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Como ajudar alguém que não reconhece o próprio sofrimento?

  • 0:10 - 0:20
    Como ajudar alguém próximo a transformar
    o seu sofrimento se nem o reconhece?
  • 0:28 - 0:30
    Caro Thay, cara Sangha,
  • 0:32 - 0:34
    gostaria de colocar a seguinte pergunta:
  • 0:35 - 0:39
    Como podemos ajudar um familiar
    a lidar com o seu sofrimento
  • 0:39 - 0:41
    quando ele não reconhece
    o seu próprio sofrimento.
  • 0:42 - 0:47
    Gostaria de contextualizar a pergunta.
  • 0:49 - 0:51
    Este familiar é o meu marido.
  • 0:52 - 0:54
    É o pai das minhas três filhas.
  • 0:56 - 1:00
    Está com uma depressão grave
    desde o final de Março
  • 1:02 - 1:06
    quando a nossa segunda filha
    teve um acidente grave.
  • 1:07 - 1:09
    Ele amava-a muito.
  • 1:09 - 1:13
    A nossa segunda filha,
    que tem catorze anos,
  • 1:13 - 1:16
    foi atropelada e sofreu
    uma lesão grave na cabeça.
  • 1:17 - 1:19
    Passou dois meses em coma.
  • 1:20 - 1:24
    Por um milagre, está viva,
    e está a recuperar lentamente.
  • 1:26 - 1:31
    Plum Village entoou cânticos por ela
    durante o último retiro francófono,
  • 1:31 - 1:32
    e agradecemos a todos por isso.
  • 1:34 - 1:37
    O meu marido tem muita dor e raiva.
  • 1:37 - 1:41
    E não aceita a situação,
    que considera injusta.
  • 1:44 - 1:47
    É uma situação muito difícil para todos.
  • 1:49 - 1:57
    Já tinha sentido este sofrimento nele,
    anos antes deste acidente.
  • 1:59 - 2:04
    Ele expressava-o sob a forma de
    raiva, culpabilização e impaciência.
  • 2:06 - 2:08
    Não o reconhecia como seu.
  • 2:10 - 2:14
    Eu também tenho o meu sofrimento,
    mas, pelo menos, estou ciente dele.
  • 2:14 - 2:17
    Tenho as minhas próprias questões.
  • 2:19 - 2:26
    É muito difícil neste momento aceitar
    este grande sofrimento, este teste.
  • 2:27 - 2:32
    Espero sinceramente que a nossa filha
    possa recuperar a sua vida,
  • 2:33 - 2:37
    e que com as nossas três filhas, possamos
  • 2:42 - 2:46
    usar esta situação, este teste
    para nos unirmos de novo
  • 2:46 - 2:51
    e sermos uma família, com mais calma
    mais alegria e mais paz também.
  • 2:53 - 2:55
    Repito então a minha pergunta:
  • 2:55 - 2:58
    Como ajudar um familiar
    a transformar o seu sofrimento
  • 2:58 - 3:01
    quando ele não reconhece
    este sofrimento como seu?
  • 3:27 - 3:28
    Caro Thay,
  • 3:29 - 3:31
    Este é o contexto da pergunta.
  • 3:31 - 3:34
    Ela diz: "O meu marido, pai
    das nossas três filhas
  • 3:34 - 3:38
    está com uma depressão grave
    desde finais de Março deste ano.
  • 3:39 - 3:44
    Desde que a nossa segunda filha
    com catorze anos
  • 3:44 - 3:46
    sofreu um acidente grave.
  • 3:46 - 3:48
    Ele era muito próximo desta filha.
  • 3:50 - 3:56
    A filha foi atropelada por um carro
    e sofreu um lesão grave na cabeça.
  • 3:57 - 4:00
    Passou dois meses em coma.
  • 4:01 - 4:05
    Por milagre, está viva
    e está a recuperar lentamente.
  • 4:07 - 4:11
    Plum VIllage entoou cânticos por ela
    em Maio e agradeço-vos por isso.
  • 4:11 - 4:14
    O meu marido tem muita dor e raiva
  • 4:14 - 4:18
    e não aceita a situação
    que considera muito injusta.
  • 4:19 - 4:25
    Já tinha sentido muito sofrimento nele
    anos antes de isto acontecer.
  • 4:26 - 4:31
    Manifestava-se sob a forma
    de raiva, culpabilização e impaciência
  • 4:31 - 4:36
    mas ele nunca reconheceu isto
    e eu sofro com esta situação.
  • 4:38 - 4:42
    Se a nossa filha conseguir
    recuperar totalmente
  • 4:42 - 4:48
    espero sinceramente que isso
    traga um novo começo para toda a família
  • 4:48 - 4:52
    que consigamos viver juntos
    de forma mais serena e feliz."
  • 4:53 - 4:55
    E a pergunta é:
  • 4:55 - 5:00
    "Como podemos ajudar alguém próximo
    a transformar o seu sofrimento
  • 5:00 - 5:05
    quando a pessoa não reconhece
    o sofrimento como seu, dentro de si?"
  • 5:23 - 5:30
    Talvez a pessoa reconheça
  • 5:33 - 5:39
    a sua própria fragilidade,
    o seu sofrimento mas não em voz alta.
  • 5:45 - 5:47
    E nós achamos que ele não reconhece...
  • 5:54 - 5:56
    achamos que ele não quer...
  • 6:12 - 6:16
    reconhecer que sofre.
  • 6:19 - 6:21
    Mas talvez...
  • 6:22 - 6:24
    ele o tenha aceitado,
  • 6:24 - 6:26
    talvez esteja ciente dele.
  • 6:27 - 6:30
    Por isso, não precisamos que ele
    o diga em voz alta:
  • 6:30 - 6:33
    "Eu reconheço que tenho
    este sofrimento...
  • 6:37 - 6:38
    ... e raiva dentro de mim."
  • 6:39 - 6:42
    Não precisamos que ele diga isso,
    na prática.
  • 6:42 - 6:47
    Talvez tenha reconhecido para ele mesmo.
  • 6:50 - 6:54
    Ele expressar isso em voz alta, pode ser
    mais uma necessidade nossa que dele.
  • 7:09 - 7:13
    Por vezes, temos de usar meios hábeis
    para ajudar uma pessoa.
  • 7:15 - 7:18
    Se não pudermos ajudá-lo directamente...
  • 7:19 - 7:21
    podemos ajudá-lo indirectamente.
  • 7:22 - 7:25
    Há coisas que não devemos
    dizer-lhe directamente
  • 7:25 - 7:28
    mas talvez outra pessoa o faça e o ajude.
  • 7:30 - 7:35
    Talvez outra pessoa possa
    fazê-lo melhor que nós.
  • 7:40 - 7:44
    De vez em quando, tenho discípulos
    que precisam de ser ajudados
  • 7:47 - 7:53
    mas Thay não tenta ajudá-los directamente.
  • 7:54 - 8:00
    Thay sabe que esse discípulo
    tem um irmão ou irmã no Dharma
  • 8:00 - 8:03
    que pode fazê-lo melhor que Thay.
  • 8:06 - 8:11
    Porque quando temos a mesma idade,
    é mais fácil falarmos.
  • 8:12 - 8:17
    Por isso, Thay pede a outro discípulo
    que vá ter com ele e o ajude.
  • 8:18 - 8:21
    Thay não tem de o fazer directamente.
  • 8:23 - 8:29
    Há amigos, há pessoas
    que estão no mesmo comprimento de onda
  • 8:31 - 8:36
    que podem contar uma história,
    que podem dizer alguma coisa,
  • 8:37 - 8:39
    que podem avançar com essa ideia,
  • 8:43 - 8:46
    que podem avançar com essa proposta
    de uma maneira melhor que nós.
  • 8:48 - 8:52
    Tentámos algumas vezes,
    e sentimos isso.
  • 8:53 - 8:56
    Por isso, podemos sempre pedir a alguém
    que faça isso por nós.
  • 8:57 - 9:00
    Não nos interessa
    ficar com os louros.
  • 9:05 - 9:06
    E outras vezes...
  • 9:09 - 9:11
    contamos a história
    de outra pessoa
  • 9:12 - 9:15
    que se encontra na mesma situação.
  • 9:16 - 9:17
    É mais fácil.
  • 9:17 - 9:21
    Ao ouvir a história da outra pessoa
  • 9:21 - 9:24
    pode acontecer uma identificação
    no seu interior,
  • 9:28 - 9:35
    porque é mais fácil para ele escutar
    a história de outra pessoa
  • 9:35 - 9:37
    do que escutar a sua própria história.
  • 9:37 - 9:41
    Há muitos meios hábeis
    para se ajudar uma pessoa.
  • 9:47 - 9:51
    Temos de ter compaixão suficiente.
  • 9:59 - 10:01
    Precisamos de muita compreensão.
  • 10:05 - 10:07
    Temos de nos entender a nós mesmos.
  • 10:07 - 10:12
    Temos de entender a outra pessoa,
    o seu modo de ser
  • 10:14 - 10:20
    para disponibilizarmos a ajuda
    adequada e exacta.
  • 10:24 - 10:25
    Temos de ser pacientes
  • 10:28 - 10:31
    e temos de ser inovadores
    e amorosos.
  • 10:32 - 10:34
    Muita paciência.
  • 10:38 - 10:44
    Tudo o que fazemos num dia,
    seja cozinhar, limpar ou lavar
  • 10:51 - 10:55
    pode ser um acto de amor,
    pode ser um acto de ajuda.
  • 10:57 - 11:01
    A nossa forma de olhar,
    a nossa forma de sorrir, de falar
  • 11:03 - 11:07
    tem um papel a desempenhar
    nessa tentativa de ajudar.
  • 11:11 - 11:19
    A nossa maneira de ser,
    de viver a vida, é o alicerce
  • 11:20 - 11:24
    e não apenas o que queremos dizer,
    o que queremos fazer para ajudar.
  • 11:29 - 11:33
    Thay também aprendeu muito
    sendo professor.
  • 11:34 - 11:39
    Tenho de analisar
    a personalidade de cada discípulo
  • 11:40 - 11:45
    e reconhecer as forças, as fraquezas,
    o sofrimento e as dificuldades de cada um
  • 11:48 - 11:51
    e ficar uma ideia suficientemente clara
  • 11:51 - 11:55
    do que dizer, do que não dizer,
    do que fazer e do que não fazer
  • 11:55 - 11:58
    para ajudar esse discípulo
  • 11:59 - 12:02
    e pensar quando dizer,
    quando o fazer.
  • 12:05 - 12:09
    Temos de procurar o momento certo,
    o lugar certo
  • 12:10 - 12:13
    para o fazer ou dizer,
    de modo a ajudar.
  • 12:14 - 12:17
    Por vezes, Thay tem de esperar três meses.
  • 12:20 - 12:25
    Tenho de lhe dar espaço suficiente.
  • 12:27 - 12:28
    Não devemos forçar,
  • 12:30 - 12:32
    só porque entendemos,
    porque vemos o sofrimento.
  • 12:33 - 12:35
    Amor é paciência.
  • 12:37 - 12:39
    A paciência é sinal de amor.
  • 12:42 - 12:45
    E temos de nos amar
    a nós mesmos, antes de mais,
  • 12:47 - 12:50
    antes de conseguirmos amar a outra pessoa.
  • 12:52 - 13:02
    Temos de obter calma, alegria
    e paz suficientes para nós mesmos.
  • 13:04 - 13:06
    E a prática ajuda.
  • 13:09 - 13:13
    Tive uma discípula, uma monja.
  • 13:17 - 13:25
    Foi presa e cumpriu pena
    por causa das suas actividades pacifistas.
  • 13:28 - 13:33
    A prisão é um local muito difícil
    para se praticar.
  • 13:35 - 13:37
    Mas ela tentou praticar.
  • 13:44 - 13:49
    Os guardas não gostavam de a ver
    sentada, praticando meditação.
  • 13:51 - 13:52
    Pensavam...
  • 13:56 - 14:00
    Viam isso como um desafio....
  • 14:04 - 14:06
    um desafio contra eles.
  • 14:07 - 14:09
    Para eles, significava:
  • 14:12 - 14:14
    "Por estar na prisão
    não tenho de sofrer."
  • 14:15 - 14:18
    Por isso, quando a viam
    sentada a praticar meditação na cela
  • 14:19 - 14:22
    entendiam isso como um desafio para eles.
  • 14:24 - 14:28
    Ela tinha de esperar até
    as luzes se apagarem
  • 14:28 - 14:30
    para se sentar.
  • 14:32 - 14:40
    Assim, meditava caminhando
    devagar pela cela para se nutrir, etc.
  • 14:42 - 14:44
    Era uma situação difícil,
  • 14:45 - 14:48
    mas ela conhecia a prática.
  • 14:50 - 14:53
    Conseguia não só
    preservar-se na prisão,
  • 14:53 - 14:57
    como conseguia também ajudar
    os outros presos a sofrerem menos.
  • 14:58 - 15:04
    Em situações difíceis como esta,
    continua a ser possível praticar,
  • 15:05 - 15:10
    manter a esperança, a nossa frescura,
    o nosso amor, a nossa paciência
  • 15:10 - 15:13
    para podermos ajudar a outra pessoa.
  • 15:17 - 15:19
    ligue-se, inspire-se, nutra-se
Title:
Como ajudar alguém que não reconhece o próprio sofrimento?
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Video Language:
English
Duration:
15:55

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