa
  • 4:11 - 4:14
    que chega das pessoas,
    dos utilizadores, dos cidadãos,
  • 4:14 - 4:16
    mas também dos governos
    que estão a começar a dizer:
  • 4:17 - 4:18
    "Isto não pode ser."
  • 4:18 - 4:24
    Por isso, penso que está
    a surgir uma maturidade,
  • 4:24 - 4:26
    especialmente na região de Silicon Valley,
  • 4:26 - 4:31
    em que as pessoas começam a dizer:
    "Nós desempenhamos um papel."
  • 4:31 - 4:33
    Por isso, quando falo
    para esses líderes, eu digo:
  • 4:33 - 4:37
    "Veja, você pode ser o diretor-executivo
    bem sucedido de uma empresa,
  • 4:37 - 4:40
    "mas também pode ser um supervisor."
  • 4:40 - 4:41
    Esta é a palavra-chave.
  • 4:41 - 4:44
    "Você pode ser supervisor
    do poder que tem
  • 4:44 - 4:49
    "para modelar a vida e a economia
    de milhares de milhões de pessoas.
  • 4:49 - 4:51
    "Qual deles quer ser?"
  • 4:51 - 4:54
    E a resposta é:
    "Nem um nem o outro".
  • 4:55 - 4:57
    É nisto que estamos a falhar atualmente.
  • 4:57 - 5:01
    Por isso, quando um adulto
    como Brad Smith, presidente da Microsoft,
  • 5:01 - 5:03
    disse, aqui há uns meses:
  • 5:03 - 5:06
    "Nós precisamos de um novo conjunto
    de Convenções de Genebra
  • 5:06 - 5:08
    "para gerir a segurança
    do espaço digital",
  • 5:08 - 5:12
    muitos dos líderes seniores
    em Silicon Valley
  • 5:12 - 5:15
    ripostaram contra as palavras dele:
  • 5:15 - 5:17
    "Como assim, Convenção de Genebra?"
  • 5:17 - 5:20
    "Não precisamos de Convenções de Genebra.
    Nós autorregulamo-nos".
  • 5:20 - 5:22
    Mas essa mentalidade está a mudar,
  • 5:22 - 5:25
    e começo a ver
    muitos líderes a dizer:
  • 5:26 - 5:27
    "Ajudem-nos."
  • 5:27 - 5:30
    Mas o grande problema é este:
  • 5:30 - 5:33
    Quem vai ajudar esses líderes
    a fazer o que está certo?
  • 5:33 - 5:35
    BF: Então quem vai ajudá-los?
  • 5:36 - 5:40
    Porque eu gostaria de te entrevistar
    durante uma hora,
  • 5:40 - 5:45
    mas fala-me do teu maior receio
    e da tua maior esperança
  • 5:45 - 5:47
    para a forma como isso irá funcionar.
  • 5:49 - 5:56
    FC: A minha maior esperança
    é que cada um de nós se torne um supervisor
  • 5:56 - 5:57
    deste novo mundo digital.
  • 5:57 - 5:59
    É essa a minha maior esperança,
  • 5:59 - 6:04
    porque penso que, muitas vezes,
    queremos atirar a culpa para os outros.
  • 6:04 - 6:06
    "São os diretores-executivos.
    É assim que se comportam"-
  • 6:06 - 6:08
    "Os governos não fazem o suficiente."
  • 6:08 - 6:10
    Então e nós?
  • 6:10 - 6:15
    Como é que cada um está a assumir
    a responsabilidade de ser um supervisor
  • 6:15 - 6:17
    do espaço digital em que vivemos?
  • 6:17 - 6:21
    Algo que eu tenho insistido
    junto dos reitores das universidades
  • 6:21 - 6:23
    é que precisamos que os estudantes
    de engenharia, de ciência
  • 6:23 - 6:25
    e de ciências informáticas
  • 6:25 - 6:28
    que estão prestes a escrever
    a próxima linha de código
  • 6:28 - 6:30
    ou a desenhar o próximo dispositivo IoT,
  • 6:30 - 6:35
    tenham o sentido
    de responsabilidade e de supervisão
  • 6:35 - 6:36
    para com o que desenvolvem.
  • 6:36 - 6:39
    Então, sugeri que criássemos
    um novo juramento,
  • 6:39 - 6:40
    como o juramento de Hipócrates,
  • 6:40 - 6:43
    para que todos os estudantes
    que entrem num curso de engenharia
  • 6:43 - 6:47
    façam um juramento tecnocrático
    ou um juramento de sabedoria
  • 6:47 - 6:50
    ou um juramento de compromisso
    para com todos nós.
  • 6:50 - 6:53
    É esta a minha maior esperança,
    que todos participemos.
  • 6:53 - 6:57
    Porque os governos e os negócios
    irão lutar neste jogo de poder,
  • 6:57 - 6:59
    e nós onde é que estamos?
  • 6:59 - 7:03
    Se não jogarmos nessa mesa de poder,
  • 7:03 - 7:06
    penso que acabaremos num mau lugar.
  • 7:06 - 7:08
    O meu maior receio?
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    O meu maior receio,
    para ser muito diplomático hoje,
  • 7:12 - 7:15
    o que me mantém acordado à noite
  • 7:15 - 7:20
    é a guerra atual entre o Ocidente
    — o mundo liberal —
  • 7:21 - 7:23
    e a China,
  • 7:23 - 7:25
    na área da inteligência artificial.
  • 7:25 - 7:27
    Há uma guerra real em curso,
  • 7:27 - 7:32
    e para todos os que viveram durante
    a era de não proliferação nuclear
  • 7:32 - 7:35
    e viram como as pessoas concordaram
  • 7:35 - 7:38
    em retirar coisas muito perigosas
    de cima da mesa,
  • 7:39 - 7:42
    a Carnegie Endowment
    acabou agora um estudo.
  • 7:42 - 7:45
    Falaram com todos os países
    que faziam armas nucleares
  • 7:45 - 7:47
    e perguntaram-lhes:
  • 7:47 - 7:53
    "Que 'arma' digital tirariam
    de cima da mesa
  • 7:53 - 7:56
    "em troca de escolas ou hospitais
    de outras pessoas?"
  • 7:56 - 7:59
    E a resposta de todas
    as potências nucleares
  • 7:59 - 8:01
    a esta pergunta foi:
  • 8:01 - 8:03
    "Nada".
  • 8:04 - 8:06
    É com isto que eu estou preocupado...
  • 8:06 - 8:09
    A transformação do espaço
    digital numa arma
  • 8:09 - 8:11
    e a corrida para lá chegar.
  • 8:11 - 8:14
    BF: Bem, parece que tens
    muito trabalho para fazer,
  • 8:14 - 8:15
    assim como todos nós.
  • 8:15 - 8:18
    Fadi, muitíssimo obrigada.
    Gostei muito.
  • 8:18 - 8:19
    FC: Obrigado.
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    (Aplausos)
Title:
O que os cidadãos comuns podem fazer para reclamar poder na Internet
Speaker:
Fadi Chehadé e Bryn Freedman
Description:

O arquiteto tecnológico Fadi Chehadé ajudou a configurar a infraestrutura que faz a Internet trabalhar — coisas essenciais como o padrão do sistema de nomes de domínios e os endereços IP. Atualmente, está focado em encontrar formas para a sociedade beneficiar da tecnologia. Numa conversa eficaz com Bryn Freedman — curadora do TED Institute — Chehadé analisa a guerra atual entre o Ocidente e a China sobre a inteligência artificial; como as empresas de tecnologia se podem tornar administradoras do poder que têm para modelar vidas e economias e o que os cidadãos comuns podem fazer para reclamar poder na Internet.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
08:34

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