Lidando com a magia dos micróbios | Jessica Green | TEDxPortland

Jessica, também conhecida como "Thumper Biscuit" nos circuitos de "roller derby", é professora na Universidade de Oregon e no Instituto Santa Fé. Ela é uma Bolsista TED cujo objetivo atual é ajudar as pessoas a visualizar o mundo invisível dos microrganismos para promover um mundo com edificações que limitem as doenças infecciosas e maximizem a energia.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais, visite http://ted.com/tedx

Estas são imagens de microrganismos.

Pequenas formas de vida
que não podemos ver a olho nu;

vírus, bactérias e arqueias.

São os organismos mais abundantes
e diversos da Terra

e cobrem cada canto
e fenda do nosso corpo,

nossos prédios e nossas cidades.

Quando vocês pensam em micróbios,

provavelmente pensam nos ruins,
como o SARM ou HIV ou antrax.

Mas...

a maioria dos micróbios são bons para nós.

Nosso corpo, como qualquer ecossistema,
depende dos micróbios para sobreviver.

Os micróbios nos protegem
de germes e patógenos,

permitem que obtenhamos
os nutrientes dos nossos alimentos

e também ajudam nosso sistema imunológico.

Estudos recentes sugerem
que eles até influenciam nosso humor

e nossos níveis de estresse,
ansiedade e depressão.

Assim, se você se sente bem hoje, como eu,
convém agradecer a seus micróbios.

E convém agradecer a sua mãe, também,

porque, ao nascer, obtemos da nossa mãe
a maioria dos nossos micróbios;

e também os adquirimos
dos alimentos que comemos

e das pessoas com as quais passamos
nosso tempo, nossos amigos,

e de pessoas no metrô,

se você as cumprimenta
descendo a escada rolante;

e também obtemos nossos micróbios

do nosso habitat principal, os prédios.

Passamos pelo menos 90%
da nossa vida em ambientes fechados

e, enquanto estamos neles,
entramos em contato continuamente

com micróbios que respiramos
e que tocamos nas superfícies.

Algo pelo que me interessei,

dada a importância dos micróbios
para o nosso bem-estar,

é como controlamos os micróbios nos locais
em que passamos a maior parte do tempo.

E para explicar o que tenho aprendido,
vou fazer uma analogia com um jardim.

Um jardim microbiano dentro de casa!

Então, nossas técnicas
para jardinagem de micróbios

seguem quatro regras básicas.

A primeira regra

é que você quer manter
todos os micróbios fora do prédio,

você quer um prédio em quarentena.

E hoje, temos prédios modernos
que são hermeticamente selados,

e um exemplo de como os prédios mudaram

é que substituímos as janelas

por elaborados sistemas de ar-condicionado

e sistemas de filtragem
projetados para manter longe

os micróbios que estão do lado de fora,

aqueles que crescem nas plantas,

que vivem na terra ou nos cursos d'água,

e não os queremos
dentro de nossos prédios.

E a segunda regra, ou a principal,
é que colocamos portas nos prédios

e permitimos que pessoas
entrem nos prédios

e plantem em nossos jardins
o que chamo de micróbios invasores.

E esses são os micróbios

que vivem em nosso corpo,
em nossa pele, em nossa boca.

Cada ser humano que entra em um prédio,

em uma hora, contribui
com 37 milhões de bactérias para o ar.

São tantas bactérias quanto as pessoas

que vivem atualmente na Califórnia.

Nós contribuímos com micróbios para o ar
liberando-os diretamente do nosso corpo

e pegamos micróbios das superfícies

que foram deixados para trás por outras
pessoas que estiveram no local.

Nossa terceira regra básica

é manter um ambiente inerte
para nosso jardim.

Então, mantemos a temperatura e a umidade
em uma faixa bem estreita,

não permitimos mudanças ambientais
diárias ou sazonais dentro dos prédios,

e mantemos essa zona de conforto térmico

porque queremos poder ficar
de roupa íntima em casa,

mesmo se estiver nevando lá fora.

Mas, pense nisso
pela perspectiva de um micróbio!

Estamos criando um ambiente

que seleciona o que eu considero
um micróbio urbano,

que prospera vivendo
nesses ambientes homogêneos.

E a quarta regra que seguimos

é que regularmente
queremos matar tudo no jardim.

Fazemos isso usando
produtos de limpeza antimicrobianos

e esterilizando as superfícies.

Se pensarmos bem, é uma forma
de genocídio microbiano,

porque estamos matando
os micróbios bons junto com os ruins.

Se tivéssemos uma horta lá fora,

nunca mataríamos todas as plantas

só para nos livrarmos de uma erva daninha.

E é efetivamente isso que estamos fazendo;

quando removemos vários organismos
de um ecossistema,

abrimos espaço para que organismos
ruins e de crescimento rápido

venham e colonizem os espaços,

porque não há nada lá
para competir com eles.

Quais são as consequências da forma
como controlamos os micróbios?

Não sabemos ainda,
estamos começando a estudar,

mas quero especular
sobre o que acho que está acontecendo.

Os humanos têm estado por aí
por centenas de milhares de anos,

mas a era de prédios modernos,
hermeticamente selados,

ambientalmente constantes
e limpos regularmente

surgiu apenas nos últimos 60 anos.

E acredito que estamos cultivando

uma monocultura microbiana.

E, quando pensamos no nosso corpo,
provavelmente não evoluímos

de forma a funcionar muito bem
nesse tipo de ambiente microbiano.

E há muitas evidências
publicadas recentemente,

que sugerem que o estilo de vida moderna
pode estar associado

ao aumento da resistência a antibióticos
e das doenças autoimunes,

que todos enfrentamos no mundo
desenvolvido, como asma e alergias.

Recentemente colaborei
com biólogos e arquitetos,

incluindo Brandon Bohanan e Charlie Brown,
na Universidade de Oregon,

para entender como o projeto de um prédio
impacta no tipo de micróbios que vivem lá.

E recentemente conduzimos um estudo

no Lillis Business Complex
da Universidade de Oregon.

É assim que o Lillis se parece
pela perspectiva de um humano.

E provavelmente ele é visto assim,

pela perspectiva
de um micróbio voando pelo ar.

Esta é uma imagem infravermelha

que mostra as diferenças
de calor no prédio

e sabe-se que os micróbios
são sensíveis ao calor.

E é assim que o Lillis se parece
pela perspectiva de um arquiteto.

Então, o que fizemos aqui...

Estávamos interessados no Lillis
por sua certificação LEED Silver

e queríamos saber:

"Projetos de edifícios verdes influenciam
os micróbios positiva ou negativamente?"

Então, no primeiro andar do prédio,

nós operamos o prédio
da forma como ele foi projetado.

O que significa deixar o ar externo
entrar através de venezianas.

No segundo andar do prédio,
nós manipulamos a forma de operação,

forçando o ar a passar
por um sistema de ventilação mecânica

antes de ele entrar nas salas de aula;

ou, nas salas de aula que avaliamos.

Estes resultados são fresquinhos,

eles nunca haviam sido apresentados,

pois os recebemos na semana passada.

Você está vendo o primeiro e o segundo
andar do Lillis Business Complex

e você vai ver que há uma escala
indicadora neste diagrama,

onde o rosa indica as amostras de ar

que tinham DNA microbiano muito similar
àquele encontrado dentro e sobre humanos.

O azul indica amostras de ar

com DNA microbiano muito similar
ao que você encontraria lá fora,

por exemplo na terra.

E pode ver que no primeiro andar,

operado de acordo com o padrão LEED,
com o ar vindo diretamente de fora,

o ar se parece muito com o de fora;

e, no segundo andar,
o ar parece muito mais humano.

Esses resultados científicos
são intuitivos,

mas mostram claramente
que temos algum controle

sobre o tipo de micróbios
que estamos cultivando dentro dos prédios.

O que tudo isso significa?

Hoje, temos arquitetos paisagistas

que projetam espaços ao ar livre

e jardineiros cujo trabalho é manter

esses espaços ao ar livre
por longos períodos de tempo.

E o território a explorar aqui
é pensar sobre os micróbios

de uma forma diferente
e entender como cultivar

os tipos de micróbios bons
que queremos dentro de casa,

para que possamos treinar um novo tipo
de arquiteto, um paisagista de interiores,

que possa projetar
jardins internos saudáveis;

e também vamos precisar
de novos tipos de zeladores,

que vou chamar de guardiões do interior,

que ajudem a manter

as construções e as pessoas saudáveis.

Muito obrigada.

(Aplausos)